resenha

Matadouro-Cinco – Kurt Vonnegut

8 jul 2019
Informações

Matadouro-Cinco

Kurt Vonnegut

Intrínseca

série ---

288 páginas | 2019

4

Design 5

História 3

14

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O humor e estilo únicos e originais de Kurt Vonnegut o fizeram um dos escritores mais importantes da literatura norte-americana. Sarcástico, ele foi capaz de escrever sobre a brutal destruição da cidade de Dresden, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial — sem apelar para descrições sensacionalistas. Em vez disso, criou uma história imaginativa, muitas vezes engraçada e quase psicodélica, estrategicamente situada entre uma introdução e um epílogo autobiográficos.

Assim como Billy Pilgrim, o protagonista de Matadouro-Cinco, Vonnegut testemunhou como prisioneiro de guerra, em 1945, a morte de milhares de civis, a maior parte deles por queimaduras e asfixia, no bombardeio que destruiu a cidade alemã. Billy tinha sido capturado e destacado para fazer suplementos vitamínicos em um depósito de carnes subterrâneo, onde os prisioneiros se refugiaram do ataque dos Aliados. Salvo pelo trabalho, depois de ter visto toda sorte de mortes e crueldades arbitrárias e absurdas, Billy volta à vida de consumo norte-americana e relata sua pacata biografia, intercalando sua trajetória aparentemente comum com episódios fantásticos de viagens no tempo e no espaço.

Ao capturar o espírito de seu tempo e a imaginação de uma geração — afinal, o livro foi publicado originalmente em 1969, em plena guerra do Vietnã e de intensos protestos e movimentos culturais —, o livro logo virou um fenômeno e sua história e estrutura inovadoras se tornaram metáforas para uma nova era que se aproximava. Ao combinar uma escrita cotidiana, ficção científica, piadas e filosofia, o autor também falou das banalidades da cultura do consumismo, da maldade humana e da nossa capacidade de nos acostumarmos com tudo. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência.

Design

Oh, Samara, mais um livro 5 estrelas da Intrínseca?!

Sim, e com certeza.

Quando uma editora se dedica e faz um trabalho maravilhoso como a Intrínseca, acaba virando um pouco de clichê falar bem do design. E eu até peço desculpas se isso está começando a ficar chato ou repetitivo. Entre em contato com a editora e peçam pra eles fazerem um livro ruim, só para variar.

Se é pra fazer uma edição comemorativa de 50 anos, ou você faz com capa dura e tudo o que tem direito, ou nem faz.

Acho que o que eu mais gosto nesse projeto gráfico é a paleta de cor. Não sei porque, mas esse azul/roxo que usaram na capa me lembra muito a saída das cópias de mimeógrafo. Quando eu era uma pequena Samara, eu adorava ajudar a “tia” da creche a fazer cópias dos deveres de casa com uma máquina de mimeógrafo, e a saída era exatamente nesse tom de azul/roxo.

E o que dizer dessa fonte moderno-retrô? Tem um quê de art-deco, mas ao mesmo tempo me lembra poster de filme B de terror dos anos 1950/1960. As folhas de guarda tem uma mistura de ilustração mostrando o que devem ser os armazéns de Dresden e as estrelas para onde o protagonista foi abduzido por uma parte de sua vida. Tudo no tom de vermelho que é o principal chamariz da capa.

Fora isso, o miolo em si é bastante correto e elegante. Não teve muita necessidade trabalho diferenciado porque só existem quebras de capítulos numerados. Mas a fonte é agradável de ler, com uma ocupação agradável na página, com margem relativamente grandes e bastante “ar”.

Só para não dizer que tudo são flores, eu tenho uma consideração para a tradução/revisão. Em dado momento da história, o autor está citando uma lista de títulos e honrarias de um personagem britânico. O que me chamou a atenção foi “Cavaleiro-Comandante da Honorabilíssima Ordem do Banho”.

Na Inglaterra existe uma cidade chamada Bath, que é tipo uma estância de águas termais. Fiquei me questionando se esse título do personagem está ligado à cidade de Bath, que ganhou uma tradução literal, criando esse nome estranho para a honraria do personagem. Fica até parecendo uma galhofa ao nível de um Monty Python da vida.

Mas Samara, você não tirou nota do design por conta disso. É não tirei porque eu não tenho certeza se essa “Ordem do Banho” estaria realmente ligada à cidade de Bath, e aí uma escolha estranha a tradução da palavra, ou se realmente é um título zoeiro dentro do contexto da história.


História

Tá, eu não sei se entendi Matadouro-Cinco.

Sou uma pessoa altamente influenciável e que confia com todo o coração em algumas coisas (que talvez devessem gerar certa desconfiança). Tipo. Eu tenho altas expectativas com algumas editoras e meio que as coloco em algumas caixinhas mentais muito loucas.

Então, a Darkside vai lançar livros esteticamente impecáveis e com uma curadoria mais voltada pra thriller, terror, dark fantasy, e ficção feminina. A Intrínseca é meu xodó e é bem natural pra mim confiar nos lançamentos que a editora traz de ficção. A Arqueiro é minha fonte de romance de época. Record e Rocco têm livros bem caros e sempre vão ter séries de fantasia que eu quero comprar mas ficam na lista da black friday.

E a Aleph é minha referência quando a gente fala de Sci-Fi. Então se a editora fala que alguma coisa é phoda, clássico, precisa ler, eu OBVIAMENTE vou colocar uma nota mental que ela TEM TODA A RAZÃO. Vou realmente confirmar se o autor ou a obra é a essa coca-cola toda? Muito provavelmente não. Porque eu confio.

Isso tudo para dizer que nunca tinha lido ou buscado nada sobre Kurt Vonnegut antes de Matadouro-Cinco, só que a Aleph falou que ele é sinistro, então “é verdade esse bilete”.

é verdade esse bilete

Pra não ser completamente obtusa, eu tinha visto um vídeo do Kurt Vonnegut falando sobre “as formas das histórias”, analisando o desenvolvimento, clímax, e outros pontos importantes sobre como entender e escrever ~bem~ (está em inglês e tem umas legendas em castellano, mas né, é pra fazer sentindo com o meu raciocínio aqui).

Então, era isso o que eu sabia do Kurt Vonnegut quando a Intrínseca lançou Matadouro-Cinco. E o que eu sabia era: é um sci-fi, é um livro importante do autor, a Aleph disse que ele é phoda. Todas essas informações significavam somente uma coisa: eu precisava ler.

E, bem, nada me preparou para Matadouro-Cinco.

Primeiro porque eu ainda não sei se eu entendi o livro. Eu quero acreditar que a história tem tantas camadas de simbolismos e metáforas agregados que eu simplesmente não tenho bagagem e conteúdo para realmente absorver o que Kurt Vonnegut estava tentando me contar.

A premissa é que o livro seria uma “pseudo-biografia” do autor, sobre a segunda guerra mundial e os sobreviventes do ataque a Dresden. Misturado a isso, tem toda uma questão de stress pós-traumático, com viagens no tempo e extraterrestres abduzindo seres humanos, em uma narrativa fragmentada e um tanto quanto estapafúrdia.

“E eu me perguntei a respeito do presente: qual seria sua largura, qual seria sua profundidade, o quanto dele me pertencia. p.36

No fim das contas, o narrador não conta a sua história, mas de um outro personagem, Bill Pilgrim, e seu infortúnio de se ver solto no tempo. E sim, ele tem momentos que se passam durante a guerra mas, de certa forma, ela ganha ares de sub-plot perto de tudo pelo que Bill Pilgrim passa ao longo de suas viagens pelo tempo.

De certa forma é até compreensível que ele “fuja” da guerra. Por mais traumatizados que o narrador e personagem possam ter ficado pela guerra, reviver esse momento de sofrimento não faz bem provavelmente a ninguém. Relembrar que eram jovens, que muitas vezes mentiam suas idades para poder entrar no exército e lutar em uma guerra de atrocidades.

Mas ainda assim, nos momentos fragmentados da vida de Pilgrim em que estamos com ele na guerra, existe um certo distanciamento e ao mesmo tempo um certo realismo que incomoda um pouco. 

E, exatamente porque ele não consegue seguir sua vida de uma forma linear, a história é extremamente “quebrada”, jogando o leitor para um futuro distante da vida de Pilgrim para, imediatamente depois, voltar ao momento da chegada em Dresden, ou ao período que virou um “animal” no zoológico dos Trafalmadorianos (eita, será que eu escrevi certo no nome dos alienígenas?! O.o).

“- Bem, senhor Pilgrim. Aqui estamos nós, presos no âmbar deste momento. Não existe porquê. p.110

É assim mesmo.

Tudo tem um quê de conformismo. Por Pilgrim estar solto no tempo e ter acesso ao seu passado/presente/futuro simultaneamente, é como se ele fosse espectador de sua própria vida, e não a estivesse vivendo de verdade.

Além disso, o autor utiliza essa afirmação “É assim mesmo” em diversas passagens. Principalmente quando (na minha opinião) era alguma coisa que não havia escapatória de acontecer da forma como aconteceu.

Não é um livro horrível, mas não é um livro que eu tenha adorado. A sensação de certa impotência por não ter compreendido o que o autor estava tentando me dizer, essa sensação de “burrice” sempre me desagrada. Mas ainda assim, eu gostei de conhecer Vonnegut, perceber um certo pessimismo racional em seu estilo, e ver que ele é esse tiozinho do vídeo mesmo. Meio melancólico, meio desinteressado, meio viajandão.

E também me mostrou que eu não posso tomar como “verdades” tudo o que minhas referências e “ídolos” garantem que vai ser phoda. <nota mental>

“Não existe início, nem meio, nem fim, nenhuma moral, nenhuma causa, nenhum efeito. Em nossos livros, o que amamos é a profundidade de muitos momentos maravilhosos, vistos todos de uma só vez. p.125

Até a próxima! o/ banner parceria editora Intrínseca 2019

Onde comprar: Amazon (compras feitas através do link geram uma pequena comissão ao blog ^.~)

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