resenha

1793 – Niklas Natt och Dag

23 jul 2020
Informações

1793

Niklas Natt och Dag

Intrínseca

série ---

432 páginas | 2020

3.75

Design 4

História 3.5

16

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Em seu romance de estreia, o sueco Niklas Natt och Dag cria um retrato vívido da sombria Estocolmo do final do século XVIII. Estamos no outono de 1793. Logo pela manhã, ainda de ressaca, o sentinela Mickel Cardell é alertado sobre um corpo que foi encontrado flutuando nas águas fétidas do lago da Ucharia. Os esforços para identificar o cadáver totalmente mutilado são confiados ao incorruptível advogado Cecil Winge, que pede a ajuda de Cardell para resolver o caso. O tempo, no entanto, é curto: a saúde de Winge é frágil, a situação política do país, instável e, pelas esquinas, proliferam paranoia, violência e conspirações.

Winge e Cardell mergulham nas sarjetas de um mundo brutal de ladrões, mercenários e aristocratas corrompidos. De um filho de fazendeiro percorrendo um caminho traiçoeiro ao procurar fortuna na capital a uma jovem órfã enviada para uma casa de correção por um pároco impiedoso, a complexa investigação passará pelas muitas camadas de uma sociedade corrupta. Ricos e pobres, bons e maus, vivos e mortos: o cadáver retirado do lago pode comprometer e fundir todos esses mundos.

Ousado e brilhante, 1793 é um noir histórico eletrizante que, a cada página, torna-se ainda mais perturbador.

Design

Que maravilha me deparar com mais um livro de ficção história que tem um belo mapa para dar suporte à narrativa.

Depois de Um Cavalheiro em Moscou, 1793 achou por bem mostrar pro leitor como era Estocolmo na época em que os personagens cruzavam as ruas da cidade. O mapa é bem próximo da geografia que ainda existe até hoje (eu fui procurar no Google Maps) e realmente ajuda a ter uma percepção geral do que está acontecendo e aonde.

Mas alguns deslocamentos são muito minuciosos, entrando no mérito de nomes de ruas, e nem sempre é tão fácil de localizar. Ainda assim, ter o mapa tornou a experiência da leitura ainda mais imersiva nas andanças dos protagonistas.

Só tem uma coisa que eu particularmente não curto muito na capa de 1793 e é a mancha de sangue no número 9. Até entendo que é pra mostrar pro leitor que “ó! esse é um livro de crime!”, mas sei lá. Pra mim a combinação do fundo preto, o ano estourado no centro da capa, e dentro dos numerais uma representação da cidade de Estocolmo em uma arte da época, já eram atrativas o suficiente.

Não sei se o sangue foi uma forma de realmente criar uma quebra entre ser um “livro histórico” e ser um “thriller histórico”. As pessoas poderiam confundir com algum livro da Mary del Priori, vai saber? 🤷‍♀️

Não estou de forma alguma dizendo que não gostei da arte. Só estou sendo, como sempre, cricri por motivo nenhum. 😅

O resto da capa mantém a mesma atmosfera meio noir e lúgubre (por isso que não sei se realmente precisava do sangue…).

Fora o mapa, o miolo do livro é bastante correto, sem nenhum diferencial muito marcante. O livro é dividido em quatro partes, e cada uma delas sempre apresenta a estação do ano em que a história está se passando. Também tem o título do capítulo que é meio relacionado ao protagonista principal e um quote que já dá um pouco da atmosfera.

Projeto gráfico padrão de qualidade que a Intrínseca sempre faz pros seus livros. ❣️


História

Antes de qualquer coisa vale o aviso que 1793 é um livro muito gráfico em diversas descrições, desde agressões, mutilações e alguns tipos de abusos. Se você não gosta de ler livros que tenham algum desses temas, talvez seja bom se manter um pouco afastado de 1793.

Eu sempre comento que existem alguns gêneros de livro que eu curto bastante mas não costumam ser meu “investimento” na hora de escolher em uma compra ou até mesmo como leitura.

Thriller é um deles.

Então, quando 1793 apareceu como uma possibilidade de solicitação de leitura pela Intrínseca, não perdi a oportunidade.

Só que eu comecei a leitura em um momento ruim da quarentena, então deixei ele esperando pra quando eu tivesse mais segura para pegá-lo de novo.

O que me deixou desconfortável foi o que eu já avisei no início: o alto nível de detalhes nas descrições que Niklas Natt och Dag usa em suas cenas.

Não posso dizer que fiquei “imune” na segunda tentativa, mas foi menos perturbador quando voltei pra 1793.

Pra mim foi uma experiência ainda mais interessante porque estou “acostumada” com thrillers contemporâneos, ou no máximo os escritos pela Agatha Christie. Imaginar como seria a polícia solucionando um crime no século 18 foi no mínimo desafiador.

Meu conhecimento sobre história mundial é só o que consigo me lembrar das aulas na escola. E a gente não costuma discutir como funcionava o sistema policial no passado. Na minha cabeça, nesse período a polícia “só servia” pra prender arruaceiros, dispersar confusões… Nunca pensaria que existiria uma “força tarefa” responsável por solucionar assassinatos ou crimes violentos. Tipo um “CSI século 18”, sabe?

Mas é exatamente o que se tem em 1793: um thriller histórico, com personagens tentando montar um quebra-cabeça em um período conturbado da Suécia.

Cardell é um sobrevivente de guerra. Mutilado durante uma batalha, ele perdeu seu braço esquerdo e hoje, além de bêbado, é um dos sentinelas da cidade de Estocolmo.

Um dia, enquanto afoga as mágoas em um dos bares da cidade, duas crianças o arrastam para o cais. Elas encontraram um corpo boiando nas águas da baía. Cardell entra nas águas para realizar o resgate, e acaba percebendo que o cadáver foi brutalmente mutilado, e provavelmente descartado quando finalmente faleceu.

Cecil Winge é um advogado renomado, mas está extremamente doente. O “chefe de polícia” chama Winge e pede que ele investigue o caso do corpo encontrado, e descubra quem foi o responsável por tamanha brutalidade.

É nesse momento que Cardell e Winge tem suas vidas entrelaçadas. Juntos eles vão tentar descobrir quem é a pessoa assassinada, quem foi capaz de fazer isso com ela, e por quê.

É interessante perceber que o ritmo e a forma como Niklas escreve sua história é diferente de thrillers que costumam vir de autores americanos ou ingleses. Se você já leu Stieg Larsson (Os homem que não amavam as mulheres), sabe que o ritmo e a cadência das histórias escandinavas costumam ser mais lentos e contemplativos.

Comento isso porque 1793 é divido em quatro partes, que não são contadas em ordem necessariamente cronológica, e também não pelos mesmos personagens.

Temos quatro protagonistas na história: Cardell e Winge são responsáveis por duas partes. Kristoff Brix e Anna Stina são os protagonistas cada um das outras duas partes.

E preciso confessar que quando a narrativa muda de Cardell e Winge para Brix foi um corte tão “brusco” que eu fiquei me sentindo “roubada” de sentido na leitura.

Toda a construção de tensão e apreensão que a primeira parte está te conduzindo é interrompida para falar de um personagem que não foi comentado anteriormente, e que parece completamente alheio a tudo que você leu até aquele momento.

É como você estivesse começando um livro novo todo de novo. Foi meio frustrante.

O mesmo aconteceu quando a história migra de Brix para Anna Stina. Você está investido nos acontecimentos do personagem e pronto… para tudo e vamos começar mais um personagem do início.

E como eu falei, eles meio que estão em momentos diferentes do “tempo”, cada um em uma estação do ano de 1793. E aparentemente sem nenhum tipo de conexão.

Como a narrativa é bastante lenta, descritiva e contemplativa, em alguns momentos dá uma certa canseira e preguiça de começar a investir seu tempo em mais um personagem sem ver como ele vai estar envolvido na história e com os outros protagonistas.

Se isso não for um problema pra você a construção do desfecho é bastante satisfatória e muito bem construída. Eu gostei da experiência, mesmo saindo um pouco da minha zona de conforto (ou de expectativa) com um thriller.


Até a próxima! o/

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