Paraíso Perdido
Verus
série Filhos do Éden #3
560 páginas | 2015
No princípio, Deus criou a luz, as galáxias e os seres vivos, partindo em seguida para o eterno descanso. Os arcanjos tomaram o controle do céu e os sentinelas, um coro inferior de alados, assumiram a província da terra.
Relegados ao paraíso, ordenados a servir, não a governar, os arcanjos invejaram a espécie humana, então Lúcifer, a Estrela da Manhã, convenceu seu irmão – Miguel, o Príncipe dos Anjos – a destruir cada homem e cada mulher no planeta. Os sentinelas se opuseram a eles, foram perseguidos e seu líder, Metatron, arrastado à prisão, para de lá finalmente escapar, agora que o Apocalipse se anuncia. Dos calabouços celestes surgiu o boato de que, enlouquecido, ele traçara um plano secreto, descobrindo um jeito de retomar seu santuário perdido, tornando-se o único e soberano deus sobre o mundo.
Antes da Batalha do Armagedon, antes que o sétimo dia encontre seu fim, dois antigos aliados, Lúcifer e Miguel, atuais adversários, se deparam com uma nova ameaça – uma que já consideravam vencida: a perpétua luta entre o sagrado e o profano, entre os arcanjos e os sentinelas, que novamente, e pela última vez, se baterão pelo domínio da terra, agora e para sempre.
Design
A única coisa que eu quero comentar aqui é que, na parte 2 do livro temos um mapa do mundo antediluviano.
No meio do livro.
De 560 páginas.
É IMPOSSÍVEL ver o meio do mapa que é onde praticamente toda a ação contada nos capítulos dessa parte acontece. A não ser que você queira embeiçar a lombada do seu livro.
Eu sempre digo o quanto eu acho relevante um bom mapa em um livro de fantasia. E eu sempre me decepciono com as escolhas das editoras de como apresentar os mapas nos livros.
História
Vale um disclaimer aqui: se você quer uma resenha que te fale sobre a história do livro, o que acontece com Kaira, Denyel, Urakin e todos os outros personagens, não é aqui que você vai encontrar. #fikdk
É impressionante o que 10 anos fazem de diferença em uma vida.
Em 2011 eu li Herdeiros de Atlântida, o primeiro livro da trilogia Filhos do Éden, e se você me perguntar o que eu lembro da história eu vou sinceramente responder que: nada. E também não consigo lembrar porque dei nota máxima pro livro.
Coloquei Paraíso Perdido na minha lista de #12em2021 porque eu queria fechar a série. Sabe quando você tem um misto de compromisso e culpa porque começou uma história e ela tá ali, pendente? Pois é.
Então, em 2019 li Anjos da Morte e mesmo sendo uma leitura recente, eu guardei muito pouco da história e das 586 páginas. Acho que fiquei tão frustrada com o livro que deixei passar a janela de escrever uma resenha, e só retive as sensações que ficaram da leitura.
E foram sensações que se repetiram aqui no último livro da trilogia.
Sim, Eduardo Spohr melhorou bastante como autor, mas ele tem um estilo e faz escolhas de condução narrativa que não funcionam pra mim.
O que funciona: ele é um ótimo autor descritivo. Se você precisa de “ajuda” para visualizar um cenário, um personagem, uma cena de ação, você pode contar que Spohr vai escrever de um jeito completamente didático e possível de imaginar.
O que não funciona: ele é um autor extremamente descritivo. Em praticamente todos os capítulos ele vai fazer questão de descrever nos mínimos detalhes, coisas que não necessariamente acrescentam informação ou profundidade pra história ou pros personagens.
Às vezes parece que é uma descrição por uma descrição, pra encher páginas, pra fazer volume. Isso faz com que tudo seja extremamente explicado e MUITO LENTO. Se grande parte dessas descrições fossem cortadas, a gente não perderia em qualidade narrativa e ganharia em velocidade de exposição.
Spohr gosta de um estilo narrativo mais rebuscado e ele vai fazer questão de escrever com próclises e encher tudo de apostos e “parêntesis”. Ele vai ser repetitivo e contar a mesma coisa que te falou dois capítulos atrás. E eu não consegui entender porquê ele faz isso.
Um exemplo. Em dado momento os personagens encontram o deus Hermes, e ele diz que prefere ser chamado de Mercúrio, porque os romanos o tratavam com mais respeito. Uns capítulos depois ele me vem com a seguinte frase.
(…) Em outro quadrante do universo, Denyel, Sophia e Hermes – ou Mercúrio, como ele gostava de ser chamado (…)
Eu já sabia que ele gostava de ser chamado de Mercúrio, o autor me contou capítulos atrás. Eu ainda não esqueci e não é muito legal essa sensação que preciso ser relembrada o tempo todo de alguma informação.
Ele também é extremamente prolixo em momentos que são mais descritivos e contemplativos, e acrescenta comentários de livros anteriores como se o leitor se lembrasse do que ele está falando.
Talvez se eu fizesse uma maratona de leitura eu conseguisse manter as informações mais frescas na cabeça, mas do jeito que é feito, é só um lembrete de que algo similar aconteceu em outro livro e não acrescenta lá tanta coisa além de uma frustração no leitor, no caso, eu. 🙆🏻♀️
Apesar de ter achado toda a jornada interessante, ao mesmo tempo eu achei tudo muito longo e demorado. A primeira parte do livro acompanha os anjos Kaira, Urakin e Denyel chegando em Asgard, e aqui vira uma mistura mitológica. Além de parecer uma sidequest GIGANTE antes de colocar os personagens novamente na missão principal.
Que é interrompida pela parte dois, que passa a contar a história de Ablon (isso, o protagonista de A Batalha do Apocalipse), 35.000 anos antes dos dias de hoje, durante a época antediluviana. E eu até fiz uma anotação no meu Goodreads me perguntando PRA QUÊ, considerando seriamente em pular para a parte seguinte.
Mas perseverei. E meldelz, mais uma sidequest gigante, para dar uma dica para A Batalha do Apocalipse e pra apresentar só mais um pouco de informação sobre o vilão.
E o clímax na parte final… As batalhas estavam maravilhosamente bem descritas, mas ainda assim…
Eu queria ter gostado. Mas algumas coisas não funcionaram pra mim. Vamos entrar em spoilers aqui, então se você não quiser saber o que me incomodou, muito obrigada pela leitura até aqui. ☺️
Tá, você quer saber o que eu tenho de spoiler.
A forma como Spohr decide contar e desenvolver relacionamentos é meio estranha. Mas duas coisas foram complicadas pra mim.
Kaira foi enviada para matar Metatron, o primeiro anjo. Na luta final, aparentemente eles teriam a mesma capacidade e potência para se enfrentarem, mas Metatron é mais antigo e mais preparado para lidar com Kaira. E ele está para acabar com tudo quando descobre que a ishim está grávida.
Aí, convenientemente, a gente descobre que Metatron se impôs uma lei (e também a Adão) de que não pode matar fêmeas grávidas. Kaira então pega a única arma que pode derrotar um anjo, que está presa no cinto de Metatron e acaba com a disputa.
Detalhe: ela está grávida por conta de Denyel que, quando estavam em Asgard, farejou que Kaira estava ovulando e mentiu pra ishim dizendo que ela não engravidaria se eles fizessem sexo!
Urakin foi outro personagem problemático pra mim. Em Asgard os anjos passam a sentir necessidades físicas, e Urakin descobre que se sente fisicamente atraído pela deusa Sif. Mantém seu interesse platônico, mas no final decide se declarar.
E a deusa Sif diz para Urakin que lhe deve desculpas porque
(…) Nunca é o homem que se apaixona, é sempre a mulher que o seduz.
Uhnn, oi? Eu não sei muito bem o que o Spohr estava querendo construir pra personagem aqui, fazendo uma afirmação como essa. É a visão da deusa? É como ele quer que vejamos a personagem? Como uma mulher sedutora que brinca com os sentimentos dos homens?
Em todos os momentos que Sif apareceu antes disso ela nunca teve um comportamento que fizesse o leitor pensar que ela era manipuladora.
E a coisa escalona porque ela não vai ficar com Urakin, mas lhe oferece um “prêmio de consolação” em uma outra personagem que eu não consegui notar EM NENHUM MOMENTO interesse romântico no anjo! Porque ela era prometida a um outro herói que morreu antes da história começar, e faz questão de frisar isso com frequência.
Mas o que acontece no fim das contas? Urakin aceita a oferta da “troca”! Que amor é esse que, quando não é concretizado, você só oferece uma outra opção e tá valendo?! O que vier e lucro?!
Eu acho que poderia existir uma outra forma de conduzir essa solução pra Urakin, mas não acho que do jeito que foi feito foi muito “adequado”.
Posso estar problematizando paradas além da conta? É possível. Mas não consegui deixar de comentar o quanto essas escolhas do autor me incomodaram como leitora.
Eu queria ter gostado mais dos dois últimos livros da trilogia, queria aquele brilho no olhar e a satisfação que aparentemente senti lendo o primeiro.
Mas não deu.
10 anos me amadureceram ou aumentaram minhas expectativas (ou me deixaram mais chata, vai saber).
Fica aqui meu pedido de desculpas e meu desejo que os próximos livros do autor continuem interessantes, mas que se atualizem tanto em forma como em conteúdo.
Outras resenhas da série
Até a próxima! o/
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