resenha

Malorie – Josh Malerman

20 set 2020
Informações

Malorie

Josh Malerman

Intrínseca

série Caixa de Pássaros #2

288 páginas | 2020

3.25

Design 4.5

História 2

14

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Doze anos se passaram desde que Malorie e os filhos atravessaram o rio com vendas no rosto, mas tapar os olhos ainda é uma regra que não podem deixar de seguir. Eles sabem que apenas um vislumbre das criaturas pode levar pessoas comuns a uma violência indescritível.

Ainda não há explicação. Nenhuma solução.

Tudo o que Malorie pode fazer é sobreviver… e transmitir aos filhos sua determinação. Não se descuidem, diz a eles. Fiquem vendados. E NÃO ABRAM OS OLHOS.

Quando eles tomam conhecimento de uma notícia que parecia impossível, Malorie se permite ter esperança pela primeira vez desde o início do surto. Há sobreviventes. Pessoas que ela considerava mortas, mas que talvez estejam vivas.

Junto dessa informação, porém, ela acaba descobrindo coisas aterrorizantes: em lugares não tão distantes, alguns afirmam ter capturado as criaturas e feito experimentos. Invenções monstruosas e ideias extremamente perigosas. Além disso, circulam rumores de que as próprias criaturas se transformaram em algo ainda mais assustador.

Malorie agora precisa fazer uma escolha angustiante: viver de acordo com as regras de sobrevivência que funcionaram tão bem até então, ou se aventurar na escuridão e buscar a esperança mais uma vez.

Design

Não se pode negar que a capa de Malorie é bem impactante e completamente envolvente. Você consegue sentir a mesma atmosfera de desconhecido e medo que Caixa de Pássaros ensinou que esse novo mundo vive.

Acho que a única coisa que abala a força e a simplicidade dessa arte é o texto de apoio dizendo que é sequência de Caixa de Pássaros… Eu sei que é um suporte pra vender o livro… mas não podia colocar na quarta-capa?

Tudo bem que a quarta-capa consegue ser ainda mais linda em seu “vazio”. E eu achei maravilhoso perceber que a floresta parece uma pintura à óleo, e você consegue notar a textura da tela em que foi “pintada”! 😮 Mas ainda acho que o “catch” de ser um continuação poderia estar aqui.

Outra coisa que eu gostei na capa foi o acabamento. Aqui tem a mesma laminação fosca que eu comentei em O Silêncio da cidade branca. O livro fica fosco mas ainda assim tem algum tipo de textura que é bastante gostosinha de segurar. Além de deixar bonito cria um sensorial interessante.

Agora, uma pequena decepção na experiência do livro é não ter uma chapada em preto na contra-capa. Você tá ali, todo envolvido no clima de suspense da capa e quando abre o livro, é tudo branco e normal do lado de dentro…. Eu sei que esses tipos de acabamentos e detalhes gráficos encarecem o livro, mas eu acho que ia dar uma integrada no conceito da arte da capa.

Falando do miolo, ele é relativamente simples, mas tem uns elementos interessantes nas aberturas de partes e dos capítulos.

Nas partes, a gente tem um título pra contextualizar o momento ou o local em que aquela parte da narrativa vai acontecer, e uma chapada de cinza com uma moldura em toda a página.

Já nas aberturas de capítulo, além do número, no topo da página tem uma ilustração de trilhos de trem, que tem tudo a ver com a parte principal da história (se você ler minha resenha vai ter spoiler sobre isso). Fora isso, cabeçalho com informações completas e paginação, mancha agradável e fonte levemente “grande”, mas ainda assim muito boa para a leitura.


História

Tá. Eu acho que finalmente me convenci de que não sou uma leitora propícia para os livros do Josh Malerman.

Basicamente porque eu sempre me decepciono com o que o autor desenvolve em suas histórias.

Inspeção pode ter sido um ponto fora da curva, mas se você considerar Caixa de Pássaros, Piano Vermelho e agora Malorie, eu sofri de decepção com esses três livros.

Então eu posso considerar que é um sinal que não vale a pena me esforçar mais com o autor. Não vai fazer bem pra mim, nem pra editora, nem pra média do Skoob e do Goodreads ficar colocando as notas baixas que os livros me “forçam” a dar.

Se você está aqui, assumo que leu ou viu o filme de Caixa de Pássaros. Mas já dou um aviso que não pretendo evitar spoilers de Malorie. Como fiquei frustrada com toda a jornada, quero ter a liberdade de falar sobre o que me incomodou.


Ah, as conveniências da vida

No final de Caixa de Pássaros, Malorie e seus dois filhos conseguem descer o rio e chegar à escola de crianças cegas.

Lá, Malorie finalmente dá uma identidade para as crianças e eles parecem ter encontrado um porto seguro para continuarem suas vidas.

Dois anos depois, o que parecia um dia tranquilo se torna uma carnificina quando uma criatura entra na escola e as pessoas começam a perder a sanidade.

Malorie vê uma das líderes, que é cega, enlouquecida correndo com um tesoura e se convence de que agora as criaturas devem ter evoluído e podem ativar sua loucura nos humanos através do toque.

Com isso em mente, ela se cobre com um tecido para se proteger e vai atrás de Olympia e Tom, para que possam escapar da loucura e da morte certa.

Depois de fugirem, eles encontram um daqueles acampamentos americanos, cheio de bangalôs e área de convivência, completamente abastecido para que consigam sobreviver pelos próximos meses.

Lembro aqui pra todo mundo que, nesse mundo da Malorie, ninguém pode ficar de olhos abertos. Então, como eles saberiam pra onde ir?

E o quão conveniente é que eles tenham encontrado esse lugar, completamente abandonado, e não tenham enfrentado competição para ficar lá?

Isso é uma das coisas que o desenvolvimento da história de Josh Malerman esbarra incontáveis vezes. Os personagens sempre vão conseguir encontrar coisas que são convenientes para que a história continue prosseguindo, mesmo que tenha saído completamente do nada.


Adolescentes

Então se passam 12 anos. Agora Olympia e Tom são adolescentes, e como tais vão ser e ter todos os esteriótipos necessário pra criar tensão e angústia pra Malorie e pro leitor.

Acho que dos dois, Tom é o que mais me irrita na história. Olympia é mais complacente e conformada (e a gente entende um pouco do porquê mais pra frente), mas Tom é totalmente reativo, questionador e arrogante.

Sério que, em um mundo pós-apocalíptico em que se você abrir os olhos você pode surtar e morrer, você vai querer arriscar sua vida o tempo todo? Não vai se preocupar com a ansiedade e quase terror que está colocando em sua mãe?! A única pessoa que se arriscou pra salvar sua vida e te manter vivo por todos esses anos?

Ok, é uma forma de tentar tirar Malorie de sua “zona de conforto” ter alguém sempre questionando seu modo de vida mega controlado e controlador de “viver pela venda”. E tudo bem. Malorie não cresce ou se desenvolve muito nesses 12 anos. Quiçá, ela não se tornou ainda mais enfática e paranóica.

Mas ainda assim, eu só tinha sensação de que todas as ações de Tom eram pra me irritar e causar tensão desnecessária pra história. Não sei lidar com adolescentes.


Minha família está viva!

Em todos esses anos, Malorie viveu um dia após o outro, se mantendo viva e aos seus filhos. Mas ela nunca se preocupou realmente em entender o que estava acontecendo em outros lugares, com outros sobreviventes, com o mundo.

Um dos momentos tensos do começo do livro é quando um andarilho surge no acampamento, e os três se escondem para se protegerem de um possível ataque.

Na verdade, a pessoa é um pesquisador e ele está tentando fazer um censo dos sobreviventes, ouvindo suas histórias e mapeando suas localizações.

O encontro não corre bem, o andarilho é expulso mas, depois, os adolescentes descobrem que na lista de sobreviventes que ele deixou estão os pais de Malorie.

Depois de anos assumindo que seus pais estão mortos, Malorie decide que tem que ir atrás deles, e abandona o acampamento para se colocar em uma jornada junto com os filhos, em busca de uma possibilidade de reencontrar os pais.

Sério? Eu não consegui comprar muito esse super estímulo de desafio e aventura que a Malorie tem pra abandonar tudo que ela construiu com os filhos no acampamento para viajar, COM OLHOS VENDADOS, para um lugar que não sabe se seus pais ainda vão estar.

Nos documentos deixados pelo andarilho, também é descrito um boato de que existe um “trem-cego”, que faz uma viagem exatamente para onde Malorie precisa ir.

Conveniente de novo?


O papel da maternidade mas a falta de interesse pelo mundo da Malorie

Malorie ainda tem como seu cerne principal o papel materno. Ela é a mãe controladora que faz de tudo para proteger seus filhos nessa realidade de merda que eles vivem.

Mas ao mesmo tempo ela é uma pessoa que se deslocou para um mundo interno de desconfiança e horror, onde tudo e todos são motivo para que ela se mantenha à parte do que está acontecendo no mundo exterior.

Sua vida é para proteger os filhos. E isso é meio que a única coisa que importa até o momento que decide encontrar seus pais.

Mas essa alta carga de controle dos adolescentes acaba criando um distanciamento de Tom e Olympia. Principalmente quando Tom se enxerga como um inventor e que acredita firmemente que suas criações podem salvar o que sobrou da humanidade.

O embate entre Tom e Malorie é constante, e chega a cansar em alguns momentos. Como Olympia é mais tranquila e introspectiva, ela costuma ser a responsável por colocar panos quentes quando as coisas começam a sair do controle.

Em alguns momentos, principalmente quando o trio consegue chegar praticamente sem incidentes até o trem, Malorie parece até mesmo ingênua ao conversar com o dono e responsável pela viagem. Sua desconfiança morre no momento que consegue se comunicar novamente com um outro humano adulto?!

Essas inconsistências da personagem acabam incomodando um pouco ao longo do caminho.


Greg e sua função na história

Em Caixa de Pássaros os residentes da casa permitem a entrada de Greg, e ele toca o rebu, causando todo o terror do primeiro livro.

Com isso, o personagem se torna o “inimigo” de Malorie, a fonte de todo o medo e horror que existe no mundo. Ele chega a ser quase tão ruim quanto as criaturas, porque Malorie não sabe realmente se ele ainda está vivo.

A existência de Greg é um dos dispositivos que Josh Malerman coloca na história pra criar apreensão e terror, principalmente pra Malorie. Mas nunca é explicado como ele consegue se locomover entre as criaturas sem sofrer as consequências que todos os outros seres humanos sofrem.

Nem porquê ele tem uma obsessão por Malorie. Pelo menos eu não consegui entender na história. Posso supor que foi por Malorie ser a única sobrevivente do massacre da casa…

De qualquer forma, ele é de novo um dos principais mecanismos de movimento na história, porque é ele que separa Malorie dos filhos no trem, e dá a entender que durante todos esses anos ficou vigiando e urubuzando a vida dos três.

A gente só não sabe o por quê.


O plot twist de Olympia

Então. Durante todo esse tempo, Olympia sempre pode enxergar as criaturas sem ser afetada por elas. Ou seja, enquanto Malorie e Tom estavam realmente vendados, e Tom desenvolveu uma audição mais refinada, Olympia sempre pode guiar os dois com segurança, porque sempre pode ver.

Ou seja, os três nunca estiveram realmente em risco quando se tratavam das criaturas, porque Olympia sempre pode evitar que eles se prejudicassem.

E isso meio que tira um pouco de toda a preocupação que a gente poderia ter pelos personagens, sabe? Não tem mais tanto risco porque alguém é imune.

A possível justificativa é meio bizarra, mas a forma como Olympia descobriu foi interessante.

Quando ela finalmente conta pra Malorie, ela até reage melhor do que eu esperava. Não houve raiva ou decepção ou desapontamento porque a garota nunca contou. É até compreensível, porque criada com a mão de ferro de Malorie, Olympia nunca se sentiria confortável de dizer que não precisava “viver pela venda”.

Mas ainda acho que tirou todo o fator de risco que a história tinha antes de saber da habilidade da garota.


O final blasè

Ah, eu achei o final bem anticlimático.

Tom queria ir até a cidade onde as pessoas estão tentando descobrir uma forma de voltar a viver normalmente e convivendo com as criaturas. Greg leva ele até lá, sem Tom saber que Greg é O Greg dos pesadelos da sua mãe.

E é nessa cidade que toda a ação final acontece. Olympia leva Malorie até lá para tentar salvar Tom.

O jovem consegue convencer a liderança da cidade que a ideia de óculos espelhados que ele desenvolveu, vai permitir que consigam ver as criaturas. Voluntários se oferecem para testar.

E eu achei a justificativa pra ideia do Tom pros óculos tão… é… méh. É quase uma coisa de que “as criaturas precisam ser capazes de refletir sobre a própria existência” ou qualquer outra coisa nesse gênero. E usando óculos com aqueles espelhos de salas de interrogação, as pessoas estariam protegidas da loucura, porque as criaturas estariam vendo o próprio reflexo.

Malorie encontra seu pai. A invenção do Tom funciona (provavelmente as criaturas só precisavam de terapia). Olympia conta pra Tom que pode ver as criaturas. A cidade passa a se mobilizar pra desenvolver óculos em massa.

Mas ninguém se digna a explicar ou descrever as criaturas! ARGH!

E toda a questão do relacionamento doentio e obsessivo entre Greg e Malorie também é resolvido com ela atirando uma flecha no meio do peito dele, com a ajuda de Olympia e Tom. São eles que miram pra ela, já que ela não conseguiu abrir mão da venda.

Não tem explicação de nada relacionado ao Greg. Malorie não quis cobrar nenhum tipo de satisfação pra tentar entender tantos anos de angústia e terror. Nah, não precisa, flechada no peito e vida que segue!

🤦‍♀️

Foi um “final feliz” frustrante e ainda em aberto.

Nada melhorou em relação a forma como Josh Malerman escreveu Caixa de Pássaros. O horror ou o terror eu praticamente não senti em Malorie, coisa que era quase tangível na narrativa do primeiro livro.

Não sei o que faria de Malorie um livro que me envolvesse mais, mas do jeito que ele é, só serviu pra manter minha frustração com a trama e com o autor.

Se você conseguiu entender a questão existencial das criaturas causarem horror nos seres humanos, POR FAVOR, me explica.


Outros livros do autor


Até a próxima! o/

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