resenha

Um lugar bem longe daqui – Delia Owens

2 fev 2020
Informações

Um lugar bem longe daqui

Delia Owens

Intrínseca

série ---

336 páginas | 2019

3.25

Design 4

História 2.5

14

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Por anos, boatos sobre Kya Clark, a “Menina do Brejo”, assombraram Barkley Cove, uma calma cidade costeira da Carolina do Norte. Ela, no entanto, não é o que todos dizem. Sensata e inteligente, Kya sobreviveu por anos sozinha no pântano que chama de lar, tendo as gaivotas como amigas e a areia como professora. Abandonada pela mãe, que não conseguiu suportar o marido abusivo e alcoólatra, e depois pelos irmãos, a menina viveu algum tempo na companhia negligente e por vezes brutal do pai, que acabou também por deixá-la.

Anos depois, quando dois jovens da cidade ficam intrigados com sua beleza selvagem, Kya se permite experimentar uma nova vida — até que o impensável acontece e um deles é encontrado morto.

Ao mesmo tempo uma ode à natureza, um emocionante romance de formação e uma surpreendente história de mistério, Um lugar bem longe daqui relembra que somos moldados pela criança que fomos um dia e que estamos todos sujeitos à beleza e à violência dos segredos que a natureza guarda.

Design

Sendo muito sincera aqui, o projeto de Um lugar longe daqui é todo correto. Não tem nada muito uau! que seja de consideração, mas vale comentar que a capa da Intrínseca é adaptada da versão “original”.

Particularmente eu não acho lá essas coisas… ela não me atrairia pra pegar na livraria e ler a sinopse. Mas, ainda assim, eu gosto da fonte sans-serif, meio negrita e em caixa alta, usada no título e no nome da autora. O branco realmente se sobressai sobre a cor laranja principal da arte.

A foto do “brejo” ocupa toda a capa e também a lombada e quarta-capa, fazendo um panorama visual completo. Ao abrir o livro temos uma chapada interna na contra capa no mesmo tom alaranjado de entardecer/amanhecer da foto.

Já o miolo é o tradicional que a Intrínseca costuma colocar nos livros que não tem muito trabalho visual no projeto. Só que dessa vez eles escolheram não colocar as informações de autor/título no topo da página. Se você quiser stalkear a leitura do estranho no metro não vai conseguir.

Além disso, as aberturas de abertura de partes do livro são bem simples e as de capítulo tem o número, título e ano. Como a história é contada alternando entre o “presente” de 1969/70 e o passado de Kya, é uma forma de ajudar o leitor a se situar na linha do tempo.

Por fim, a fonte do miolo é bem agradável para a leitura, as margens são bem equilibradas e confortáveis, mas não tem um desenvolvimento visual além do projeto básico.


História

Tá, vamos começar dizendo que vim escrever essa resenha no calor do momento, OU ~SEJE~, quase imediatamente depois de terminar a leitura.

Não exatamente depois, porque, normalmente, eu fico olhando um pouco pro horizonte, tentando organizar meus sentimentos, tentando não pensar em nada muito específico… Ainda assim, provavelmente essa resenha vai “soar” como um rant gigante, então já peço desculpas.

DE QUALQUER FORMA, terminei há pouco tempo e posso afirmar que eu não sou a pessoa certa para ler Um lugar bem longe daqui. E é terrível me sentir “diferente” de todo o resto do planeta que leu o livro de Delia Owens.

Tipo: 4.6* no Skoob (de 1.076 avaliações) e 4.49* no Goodreads (de 552.996 avaliações… QUINHENTOS E CINQUENTA MIL!). E eu, e toda a minha insignificância, não consigo dar mais de 2,5*.

Eu tenho dificuldade de lidar com manipulação de sentimentos. Principalmente quando tenho a nítida impressão que a autora pegou um caderninho, e se perguntou: “quais serão os assuntos que mais vão deixar um leitor de drama e romance perturbado?”.

Criança abandonada por TODOS os membros da família e tendo que se criar SOZINHA num brejo sem praticamente auxílio nenhum? CHECK!

Preconceito de TODA A CIDADE pela criança abandonada e nenhuma tentativa real de se aproximar e ajudar? CHECK!

Coming of age da criança e a percepção de sua solidão e a busca pelo amor? CHECK!

Traição e novamente abandono dessa mulher pelos homens que ela imaginou que poderiam “salvá-la” da solidão? CHECK!

Relacionamento abusivo e tentativa de estupro?! CHEEEEECK!!

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Sério. É por isso que eu sempre tento me manter LONGE de romances e dramas. Porque TUDO na história é construído pra você se sentir mal ao longo das páginas. E indignado, e enfurecido, e triste, e desamparado.

E ainda assim, TUDO DA CERTO pra pequena Kya! TUDO. Um garoto se interessa por ela e passa a ensina-la a ler. Ela NUNCA fica doente. Nunca precisou ir ao hospital. MELDELZ ELA MORA NUM BREJO! Como nunca se machucou andando de barco, se metendo nas lagoas, NADANDO SOZINHA NO MAAAAR?!

“Ah, Samara, você tá se apegando a umas coisas que não adicionam em nada pra história!” EXATO! Porque nada na história conseguiu me convencer que ela era verossímil o suficiente para eu comprar uma criança abandonada aos 6 anos realmente conseguir sobreviver!!

Se fosse eu largada pela família AOS SEIS ANOS DE IDADE acho que ia deitar na lama e esperar a maré vir me cobrir. Tipo invasão zumbi, vou ser uma das primeiras a morrer…

Então eu precisava dessas construções que considero “realistas” pra tentar me dar um motivo pra continuar.

Sabe o que eu queria realmente saber? Quem matou o cara do prólogo da história. Eu fui até o fim de Um lugar bem longe daqui porque queria acompanhar o julgamento do suposto assassinato de um homem da cidade.

E tive que acompanhar vezes sem fim Kya ser abandonada por DIVERSOS personagens e ver os sentimentos dela serem destruídos e toda a fé na humanidade ser despedaçada. Porque esse é o jeito da autora manipular seus sentimentos.

Ele não mencionou a pena que sentia por ela estar sozinha nem que ele sabia como as crianças a haviam tratado tantos anos atrás; como os moradores da cidadezinha a chamavam de Menina do Brejo e inventavam histórias a seu respeito. Esgueirar-se correndo até o barracão dela durante a noite e bater na porta de tela tinha se tornado uma tradição, uma iniciação para meninos virarem homens. O que isso dizia sobre os homens? Alguns deles já estavam apostando quem seria o primeiro a tirar sua virgindade. p.115

Acho que o que também me incomodou é que tudo foi convenientemente acontecendo pra que Kya conseguisse as coisas na história. Por mais que a personagem tenha problemas de confiança e relacionamento com outros personagens, tudo sempre dá certo pra ela.

Não posso negar que a prosa de Delia Owens é extremamente poética e contemplativa. Mas ao mesmo tempo que isso deixa a leitura mais “bonita”, tem momentos que são só cansativos. São muitas metáforas e embelezamentos do texto, mas só isso não me fez gostar mais da personagem ou da jornada que ela tem ao longo das páginas.

Nesse exato instante o vento ganhou força, e milhares e milhares de folhas amarelas de sicômoro se soltaram da árvore e começaram a flutuar pelo céu. Folhas de outono não caem; elas voam. Demoram-se bastante e passeiam devagar, sua única chance de voar. Refletindo a luz do sol, elas rodopiaram, avançaram e estremeceram nas correntezas do vento. p.117

Eu sou A PESSOA ERRADA para gostar e apreciar esse livro. Não gosto desse excesso de drama e apelação emocional. O livro me pegou pela parte de investigação do assassinato, e mesmo assim, fiquei decepcionada. Não com o resultado do julgamento, que foi interessante, mas com a revelação do que realmente aconteceu.

Peguei o livro pelo hype? Pela nota absurda no Goodreads? Pelo marketing massivo que a Intrínseca fez, principalmente durante a Bienal?

Com certeza.

Então, se você chegou até aqui esperando uma exaltação de como a Kya transformou a mãe natureza no regalo para sua solidão e em todo o tipo de conforto emocional que ela precisava para viver, me desculpe por não ter atingido sua expectativa.

E por não ter derramado uma lágrima sequer ao longo de todas as páginas.

No fim das contas eu deveria ter dado mais valor pra resenha da Emily May no Goodreads, dizendo que não conseguiu terminar a leitura. ¯\_(ツ)_/¯


Até a próxima! o/

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4 Comentários

  • Responder Elciene 15 set 2022 at 18:36

    Terminei de ler hoje, adorei cada capítulo. Perfeito

  • Responder Anna Carolina 3 maio 2020 at 19:29

    Muitas crianças sobrevivem sozinhas, pois não têm outra escolha. É só dar um passeio no Conselho Tutelar para saber.

    Na grande metrópole do RJ, dois irmãos de 6 e 9 anos sobreviveram sozinhos, chegando a comer papel, saiam sozinhos, iam para a escola sozinhos enquanto sua mãe estava na farra. Atravessavam a avenida que dava para a praça para pedirem comida sozinhos, até que um dia um vizinho que não dava a menor ajuda denunciou.

    Ou seja, julgar a partir das nossas experiências é raso e desonesto.

  • Responder Izandra 3 fev 2020 at 15:41

    É… As resenhas da Emily May, muitas das vezes, correspondem mais ao que sinto do que de muitas blogueiras que mais parecem “pagas” para elogiar um livro.
    Isso é algo recorrente, aliás; se é livro de parceria é SEMPRE elogiado por essas blogueiras… O que é irritante, convenhamos. Não é como se todo livro que lemos é TÃO BOM que indicamos pra todo mundo…
    Anyway, só por ser muito” poético” eu acho que já não leria; livros assim são lindos no início, mas ao longo da leitura fica maçante e cansativo. Depois, esse “forte apelo emocional” é outra coisa que já me afasta, pois sou bem como você: não tenho paciência para esse tipo de leitura rs

    • Responder Samara Maia Mattos 3 fev 2020 at 16:04

      Dá um hi-five virtual aqui amigaaaa! .o/ \o. <3

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