resenha

Tudo o que nunca contei – Celeste Ng

25 maio 2020
Informações

Tudo o que nunca contei

Celeste Ng

Intrínseca

série ---

304 páginas | 2018

4

Design 4

História 4

14

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Na manhã de um dia de primavera de 1977, Lydia Lee não aparece para tomar café. Mais tarde, seu corpo é encontrado em um lago de uma cidade de Ohio a que ela e sua família sino-americana nunca se adaptaram muito bem.

Quem ou o que fez com que Lydia – uma estudante promissora de 16 anos, adorada pelos pais – fugisse de casa e se aventurasse em um bote tarde da noite, mesmo tendo pavor de água e sem saber nadar?

À medida que a polícia tenta desvendar o caso do desaparecimento, os familiares de Lydia descobrem que mal a conheciam. E a resposta surpreendente, assim como o corpo da garota, está muito abaixo da superfície.

Design

Então, sobre a capa. Depois que você chega em uma certa parte do livro você consegue entender o porquê da arte ser esse lago ao entardecer/amanhecer, mas confesso que não sei se me atrairia de verdade em uma livraria.

Tudo bem que de primeira eu não sou normalmente o foco desse tipo de livro. Essa sensação de isolamento e solidão que um barco à deriva pode trazer não necessariamente me atraem para saber qual é a do livro.

Mas, esteticamente, é uma imagem bastante impactante e instigadora. E eu gosto muito da fonte branca no título e no nome da autora. Ela me lembra muito a Futura, com esse “O” extremamente redondo, e me agrada muito esse tom moderno que ela trás pra uma imagem tão desolada.

Meu único porém aqui é que o logo da Intrínseca, que normalmente é sempre cheio de personalidade e parte “intrínseca” da capa, aqui está meio apagado e perdido.

Não gosto muito dessa quarta capa. Parece que pegaram as duas cores mais relevantes do amanhecer/entardecer e fizeram do degradê padrão no photoshop. Eu preferia que ela tivesse sido mais integrada na capa de alguma forma, com talvez uma foto que vazasse por toda a área, ou até mesmo uma chapada do azul petróleo/turquesa que tem na contra-capa.

Agora, o miolo é do padrão correto e mais simples que a editora costuma usar em alguns livros. Como é uma história bastante direta, não existe uma necessidade de um projeto gráfico interno muito elaborado.

Por isso, a margem, a fonte, tanto no tamanho ou na legibilidade, e ocupação na página é bem normal. As aberturas de capítulo tem o número escrito por extenso, e é só. Correto e pronto.


História

E então não tem mais nenhum sentido em procrastinar e evitar escrever essa resenha.

Ah, muito bem Samara, começar falando que tava procrastinando pra escrever é uma ótima forma de iniciar isso aqui… 👏

Cara, desculpa… a quarentena não tá fazendo muito bem. Sabe aquela coisa de achar que “nossa, vai ser super produtivo, vou poder trabalhar em casa, aumentar minha taxa de leitura, continuar fazendo exercício…” Quase tudo mentira.

Eu tive dificuldade pra falar de Tudo o que nunca contei porque eu tive uma relação dúbia com o livro de Celeste Ng.

Na verdade eu costumo ter relações controversas com livros que são hypados ou de autores muito elogiados. Foi assim com Um lugar bem longe daqui. E também foi um pouco assim aqui.

Normalmente, por conta da parceria com a Intrínseca, eu tento me abster ao máximo de ter muitas informações sobre o livro que solicito pra ler. O que eu faço é ler a sinopse na diagonal e procurar avaliações no Goodreads, então é muito provável que eu acabe desenvolvendo expectativas fora do que o livro tá prometendo.

Então eu escolhi Tudo o que nunca contei porque: 1. é da Celeste Ng, eu já tinha Pequenos incêndios por toda parte e ia sair série baseado neste livro. Achei que se eu gostasse de Tudo o que nunca, eu poderia já emendar Pequenos incêndios, meio que numa pegada de maratona que fiz com alguns livros da Liane Moriarty.

2. Na minha leitura diagonal eu só peguei que era um livro sobre o mistério da morte de uma menina em uma cidade pequena e o quanto isso mexia na dinâmica familiar. Na minha cabeça ia ser um thriller pra descobrir o assassino (?) e a família tava envolvida porque podia ter algum suspeito.

Bem, eu errei muito feio na minha expectativa, porque Tudo o que nunca contei é um drama familiar. De certa forma ele é até meio pesado e bastante reflexivo, principalmente por lidar com alguns assuntos complexos e difíceis.

Aí você vai lembrar que eu tenho dificuldades eternas com dramas. Pois é. Foi um pouco decepcionante ver que, apesar de existir a preocupação de descobrir como e porquê Lydia (a filha do meio) morreu, esse não é necessariamente o foco do livro.

Só que Celeste Ng aconteceu.

Por mais que eu não goste de drama, a prosa, o ritmo, os questionamentos e a tensão que a autora traz pra história fez com que eu me interessasse pelos personagens.

É frustrante ver que o problema da família como um todo é o excesso de cobrança, da falta de diálogo, da falta de atenção entre os membros da família?

Sim, mas ver a condução da história, desde quando os pais se conheceram e como isso tudo afetou todo o relacionamento dos personagens é o que traz o ritmo e o movimento pra narrativa.

Porque, por mais que a morte de Lydia tenha acontecido no presente de 1977, a gente vai acompanhar principalmente o passado de James (o pai) e Marilyn (a mãe). Desde a infância complicada dele como filho de imigrantes no país e sofrendo bully e racismo na escola. Ao sofrimento dela ao ter que atender as expectativas de uma mãe controladora que não vê necessidade de Marilyn se tornar médica, mas sim encontrar um marido rico.

Um casamento miscigenado nos EUA dos anos 1970s. Marilyn abrindo mão de seus sonhos pra ser esposa e mãe (de um filho e duas filhas). James, um professor universitário “obcecado” pelo país que o “acolheu”.

Uma expectativa que seus filhos sejam “melhores”, mais aceitos por seus pares na escola, que atinjam os sonhos que você não foi capaz de alcançar. A deterioração do relacionamento entre os pais. A inveja e o ciúme entre os irmãos.

A falta de acolhimento dentre de casa, do respeito pela privacidade dos filhos ou de suas reais vontades e interesses.

E o quanto todas essas pequenas coisas que não são contadas geram um “monstro dentro da sala” e afetam a todos, mesmo que não necessariamente percebam.

Acho que o sentimento que eu senti quando o livro não era bem o que eu desejava é base da construção de tudo na história. Tudo gira em torno de algum tipo de frustração.

E é sofrido ver o quanto tudo poderia ter sido resolvido se houvesse mais espaço para conversa e menos cobrança. Mais espaço para se ouvir do que para se exigir uns dos outros.

Então, no fim, descobrir o que fazia cada um dos personagens funcionar, seus gatilhos, seus sentimentos (positivos e negativos), foi melhor do que eu esperava.

Estou pronta pra ler Pequenos incêndios por toda parte? Definitivamente não. Se a autora tiver essa pegada “bruta” de análise de assuntos, eu preciso mais do que alguns meses pra poder encara mais um livro dela.

Recomendo se você gostar de dramas familiares carregado de temas complicados.


Até a próxima! o/

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2 Comentários

  • Responder Izandra 27 maio 2020 at 13:57

    Li a sinopse, e tive a mesma impressão que você: que o livro se trataria de um thriller policial rs

    Mas, vendo sua resenha… Sinceridade? Não é um livro que me atrai. Basicamente, detesto esses livros que focam somente no drama pessoal dos personagens, sem ter uma grande história por trás. Sei lá… Acho que o motivo principal de eu ler é fugir da realidade, viver outra situação. E livros desse tipo só me fazem ter raiva, pois geralmente acompanham pessoas que são incapazes de ter um diálogo com quem deveria.

    • Responder Samara Maia Mattos 27 maio 2020 at 14:04

      Eu total concordo contigo. Dramas não é um dos meus gêneros favoritos porque costuma ser só sofrimento alheio, de coisas que às vezes se resolvem se as pessoas sentarem e conversarem. Aqui eu só achei que a leitura foi boa por conta da forma como a autora escreve. Mas definitivamente não leria se realmente soubesse que era um drama… 🤷🏻‍♀️

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