resenha

Areia Movediça – Malin Persson Giolito

18 set 2019
Informações

Areia Movediça

Malin Persson Giolito

Intrínseca

série ---

352 páginas | 2019

3

Design 3

História 3

16

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A vida de Maja Norberg parecia incrível: ela era jovem, bonita, inteligente e popular. Nada iria dar errado. Até que houve o tiroteio na escola: seu namorado e sua melhor amiga estão mortos e ela é a única acusada dos crimes. Maja não consegue refazer mentalmente os caminhos que a colocaram nessa situação, mas uma coisa é certa: ela é a adolescente mais odiada da Suécia.

Após nove meses na prisão, é hora do julgamento. Os advogados estão usando todos os recursos possíveis para provar sua inocência, mas a promotoria, a mídia e os olhares de todos à sua volta nitidamente desejam o oposto.

Narrado do ponto de vista de Maja, que trata o leitor como um confidente, Areia movediça entrelaça as memórias da garota a um cenário de tensão racial e econômica que, aos poucos, ajuda a revelar as peças de um surpreendente quebra-cabeças. Panorama perspicaz de uma juventude desmoronando, o livro toca em temas como imigração, conflito de classes e o isolamento adolescente, embalados por uma ótima narrativa de crime e tribunal.

Design

Eu colocaria o projeto gráfico de Areia Movediça numa classificação de “básicos”. O livro em si não tem nenhum tipo de trabalho mais elaborado, tanto em sua capa quanto no miolo.

Falando na capa, o livro já foi lançado com essa arte que é o “poster da série”. Eu sempre entendo a necessidade de marketing de aproximar a obra literária com a obra “visual”, porque você pode chamar a atenção das pessoas que só viram a série. Mas eu costumo curtir mais quando existe um trabalho exclusivo pro projeto gráfico do livro, sabe?

Não é que o livro perde valor por não ter uma arte própria. É realmente uma preferência pessoal, porque são obras distintas.

O miolo também, como eu disse, não tem um trabalho mais elaborado. Ele é totalmente correto, com uma ótima mancha gráfica, boa legibilidade da fonte, o que a gente sempre espera como “mínimo” de um livro.

Fico pensando se a Intrínseca (e as outras editoras) não tem um arquivo de template de miolos, que é pra ser usado em livros mais “de massa”, que não precisam de uma arte mais elaborada.


História

Daquelas coisas que a gente só descobre meio que sem querer: eu gosto de histórias de advogados e de julgamento! Quem diria, que além de thrillers policiais, eu também ia me interessar por tramas que contam como um caso é preparado e defendido.

A primeira temporada de How to get away with murder tem muita culpa nisso. Depois a série meio que perdeu a força pra mim, mas a primeira é impecável. Eu acho que as cenas de sexo são um pouco gratuitas mas os personagens (e a história) meio que “pedem” pra que elas aconteçam. Todo episódio sempre tem um casal se enroscando em algum lugar.

Mas divago. Essa introdução meio que foi para explicar o motivo de eu ter escolhido Areia Movediça como uma das minhas leituras de julho/agosto da parceria com a Intrínseca.

Além disso, tem série na Netflix, e eu achei que depois de ler seria legal ver os episódios.

Mas…

Sempre acaba tendo um mas nessa vida, não é mesmo? u.u

Eu tinha uma expectativa um pouquinho diferente pra Areia Movediça. Assim… estragou minha experiência INTEIRA? Não estragou. Mas fiquei decepcionadinha? Ah, isso não posso negar.

Qual foi o meu problema com o livro da Malin? Eu queria um foco muito maior no julgamento em si. Como foram as conversas entre os advogados e a Maja; como ela foi preparada para responder as perguntas da promotoria; como a promotora construiu o caso contra a Maja; a apresentação das provas… Só que não tem muito disso.

Óbvio que existem os momentos em que a personagem está no tribunal para apresentação de alguma informação do caso, da acusação da promotoria, de apresentação da defesa. Mas a maior parte do livro, sei lá, uns 2/3 é Maja relembrando os acontecimentos que levaram até aquele momento.

E sendo bem direta: a maioria das coisas eram simplesmente “white rich people problem“.

Maja é uma jovem de 17 anos, que se não é rica, pode se considerar que vem de uma família com uma condição bastante favorável. Ela não é popular, mas é boa aluna, tem boas notas.

Até que ela é notada por Sebastian, o jovem mais rico da Suécia. Isso mesmo, da Suécia INTEIRA. E ele é o estereótipo do cara mimado. Esbanjando com festas, viagens, drogas. Eu odiei Sebastian desde que ele apareceu.

Ele ainda tem daddy issues, e entra em uma espiral descendente de autodestruição. E todos os personagens acham que é responsabilidade de Maja de tomar conta de um cara que visivelmente tem problemas sérios com drogas e está em um processo muito complicado de depressão. Detalhe que Maja tem 17 anos! Por que cuidar de um cara como esse tem que ser responsável de uma adolescente?!

GIF neil-degrasse-tyson

Não consegui sentir empatia nem por Maja ou por Sebastian. Seus problemas eram muito de angústia adolescente, de falta de atenção doméstica, de lares desestruturados, de excesso de dinheiro e de abuso de drogas. E me dá um pouquinho de canseira.

Não quero diminuir o quanto alguns desses problemas são complicados de verdade de lidar. Depressão é uma doença que pode matar uma pessoa, e setembro sempre é um mês importante de conscientização sobre o assunto.

Mas aqui, com esses personagens, eu não consegui me identificar ou sentir qualquer tipo de relação com todas as “dificuldades” que estavam passando. O motivo que leva ao assassinato dos colegas na escola é tão… tão… sei lá, banal?, que eu me questiono se isso não se repete (com frequência) na “na vida real”.

E não, eu não tenho sugestão de solução pra isso. Eu só fico besta com essa coisa de “a culpa é minha e coloco onde eu quiser”, sabe? Não sei muito bem se estou conseguindo explicar ou se só estou “queimando meu filme”…

Acho que eu só não sei como lidar com pessoas que estão em um momento fragilizado por motivos que, na minha opinião, tem pouca justificativa, sabe (daí o white people problem)? E provavelmente sou eu que tenho que aprender a tentar ter mais empatia nesses casos.

Agora, fora os white people problem da Maja e do Sebastian, uma coisa interessante que me pegou nos curtos momentos que a autora tratou, foram alguns questionamentos que ela levanta.

Ela fala sobre o conformismo sueco com o status quo da sua população. Aparentemente (na visão do livro e da sociedade que é mostrada ali) todos os suecos tem uma vida relativamente boa e estável financeiramente. É possível que eles sejam “ricos” numa visão nossa aqui do Brasil, onde temos uma desigualdade social abismal.

Ela fala também sobre a visão desse mesmo povo sueco sobre a onda de imigração, e o quão preconceituoso o pessoal é com essas pessoas que estão “invadindo” o seu país. Malin mostra um lado da cidade que o pessoal mais abastado não vê. Os guetos dos imigrantes, a sensação de medo e de insegurança que essas pessoas vivem no dia a dia.

Samir, um dos colegas de Maja é imigrante, e ele precisa provar o tempo todo que “merece” estar naquele país, naquela escola, e ter amigos. Sebastian pega muito no pé de Samir, o que só reforça o preconceito e o racismo das classes mais ricas.

E também a autora faz uma crítica ao feminismo quando fala sobre o teste de Bechdel, por exemplo. Na visão de Maja, as histórias são contadas do jeito que são porque simplesmente refletem a realidade. Se mulheres só conversam sobre homens nos livros e nos filmes, é porque elas só fazem isso na “vida real”. Visão e questionamentos da autora/personagem pra história, não meus!

De qualquer forma, essa visão “diferente” do feminismo faz com que, em dado momento da história, Maja tenha uma declaração um tanto complicada. Na cena ela está para ser estuprada, mas diz e age de forma a ter ação no ato e, assim, não permitir que seja “realmente” violentada. Tá.. senta lá.

Aliás, o livro tem alguns gatilhos, então atenção se você não curte conteúdo sexual de adolescentes, racismo/preconceito, abuso de drogas, e estupro.

Eu confesso que quando estava lendo o passado de Maja e os motivos que levaram até o julgamento, me dava um pouquinho de preguiça e torcia pra acabar logo. E também confesso que não sei se fiquei satisfeita com o resultado final. Acho que, talvez, eu esperava um tipo diferente de justiça.

E no fim das contas, eu meio que desisti de assistir a série… :P


Até a próxima! o/

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2 Comentários

  • Responder Hanna Carolina Lins de Paiva 19 set 2019 at 18:19

    Minha nossa, quando li título e a sinopse, pensei logo que o livro seria incrível. Ainda mais por amo séries policiais e que tenham julgamentos. Mas lendo sua resenha, já me senti tomando banho de um balde de água fria… Ok, é importante falar sobre o ldo do imigrante que ninguém vê nos países mais desenvolvidos, ok falar sobre depressão. Mas do jeito como foi relatado, não acho que foi um bom caminho a ser seguido, viu? =/
    Não leria esse livro, nem veria a série… Realmente me decepcionei, só de ler a respeito.
    Bjks

    Mundinho da Hanna | Instagram

  • Responder Izandra Mascarenhas 18 set 2019 at 22:13

    Eu já tenho um sério problema em assistir série na Netflix com produção de outro país que não EUA; me chame de garota hollywoodyana, sei lá. Só não curto.
    E depois da resenha desse livro… Só baixou mais ainda minhas expectativas xD
    Sei lá… Essa coisa de já começar com o julgamento de alguém preso,, e aí cobrar a história nunca me prendeu em nenhum livro. E quando nem foca no julgamento em si… Aí que não me prende mesmo. Nem tive saco pra ver “13 reasons why”, independente da modinha que estava em cima rs

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