resenha

Objetos Cortantes – Gillian Flynn

13 set 2018
Informações

Objetos Cortante

Gillian Flynn

Intrínseca

série ---

254 páginas | 2015

5

Design 5

História 5

16

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Uma narrativa tensa e cheia de reviravoltas. Um livro viciante, assombroso e inesquecível. Recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde foi internada para tratar a tendência à automutilação que deixou seu corpo todo marcado, a repórter de um jornal sem prestígio em Chicago, Camille Preaker, tem um novo desafio pela frente. Frank Curry, o editor-chefe da publicação, pede que ela retorne à cidade onde nasceu para cobrir o caso de uma menina assassinada e outra misteriosamente desaparecida.

Desde que deixou a pequena Wind Gap, no Missouri, oito anos antes, Camille quase não falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã, praticamente uma desconhecida. Mas, sem recursos para se hospedar na cidade, é obrigada a ficar na casa da família e lidar com todas as reminiscências de seu passado. Entrevistando velhos conhecidos e recém-chegados a fim de aprofundar as investigações e elaborar sua matéria, a jornalista relembra a infância e a adolescência conturbadas e aos poucos desvenda os segredos de sua família, quase tão macabros quanto as cicatrizes sob suas roupas. 

Design

Ultimamente as resenhas aqui no blog são praticamente exclusivas da Intrínseca. A culpa é toda minha que não tenho escrito sobre outros livros que andei lendo. Acontece.

Vida adulta. Prioridades. Boletos. Falta de <insira aqui uma desculpa>.

Mas o fato inconteste aqui é que a Intrínseca é uma editora MARAVILHOSA quando se trata da grande maioria dos seus projetos gráficos.

Além de criar uma identidade para os livros da Gillian Flynn, quando saiu a série da HBO, ao invés de fazer uma edição com o poster, eles simplesmente criaram uma jaqueta para ser colocada nos livros.

Assim, além de fazer JABÁ da série e criar o link de “Olha! Esse é o livro que inspirou esses episódios aí que você tá vendo!”, ela manteve a arte original. <3

Acho muito digno e meu coração fica muito feliz com essa decisão editorial.

A capa original é “basicamente” uma arte tipográfica, coisa que eu adoro. Sobre um fundo completamente preto, o título e o nome da autora são colocados em caixa alta, ocupando todo o centro da capa. A escolha de um azul vibrante ajuda com que as informações realmente se sobressaiam.

O toque final são os pequenos riscos em branco, lembrando cortes “mutilando” a placidez (falei bonito! Estou aqui gastando todo meu português) e integridade da arte.

O miolo é bastante correto. A mancha é bem agradável com boas margens. A fonte é legível e gostosa de ler, só é um pouco “grande”, o que eu acredito que foi para dar um maior volume de páginas no produto final.

O que me chama a atenção aqui são as fontes da abertura de capítulo e do cabeçalho. É interessante que uma fonte condensed, quando usada no contexto de um livro como Objetos Cortantes, traz uma certo nervosismo e angústia. Por dar a sensação de que é uma fonte mais longilínea, utilizar ela “apertada” pelo estilo condensed muda nossa relação com sua aparência.


História

“- Não quero que isso soe cruel, mas parece que parte do seu coração não pode funcionar se você não tem filhos. (…)

A Bíblia diz para crescer e multiplicar, e a ciência, bem, no final das conta é para isso que as mulheres são feitas, certo? Para ter filhos.” p.139

Eu ainda estou um pouco perturbada da minha cabeça com os acontecimentos finais de Objetos Cortantes. E com toda a visão do feminino ao longo das 254 páginas.

Minha primeira experiência com Gillian Flynn foi com Garota Exemplar, o livro que de certa forma catapultou o nome da autora aqui no Brasil, e depois virou filme (que eu ainda não vi) com o Ben Affleck. De certa forma, não foi uma experiência lá muito legal na época em que li Garota Exemplar.

Hoje em dia eu acredito que a leitura de um livro só funciona pra você levando em consideração vários fatores. Acho que maturidade de leitura e um pouco de experiência de vida são muito importantes para que algumas histórias funcionem ou não com você.

E relendo minha resenha de 2013, até me surpreendo com meu eu passado que soube perceber que esses fatores são importantes para uma “persona leitora”. Fico me perguntando se se eu tivesse lido Garota Exemplar hoje, eu teria aproveitado melhor a leitura.

De certa forma, acredito que foi um dos primeiros livros com uma personagem não confiável que eu li na vida. Para quem vivia em mundos fantásticos e YAs com finais felizes, ser arrebatada por uma história contemporânea com personagens “feios” realmente deve ter sido uma baita experiência.

Mas divago.

Voltei a Gillian Flynn porque a HBO lançou uma série baseada em Objetos Cortantes, e como sempre, eu queria conhecer a história antes de ver o que fizeram com ela na obra televisiva.

Uma das vantagens da parceria com a Intrínseca é a oportunidade de escolher qualquer livro do catálogo caso os lançamentos do mês não estejam batendo com a sua necessidade de leitura daquele momento. Então… Objetos Cortantes veio aqui pra casa.

Vale avisar logo de cara que o livro é um prato cheio para triggers/gatilhos, então fica o aviso caso você tenha problemas com: sua família, relacionamentos maternos tóxicos, automutilação, drogas, e obviamente, assassinato de crianças.

Se você ainda está interessado na história, saiba que mesmo sendo a primeira obra escrita por Gillian Flynn, toda sua capacidade de deixar a gente perturbado ao longo da história está aqui.

Camille Preaker é uma jornalista mediana de um jornal mediano de Chicago. Seu chefe dá a ela a oportunidade de voltar a sua cidade natal para investigar o assassinato de duas meninas, antes que outros jornais se interessem pelo caso.

Como Camille é uma antiga “local”, a possibilidade de que consiga ser aceita pela comunidade e chegue a uma matéria digna de um Pulitzer é a principal preocupação do chefe. Mas ao mesmo tempo, existe uma certa tensão em enviar Camille de volta “para casa”.

“Eu sentia as lágrimas represadas, como um balão de água cheio prestes a explodir. Suplicando por um furo de alfinete. Wind Gap era tóxica para mim. Aquela casa era tóxica para mim.” p.45

Ir para Wind Gap é o estopim para toda uma volta ao passado para Camille, além de um reencontro com uma família completamente tóxica para a sanidade de nossa protagonista.

“Toda tragédia que acontece no mundo acontece com minha mãe, e isso mais que qualquer outra característica dela, revira meu estômago.” p.74

Em muitos momentos, o relacionamento de Camille com a mãe, a meia-irmã muito mais nova, e com a memória de uma outra irmã já falecida, são muito mais envolventes e tensas do que a resolução do caso de assassinato.

Camille encontra muita rejeição e uma certa agressividade das pessoas da cidade, o que atrapalha com que consiga as informações que precisaria para construir sua matéria. E quanto mais tempo ela passa com sua família, pior vai ficando com o passar dos dias.

Sério. Adora, a mãe de Camille, é uma “coisa”. É uma força da natureza, controladora e manipuladora. Sempre que ela aparecia em cena com Camille EU ficava tensa e preocupada com a personagem.

“Sempre me senti triste pela garota que eu era, porque nunca me ocorrera que minha mãe poderia me consolar. Ela nunca me disse que me amava, e nunca supus que sim. Ela cuidava de mim. Ela me administrava. Ah, sim, uma vez me comprou hidratante com vitamina E.” p.101

A meia-irmã, Amma, também é outra personagem complicada e extremamente perturbada que tem alterações bizarras de humor, além de ser outro exemplo tóxico de relacionamento com as amigas da escola. Amma é daquelas meninas lindas e populares que acreditam que os outros estão ali para servir aos seus caprichos. Mas no fundo, ela é só uma criança má.

“Conheci muitas mulheres doentes. Mulheres com dores crônicas, com doenças sempre em evolução. Mulheres com quadros. Os homens, claro, quebram os ossos, têm dores nas costas, passam por uma cirurgia ou duas, tiram as amídalas, inserem próteses plásticas. Mulheres são consumidas. (…) Homens adoram colocar coisas dentro das mulheres, não?” p.207

A forma como a maioria das mulheres são apresentadas na história e como se relacionam é uma das forças motrizes de toda a trama. Ao mesmo tempo que é uma das principais formas de deixar o leitor angustiado e tenso pelas possibilidades do que vai acontecer. Principalmente com Camille.

“(…) a garota também teve que se desculpar com a turma. “Damas devem controlar seus corpos, porque meninos não conseguem controlá-los.”” p.114

Ao longo da história você vai entendendo o quanto Camille teve uma infância/adolescência perturbada por Adora, e o quanto isso foi revertido em distúrbios mentais na protagonista. É angustiante ver como ela é atingida pela lembrança de ter se automutilado, de como isso ainda a afeta, e o quanto isso tirou dela.

“Em vez disso, eu bebo, para não pensar demais no que fiz com meu corpo, e para não fazer mais. Porém, na maior parte do tempo que passo acordada quero me cortar.” p.67

Gillian consegue, através da voz de Camille, fazer com que tenhamos a nítida percepção da angústia e da “necessidade” que a personagem tem de se automutilar.

As pessoas de Wind Gap também não são lá muito “normais”. A análise da autora sobre como as famílias têm expectativas de certa forma machistas quanto aos seus filhos é um assunto recorrente. Também a violência dentro das escolas perpetradas pelas próprias crianças; a violência entre as meninas; a violência sexual entre os adolescentes.

“Três anos depois da desapontadora Ann – será que ele foi um acidente ou um resto de brio? -, Bobby recebeu o nome do pai, foi mimado, e as garotinhas de repente se deram conta de como eram irrelevantes.” p.21

Sobre os assassinatos em si, a construção de toda essa parte da trama é mais lenta e cozinhada, e acaba se costurando na história da família de Camille. Mas quando eles são resolvidos, é gratificante a forma como tudo faz sentido, ao mesmo tempo que é perturbador que algo assim possa ter acontecido.

Como sempre, eu tendo a ficar triste quando um livro não tem redenção/reparação, porque sou dessas que vai querer um HEA até em um tratado comercial. Mas hoje eu sei e acredito que tenho um pouco mais de maturidade de aceitar e curtir um livro como Objetos Cortantes. Não é um livro feliz. É um livro forte, melancólico, triste e perturbador.

Se você não leu nada de Flynn até hoje, eu recomendo que você comece por este livro, para entender a pegada soturna e melancólica da autora. Aí sim você passa para suas drogas mais pesadas. ;)

“Eu estou aqui, falei, e essas palavras pareceram chocantemente reconfortantes. Quando entro em pânico eu as digo a mim mesma em voz alta. Eu estou aqui.” p.101


Até a próxima!

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banner parceria editora Intrínseca 2018

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