resenha

As Outras Pessoas – C.J. Tudor

15 jan 2021

Informações

As Outras Pessoas

C.J. Tudor

Intrínseca

série ---

304 páginas | 2020

4.75

Design 5

História 4.5

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Gabe Forman está preso em um engarrafamento, atrasado para o jantar em casa com a família, quando o rosto de sua filha, Izzy, de cinco anos, aparece no vidro traseiro do carro à frente e balbucia “papai”. Três anos depois, Gabe passa seus dias e noites rodando pela estrada em que viu Izzy pela última vez.
Garçonete em um dos muitos postos de gasolina por onde Gabe passa à procura da filha, Katie é solidária ao “homem magro”, apelido que deu a ele. Ela sabe o que é perder alguém. Há nove anos, sua família ficou destruída depois que seu pai foi assassinado.
Fran também vive na estrada com Alice. Mas elas não estão à procura de ninguém; estão fugindo, porque Fran sabe que, se um dia as encontrarem, elas serão mortas.
Todas essas histórias têm algo em comum: pessoas que passaram por acontecimentos terríveis que não conseguem deixar para trás. Elas não vão encontrar a paz no perdão ou no esquecimento. Elas só vão encontrar a paz se fizerem justiça.
Da mesma autora do best-seller O Homem de Giz, um thriller emocionante, cuja narrativa, repleta de ameaça e ação, captura o leitor desde o o início e explora com habilidade a natureza da justiça e a força do luto.

Design

ADORO quando a editora abraça uma identidade para um autor e se agarra na ideia pra todas as publicações.

C. J. Tudor foi merecedora de projetos gráficos muito cuidadosos por parte da Intrínseca, desde capa dura com pintura trilateral, mas também miolos bem trabalhados. Todos também te em comum a paleta que usa de pretos, brancos e vermelhos como cores em comum para criar a identidade cromática.

Tudo bem que cada projeto teve sua característica única, que representava a história específica. Aqui esse elemento vem principalmente na abertura de cada capítulo.

Em um momento da história, o protagonista pra descobrir o que estava marcado em um papel rabisca pra poder fazer os sulcos da escrita se sobressaírem.

E é exatamente isso que as aberturas de capítulo estão emulando! Em cada um o rabisco é diferente, como se fosse o protagonista tentando fazer várias mensagens aparecer pro leitor! Muito bom!

Projeto impecável, com a qualidade de leitura no miolo que a gente está acostumada a ver nas páginas da Intrínseca. Nada menos do que nota máxima pra As Outras Pessoas.

História

As pessoas dizem que ódio e amargura vão destruir você, mas estão enganadas. É a esperança. É a esperança que vai devorá-lo de dentro para fora como um parasita. (…) Mas a esperança não vai matá-lo. Não é tão gentil assim. p.16

Eu acho que descobri uma nova favorita no gênero de thriller e mistério. Definitivamente C.J. Tudor me conquistou com esse terceiro livro e provavelmente eu vou procurar ler tudo o que ela lançar daqui pra frente.

As Outras Pessoas, assim como os livros anteriores da autora, conta a história de pessoas que foram completamente transformadas por uma perda. E pra tentar ter algum tipo de fechamento, partem para uma busca solitária de “acerto de contas”.

Temos três núcleos principais na história. Gabe é um viúvo que viu sua família ser destruída por um assalto em que sua filha e esposa foram brutalmente assassinadas. Só que Gabe tem certeza que sua filha ainda está viva porque, no dia do acontecimento, ele a viu dentro de um carro parado na sua frente em um engarrafamento!

Então ele está há três anos dirigindo pela rodovia, em busca do carro que ele viu naquela noite, para tentar encontrar a sua filha. Ele não teve apoio da polícia, inclusive foi considerado suspeito, e os sogros simplesmente abandonaram Gabe.

Katie é uma garçonete de um restaurante de beira de estrada. Ela é a filha do meio e sua irmã mais nova toma conta de seus filhos enquanto ela está trabalhando. Katie sempre reparou no homem que há anos para no restaurante em dias específicos da semana. Ela lembra dele porque sua garotinha e esposa foram assassinadas, mas ele distribuiu um panfleto de busca pela menina.

Katie tem uma vida difícil mas ainda assim tem esperança que um dia ela vai melhorar. Ela também viveu uma perda trágica quando seu pai foi assassinado em um assalto, por um jovem que invadiu a casa da família. Nesse dia ela também perdeu a mãe que se rendeu à bebida e virou uma alcóolatra.

Por último temos Fran e Alice. Fran está fugindo e se escondendo, protegendo Alice de ser encontrada. Elas tem um segredo e por isso tem que se manter sempre em movimento. O mistério aqui é que Alice tem terror de espelhos e tem crises em que simplesmente adormece, sem nenhuma consciência do que aconteceu direito quando acorda.

Mas quem são realmente Fran e Alice? E por que Gabe tem que tomar cuidado com as outras pessoas?!

Além desses personagens, ao longo da história acompanhamos também inserções sobre uma menina. Uma menina que dorme profundamente, cercada de cuidados e de enfermeiras. Uma menina que não acorda há muito tempo.

Em algum momento a história dessas pessoas vai colidir de uma forma maravilhosamente conduzida por C. J. Tudor e os mistérios e as perguntas vão sendo cuidadosamente respondidas.

Eu gosto bastante da forma fragmentada que a autora conta a história, colocando no momento certo a informação que você precisa pra ir descontruindo os personagens. Peças importantes do passado de cada um que influenciam no momento atual e que não são nem um pouco gratuitos, porque encaixam exatamente pra dar sentido na história.

Dá pra perceber que é uma trama que foi cuidadosamente trabalhada pra ser destrinchada e evitar ao máximo pontas soltas e perguntas não respondidas.

E tem o fator “tensão” aqui também. Um dos pontos fortes da autora é a construção da tensão e do clima de suspense em situações relativamente banais como “olhar para um espelho”. Ela consegue carregar de apreensão na dose certa pra manter o leitor interessado e preocupado com o que vai acontecer com os personagens.

Se você do jeito como Stephen King conduz suas histórias com momentos pesados mas que você simplesmente não consegue parar, C. J. Tudor pode ser uma autora que vai te agradar também. Assim, ela ainda precisa comer um pouquinho de arroz e feijão pra chegar aonde King está em qualidade e estética, mas pelo menos você tem um comparativo do tipo de narrativa de suspense a Tudor faz.

Acho que é isso! Recomendo bastante se você já gosta da autora, e me arrisco a dizer que se você não leu nada dela ainda, talvez começar por As Outras Pessoas seja uma boa ideia.