resenha

O Último Duelo – Eric Jager

20 dez 2021
Informações

O Último Duelo

Eric Jager

Intrínseca

série ---

304 páginas | 2021

4.5

Design 4.5

História 4.5

No século XIV, em plena Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra, Jean de Carrouges, um cavaleiro normando recém-chegado das batalhas na Escócia, volta para casa e se depara com mais uma ameaça mortal. Sua esposa, Marguerite, acusa o escudeiro Jacques Le Gris — um velho amigo e companheiro de corte do cavaleiro — de estupro. Sem saída após Carrouges fazer um apelo formal, o tribunal decreta a realização de um julgamento por combate, o que também coloca o destino de Marguerite à prova. Se seu marido perder o duelo, ela será sentenciada à morte por falso testemunho.

Enquanto tropas inimigas pilham o país, a loucura ronda a corte francesa, exércitos islâmicos ameaçam o cristianismo e pragas ceifam a vida de muitos, Carrouges e Le Gris se encontram equipados com suas armaduras em um monastério parisiense, alguns dias depois do Natal, em 1386. O que se segue é o último duelo autorizado pelo Parlamento de Paris, uma luta feroz com lanças, espadas e adagas — diante de uma multidão que incluía o próprio rei Carlos VI, entre outros membros da nobreza — que termina com os dois combatentes feridos, mas apenas um fatalmente.

Baseado em ampla pesquisa realizada na Normandia e em Paris, O último duelo é o retrato vívido de uma era turbulenta e de três personagens inesquecíveis presos em um triângulo fatal de crime, escândalo e vingança. Uma narrativa sobre um drama humano comovente, a história real de um delito terrível e um trabalho envolvente sobre intriga histórica cujos temas, mesmo séculos mais tarde, ainda ecoam com força, tanto que baseou a superprodução homônima de Ridley Scott para o cinema, estrelada por Jodie Comer, Ben Affleck, Matt Damon e Adam Driver.

Design

Em tempos de soft touch, eu ainda sou fá de um verniz fosco na capa. Pelo menos pra arte de O Último Duelo combinou bastante com a simplicidade monocromática.

Eu não sei se a capa é original da Intrínseca ou uma adaptação de uma arte do trailer do filme inspirado pelo livro. Mas é muito interessante serem as duas espadas, representando os dois nobres, cortando a imagem de uma mulher que deve ser Marguerite.

Confesso que não gosto muito do monte de texto além do título e do nome do autor na capa, mas entendo que o “uma história real…” acaba equilibrando a arte no centro da coluna de conteúdo.

No miolo o que eu mais achei de interessante foi a escolha do tamanho de fonte para o livro. Sério. Ela é meio gigante. Não me lembro de outro livro da Intrínseca com a fonte tão grande. Eu postei uma comparação com o livro Uma Coroa de Espadas e é bem visível! (O Último Duelo é o livro da direita)

uma coroa de espadas - robert jordan

Mas fora isso, eu gostei do projeto gráfico do livro. Tem mapas e ilustrações ao longo das páginas pra ajudar o leitor a se inteirar da geografia e de curiosidades da época.

O livro é dividido em duas partes e essas páginas são as mais “trabalhadas”, com grafismos que me lembraram tapeçarias medievais. Além disso, temos os capítulos numerados e nomeados, e esses são divididos em “trechos”. O que eu gosto aqui são os capitulares que aparecem no começo do capítulo e também em cada troca de trecho.


História

Vamos começar baixando a expectativa dizendo que esse não é um romance histórico. Está mais pra um livro de história romanceado.

E, sério, se a gente aprendesse história assim na escola, talvez eu tivesse gostado mais da matéria na época.

Eric Jager demorou 10 anos para publicar O Último Duelo. Durante todo esse tempo, Jager fez diversas pesquisas sobre o caso Carrouges-Le Gris, viajou até a França diversas vezes, precisou “reconstruir” o que aconteceu através do seu entendimento de todos os documentos e informações que conseguiu levantar.

Jager traz em seu livro diversos momentos “você sabia?” sobre a sociedade, cultura e nobreza francesa do século 14. Batalhas e invasões que aconteceram durante o período da Guerra dos Cem anos, entre a Inglaterra e França. Um pouco sobre as Cruzadas e a invasão muçulmana da Europa. Mas o mais interessante pra mim foi ver como a estrutura feudalista era formada por homens gananciosos e competitivos.

E como sempre, as mulheres não sem consideradas “seres humanos” direito. Elas eram usada como método de barganha para expansão de territórios, tratados, dote, subir na escala hierárquica da nobreza. A opinião delas não era levada em consideração e elas deviam cuidar da casa e garantir a geração dos filhos para manter a família e os bens.

Por trás dos sorrisos e galanteios estava o sério negócio dos matrimônios feudais, que não tinham muito a ver com amor ou romance, mas com terra, dinheiro, poder, alianças familiares e geração de herdeiros. A noiva ideal para um escudeiro seria uma nobre decente e rica, com um dote que o enriqueceria e aumentaria suas propriedade. Precisava ser jovem e fértil, para lhe dar filhos saudáveis (…). Também tinha de ser virtuosa e casta, para garantir herdeiros legítimos. p.41

No começo do livro, o autor estabelece quem são as famílias Carrouges e Le Gris, assim o leitor tem como entender as rixas, desentendimentos, inveja que rola entre os dois homens que vão ser os protagonistas do duelo do livro.

Jean de Carrouges é o escudeiro e herdeiro da família, vassalo do Conde Pierre da Normandia. A família Carrouges tem uma longa linha de vassalagem, e sempre teve prestígio entre a nobreza.

A terra era então a principal fonte de riqueza, poder e prestígio da nobreza feudal – e o bem mais duradouro que um homem poderia passar adiante, com o nome da família, a seus herdeiros. Valiosa e alvo de cobiça, a terra também era o motivo de muitas discussões e disputas fatais. p.22

Jacques Le Gris também é escudeiro mas de uma família de “aproveitadores” que cresceu e enriqueceu através de seu pai, e ele é o segundo a ter certo prestígio. Com seu crescimento, Le Gris acaba se tornando o favorito do Conde Pierre, e depois um tesoureiro na corte do rei Carlos VI.

Marguerite de Thibouville é a segunda esposa de Jean de Carrouges. Sua primeira mulher e o filho morreram, porque era meio que isso que acontecia numa época em que não se tinha segurança sanitária para crianças e mães puérperas. Jean precisava encontrar uma nova esposa para garantir a perpetuação da linhagem dos Carrouges e casou com a bela e rica Marguerite.

Mas ó que tem treta nessa história! Marguerite é de uma família de nobres considerados traidores da coroa francesa. o Conde Pierre não achou muito legal esse casamento pra Carrouges. E o próprio Jean de Carrouges não era flor que se cheirasse porque tinha muita inveja do crescimento de Jacques Le Gris na corte do Conde Pierre e também da riqueza que o escudeiro possuía.

(…) Apesar da antiga e afável amizade entre os dois escudeiros, o sucesso de Le Gris e sua prosperidade despertaram em Jean de Carrouges um rancor, e a relação entre os dois começou a esfriar. p.38

(…) Para Carrouges (…) a sucessão de perdas tinha uma explicação: seu velho amigo (…) o traíra sorrateiramente em busca de riquezas. Le Gris subira na corte pisando em Carrouges. p.57

Uma coisa que não se pode negar, é que nessa época a França já tinha um sistema judiciário para julgar crimes e disputas. Pode não ter sido lá um sistema muito justo porque mulheres tinham penas muito piores do que homens para o mesmo tipo de crime. E até certo tempo, duelos judiciários eram a resposta para resolver disputas, e quem ganhasse tinha o aval de deus para a sua demanda. Mesmo que essa pessoa fosse a errada/culpada.

Bem legal. 👍

“Pelo menos” nessa época o estupro era considerado um crime capital, podendo causar a morte do acusado se fosse comprovado. Obviamente, as mulheres eram as que mais sofriam esse tipo de abuso, inclusive dentro do casamento porque as esposas deviam ser servis aos seus maridos…

Os códigos de leis medievais e os registros de julgamentos demonstram que o estupro era considerado um crime grave, uma ofensa capital. (…) O estupro – definido como relação sexual forçada fora do casamento – poderia ser punido com a morte.

Obviamente, qualquer compensação que devesse ser paga não era para a mulher, mas para o responsável masculino que teve sua honra maculada pelo ato perpetrado à mulher…

Eric Jager constrói todo o cenário político e econômico da Normandia, da disputa “velada” entre Carrouges-Le Gris até o momento em que Marguerite é deixada sozinha enquanto Jean vai até Paris se apresentar ao Rei, depois de uma das diversas incursões até a Inglaterra.

Nesse momento é quando a jovem esposa é estuprada por Le Gris e todo o caso que se encaminha para o duelo entre os dois nobres é iniciado.

E eu acho que é aqui que a narrativa de Eric Jager realmente brilha, porque ele se permite acrescentar pitadas de tensão e expectativa na história, saindo um pouco do texto mais expositivo para colocar camadas de ficção que complementam o que ele conta pro leitor.

Toda a parte do julgamento, da espera pela liberação do duelo, a preparação dos interessados, a comoção do povo e dos nobres. Aqui eu realmente senti o risco que Carrouges e Marguerite estavam correndo ao fazer a acusação a Le Gris.

A descrição do duelo é bastante sensorial e eu consegui me sentir transportada para o meio da luta dos personagens! Passar por toda a tensão, violência e expectativa, torcendo para quem eu achava que parecia ser certo de acordo com a narrativa do Jager foi bastante emocionante.

Me lembrou bastante a capacidade do Erik Larson (O Demônio da Cidade Branca) de transformar uma narrativa histórica em uma narrativa com pitadas de ficção pra realmente envolver, cativar, e transportar o leitor para aquele período.

Como saiu o filme esse ano, fiquei curiosa para ver como Hollywood interpreta essa história. Como o livro não é um romance, a gente não consegue realmente saber como era o relacionamento de Carrouges e Marguerite, mas não sei se curti o que vi no trailer.

Se você gosta de conhecer mais sobre política, economia, a sociedade desse período medieval europeu, O Último Duelo é uma fonte muito interessante de informações e de acontecimentos reais. Realmente recomendo.


Até a próxima!

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