resenha

Mundo em Caos – Patrick Ness

26 jun 2019
Informações

Mundo em Caos

Patrick Ness

Intrínseca

série Mundo em Caos #1

480 páginas | 2019

5

Design 5

História 5

12

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Em um mundo pós-apocalíptico, uma infecção rara e perigosa causou o inimaginável: a morte de todas as mulheres. O mesmo germe fez com que os pensamentos dos homens se tornassem audíveis, e agora o caótico Ruído está por toda parte. É impossível guardar segredos no Novo Mundo.

Todd Hewitt é o único garoto entre os homens da cidade de Prentisstown, e mal pode esperar para se tornar um deles. No entanto, o lugar esconde algo grave, capaz de mudar o futuro de Todd e do Novo Mundo para sempre. A apenas um mês de se tornar homem, um segredo impensável é revelado, e ele se vê forçado a fugir antes que seja tarde demais. Acompanhado por seu fiel escudeiro, o cachorro Manchee, ele empreende uma jornada repleta de perigos e se depara com uma criatura estranha e silenciosa: uma garota. Mas quem é ela? E por que não foi morta pelo germe como todas as mulheres?

Design

A primeira coisa que eu quero, aqui na parte de design, é mostrar umas fotinhas (de péssima qualidade, diga-se de passagem) pra você. Olha isso aqui!
mundo em caos - patrick ness mundo em caos - patrick ness mundo em caos - patrick ness mundo em caos - patrick ness

Olha essa contra-capa, esse miolo, esse cuidado com o projeto gráfico! Tá lindão, não é mesmo?! OoO

A Intrínseca tem essas “sortes” de pegar livros incríveis que pedem ou permitem um projeto gráfico especial e completamente LINDÃO.

Sério! Essa capa com uma paleta altamente “violenta” de preto, vermelho e branco; uma fonte nervosa pro título do livro; e essa ilustração de uma faca em vermelho, daquelas mega agressivas e “militares”?! O mínimo que ela faz com você é “preciso pegar pra ver qual é!”.

Aí você abre o livro e é recebido por todo esse trabalho na contra-capa, essa chapada de vermelho com palavras nervosas em diversas fontes, representando diversas vozes diferentes.

E dá-lhe chapadas de preto para divisões no miolo. Seja em aberturas de parte ou de capítulos, tá lá uma folha toda preta para criar uma separação física dentro da história.

Todos os capítulos são numerados e nomeados e, assim como a capa e outros elementos do miolo, também tem a fonte nervosa e manuscrita, que talvez represente os pensamentos do próprio Todd.

Uma das características dos personagens masculinos de Mundo em Caos é a capacidade de ouvir os pensamentos uns dos outros. E isso é altamente representado ao longo das páginas com interferências de fontes diferentes. Ou, no exemplo que eu coloquei aqui, um “universo” de pensamentos sendo divulgados/divididos/explanados/gritados para quem quiser (ou não) ouvir.

Que maneira maravilhosa de representar a balbúrdia mental que Todd precisa enfrentar em sua mente constantemente. Uma “bagunça organizada” de frases e ideias soltas e captadas pelo papel.

Sério. É bem lindo. <3

E se não bastasse isso tudo, o livro tem pintura trilateral (fui atrás do termo certo pra descrever a tinta na borda externa do livro)!

Mundo em Caos é daqueles livros que, mesmo se você não gostasse muito da história, valia ter em casa só pela qualidade visual. 


História

A guerra transforma homens em monstros, ouço Ben dizer.

Tem um monstro vindo na nossa direção. p.401

Uma coisa que eu posso com certeza me gabar é que sempre fui super sincera em todas as minhas resenhas no blog.

Então vou ser sincerona aqui com você de novo: Mundo em Caos vale cada dinheiro que você investir nele. Sim! Você pode comprar o livro com a maior tranquilidade do mundo (e tem link que ajuda o blog ao longo da rolagem :P).

MAS!

Sugiro FORTEMENTE que você aguarde que o segundo livro seja lançado pela Intrínseca para iniciar a leitura. É, eu estou adiantando todo a análise para dizer pra você que tem um cliffhanger SAFADO em Mundo em Caos.

OU ~SEJE~!

Se você é daquelas pessoas que DETESTA ficar esperando pra continuar uma leitura empolgante (Ize! Essa é pra você, se ainda não leu essa trilogia), envolvente e interessante, espere pra ler com pelo menos dois livros na mão. Ou a trilogia inteira, quem sabe? Ainda não tem o segundo livro pra saber como vai terminar…

Vai que o Patrick Ness repete a dose e também deixa você tenso e gritando internamente de ódio porque não tem o livro seguinte pra ler?  ¯\_(ツ)_/¯

Agora que já trabalhei toda minha sinceridade e disclaimer sobre o livro/história, dá pra falar o que eu achei de Mundo em Caos. De certa forma já deu pra perceber que muito provavelmente eu gostei do livro.

Ando meio trabalhada no meu leve temor de ler YA mas, ainda bem, Mundo em Caos entrega. Tem problemas? Tem uns poucos. Mas a qualidade da obra como um todo é muito mais forte do que as coisas que me incomodaram.

A história é um coming of age, recheado de alguns questionamentos velados (talvez, ou não tanto, sei lá) sobre machismo e fanatismo político e religioso (e o quanto uma coisa alimenta a outra, de certa forma).

O mais interessante da história é que a gente segue Todd, o último garoto de Prentisstown. E, ao mesmo tempo que ele é inocente e tem poucas informações sobre o mundo, é junto com ele que vamos descobrindo diversas coisas que ele conta e acaba também tendo que desvendar.

É Todd que começa a construir o background de Prentisstown e da sociedade em que ele vive. É ele que fala sobre o Ruído, os Spackles, a guerra. A princípio você fica sem entender muito bem se Todd mora em uma cidade “medieval”, ou em um universo parecido mas não tão igual ao nosso.

Prentisstown é o último povoado do Novo Mundo, onde somente uma centena de homens sobreviveram depois da guerra. Todas as mulheres foram assassinadas e os Spackles disseminaram um vírus que contaminou todos os homens, criando o Ruído.

O Ruído é meio que uma capacidade telepática, em que um homem ouve tudo o que se passa na mente de outro. Ninguém tem controle e tudo o que você pensa sempre está “visível” para todos os outros em volta.

Ah, os homens e as coisas que eles não sabem que pensam mesmo quando todo mundo ouve. Os homens e o Ruído deles. Não sei como conseguem, como se aguentam.

Homens são criaturas Ruidosas. p.14

O tempo todo.

Porque quando eu, o quase-homem, olho pra essa cidade, ouço todos os 146 homens que sobrou. Todos. O Ruído deles desce pela colina feito uma avalanche vindo direto pra cima de mim (…). É mais ou menos assim. Cada minuto de cada dia da minha vida idiota e horrível nessa cidade idiota e horrível. Nem adianta botar fones de ouvido, não ajuda nada. p.27/28

Não existe privacidade. Mas ainda existe mentiras dentro do Ruído.

Os homens mentem, e o pior é que mentem pra eles mesmos. (…) Então o que você tem que lembrar, o mais importante de tudo que eu posso dizer aqui, é que o Ruído não é a verdade. O Ruído é o que os homens querem que seja verdade, e tem uma diferença tão grande entre os dois que você pode até morrer por causa disso se não tomar cuidado. p.30

(…) O conhecimento é perigoso, os homens mentem e o mundo não para de mudar, mesmo se eu quisesse ou não. p.67

Falta pouco tempo para Todd virar um homem, no seu aniversário de 13 anos. Esse é um momento importante para um morador de Prentisstown e Todd é o último menino do povoado. Só que algo dá muito errado.

Todd encontra uma coisa no pântano que cerca sua cidade. Uma coisa que o deixa perturbado demais. Uma coisa que faz com que ele precise fugir o mais rápido possível de Prentisstown, antes que seja tarde demais.

E Todd não sabe porquê precisa fugir. Nem a gente sabe, porque isso é só o terceiro capítulo e tudo está acontecendo muito rápido e ninguém se deu ao trabalho de explicar o que é.

Aí a história vai acontecendo e as coisas vão começando a ser explicadas (mas de uma forma MUITO, MAS MUITO lenta) e você só vai ficando O.O.

E eu não vou falar nada porque se não estraga tudo. u.u’ E Mundo em Caos é uma história que merece ser descoberta, seus plot twists, as descobertas de Todd, caminhar pelo Ruído que aparece ao longo das páginas, o sofrimento e a evolução do personagem.

É acompanhar a perda da ingenuidade e inocência de Todd, o florescer de uma amizade, o terror do mundo adulto, e o peso das decisões e responsabilidades que tomamos.

A faca está viva.

Enquanto eu segurar ela, enquanto eu usar ela, ela vive, vive pra tirar uma vida, mas ela precisa de comando, ela precisa que eu mande ela matar, e ela quer fazer isso, ela quer ser cravada em alguém, quer afundar e cortar e perfurar e retalhar, mas eu preciso querer também, minha vontade tem que se juntar com a dela.

Sou eu que dou permissão a ela, sou eu o responsável pelo que ela faz. p.320

É uma jornada que merece ser vivenciada sem influências, sabe?

Eu falei que teve coisas que me incomodaram, né? Então, uma delas é que muitos capítulos terminam com aquela sensação de que você vai ter uma explicação logo em seguida, mas não é bem assim.

As coisas demoram muito pra ser explicadas e existe muita ansiedade (na gente) porque a promessa de descobrir o que motiva o Todd a fugir nunca é realmente cumprida.

Outra coisa é que eu acho que o livro podia ser um pouco menor. Retirar uma parte da fuga do Todd, que é muito confusa, – porque ele está machucado e delirante -, e muito longa ia dar mais dinâmica e velocidade pra história.

Das coisas boas temos Manchee, o cachorro de Todd. Faltou comentar lá em cima que, além dos homens, todos os animais também se comunicam através do ruído. Então Todd pode conversar e ouvir Manchee o tempo todo.

Só não fique imaginando que é uma conversa super alto nível. Patrick Ness manteve o que a gente “esperaria” de uma conversa com diferentes animais. Manchee é um dos mais “eloquentes”, mas ainda assim, é um vocabulário bem limitado que permite pérolas como “Cocô bom, Todd”. XD

Vale dizer que toda a questão do fanatismo e do machismo que construíram a vida de Todd também são muito bem tratadas e questionadas ao longo das páginas, mas se eu entrar no mérito de comentar mais do que isso, com certeza vou dar algum spoiler, e isso é a última coisa que você precisa neste livro.

Fora uma pequena queda no ritmo no meio do livro, Mundo em Caos conseguiu me envolver e entregar uma ótima história. Das que deixam o gênero YA orgulhoso. :D E obviamente, eu vou ter que ler a continuação. É só a Intrínseca lançar ainda essa ano… imagina se fosse na Bienal? <3

A vida não é justa.

(…) É inútil e idiota, e só tem sofrimento e dor e pessoas que querem te machucar. Você não pode amar nada nem ninguém, porque tudo vai ser tirado de você ou destruído, e você vai ficar sozinho e vai ter que lutar o temo todo, tendo que fugir o tempo todo só pra continuar vivo.

Não tem nada de bom nessa vida. Não tem nada de bom em lugar nenhum. p.375/376


Até a próxima! o/

banner parceria editora Intrínseca 2019

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