resenha

Serpentário – Felipe Castilho

30 set 2019
Informações

Serpentário

Felipe Castilho

Intrínseca

série ---

368 páginas | 2019

3.25

Design 5

História 1.5

14

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Todo ano, Caroline, Mariana e Hélio costumavam deixar a capital paulista para encontrar Paulo, um jovem habituado à simples vida caiçara. No entanto, a amizade construída nas areias do litoral sofreu abalos sísmicos no Réveillon de 1999, quando algo tão inquietante quanto o bug do milênio abriu caminho para uma misteriosa ilha que despontava no horizonte, e explorá-la talvez não tenha sido a melhor decisão.

Sobreviver à Ilha das Cobras tem um preço. O arquipélago é um ambiente hostil, tomado por víboras, e esconde segredos tão perturbadores quanto seus habitantes. Mais do que um equívoco darwiniano ou uma lenda popular, a ilha praticamente destruiu a vida deles. Entre memórias e fatos fragmentados, o que aconteceu naquela fatídica noite se tornou um mistério. Mas de algumas coisas eles se lembram perfeitamente: uma enorme e ameaçadora serpente, além de uma pessoa sendo entregue ao ninho da víbora, um sacrifício sem chance de recusa.

Anos depois, Caroline é confrontada com um de seus piores pesadelos: a pessoa que eles abandonaram está viva. Um fantasma do passado que surge para fazer suas certezas caírem por terra. Então, ela decide reunir os amigos para entender o que aconteceu. E talvez o encontro seja parte de algo maior… e maligno. Em Serpentário, Felipe Castilho mostra todo o seu talento ao mesclar referências do folclore e da mitologia a elementos da cultura pop, da ficção científica e do horror.

Design

“Apesar” de Serpentário não ter capa dura, ainda assim, esse livro mereceu um baita carinho e atenção do pessoal da Intrínseca.

Primeiro, essa capa super minhocuda e assustadora. Eu não sei vocês mas eu tenho um certo nojo e probleminhas com minhocas e solitárias. Lembro de DETESTAR as aulas de biologia quando a gente estudava esses bichos.

Agora imagina uma capa INTEIRA que remete automaticamente a esses troços nojentos?! Pois éeeee. Mas super chama a atenção na livraria, você não acha? Essa capa praticamente monocromática, com essa fonte nervosa e bizarrinha!

Aí pra quebrar qualquer expectativa, você tem uma pintura trilateral verde! Por que verde?, você me pergunta. Não faço ideia, eu te respondo. Não consegui pescar nada na história (até onde eu li) que me desse uma dica do porquê da cor.

Então, você abre o livro. E lá tá o verde de novo numa chapada brilhante na contra-capa e a minhoca nojenta invadindo as orelhas. O.o

O miolo tem duas estruturas principais: os textos pré-capítulos e as aberturas de capítulo propriamente ditas.

Os pré-capítulos são todos diferentões, com uma impressão acinzentada na folha, para parecer que é um papel “xerocado”, e a fonte é tipo aquelas antigas de máquinas de escrever. As margens são um pouco apertadas, porque era meio difícil ter esse controle e ajuste lá nos passados.

Além disso, existem umas manchas nas páginas dos pré-capítulos que me lembraram um pouco marcas de sangue. Era pra ser? Espero que sim, porque foi o que pareceu.

Agora, nos capítulos propriamente ditos, quando um texto de pré-capítulo termina em uma página ímpar, a página seguinte fica “livre” para apresentar uma ilustração bem ofídica. Essa serpente, que também me lembra um pouco o monstro da fumaça de Lost, se alonga também para a página seguinte, se envolvendo com o título do capítulo.

O mais interessante é que nenhuma serpente é igual a outra. Cada capítulo em que elas aparecem tem uma sinuosidade diferente. Bem perturbadorzinho.

Por fim, a fonte do miolo “real” é bem tranquila de ler, margens e entrelinhas bem trabalhadas e equilibradas. O título do capítulo parece usar a mesma fonte nervosa e caligráfica da capa, o que é muito legal como consistência no projeto gráfico.


História

Sabe quando você está num relacionamento que não funciona mais, e para terminar tudo, usa aquele chavão super batido:

“Não é você; sou eu.”

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Sabe?

Pois é. Não é Serpentário, sou eu. De verdade eu quero acreditar que o problema foi que eu não sou a pessoa certa pro livro do Felipe Castilho.

O mais chato de tudo é que eu não gosto de abandonar livros. Não gosto mesmo! Eu sempre fico com aquela sensação de que eu não me esforcei o suficiente pra gostar/entender/me envolver com a história.

Só que quando você chega a 52% de uma leitura e nada funciona pra você, não tem muito porque continuar investindo ou insistindo.

O que mais me entristece é que eu gostei bastante do primeiro livro do autor lançado pela Intrínseca. Tudo bem que Filhos da Degradação tem muito mais a ver com a minha escolha natural de leituras. E mesmo que eu tenha ressalvas sobre algumas escolhas de estilo que Castilho tenha feito pra sua estréia na fantasia (tipo MUITO tell e pouco show), o resultado ainda é MUITO bom.

E não consigo dizer o mesmo aqui em Serpentário.

O que não funcionou pra mim?

Personagens

Simplesmente não me importo com ninguém. Não consegui me interessar por nenhum dos quatro protagonistas. Suas histórias não me atraíram, suas vozes são desinteressantes.

E eu não consigo diferenciar a voz dos personagens adolescentes dos personagens adultos. Continuam praticamente a mesma coisa, independente do tempo cronológico da história.

Passado e presente

Não funcionou pra mim usar o mesmo capítulo para contar o passado e o presente um seguido do outro. Essa forma de usar o flashback mais me atrapalhou do que ajudou a definir o tom da história. Principalmente porque me atrapalhou a ver o “crescimento” dos personagens, por conta de suas vozes jovem/adulto ficarem praticamente a mesma coisa.

Mistério e terror (Era pra ser terror, né?)

Era pra ter terror? Eu sou a pessoa MAIS MEDROSA pra ler qualquer coisa que tenha tensão ou construção de terror. E não senti nada aqui. O mistério não empolga. O terror não constrói.

Não tive a sensação de ansiedade ou aquela iminência de angústia do susto. Eu não sei muito bem qual foi o problema, se é a forma como Castilho constrói a expectativa ou as cenas em si, mas não rolou.

Antes de dar uma pausa com It, eu fiquei impressionada com a forma como Stephen King constrói frases aparentemente simples, mas que deixam você transtornado de tensão e expectativa. Ainda lembro o quão aterrorizada eu fiquei com a descrição de um personagem subindo as escadas de casa!

Eu não senti esse tipo de coisa em Serpentário. Não tive medo pelos personagens. Não tive senso de urgência.

E também não senti vontade de pular para o final do livro e descobrir o que aconteceu.

Pré-capítulos

As páginas diferenciadas, como se fossem trechos de “diários” de diferentes acontecimentos relacionados com o mistério da Ilha das Cobras até são interessantes. Mas como são fragmentos, sempre terminavam em momentos que poderiam “explicar” coisas importantes para a história atual, mas que só deixavam um cliffhanger meio qualquer coisa.

Depois de um tempo, parou de ser interessante pra ser uma parte em que eu considerava FORTEMENTE pular para continuar o próximo capítulo.

Se eu percebi certo, pareciam ser quatro histórias diferentes sendo contadas de forma fragmentada. Talvez nisso eu dê uma folheada pra ver se entendi certo.

Piadinhas e contemporaneidade

Aqui já pode ser implicância minha, tá? Eu total assumo isso. Mas encher o livro de referências moderninhas eu acho beeeem brega. Festa de aniversário/Bar Mitzvah de um menino na praia da Baleia? =/

O problema maior de usar referências muito temporais é exatamente esse. Elas se perdem muito rapidamente. E fica quase gratuito e uma desculpa pra fazer piadinha “interna”.

Não é como um Jogador Nº1 que é construído em nostalgia e que você “precisa” ser nostálgico também pra entender as referências do autor.

Revisão/Edição

Existe um excesso de explicações/descrições pra uma afirmação/comentário/acontecimento.

“Ninguém ali tinha passado protetor solar. Afinal, aquela era só uma escapulida sem a presença dos pais, e o único adulto ali não estava nem um pouco preocupado com aquilo.” p.161

A sensação que eu tenho é que o livro podia ter passado por mais uma revisão/edição no texto para tirar essas “gorduras” que não agregam quase nada ao que realmente se quer contar. Será que tinha alguém cobrando pra que o Castilho entregasse logo o manuscrito pra ser publicado? Será que reescrever/revisar mais uma vez teria me ajudado a me envolver mais com o livro?


Nunca saberemos.

E é por (tudo) isso que o problema “não é você, sou eu”.

Enquanto escrevia essa resenha, o livro estava com 4.5 no Skoob e nenhum abandono. Vou ter que ir contra a tendência de satisfação da galera e ser uma das primeiras pessoas a abandonar o livro do Castilho.

Peço desculpas.

E digo que continuo esperando a conclusão de A Ordem Vermelha. Provavelmente a escrita de fantasia do autor funciona melhor pra mim.


Até a próxima! o/

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2 Comentários

  • Responder Henrique 20 maio 2020 at 19:46

    Jesus, não entendi nada do livro. Pqp.

    • Responder Samara Maia Mattos 21 maio 2020 at 17:33

      Pois é, Henrique. Eu te entendo. Tanto que acabei pulando algumas partes porque não estava indo pra lugar nenhum… É uma pena porque o livro de fantasia que o Castilho lançou também pela Intrínseca é bem melhor.

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