resenha

O Demônio na cidade branca – Erik Larson

29 out 2018
Informações

O Demônio na Cidade Branca

Erik Larson

Intrínseca

série ---

448 páginas | 2016

4.25

Design 4.5

História 4

14

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Assassinato, magia e loucura na feira que transformou os Estados Unidos

No final do século XIX os Estados Unidos eram uma nação jovem e orgulhosa, ávida por afirmar seu lugar entre as maiores potências mundiais. Nesse contexto, a Feira de Chicago de 1893 teve papel fundamental: com o objetivo de apresentar a maior e mais impressionante exposição de inovações científicas e tecnológicas já idealizada, coube ao arquiteto Daniel Burnham, famoso por projetar alguns dos edifícios mais conhecidos do mundo, a difícil tarefa de transformar uma área desolada em um lugar de magnífica beleza: a Cidade Branca. Reunindo as mais importantes mentes da época, Burnham enfrentou o mau clima, tragédias e o tempo escasso para construir a enorme estrutura da feira.

A poucas quadras dali, outro homem igualmente determinado, H. H. Holmes, estava às voltas com mais uma obra grandiosa, um prédio estranho e complexo. Nomeado Hotel da Feira Mundial, o lugar era na verdade um palácio de tortura, para o qual Holmes atraiu dezenas, talvez centenas de pessoas. Autor de crimes inimagináveis, ele ficou conhecido como possivelmente o primeiro serial killer da história americana.

Separados, os feitos de Burnham e Holmes são fascinantes por si só. Examinadas juntas, porém, suas histórias se tornam ainda mais impressionantes e oferecem uma poderosa metáfora das forças opostas que fizeram do século XX ao mesmo tempo um período de avanços monumentais e de crueldades imensuráveis.

Combinando uma pesquisa meticulosa com a narrativa envolvente que lhe é característica, Erik Larson escreveu um suspense arrebatador, que se torna ainda mais assustador por retratar acontecimentos reais.

Design

É isso! É isso que eu digo quando falo que quero que os mapas dos livros de fantasia tenham um carinho maior.

o demônio na cidade branca (mapa) - erik larson

Sério, não existe um lugar melhor para colocar um mapa do que no verso da capa, dentro da área das orelhas. Ficou maravilhoso e é uma ótima forma para consultar enquanto você está lendo. Sabe, você coloca seu dedo como marcador da página que está, e é só voltar pra capa e abrir a orelha.

Intrínseca! Faz assim com os livros do Jordan também! É só aumentar um pouco mais a largura das orelhas e VOILÀ, temos a área perfeita de mapa em um livro! <3

No ano de 1893, quando da abertura da Feira Mundial, o estilo em voga era a Art Nouveau. Já falei sobre ela em alguma outra resenha (não me lembro mais, perdão pelo vacilo), mas não é bem ela que está na arte da capa de O Demônio na Cidade Branca…

Eu chutaria que existem referências mais parecidas com a Art Deco, mas o estilo só surgiu “real oficial” no início do século XX, quando a Art Nouveau começou a perder força e espaço nas artes gráficas.

De qualquer forma, o que a arte da capa realmente me remeteu (muito por culpa do lettering do título) foram os pôsteres de filmes de terror das décadas de 1950 e 1960. Se você pensar que metade da história fala sobre um serial killer, até dá pra dizer que tem um quê de terror, não é mesmo?

Eu só tenho uma reclamação do miolo desse livro. Tem poucas fotos. Por tudo que Erik Larson conta das maravilhas que foram criadas para o evento, só vemos a foto da capa, uma foto da destruição causada por uma ventania, e uma da principal alameda da Feira Mundial. Todas aplicadas nas aberturas das divisões de partes do livro.

Tudo bem, no século XIX não tinha câmera digital pra ficar tirando selfie a rodo e escolhendo só a melhor pra postar no Instagram. Mas eu queria ser realmente impactada pelo que foi construir os prédios e toda uma experiência temporária, para simplesmente provar que podia.

Além disso, eu queria que as fotos que temos tivessem sido de alguma forma mais valorizadas na página. Será que existia alguma limitação de resolução que impedia estourar a foto em página dupla?

De resto, projeto perfeito, como praticamente todos que a Intrínseca se propõe a fazer. <3


História

Uma das coisas que eu mais prezo nos livros é a gama quase infinita de possibilidades de leitura que você pode escolher.

Óbvio que cada um de nós tem aquela zona de conforto dos gêneros que a gente mais gosta. Por exemplo: sou apaixonada por fantasia, mas sempre que preciso dar um “descanso cerebral”, procuro por um romance de época ou um hot contemporâneo.

E também tem gêneros que a gente não faz lá muita questão de conhecer ou se aventurar. O que é muito normal. No meu caso eu tenho EXTREMA dificuldade com livros técnicos, então é muito difícil você me ver lendo algum livro específico de design.

Onde eu quero chegar com essa introdução? Existem alguns momentos que eu gosto de me permitir um tipo diferente de leitura, mesmo que não tenha sido proposital.

Foi exatamente o que aconteceu com O Demônio na Cidade Branca. Acho que já comentei que quando escolho um livro para solicitar na parceria com editoras, não necessariamente eu dou aquela real atenção à sinopse. Dou aquela leitura por alto, aquela passada de olhos, vejo a nota do Goodreads, e se parecer interessante, eu peço. Gosto da aventura de ser surpreendida. XD

Normalmente, livros de não-ficção não costumam aparecer por aqui. É meio difícil eu escolher esse tipo de gênero. Só que acabou que O Demônio na Cidade Branca não é um não-ficção “normal”.

Acho que ele é quase uma “ficção factual” (se é que isso existe), já que o autor fez uma extensa pesquisa sobre os acontecimentos da época para poder montar o seu pseudo romance.

Então Larson junta fatos históricos, personagens e locais reais, e dá uma leve romantizada em como todos eles se misturavam para criar a narrativa do livro que a gente acompanha.

Duas coisas que me levaram a escolher esse livro: 1. No começo do ano eu li Chronos: Viajantes do Tempo (lançado pela Darkside) e o clímax da história se passa exatamente na Feira Mundial. No livro de Rysa Walker ela não consegue passar de verdade o tamanho gigantesco que a feira teve, o que é até compreensível, porque seus personagens estavam preocupados com outras questões. Aqui, em O Demônio, é tudo sobre as dimensões da feira.

2. O demônio do título é um dos primeiros serial killers identificados nos EUA, e esse ano eu ando atrás de mídias falando do assunto. Vi o seriado do Mindhunters na Netflix (que a Intrínseca também lançou o livro), comecei o Manhunt: Unabomb no mesmo serviço de streaming. Então, também foi um motivo para escolher o livro.

Só que, assim, um aviso: se o seu interesse principal é no H.H. Holmes talvez você tenha que diminuir um pouco suas expectativas.

O Demônio na Cidade Branca é a história de três personagens importantes: Daniel Burnham, o arquiteto responsável pela Feira Mundial; H.H. Holmes, o serial killer que construiu um “palácio dos horrores” na mesma cidade; e a Cidade Branca em si, a obra monumental que foi construída em Chicago para ser o maior evento já visto no planeta.

Só que pra mim, Burnham e a Cidade Branca são as atrações principais do livro como um todo. Larson consegue passar para o leitor o quanto foi uma grande façanha a construção, a política, o sofrimento, dores e felicidades que todo o processo de criar uma cidade do zero trouxe no fim do século 19.

A história gira na base de que os americanos não gostam de ficar em segundo lugar.

Depois da feira realizada em Paris que lançou a torre Eiffel, e que foi completamente negligenciada pelos EUA, os americanos se sentiram compelidos a provar que seriam capazes de fazer algo ainda melhor do que o realizado pelos franceses.

Afinal…

Esse é o gatilho para o começo da história da construção da Cidade Branca e da ascensão de Daniel Burnham ao posto de um dos maiores arquitetos de sua época.

Diversas coisas acontecem até a data de lançamento oficial da feira. A decisão de qual cidade seria a escolhida para receber a feira e, depois, em que lugar da cidade construir o evento; questões políticas e financeiras; a seleção de quais arquitetos participariam; quais atrações estariam disponíveis; e mortes.

São anos definindo e construindo os prédios que abrigariam cada uma das atrações; intrigas entre os arquitetos, sindicatos, bancários; erros de cálculos que custaram as construções e vidas. Muita coisa acontece ao longo do tempo até o lançamento oficial da feira. E ainda continuam acontecendo durante os seis meses que a feira ficou operante.

É interessante descobrir que um dos pavilhões foi desenhado por uma mulher, que foi paga por seu desenho, mas num valor extremamente abaixo do que foi pago para os arquitetos homens.

E também vários nomes que conhecemos até hoje aparecem na história como Ferris, das rodas gigantes (Ferris Wheel); arquitetos tipo Frank Lloyd Wright; o pai de Walt Disney.

A feira foi um sucesso mas teve um alto custo. Não só financeiro, mas também nos empregados que morreram na construção. Ao mesmo tempo que diversos itens apresentados na época estão por aí até hoje como o chiclete, a roda gigante, e a corrente elétrica alternada.

A parte do livro que acompanha H.H. Holmes é um pouco mais restrita em “monumentalidade” quando comparada com a construção da feira em si. Mas ainda assim, é impressionante o quanto as pessoas não perceberam o quão perturbador e sinistro Holmes era.

Ao mesmo tempo que o psicopata era carismático, ele tinha facetas estranhas que, às vezes, algumas pessoas percebiam, mas não acreditavam que era algo para se preocupar.

Holmes chega à Chicago e começa a criar um “império” a partir de falcatruas, estelionato e carisma. Ele costumava comprar coisas e não pagar; criava promissórias que não valiam nada; fraudava seguros de vida. Provavelmente hoje ele não conseguiria fazer metade do que fez na década de 1890.

Holmes também era considerado encantador por grande parte das mulheres, e elas eram suas vítimas favoritas. Ele as considerava indefesas e frágeis, fáceis de serem convencidas e envolvidas. Muitas delas estavam buscando uma forma de se tornarem independentes e saírem das casas dos pais, e eram presas fáceis para a lábia de Holmes.

Quando soube do início das obras para a feira Mundial, ele teve a ideia de criar um hotel para receber o volume de pessoas que provavelmente chegariam para visitar o evento. Ao mesmo tempo, ele construiu todo o seu palácio de horrores e câmaras de tortura nesse mesmo espaço.

Holmes enganou muita gente em todo o tempo que atuou em Chicago. Também matou muitas pessoas nesse mesmo período. Fica um pouco em aberto se ele já tinha praticado esses mesmos crimes antes de chegar em Chicago, mas do jeito que as coisas parecem ser, é muito provável que sim.

A história passa a focar realmente em Holmes mais para o final do livro, com o fim da Feira Mundial e com o início da investigação sobre as fraudes que o psicopata foi acusado. Além da busca por umas crianças que ele sequestrou e assassinou ao longo de sua fuga de Chicago.

Nessa parte é um pouco angustiante realizar todo o horror que Holmes causou, mas ainda assim é superficial e não tem o tanto de peso que toda a história da feira em si.

O mais impressionante é que, se você olha a foto de Holmes em uma das páginas do livro, é um tanto bizarro que um homenzinho como ele fosse capaz de fazer tudo que lhe é atribuído. E que conseguisse encantar e envolver as mulheres. Talvez em sua época ele fosse um homem que se sobressaía mas, nos dias de hoje, acho que ele seria “mais um” na fila do pão.

Eu gostei demais da experiência de ler uma história real, baseada em fatos históricos. A forma como Erik Larson constrói a narrativa faz com que tenhamos a sensação do risco e da tensão que deve ter sido realizar o impensável em 1893. Ao mesmo tempo que deixa a gente incomodado enquanto acompanha os passos doentios de Holmes no mesmo período. Valeu demais sair da minha zona de conforto para conhecer esse pedaço de história.


Até a próxima! o/

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banner parceria editora Intrínseca 2018

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