Delírio
Intrínseca
série Delírio #1
352 páginas | 2012
Muito tempo atrás, não se sabia que o amor é a pior de todas as doenças. Uma vez instalado na corrente sanguínea, não há como contê-lo. Agora a realidade é outra. A ciência já é capaz de erradicá-lo, e o governo obriga que todos os cidadãos sejam curados ao completar dezoito anos.
No primeiro volume da série Delírio, conhecemos Lena Haloway. Ela está entre os jovens que esperam ansiosamente por esse dia. Viver sem a doença é viver sem dor: sem arrebatamento, sem euforia, com tranquilidade e segurança. Depois de curada, ela será encaminhada para uma faculdade e um marido lhe será designado. Ela nunca mais terá que se preocupar com o passado que assombra sua família. Lena tem certeza de que as imposições das autoridades, como a intervenção cirúrgica, o toque de recolher e as patrulhas-surpresa pela cidade, existem para proteger as pessoas.
Faltando apenas algumas semanas para o tratamento, porém, o impensado acontece: Lena se apaixona. Os sintomas são bastante conhecidos, não há como se enganar – mas, depois de experimentá-los, ela ainda escolherá a cura?
Design
Não tenho muito pra falar desse projeto além da capa metalizada que é linda até hoje. A série na verdade é a mesma capa e imagem em todos os livros, se não me engano, só mudando a cor do metalizado. Também podia ter mudado a pose/expressão da modelo no recorte do nome da autora e do título do livro? Podia… Mas fica bonito de qualquer forma.
História
Vamos começar com algumas definições: sou uma mulher de 40 anos que insiste em ler YA de vários gêneros. E mais. Um livro que foi escrito em 2011, e se isso não é impactante o suficiente, um livro que foi escrito há 10 anos atrás.
Ou seja, eu estou 10 anos atrasada no hype e pelo menos 20 e poucos anos deslocada da idade dos personagens.
A chance de não dar certo é extremamente alta, e foi exatamente o que aconteceu com Delírio.
Se esse é seu livro favorito, se você leu na idade certa, se a trilogia é importante pra você: ótimo! Fico muito feliz por você ter uma conexão positiva com um livro e uma autora.
Mas não funcionou pra mim. E o principal motivo é que eu estava muito mais interessada no universo distópico que Lauren Oliver não se esforçou pra criar e desenvolver do que no universo particular de Lena, a protagonista padrão dos livros da época.
A premissa básica é: amor é uma doença e é preciso retirar das pessoas para que sejam tranquilas e felizes. O governo dos EUA se isolou do resto do mundo, assassinou as pessoas que eram contrárias a ideia do procedimento para retirar o amor, e já se passaram algumas décadas que as pessoas seguem com suas vidas sem sentimentos por aí.
Obviamente, nem todo mundo consegue chegar incólume à idade mínima de 18 anos para realizar o procedimento, afinal… adolescente, não é mesmo? Mesmo mantendo garotos e garotas em escolas separadas, sempre vai existir aquele “foco de resistência” e a chance dos jovens se contaminarem.
Lena já nasceu nesse novo mundo, e aguardar pelo dia do seu próprio procedimento é o que ela mais deseja. Lena vem de uma família desestruturada e eu fiquei muito confusa por muito tempo com o nome das coadjuvantes da família. Quem era a tia, irmã, prima, avó na parada toda.
Hoje ela mora com a irmã da sua mãe. Seu pai morreu de câncer, e a mãe era considerada um problema porque mesmo depois de três vezes passando pelo procedimento, ela não se via curada do amor. Assim, Lena tem um peso muito grande nas costas por ser “sangue podre”, e por sua mãe ter se suicidado para fugir de um quarto procedimento, abandonando ela e sua irmã Rachel.
Então temos uma protagonista complexada com uma família desestruturada em uma ambiente em que o amor não existe e o carinho não é estimulado. Ela sonha com o procedimento para ser curada do amor, porque ela viveu a própria tragédia de o quanto ele destrói a vida das pessoas.
Com base em tudo isso, você já sabe o que vai acontecer, não é mesmo?
É, indo contra as expectativas Lena vai se apaixonar e perceber que todo o esquema da cura é errado, que o amor não destrói as pessoas, blablabla. O problema é a velocidade com que essa mudança acontece. Ela passou a vida inteira sofrendo com a perda da mãe, com o estigma de ser “párea”, desejando o procedimento, e em poucos dias se relacionando com o interesse amoroso TUDO MUDA.
E assim, vou comentar algumas coisas que provavelmente são spoilers mas são importantes pra minha avaliação. Então já sabe, se não quiser saber mais nada, volte depois.
A autora joga aqui e ali que existe uma resistência, de pessoas simpatizantes e “Inválidas” (o que é um termo muito ruim na minha opinião), que não passaram pelo procedimento de cura. O rapaz que Lena se apaixona faz parte da resistência e diz que existem mais pessoas do que o governo imagina, infiltradas em diversos lugares e instituições.
Mas ao longo do livro, fora essas informações, e uma invasão de bovinos que acontece no dia da avaliação de Lena para o procedimento, a resistência não faz MAIS NADA. O livro parece acontecer ao longo de 4-5 meses e a resistência só ataca uma única vez? As pessoas não estão realmente preocupadas que seu sistema está sendo atacado?
Qual o papel do rapaz na resistência? Por que ele foi infiltrado na cidade de Lena? O que eles pretendem fazer para libertar o país do julgo dessa opressão?
Pois é… isso não é relevante. Mas piqueniques escondidos e beijos roubados são.
Uma outra coisa que não fica muito clara e sei lá, a autora tira da cartola quando precisa, é a questão da tecnologia. Ela dá a entender que energia, combustível, e tecnologia no geral, é uma coisa rara e racionada. Só os ricos tem acesso a carros, por exemplo. Em momento nenhum ela fala sobre televisão. rádio ou celulares, e do nada ela saca as três coisas quando são convenientes.
Ela não explica como as pessoas ganham dinheiro, só fala que quando são avaliadas para o procedimento da cura, o governo decide qual será sua profissão e com quem você será pareado para o resto da sua vida. Como é organizada a sociedade adulta dessa história não parece ser relevante.
Entrar nas Criptas, que é onde os simpatizantes e pessoas resistentes ao procedimento são presas, e que deveria ser o lugar mais protegido da cidade, é extremamente fácil! Você não sente em nenhum momento apreensão de que vai dar alguma coisa errada quando Lena e Alex (o namoradinho) se metem por lá.
E quando a gente tem o plotwist da história sobre a mãe de Lena, a jovem surta porque a mãe não foi atrás dela. 12 anos aprisionada, sabendo do risco que ela representaria pra própria filha, e Lena tá chateada de que a mãe fugiu ao invés de procurá-la primeiro…
Obviamente dá ruim para o nosso casal, e o momento do clímax do livro é de auto-sacrifício e que eu vi vindo lá no horizonte, ao mesmo tempo que já estava com aquele misto de “por quê?” e cansada porque continuo insistindo em ler livros que, na maioria das vezes, não funcionam mais pra mim.
Tenho a trilogia completa, mas confesso que não quero ler os seguintes. Meu foco de interesse que era o mundinho com certeza não vai ser trabalhado de verdade nos próximos, e eu quero “perder” meu tempo com leituras que pelo menos me deixem feliz e não frustrada.
Até a próxima! o/
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1 comentário
Menina, eu tenho um sério problema com esse livro, que é: eu sempre, mas SEMPRE, confundo ele com outro livro, de outro autor, cujo título também é uma única palavra, e que até o enredo é, de certa forma, similar.
O causador dessa confusão é o livro “Feios”, do Scott Westerfeld… Se você ainda não leu, depois busca a sinopse; enquanto esse “Delírios” é um mundo distópico em que se erradicar o amor em “Feios”, estamos falando de uma sociedade onde a beleza externa seria mais importante. Eu li tem muuuuito tempo, e a impressão lá naquela época havia sido boa… Só não sei se ainda seria, considerando que, assim como você, já não tô na faixa etária para YA tem tempo rs
Sobre “Delírio” em si, nunca dei uma chance, e depois da sua resenha, agora mesmo que nem perco tempo xD