resenha

A Revolução dos Bichos – George Orwell

13 jul 2021
Informações

A Revolução dos Bichos

George Orwell

Intrínseca

série ---

240 páginas | 2021

5

Design 5

História 5

14

Compre! Amazon

Desde o seu lançamento, em 1945, A revolução dos bichos se tornou um marco da literatura. Publicado em todo o mundo, vendeu milhões de exemplares e segue vital e relevante até — e principalmente — hoje.

Nesta fábula sobre uma rebelião de animais cansados de serem explorados por seus donos humanos, George Orwell ilustra como uma nova tirania toma o lugar de uma antiga e como o poder corrompe até as causas mais nobres. Depois de se rebelarem na Fazenda do Solar, os animais, liderados por um grupo de porcos, estabelecem um regime igualitário e cooperativo que funciona até alguns bichos começarem a usufruir de mais privilégios do que o estabelecido inicialmente. Com regras que mudam a toda hora, sempre beneficiando quem as cria, a revolução logo se torna uma confusa teia de ordens e tarefas sem sentido, culminando em paranoia, confrontos e dúvidas.

Com dois prefácios do autor escritos em momentos diferentes, esta edição evoca o contexto histórico e social no qual este clássico foi concebido. As ilustrações marcantes de Ralph Steadman, tão dilacerantes e satíricas quanto o texto de Orwell, fazem deste volume uma peça singular, dando visualidade a uma história que não se cansa de ser atual.

Além das ilustrações, há ainda dois textos críticos: o primeiro de André Czarnobai, que discorre sobre como chegou a algumas escolhas em sua tradução, e mais um posfácio inédito do crítico literário José Castello, que esclarece as intenções da obra e aprofunda a biografia do autor, guiando a leitura para além das impressões iniciais que o texto de Orwell provoca.

Design

O principal motivo de A Revolução do Bichos estar hoje aqui em casa é a Intrínseca ter feito esse primor de edição.

Em 2021 a obra de George Orwell entrou em domínio público depois dos 70 anos de sua morte. Então você deve ter visto uma explosão de novas edições do autor por diversas editoras diferentes.

Você provavelmente poderia escolher a que achasse mais bonita, ou de algum tradutor que goste. Sério. Tem muitas opções para escolher, ou até mesmo comprar todas se você realmente gostar do autor.

Não procurei uma edição física de 1984 ainda, mas a Intrínseca lançou esse projeto em capa dura, com jaqueta e completamente ilustrado, então eu não tinha muito o que fazer a não ser me render completamente.

Tirei algumas fotos do início do livro para você ver a experiência do projeto gráfico. Fugindo do padrão monocromático, as páginas são todas com algum tipo de inserção de cor vermelha além da pintura trilateral que é na mesma cor.

O que eu gosto nesse projeto é que todas as fontes “especiais” me fazem pensar que poderiam ser os porcos escrevendo! Por isso ela tem essa pegada meio revoltada e rabiscada de alguém que está se acostumando com o ato de escrever.

As ilustrações de Ralph Steadman são outra maravilha ao longo das páginas. Quando não ocupam uma dupla como na foto que eu tirei, fazem parte de algum detalhe dentro da mancha gráfica, criando foco e dinâmica na leitura.

É um livro extremamente lindo e estou muito feliz de tê-lo na minha biblioteca pessoal. ❤

Agora… eu só preciso fazer uma reclamação, porque eu não presto. A fonte usada no miolo (ITC Founders Caslon 30) tem uma característica no olho da letra O minúscula que me incomodou bastante na leitura, e volta e meia me tirava do foco. Normalmente, o eixo da letra O fica alinhado bem no centro do “oval”, mas nessa fonte, ele está inclinado para a direita e isso me deu uma perturbação mental durante a leitura que foi bastante desconfortável.

Repare na imagem acima como o O é levemente inclinado! Pra mim foi um incômodo que de vez em quando fazia minha vista “escorregar” e eu perdia o foco na leitura… #probleminhas


História

Acho que A Revolução dos Bichos merece um pouco de contexto antes de eu falar do livro propriamente dito. 2021 foi o ano que as histórias de George Orwell entraram em domínio público e praticamente todas as editoras lançaram uma edição para chamar de sua.

Várias eram muito bonitas! A da Aleph e da Antofágica chamaram muito a minha atenção, mas a edição da Intrínseca ganhou o meu coração todinho com o projeto gráfico e as ilustrações. Então era a minha chance de finalmente ler mais uma obra do autor, depois de 1984.

Eu tinha A Revolução dos Bichos no meu imaginário infantil porque minha avó tinha um exemplar “largado” na sua casa de praia em Araruama (RJ), e eu achava as ilustrações interessantes. Mas todas as vezes que eu pensei em pegar, minha avó dizia que era um livro chato que ela nunca conseguiu terminar de ler. Detalhe: eu devia ter entre 10-12 anos na época.

Muito provavelmente não era uma leitura muito indicada pro meu eu criança. Ou pelo menos eu poderia não notar as camadas de pensamento contidas na aparentemente simples fábula de animais em uma fazenda.

E eu confesso que estava com medo de agora, adulta, ler o livro. Assim, eu tou aqui no blog há 11 anos, mas vamos combinar que eu não sou uma sumidade em inteligência. Já comentei que eu acho que faço o mínimo no quesito “avaliação de livros”. E A Revolução é um livro histórico de crítica ao socialismo Russo.

Então existem camadas históricas, políticas, sociais, e culturais misturadas na história da Fazenda do Solar. E muitos desses conhecimentos, por mais que eu me interesse muito (e conforme eu envelheço, meu interesse só aumentou mais), sou extremamente leiga em qualquer um deles.

Tive uma relação tumultuosa com história na escola. Eu achava uma matéria interessante mas nunca tive professores que realmente tornassem as aulas envolventes o suficiente pra eu realmente aprender pra vida. Eu decorava datas e nomes pra preencher na prova, e acabou.

E com isso, todo o resto meio que também é afetado. Se você não tem contexto histórico, não tem contexto político e social também. Tudo está de alguma forma intrinsecamente conectado para poder gerar o momento histórico. E bem, eu era bem desconectada de muita coisa, e ler os prefácios do livro só jogou na minha cara minha ignorância.

A edição da Intrínseca conta com dois prefácios escritos por George Orwell onde ele conta sobre a dificuldade de publicar uma crítica sobre o socialismo Russo em um momento que ninguém queria arranjar briga com o país. E ele vai citando nomes e eventos que eu sentia que deveria saber e entender, e eu só fui anotando pra poder procurar depois.

Provavelmente, se eu soubesse sobre Lênin, Stalin, Trótski, a Revolução Russa, a Guerra Civil Espanhola, ou realmente entendesse alguma coisa sobre socialismo, eu poderia ter aproveitado e identificado camadas e personagens dentro da história de Orwell. Mas ainda assim, como o próprio autor comentou, essa é uma fábula, é uma história “simples” e de fácil entendimento no que se pretende passar. Que basicamente é:

O ser humano não presta e poder sempre corrompe.

Acho que o mais doloroso da história são os paralelos possíveis de encontrar com o que a gente vive hoje aqui no país. Sim. Um livro escrito em 1945 ainda é atual em todas as críticas e tapas na cara hoje, em 2021.

Basicamente, existe a Fazenda do Solar onde um dia, Major, um porco idoso, coloca nos outros animais a faísca revolucionária, de que eles deveriam ser donos de si próprios, e não escravos do homem. Que seus trabalho deveria ser para usufruto da sociedade e não só de um único dono.

Depois da morte de Major, Napoleão e Bola de Neve, dois outros porcos, se tornaram responsáveis por manter a chama acesa do ideal iniciado entre os outros animais, mas ainda sem nenhuma expectativa de que a mudança aconteceria durante suas vidas. Até que um dia, o Sr. Jones, dono da fazenda, não ordenhou as vacas e incomodadas acabaram gerando um reboliço e isso foi o estopim para expulsar os humanos da fazenda.

(…) Eles nunca tinham visto animais se comportando daquele jeito, e o repentino levante das criaturas que eles estavam acostumados a açoitar e maltratar a bel-prazer os apavorou profundamente p.56

Agora, os animais organizados pelos porcos, passaram a ser responsáveis comunitariamente por todo o trabalho da fazenda: plantar, colher, organizar a alimentação. Juntos eles criaram as sete regras para a convivência animal, mas tiveram que reduzir a um mantra simples, porque nem todos os animais eram tão espertos quando os porcos.

As coisas iam relativamente bem até que Bola de Neve tem a ideia de construir um moinho na fazenda, de forma a modernizar e trazer melhorias tecnológicas pra vida dos animais. Só que Napoleão e Bola de Neve sempre tiveram algum tipo de discussão e atrito e o moinho foi a desculpa que Napoleão precisava para se livrar de seu “rival”.

E daí pra frente, tudo desanda. Daí pra frente, a gente começa a se sentir cada vez mais angustiada, revoltada, reflexiva, irritada, raivosa, e, porque não, puta da vida.

(…) Eles haviam chegado a um momento em que ninguém ousava dizer o que pensa, em que cães ferozes os vigiavam, rosnando por todos os lugares, e em que eram obrigados a assistir a seus camaradas serem destroçados após a confissão de crimes chocantes. p.159

Ver a deterioração da fazenda, a escravização dos outros animais que simplesmente “não percebem” o quanto estão trabalhando pra sobreviver, a corrupção, a deturpação das leis animais. A criação de um inimigo para ser o bode expiatório de mentiras, a divulgação de uma narrativa de informações que só fazem sentido para manter a desinformação, e a tomada do poder dos porcos é nojenta. Dá ódio, mexe de um jeito revoltante com os sentimentos. Se você quer passar raiva, A Revolução dos Bichos é o que você precisa ler.

Se 1984 explodiu quando Trump estava no poder nos EUA, A Revolução dos Bichos deveria ser leitura obrigatória em todos os lugares do Brasil.

Eu terminei a leitura mal. De verdade. De ver o quão cíclica e doente é a nossa história. De quão ruins são os seres humanos, ou os porcos se você preferir. Egoístas, mesquinhos, gananciosos. E eu vejo isso nas pessoas que comandam o país, que estão à frente do senado e do congresso.

E o que mais me entristece nisso tudo é que eu não acredito que vai mudar. Porque essas pessoas estão nos cargos que conseguiram porque pessoas acreditam que eles estão fazendo o certo: superfaturar, roubar, sonegar. Porque é isso que as pessoas fariam se estivessem no mesmo lugar.

Acho que a sensação final da leitura é que não tem jeito. É de desesperança e de desespero porque nada muda.

Parafraseando Kurt Vonnegut em seu (confuso) Matadouro-Cinco: “É assim mesmo.”


Até a próxima! o/

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