resenha

Garotas em Chamas – C.J. Tudor

4 maio 2021
Informações

Garotas em Chamas

C.J. Tudor

Intrínseca

série ---

352 páginas | 2021

4.75

Design 5

História 4.5

16

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Há muito tempo uma história sinistra é contada na pequena Chapel Croft. Cinco séculos atrás, mártires protestantes foram traídos, e então queimados. Trinta anos atrás, duas adolescentes desapareceram sem deixar vestígios. E há algumas semanas, o responsável pela paróquia local se enforcou na nave da igreja.

A reverenda Jack Brooks, mãe solteira de uma jovem de quatorze anos, chega a esse vilarejo em busca de um recomeço. Em vez disso, encontra um lugar tomado por conspirações e segredos, e é recebida com um estranho pacote de boas-vindas: um kit de exorcismo e um bilhete: Não há nada escondido que não venha a ser descoberto.

Quanto mais Jack e sua filha, Flo, exploram a cidadezinha e conhecem seus estranhos moradores, mais as duas se aprofundam em feridas antigas, mistérios e suspeitas. E, quando Flo começa a ver meninas ardendo em chamas, fica evidente que há fantasmas por ali que se recusam a descansar em paz.

Neste thriller macabro e cheio de reviravoltas, no qual nem todo mundo é quem parece ser, C. J. Tudor mostra mais uma vez por que é uma das vozes mais originais da literatura contemporânea.

Design

Esse é o primeiro livro da autora que sai um pouquinho fora do padrão gráfico criado pros projetos da C.J. Tudor. É o único com uma capa branca! Mas como é uma adaptação do livro original, deve ter tido algum motivo para alterar. Provavelmente porque o grafismo das chamas não sobressairia em uma capa de fundo preto.

Mas a capa dura, a lombada de bonequinhos e a pintura trilateral continuam pra criar a unidade com os outros livros. Fora que as fontes laranjas do título têm uma textura localizada que fica meio áspero. Eu acho engraçado que no centro da ilustração da igreja eu vejo um padre de chapéu segurando uma maleta! 😅 #probleminhas

O livro tem capítulos relativamente curtos, o que faz com que a arte de abertura seja bastante presente ao longo das páginas! E elas são uma homenagem a personagem Flo, filha da Jack, que gosta muito de fotografia analógica. Cada capítulo tem uma imagem de uma tira de filme fotográfico em diversos estados de conservação.

Então é interessante ver os diferentes possibilidades que aparecem, desde um filme íntegro, a alguns levemente queimados e com imagens de meninas palito. #creepy

Fora isso, o miolo é bastante bonito e equilibrado, parecido com os dos outros livros. Tem uma fonte de bom tamanho e o cabeçalho divide a área do rodapé com a paginação, provavelmente por conta da ocupação da imagem do rolo de filme no topo da página.

Sobre a fonte, eu já vi outros projetos que a Intrínseca usa Bembo no miolo. Eu acho a fonte bonita, mas ao mesmo tempo ela é um pouco clássica e “burocrática” demais. Sabe quando a fonte é correta, mas ao mesmo tempo ela dá um ar datado pro projeto? É só implicância, porque a fonte funciona perfeitamente bem para a leitura. Pode me ignorar. 😋


História

Definitivamente, Garotas em Chamas é o melhor livro de C.J. Tudor, na minha humilde opinião.

Desde que a Intrínseca passou a trazer os livros da autora eu li TODOS! Sim, e você pode encontrar resenhas deles aqui no blog. Coloquei o link de todas no final desse post, mas você vai chegar lá quando terminar de ler.

Acho que aqui a autora conseguiu chegar em um patamar de qualidade que eu espero pra todos os seus próximos livros. Além de mostrar que existem certos assuntos que são comuns e importantes pra ela, independente de qual história ela está contando.

Ou seja, atenção para quem tem gatilhos com bully, violência, depressão, e abuso de menores. Se você também não curte muito quando existem questionamentos sobre religião ou fé pode ser que a história de Garotas em Chamas te incomode.

A crença deveria ser uma escolha consciente, não uma lavagem cerebral feita quando a pessoa é jovem demais para entender ou questionar. Fé não é uma coisa que se passa adiante como uma herança. Não é tangível nem absoluta. Nem mesmo para um padre. É um trabalho constante, como casamento ou filhos. p.35

Como em todos os seus livros, Tudor traz um tom de suspense sobrenatural para a história de Jack e sua filha Flo. E ela cria uma estrutura de narrativa levemente fragmentada que faz com que a gente inicie sem nenhum tipo de background das personagens, só o senso de urgência de que elas precisam se afastar da cidade onde moravam.

Garotas em Chamas é contado em primeira pessoa por Jack, mas com alguns capítulos de Flo, outros de flashback de duas meninas desaparecidas na cidade onde mãe e filha foram morar, e outros de mais uma pessoa bastante perturbada. Esses capítulos são em terceira pessoa, criando um leve descolamento do protagonismo principal de Jack.

Foi interessante conhecer a protagonista. Aqui no Brasil a gente tem uma grande maioria de pessoas que são católicas e eu fui criada em uma família católica/espírita kardecista. Então perceber que na igreja anglicana uma mulher pode ser vigária e responsável pelos ritos foi uma surpresa.

E o mais legal é que Jack aparentemente é progressista em relação a sua igreja e sua fé. Ela sabe que por ser mulher ainda vai existir muito receio sobre sua capacidade para exercer o papel que normalmente é atribuído a um homem. Independente do quanto tempo ela se dedicou ou estudou para ocupar sua posição.

Apesar de ser vigária há mais de quinze anos, ainda sinto que estou aprendendo. Talvez, como mulher, eu tenho noção de como é mais difícil ser levada a sério. Ou talvez todos os adultos se sintam assim às vezes. Como se estivéssemos brincando de ser adultos, mas por dentro ainda fôssemos crianças, andando por aí com roupas enormes, esperando alguém nos dissesse que monstros não existem. p.39

Quando Jack e Flo chegam na pequena cidade de Chapel Croft, apesar de recebidas com certa acolhida pelo padre substituto, ainda assim existe muita desconfiança dos paroquianos por Jack ser uma mulher.

Por ser uma cidade pequena, ela também é cheia das suas idiossincrasias, mitos e “folclores”. Há muitos anos (porque eu não lembro quantos exatamente), algumas pessoas foram queimadas vivas por não aceitarem mudar sua fé, e por isso passaram a ser considerados os mártires da cidade. Além dessas pessoas, duas meninas pequenas também foram imoladas, e é delas que vem o título e a crença de que se você vir as garotas em chamas, você está em apuros.

E, obviamente Flo vê as duas meninas em chamas! Tudor consegue criar uma atmosfera tensa e nervosa nos dois momentos em que Flo tem a experiência assustadora de enxergar essas aparições. DÁ MEDINHO!

Além de tudo, ainda existe um mistério envolvendo antigos párocos da cidade e o último vigário, que é quem Jack vai substituir. Então sabemos que alguma coisa ruim aconteceu na igreja onde Jack trabalhava, e que a mulher também tem algum segredo muito bizarro do passado!

É muita coisa para ir acompanhando e descobrindo ao longo das páginas.

Fora o lance das garotas em chamas e dos mártires, há uns 30 anos duas meninas desapareceram da cidade e isso continua sendo um mistério. Então, ao longo do livro alguns capítulos de páginas pretas contam a história de Merry e Joy, e o que aconteceu até seus desaparecimentos.

Outra coisa que a autora traz também é o desconforto de Flo, uma adolescente de 15 anos, ao chegar em uma nova cidade. Sem amigos e filha da vigária, ela é um alvo certo para os piores bullies da cidade… e a C.J. Tudor não poupa a gente da angústia de ver toda a agressividade gratuita que ela sofre na mão dessas pessoas.

Pra mim sempre dá um aperto no coração porque eu sofri bullly físico quando era pequena, e você estar numa situação de violência sem ninguém pra te dar um suporte é terrível.

(…) As escolas enchem a boca par falar como lidam com bullying. Mas na verdade não fazem nada. Só querem saber dos alunos bons e normais que melhoram a avaliação delas pelo governo. (…) p.193

Uma das coisas que eu mais gostei da história é o relacionamento da Jack com a filha. Dá pra perceber que a vigária quer construir uma relação de confiança com Flo, mas que ela sabe que vai ser uma tarefa difícil com uma jovem adolescente, que está testando algumas barreiras impostas pela mãe.

(…) Mas não posso explicar por que pensar nela perto de garotos me enche de medo. Como tem homens predadores em toda parte. E que não importa ser inteligente, eloquente, gentil. talentosa, porque um homem ainda pode usar a força física e tirar tudo isso de uma mulher, degradar, abusar e transformá-la em vítima. p.260

Então, sim, Flo vai fazer umas besteiras, tomar decisões baseada em pura reação ao que a mãe gostaria que ela fizesse, e dá nervoso porque você vê o “vai dar ruim” se aproximando a 100km/h.

Mas com o passar da história você percebe que as duas foram enredadas em uma situação que quando o plot twist chega, você só tem como ficar de queixo caído e tenso pelo que vai acontecer em seguida.

Em dado momento a gente passa a ter o ponto de vista de uma outra pessoa, que está em “rota de colisão” com a Jack. Um homem de seu passado está querendo descobrir onde ela está, e deixa um rastro de violência e morte por onde passa. Os capítulos dele eram sempre bastante gráficos e angustiantes, e eu fiquei realmente apreensiva do que aconteceria se esse homem encontrasse Jack e Flo.

Sobre o mistério da história e a evolução da investigação que Jack invariavelmente vai se meter, eu sempre fico com um pé atrás com essa coisa da pessoa “civil” fazendo trabalho de polícia. Mas do jeito que a Tudor vai encadeando as informações dos acontecimentos da cidade com o passado da Jack, e enredando outros personagens, é muito envolvente e impossível de largar.

E o que é mais importante pra mim é que você se apega aos personagens e consegue sentir aquela apreensão de que pode ser perigoso e até mortal! Senso de urgência bem construído faz toda a diferença pra fazer você se importar.

O que eu quero dizer no fim das contas é que Garotas em Chamas é meu livro favorito de C.J. Tudor até o momento, e eu recomendo fortemente que você conheça as obras da autora.

– Acho que fazer uma coisa ruim é diferente de ser ruim. Acho que todo mundo tem a capacidade de fazer coisas ruins, de fazer o mal. Depende das circunstâncias, do nosso limite. Mas se a pessoa sente culpa, se busca perdão e redenção, isso mostra que ela não é ruim. Nós todos merecemos a oportunidade de mudar. De compensar nossos erros. p.235


Outras resenhas da autora

  • o homem de giz - c.j. tudor
  • o que aconteceu com annie - c.j. tudor
  • as outras pessoas - c.j. tudor

Até a próxima! o/

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