resenha

O que aconteceu com Annie – C.J. Tudor

24 set 2019
Informações

O que aconteceu com Annie

C.J. Tudor

Intrínseca

série ---

288 páginas | 2019

4.75

Design 5

História 4.5

14

Compre! Amazon

Quando Joe Thorne era adolescente, sua irmã mais nova desapareceu. Vinte e cinco anos depois, um e-mail anônimo o leva mais uma vez ao passado: “Eu sei o que aconteceu com sua irmã. Está acontecendo de novo.”

Atolado em dívidas e bem longe do vilarejo onde cresceu, Joe precisa escapar das pessoas perigosas que estão atrás dele, mas também vê a oportunidade de resolver o que arrasta consigo há mais de duas décadas. Retornar a Arnhill parece a única opção.

Mas voltar também significa abrir velhas feridas e reencontrar pessoas e lugares que ele nunca mais pensou que veria. Afinal, alguns segredos são grandes demais — e Joe não faz ideia de onde está se metendo.

Neste suspense de ares sobrenaturais, o leitor é carregado por reviravoltas sombrias que o deixam na expectativa até o fim. O que aconteceu com Annie é uma viagem ao lugar mais escuro de um passado que precisa ser esquecido.

Design

Coerência e consistência. São duas coisas que eu adoro.

Provavelmente porque sou designer web (o termo chique não é esse, mas né), esses dois atributos fazem toda a diferença quando você está desenvolvendo uma interface que tem que ser intuitiva e fácil de usar para a maioria das pessoas.

O que quero dizer é que a Intrínseca criou uma identidade para O Homem de Giz, primeiro livro da C.J. Tudor lançado por aqui. E de certa forma, essa identidade se repete aqui em O que aconteceu com Annie.

A capa dura, a escrita nervosa no título que parece a letra de uma criança, o padrão cromático de preto/branco/vermelho, a pintura preta trilateral… Todas essas coisas criam consistência e coerência no projeto gráfico, e ajudam o leitor a identificar que “provavelmente” é um livro de um mesmo autor.

Quer um outro exemplo que não é da Intrínseca? A LeYa criou uma identidade fortíssima para os livros do George R.R. Martin com o lettering no nome do autor. Até mesmo quando o livro não fazia parte da série das Crônicas de Gelo e Fogo, você logo identificava pela estrutura visual do autor. E pelo nome dele que tava lá, óbvio.

Mas a Suma, que é a detentora dos direitos agora, manteve o mesmo padrão para os livros que estão saindo e sendo relançados. ;)

Eu fiz a análise de O Homem de Giz e muitas das coisas que eu falei lá naquela resenha se repetem aqui.

A angústia dessa boneca de papel com uma mancha de “sangue” no tronco? E quando você abre o livro, tem essa mesma boneca só que só com a silhueta, naquele modelo pontilhado pra você recortar. Ela é só o vazio. Ela não está mais lá! O.O Tenso!

De resto, vale o que eu disse na primeira resenha para a parte do miolo. Projeto lindo lindo, daqueles que dá orgulhinho.


História

Eu bem gosto de autores consistentes (tem consistência no design, é bom ter aqui também). Daqueles que escrevem um livro bom, e mantém essa qualidade em suas obras seguintes.

C.J. Tudor me conquistou com seu primeiro lançamento da Intrínseca, O Homem de Giz, e manteve a experiência instigante aqui em O que aconteceu com Annie.

Vi em algum lugar que esse novo livro meio que segue uma fórmula que já existia no primeiro. Mas mais que uma fórmula, eu achei que existem temas que se repetem bastante nos dois. Provavelmente são assuntos muito importantes pra autora e que permeiam o imaginário que ela cria pra seus personagens. Além de serem temas muito importantes social e culturalmente falando, e que devem ser discutidos.

A história é uma construção do mistério que te deixa ali, cozinhando pra realmente te contar o que aconteceu com Annie. Ao longo dos capítulos, e alternando entre presente e passado, Joe, nosso protagonista, vai falando sobre os problemas que está enfrentando hoje, e a bizarrice do que viveu no passado.

E no caso dele, confesso que fica difícil de saber o que é pior.

Joe é um professor de história fracassado que depois de receber uma mensagem anônima falando sobre sua falecida irmã, decide voltar para a cidade/vilarejo onde nasceu. Só que ele não é lá muito bem recebido pelas pessoas do seu passado que continuaram em sua cidade natal.

Ele também não é lá um narrador muito confiável. Então em alguns momentos você tá ali com o Joe, mas não dá pra saber muito se o Joe tá mesmo “ali” com a gente, sabe?

Então Joe está de volta, para tentar descobrir quem mandou o email anônimo e a gente acaba vendo que ele realmente é um bom professor. Ou pelo menos tem potencial para ser. Principalmente porque ele não é conivente com bullying na escola.

Pois é. Bullying é um dos temas que volta em O que aconteceu com Annie, e é tão revoltante quanto o que foi mostrado em O Homem de Giz (e olha!… ali foi complicado). Só que aqui o protagonista meio que vive dois momentos diferentes. Porque, na sua adolescência, ele poderia ser considerado um dos bullies. E seu eu adulto tenta evitar que o bullying ocorra na escola que está trabalhando.

Um feito nobre quando outras pessoas, com “mais poder”, são coniventes e não querem se indispor com pais importantes na comunidade. #raiva #nojinho

Além de ser um defensor dos fracos e oprimidos na escola, Joe quer descobrir quem eram a mãe e filho que morreram no chalé que ele alugou para morar. Porque eles podem ser uma “reprise” do que aconteceu no seu passado.

Sabe o que comentei sobre ser cozinhado para descobrir o mistério da Annie? Então, toda a construção do passado de Joe é feita de maneira lenta e com certa tensão para conduzir a gente até o clímax da história.

O que a gente descobre logo no começo é que quando Annie nasceu, Joe não ficou lá muito contente. Ou pelo menos, não conseguia expressar muita satisfação por ter uma irmã que ele “não pediu”. Até o momento que ela cresce e eles passam a ser inseparáveis.

Só que aí vem a adolescência, e ela é uma bosta, porque: hormônios e querer ser aceito nas piores companhias sempre é mais importante, não é mesmo? E por conta disso, o relacionamento entre Joe e sua irmã fica abalado. Sabe aquele lance de quebra de confiança? Pois é.

A cidade de Joe cresceu e se desenvolver no entorno de uma mina de carvão. Quando nosso protagonista está contando sobre o seu passado, a mina já foi fechada por conta de um acidente que aconteceu. Obviamente, a mina vira palco do interesse dos adolescentes da cidade, e obviamente versão dois, isso tem TUDO para dar ruim.

Se você junta um relacionamento irmã-irmão que começa a se perder, adolescentes querendo se provar, e uma mina abandonada…. VOCÊ VAI TER QUE LER! :P

Uma coisa que eu gostei mais aqui do que em O Homem de Giz foi o quanto o sobrenatural faz mais parte da história. No primeiro livro ele fica parecendo uma desculpa para uma certa perturbação mental do protagonista. Aqui ele pode ser uma causa real para situações da trama, o que dá ainda mais medinho.

Mas eu sobrevivi! Então não é daqueles de te dar pesadelo ou ficar te perturbando depois da leitura.

Ah, e sobre fórmulas. Acho que só tem uma coisa que eu percebi que vale mencionar. C.J. Tudor adora começar seus capítulos com algum tipo de pensamento ou afirmação que, de certa forma, define as crenças de seus personagens. Darei exemplo!

No início do capítulo seis, C.J. Tudor escreve:

As pessoas dizem que o tempo é um ótimo remédio. Elas estão enganadas. O tempo é apenas uma grande borracha. Ele segue emfrente sem nenhuma consideração, acabando com nossas lembranças, quebrando aqueles enormes rochedos de sofrimento até que não reste nada além de pequenos fragmentos pontiagudos, ainda dolorosos, mas pequenos o suficiente para serem suportados

Corações partidos não se reconstroem. O tempo apenas reúne seus pedaços e os reduz a pó. p.45

Ou então, no capítulo 27:

Jamais confie em uma pessoa cujas estantes estejam abarrotadas de livros imaculados, ou pior, em quem coloca os livros com as capas voltadas para fora. Essa pessoa não tem o hábito da leitura. Essa pessoa só gosta de se exibir. (…) Um leitor de verdade dobra a lombada, manuseia as páginas, absorve cada palavra, cada nuance. Não se pode julgar um livro pela capa, mas, com certeza, pode-se julgar o dono do livro. p.198

Um tanto polêmico esse aí. :P

Ao mesmo tempo, essas introduções “filosóficas”, de certa forma, conseguem preparar a gente para o principal tema que ela normalmente tratava naquele capítulo específico. Apesar de ser meio brega, achei suas aberturas com essas “gotas de sabedoria” interessantes de acompanhar. Eu meio que ficava esperando pra ver qual assunto ela iria “polemizar” no capítulo seguinte.

Muito bem. Gostei BASTANTE desse segundo livro de C.J. Tudor. Acho que meu relacionamento com Joe foi melhor do que com Eddie, e isso pode ter feito lá alguma diferença.

Sim, ele deixa algumas coisas em aberto, mas nada que vai deixar você muito irritado. O universo dos personagens coadjuvantes é mais interessante e um pouco mais desenvolvido do que em O Homem de Giz. E tem a Gloria que, apesar de tudo, é uma personagem que eu gostei de ter conhecido. Me julgue depois que você ler. :P


Outras obras da autora

o homem de giz - c.j. tudor
O Homem de Giz


Até a próxima! o/

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2 Comentários

  • Responder Bella 29 maio 2020 at 10:21

    Não deixa claro de fato o que aconteceu com Annie, isso me deixou triste

    • Responder Samara Maia Mattos 29 maio 2020 at 22:57

      Eu te entendo, Bella. Por isso que costumo ficar frustrada com livros de finais abertos… u.u

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