resenha

A Princesa Prometida – William Goldman

11 set 2018
Informações

A Princesa Prometida

William Goldman

Intrínseca

série ---

416 páginas | 2018

4.5

Design 5

História 4

14

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Buttercup é uma camponesa que se apaixona perdidamente por Westley, o jovem humilde que trabalha na fazenda do pai dela. Juntos, eles descobrem o amor verdadeiro, mas um trágico acidente envolvendo um navio pirata os separa.

Em poucos anos, Buttercup se torna a mulher mais bonita de todos os reinos e acaba sendo pedida em casamento pelo sádico príncipe Humperdinck. Mas nada, nem um poderoso príncipe amante da caça, é capaz de separar esse amor, e o destemido Westley volta para resgatar sua princesa que foi prometida a outro.

Em uma paródia aos épicos clássicos, William Goldman escreve um divertido romance com direito a tudo que o gênero tem a oferecer: piratas, duelo de esgrima, traições, tramas políticas da realeza e um romance apaixonante.

Design

Ah, os livros de capa dura da Intrínseca. Eu sempre babo um pouquinho nos projetos que a editora faz para alguns livros cuidadosamente selecionados. <3

Mas vamos combinar que A Princesa Prometida tem tudo para entrar entre os topzêra de 2018?! o/

Pessoas, o que é essa ilustração da capa?! É uma ode às grandes passagens do filme, respeitando os atores originais, traduzindo em arte o AMOOOOOR que a gente tem pela obra cinematográfica de 1987.

Eu gastei alguns minutos identificando cada trecho da arte, encontrando minúcias e relembrando do filme, antes mesmo de começar a leitura! Acho que o mais legal é essa montagem das cenas que poderiam ser um vitral, mas não tem o estilo geométrico nem suas cores sólidas.

E tudo isso em um livro de capa dura! É ou não uma forma de valorizar uma obra tão importante de “sátira” fantástica?!

A Princesa Prometida tem uma apresentação de mapa que é exatamente o que eu sempre imploro em um livro de fantasia. A arte vem nas folhas de guarda da capa, e é completamente acessíveis a qualquer momento da leitura, já que está tanto no início quanto no fim do livro.

É uma ilustração um pouco diferente do que a gente pode estar acostumado de mapas de livros de fantasia. Mas ainda assim, é bastante importante para ver o progresso da história. E ainda, a arte foi impressa sobre uma chapada de laranja bastante chamativa!

É disso que eu estou falando quando reclamo dos mapas em A Roda do Tempo. Só um jeitinho mais carinhoso de apresentar o mapa do mundinho e uma forma de facilitar na hora de consultar aonde os personagens estão naquele momento. “Só”. ;)

O miolo é dividido em algumas partes, e essas são apresentadas com uma chapada e o título, e dá pra identificar facilmente. Dentro de cada parte, dá pra se dizer que existe uma divisão de capítulos. Cada um deles é numerado, também tem um título, além de uma moldura para ilustrar a página.

Quanto à mancha gráfica propriamente dita, segue o padrão de qualidade máxima que a Intrínseca costuma usar em seus projetos. O mais legal aqui é que o autor, volta e meia, faz interferências no meio da história. De certa forma é como se ele estivesse quebrando a quarta parede, da mesma forma que o Deadpool faz quando fala com a gente durante o filme.

Para marcar esse tipo de interferência do Goldman, o texto ganha uma aparência diferente do resto do miolo, todo ele marcado com a fonte em itálico. Porque assim, fica ali, na sua cara, que é o autor falando com o leitor.


História

A Princesa Prometida é um daqueles livros que eu gostaria de ter conhecido e lido na minha infância. Na verdade, eu queria ter visto o filme também quando eu era mais nova.

Meu primeiro contato com a obra foi sua versão cinematográfica, e depois de “velha”. Eu não me lembro de ter visto A Princesa Prometida quando era pequena. E por algum motivo, ouvindo algum Nerdcast antigo, o Azaghal comentou sobre a famosa frase de Inigo Montoya.

GIF inigo montoya

“Olá, meu nome é Inigo Montoya. Você matou meu pai, prepare-se para morrer.” p.121

Sei lá porque, a frase ressoou com alguma coisa no fundo da minha mente, e quando descobri que o filme estava no catálogo da Netflix (não está mais, infelizmente), não perdi tempo para ver. O melhor de tudo foi descobrir meses depois que o filme era baseado em um livro!

Acho que o mais impressionante foi que, mesmo a obra original sendo da década de 1970, ela ainda mantém uma alta nota de 4.25 no Goodreads. Eu acho isso um certo marco para um livro.

De qualquer forma, se o filme era um livro, nada mais justo do que eu ficar com vontade de ler em algum momento da vida. Só que eu acabei tendo mais uma grata surpresa.

Acabei descobrindo que a Intrínseca iria trazer o livro de Goldman para nós! \o/ Não tenho nada contra ler livros em sua língua original, eu até gosto de desenferrujar o inglês de vez em quando, mas se pudermos contar com a “lei do menor esforço…”

Eu vou presumir que você está junto comigo e já viu o filme em algum momento da vida, então vou tentar escrever uma resenha sem spoilers, mas não vou tomar muito conta disso, ok? ;)

Tá, ainda antes de entrar no livro em si, vale comentar que William Goldman é tanto um escritor quanto roteiristas de filmes e espetáculos da Broadway. Então a linguagem que ele usa no livro tem um certo “cheiro” de roteiro de filme. É como se toda a história já estivesse de alguma forma preparada para ser levada para as telonas, sabe?

Outra coisa que vale mencionar é que Goldman criou toda uma ficção em torno de sua ficção que é completamente plausível, e em muitos momentos realmente me deixou confusa sobre o que era ou não realidade.

Explico. A base principal do livro é que Goldman seria descendente de imigrantes de Florin. Seu pai era um cidadão dessa cidade/país que foi para os EUA. Então, em um momento de sua infância, quando estava acamado por conta de uma pneumonia, o pai de Goldman, para ajudar a passar o tempo durante a recuperação, resolve contar a maior história de amor jamais escrita.

“- A vida não é justa, Bill. Nós dizemos aos nosso filhos o contrário, mas é uma coisa terrível de se fazer. Além de ser mentira, é uma mentira cruel. A vida não é justa, nunca foi e nunca será.” p.200

Ele pega o clássico livro de S. Morgenstern, famoso autor de Florin, e conta a história de dois personagens importantes para o país.

OU SEJA. Buttercup e Westley, Inigo e Fezzik, seriam pessoas de verdade que fizeram parte da história de Florin, e Morgenstern conta suas histórias em seu livro.

E, inocência ou ingenuidade minha, eu praticamente acreditei que sim, existiu um autor florinense com esse nome, a quem Goldman fez uma homenagem (ou um grande serviço) ao reescrever seu livro. Mas só com as melhores partes.

“Algumas pessoas erradas morrem, e o motivo é que a vida não é justa. Esqueça todas as besteiras ditas por seus pais. Lembre-se de Morgenstern. Você será bem mais feliz.” p.201

A Princesa Prometida é um grande romance de aventura. Para os interessados em uma leitura mais inclusiva, ele não passa no Bedchel test, e tem certas doses de machismos que provavelmente refletem a época em que foi escrito (ou são uma crítica ao machismo de livros de fantasia…).

Por exemplo. Uma das coisas que me incomodam tremendamente no filme é o quanto Buttercup é a donzela em apuros. Eu meio que desejava que ela fosse mais do que simplesmente um trope que faz a história andar. Mas não achei nada muito diferente do que é apresentado no filme.

“Ela tinha dezessete anos e todos os homens que conhecera haviam se jogado aos seus pés, e isso não significara nada até então. Na única vez que importaria de alguma coisa, ela não fora boa o suficiente.” p.57

Buttercup na verdade é quem move o início da história e até parece uma pessoa mais independente e uma protagonista real. Mas com o passar do tempo ela vai se tornando só um rosto bonito e a motivação para que o verdadeiro herói da história passe a conduzir o leitor.

A não ser que Goldman estivesse fazendo uma tremenda crítica social de como as mulheres são colocadas para segundo plano, ou apenas como o troféu a ser ganho ao final da aventura, Buttercup deixa muito a desejar como uma representação feminina na história.

“Como alguém poderia se importar em ser ou não a mulher mais bonita do mundo? Que diferença faria ser apenas a terceira mais bonita? Ou a sexta?” p.41

Conversando com uma querida amiga que se apaixonou pelo livro, acredito que Buttercup deve ser uma crítica. Porque, a partir do momento em que ela se percebe apaixonada por Westley, ela perde toda a personalidade e deixa de ser uma personagem ativa para se tornar um “prêmio”. É como dizer que uma mulher apaixonada não tem mais papel ou voz dentro de sua própria história, que passa a ser conduzida pelo herói ou pelo homem a quem ela está associada. (muito obrigada Monica-chan pelos papos maravilhosos no whats app <3)

De resto, Westley, Inigo e Fezzic são as verdadeira almas de A Princesa Prometida.

Eles são responsáveis por diversas passagens emblemáticas ao longo das páginas, são engraçados, sarcásticos, meio loucos, mas extremamente divertidos.

Westley é o nosso herói clássico, que sai de sua casa para entrar em uma jornada de amadurecimento e desenvolvimento para poder voltar para sua amada como uma pessoa “melhor”.

“- Chega de falar sobre minha beleza – cortou Buttercup. – Todo mundo só fala do quanto sou bonita. Tenho um cérebro, Westley. Fale sobre isso.

– Por toda a eternidade, é o que farei – disse ele. – Mas agora não temos tempo.” p.167

Inigo é o melhor espadachim vivo e está em busca de vingança contra o homem que matou seu pai. Só que Inigo é uma força da natureza com uma espada, mas não é muito esperto para traçar planos.

E Fezzic é o gigante bondoso. Ele é o homem forte do grupo, a força bruta necessária para “destruir exércitos”. Mas o que Fezzic mais gosta de verdade é fazer rimas, não machucar pessoas.

Os quatro personagens se encontram porque Buttercup vai casar com o príncipe de Florin, mas é raptada pelo grupo de Vizzini, um siciliano que se considera a mente mais brilhante do mundo. O rapto de Buttercup é um ato político que tem a intenção de gerar uma guerra entre Florin e Guilder, o país vizinho.

Só que os planos de Vizzini, a maestria de Inigo e a força de Fezzic vão ter um oponente à altura no Homem de Preto, que surge para salvar a princesa.

“E acho que esse livro é sobre isso. (…) Este livro diz que “a vida não é justa” e estou dizendo a você, de uma vez por todas, que é melhor acreditar.” p.200

Definitivamente, meus personagens favoritos são Inigo e Fezzic. Eles são coadjuvantes tão poderosos que conseguem ser mais interessantes do que o casal principal, que deveria conduzir de verdade a história.

Só que o background dos dois é muito mais rico e interessante do que a história de Westley e Buttercup. Eu tendo a acreditar que os dois só existem de forma a deixar Inigo e Fezzic brilharem. <3

Outra coisa que é divertida ao longo do livro é que, do nada, o autor faz comentários entre parágrafos da história. Em dados momentos, um trecho é interrompido para que Goldman diga alguma coisa sobre como se sentiu ao ouvir aquela parte da história quando era uma criança. Ou como decidiu cortar tal parte do texto “original” porque inicialmente eram 70 páginas sobre como montar um jantar de casamento, ou qualquer baboseira assim.

São quebras no ritmo da história, mas que de alguma forma sempre são divertidas ou engraçadas! E acabam transformando e valorizando ainda mais aquele momento que ele decidiu interromper.

Só houveram duas coisas que não gostei na história: 1. foi a forma como Goldman escolheu terminá-la. Eu tenho grande dificuldade com finais como o dA Princesa Prometida e eles costumam me deixar extremamente frustrada. Não foi muito diferente aqui.

“Não estou tentando desanimar ninguém, veja bem. Que dizer, eu realmente acredito que o amor seja a melhor coisa do mundo (…), mas também devo dizer, pela enésima vez, que a vida não é justa. Ela só é mais justa que a morte, e nada mais.” p.303

Foi em outra conversa com a querida Monica que eu percebi que ao longo das páginas de A Princesa Prometida, Goldman reforça continuamente o quanto a vida não é justa. E eu tive que entender isso da forma mais direta possível, ao não ter o final que eu queria. Tenho que ficar feliz com isso? Definitivamente não (ainda acho finais abertos preguiçosos)! Mas é uma forma maravilhosa de provar um ponto.

2. A parte extra chamada O Bebê de Buttercup. Sinceramente eu achei um extra muito confuso, e provavelmente não mudou em nada minha experiência com a história original. Ah! Só valeu para ler a parte do Inigo, porque ele sempre é phoda quando aparece. Então, se você quiser minha opinião, leia só a parte dele nesse extra. XD

Coisas interessantes: a gente tem a oportunidade de ler a versão comemorativa de 30 anos da obra! Não deixe de ler as duas apresentações das edições de 25 e 30 anos que vem no final do livro. São no mínimo divertidas.

Mesmo com qualquer problema que a história possa ter hoje, eu gostei muito da experiência de ler A Princesa Prometida. Acho que foi uma dessas obras que o filme fez um grande serviço por ela, e os dois são completamente perfeitos em suas mídias.

Eu só não sei dizer se eu teria gostado tanto do livro se não tivesse visto o filme primeiro….


Até a próxima!

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2 Comentários

  • Responder Monica 12 set 2018 at 18:41

    A vida não é justa, mas pelo menos temos uma história de amor verdadeiro, uma amizade mais que verdadeira, sem falar nos “causos” em itálico hehe
    Linda review, linda, linda… *-*

    Eita livro bão!

    • Responder Samara Maima 13 set 2018 at 11:22

      Oh, você por aqui! <3 Muito obrigada! Você foi muito importante para que ela ficasse realmente boa. <3

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