resenha

Minha Sombria Vanessa – Kate Elizabeth Russell

26 out 2020
Informações

Minha Sombria Vanessa

Kate Elizabeth Russell

Intrínseca

série ---

432 páginas | 2020

4.75

Design 5

História 4.5

18

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Em 2000, Vanessa Wye é uma estudante solitária de ensino médio. Talentosa e com o sonho de ser escritora, Vanessa diz não se importar de ficar sozinha, principalmente quando seu professor de inglês, Jacob Strane, um homem de 42 anos, começa a prestar atenção nela, elogiando seu cabelo, suas roupas e lhe emprestando alguns de seus livros favoritos — como Lolita, de Nabokov. Antes que Vanessa perceba, os dois embarcam em uma relação e a jovem acredita que o professor a ama e a considera especial.

Mais de uma década depois, uma ex-aluna acusa Strane de abuso sexual, e Vanessa começa a questionar se o que viveu foi realmente uma história de amor ou se não teria sido ela também uma vítima de estupro. Mesmo depois de tantos anos, Strane ainda é uma presença constante em sua vida. Como ela seria capaz de rejeitar o que considera seu primeiro amor?

Alternando entre presente e passado, o livro justapõe memória e trauma ao entusiasmo de uma adolescente descobrindo o poder do próprio corpo. Instigante e impossível de largar, o livro retrata com maestria a adolescência conturbada e suas consequências, para refletir acerca de liberdade, consentimento e abuso. Escrito com intimidade e intensidade assustadoras, Minha sombria Vanessa capta brilhantemente os costumes culturais em transformação que guiam nossos relacionamentos e a própria sociedade.

Design

Essa é uma capa forte. É a adaptação da versão original, mas ainda assim, o trabalho gráfico aqui é muito bonito.

A imagem em preto e branco da jovem de olhos fechados com a borboleta é impactante, e o título, todo em caixa alta mas com um trabalho gráfico na fonte para passar a sensação de que as letras foram arranhadas/raspadas, já passa a sensação que não vai ser um história “tranquila”.

Como sempre, a marquinha da Intrínseca sofre junto a mesma violência aplicada no título do livro.

E a quarta-capa completamente preta com só uma frase é tudo que você precisa saber para fechar o entendimento que Minha Sombria Vanessa vai te deixar um pouco perturbado.

Eu gostei desse miolo mesmo ele sendo mais “simples”. Como a história alterna entre momentos temporais, a forma de mostrar isso foi com folhas completamente pretas com o ano do trecho em branco. Fora essa marcação de alternâncias no tempo, não temos numeração de capítulos.

Gostei da mancha gráfica, ocupa bem a página, e tem o cabeçalho completo no topo, com páginas, título do livro e nome do autor.

Eu acho a escolha da fonte ok, mas tenho um certo incômodo com ela. A Electra parece ter uma altura de X meio apertada e uma largura das letras meio grande, o que faz com que pareçam meio expandidas. De alguma forma, é como se as palavras ocupassem mais espaço do que “precisariam”, com essa fonte. Ela é bonita, mas eu acho ela muito espaçosa.


História

Precisei deixar a história descansar uma semana pra sentar na frente do computador e tentar escrever sobre Minha Sombria Vanessa.

Primeiro, o que está escrito na quarta-capa, “esta não é uma história de amor”, não é um aviso leviano. É um lembrete para leitores que podem tentar romantizar o que acontece com os personagens.

Esse livro provavelmente é cheio de gatilhos para pessoas que passaram por algum tipo de situação parecida, então se você tem sensibilidades para: estupro, abuso sexual, manipulação, relacionamento abusivo e tóxico, pedofilia, consumo de drogas, baixa autoestima; não acho saudável que você leia Minha Sombria Vanessa.

Eu passei as 432 páginas do livro alternando entre diferentes estados de sentimentos negativos. Desde nojo, descrença, angústia e revolta, a raiva, tristeza e um incômodo culpado em relação à protagonista.

E quero tirar isso logo da frente. Apesar de Vanessa ser a vítima em sua própria história, eu simplesmente não consigo gostar da personagem. Sinto pena, sinto revolta, mas não consigo simpatizar com ela.

Não acho que ela “mereceu” nada do que sofreu. Não acho que ela “procurou” pelo que aconteceu. Mas é muito incômodo como toda a manipulação que sofreu na adolescência deixou um nível de perturbação que faz com que ela seja difícil.

Ver o quanto ela tem uma autoestima distorcida, o quanto se destrói com bebidas e drogas quando é adulta, e o quanto ainda procura seu abusador como se ele fosse a única pessoa que a entende ou com quem pode contar… Escrevendo agora eu sinto o incômodo e o nojo voltando.

Só que o nojo real e o ódio real é para o professor de Vanessa, o homem que até o fim não acreditava que era um pedófilo abusador de crianças.

Eu sempre tive uma dificuldade real em me relacionar ou com pessoas muito mais velhas ou muito mais novas. Na época da escola meus professores eram pessoas “hierarquicamente superiores”, e eu nunca quis nenhum tipo de proximidade com nenhum deles. Homens ou mulheres.

Confesso que achava estranho a facilidade que alguns colegas tinham em criar proximidade com os professores, e até me incomodava um pouco com isso.

Aqui em Minha Sombria Vanessa, ver como o professor Strane se aproveitou e manipulou Vanessa para convencer a jovem que ela era muito madura pra sua idade; que ela tinha poder sobre ele e ela definia o ritmo da relação; que ela estragaria a vida dele; que ele a amava; fez com que meu incômodo real fosse ampliado exponencialmente.

Ler sobre os dois se relacionando e se aproximando cada vez mais foi nojento. Não consigo aceitar um relacionamento entre uma jovem de 15 anos e um homem quase 30 anos mais velho. Só existe um desequilíbrio de “poder”, onde um homem formado (e doente) manipula uma jovem em formação a acreditar que tem total capacidade para tomar as próprias decisões, e que é mais madura do que todas as outras meninas de sua idade.

Minha Sombria Vanessa alterna a história em dois momentos temporais. Em 2017 acompanhamos uma Vanessa de 32 anos, ainda vítima de tudo que aconteceu em sua adolescência, e descobrindo que seu antigo professor e abusador foi denunciado por outra mulher que foi molestada por ele no colégio.

Mesmo tendo sido ela mesma abusada pelo professor, Vanessa não consegue simpatizar com a vítima e defende Strane e seu amor em diversos momentos.

Em 2000 acompanhamos uma Vanessa de 15 anos e sua forma distorcida e manipulada de entender o interesse do seu professor de Inglês.

A autora não poupa o leitor de nenhum detalhe na história de Vanessa. Desde os primeiros momentos em que Strane tenta demonstrar indiretamente, através de livros e leituras, que está fisicamente atraído por Vanessa.

Como o primeiro contato físico faz a jovem sentir, um misto de desconforto e poder sobre um homem muito mais velho.

A evolução do relacionamento e da manipulação das emoções da jovem.

Até a noite fatídica do abuso de Vanessa.

Tudo é dividido com o leitor em detalhes e com os pensamentos, sentimentos e sensações que Vanessa está experimentando.

E é cru. É nojento. É revoltante.

E provavelmente é o que acontece com muitas crianças em diversas escolas pelo mundo.

Acho que o que mais dói em toda essa história é uma certa apatia da mãe de Vanessa, e a autodestruição que ela, já adulta, continua a infligir a si própria. Até mesmo procurar por terapia não parece trazer a real redenção pra personagem, porque ela continua não querendo assumir ou aceitar que o que ela sofreu quando criança foi um abuso. Foi um estupro.

Ela só consegue enxergar como amor. Por que, se não foi amor, quem ela realmente é hoje?

Apesar de ter ficado perturbada ao longo da leitura, o livro é muito bom como um alerta. A escrita de Kate Elizabeth Russel é muito elegante e extremamente envolvente, e tinha que ser assim para fazer com que eu continuasse com nojo e revoltada e virando página atrás de página.

Eu achei que não conseguiria ler Minha Sombria Vanessa. Agora eu acho que é um livro importante para conscientizar sobre coisas que muitas vezes ignoramos que podem estar acontecendo.

E é triste ver o quanto a vítima costuma ser culpada por “estragar e difamar” a vida de seu abusador. Isso é um dos principais argumentos que Strane usa pra lembrar Vanessa o que pode acontecer se descobrirem sobre seu “relacionamento”.

Meu único incômodo com o desenvolvimento da história, e que me fez tirar 0.5 pontos, foi que a narrativa tem uma barriga no momento que Vanessa vai para a faculdade. Aqui eu senti que as páginas estavam se arrastando com um certo alongamento da percepção de Vanessa sobre seu relacionamento com um outro professor. Eu só queria que ela tivesse uma conclusão em seu eu adulto de 2017, e não achei que ganhamos muito com o que acontece em 2006.

Sobrevivi ao livro, mexida e revoltada, e se você gosta de uma leitura forte e realista, não fuja de Minha Sombria Vanessa. Que sempre ouçamos as vítimas e consigamos protegê-las.

(…) Não fomos impotentes por escolha, foi o mundo que nos forçou a ser. Quem teria acreditado em nós, quem teria se importado? p.425


Até a próxima! o/

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