Botchan
Estação Liberdade
série ---
184 páginas | 2016
Se em seu bem-sucedido livro de estreia, Eu sou um gato (1905), Natsume Soseki satirizou a condição humana pelo olhar de um bichano sagaz, neste Botchan, publicado apenas um ano depois, o autor japonês reafirma o estilo bem-humorado com outra trama sobre diferenças: o choque cultural que opõe a cidade grande e o interior.
Mas Soseki não opta pelo caminho mais fácil, pintar um caipira de calças curtas no furacão hostil da metrópole. Ao contrário: em Botchan, o personagem que dá título ao romance é um jovem professor de matemática de Tóquio que, aos 23 anos, aceita partir para uma localidade inóspita nos rincões do Japão, na ilha de Shikoku, a fim de lecionar para aquela que será sua primeira turma de alunos ginasiais.
Habilidade social não é o forte do protagonista, muitas vezes comparado ao Holden Caufield de J. D. Salinger em O apanhador no campo de centeio. Até aceitar o emprego, Botchan tinha passado os últimos três anos vivendo recluso em um cubículo de quatro tatames e meio. Seus modos são ríspidos, sua paciência com os outros é limitada, sua impetuosidade vive lhe causando problemas, sua fome é insaciável.
No olhar ferino de Natsume Soseki quem se torna alvo da chacota e da maldade dos colegas não é o estudante desengonçado, mas o professor cujo sotaque cosmopolita agride os ouvidos dos alunos da província. Aprendiz de adulto, Botchan terá de aprender que a vida real pode ser bem menos tranquila do que indicava sua experiência anterior, dividida entre a reclusão e os mimos de uma velha criada da família.
No romance, Soseki , que também foi professor na juventude, destila os predicados que lhe deram fama, como a ironia, a escrita fluida e a magistral composição psicológica de personagens.
Um clássico da literatura japonesa do século XX, que se mantém até hoje como um dos livros mais populares no Japão.
História
Desde sempre eu estudo japonês do Kumon. Depois de tantos anos, eu ainda tenho a nítida impressão que não sei nada do idioma, mas o ato de estudar a língua e encontrar minha sensei e tomodachi na sala de aula me faz continuar.
Que me lembre, até hoje, de literatura japonesa só li Musashi. É. Li os dois tijolos de Musashi há muitos anos e confesso que não me lembro de quase nada da história.
Mas é engraçado o quanto a literatura japonesa e os mangas são tão diametralmente opostos.
Bocchan é um dos clássicos da literatura japonesa. Escrito por Natsume Soseki, a história segue Bocchan desde sua infância em Tokyo, até se tornar professor em uma cidade provinciana aos 23-24 anos.
Soseki lançou seu primeiro livro em 1905 e, até sua morte em 1916, ele escreveu outros 13 romances.
No material de estudo do Kumon, existem vários trechos de obras de literatura japonesa, e Bocchan apareceu em pelo menos três unidades de leitura. O que me chamou a atenção é que Bocchan parecia ser um personagem insuportável e pedante e, sei lá, era completamente o oposto do que eu tenho como “pré-conceito” da cultura japonesa.
Felizmente, minha querida Monica-chan tinha a versão traduzida lançada pela Estação Liberdade para me emprestar, e me joguei na empreitada de ler Soseki.
Só que… assim… eu não gostei, sabe? Tipo, não gostei mas dei três estrelas.
O principal problema aqui é que a história é contada só pelo ponto de vista de Bocchan e vem carregada de todo o seu preconceito e incapacidade social de se relacionar com as pessoas.
Apesar de o personagem não ter nome (Bocchan não é o nome dele, mas a forma respeitosa que uma serviçal de sua casa o trata. Seria um equivalente ao nosso “sinhozinho”) ele apelida todos os personagens com que se relaciona. Pra mim ficou difícil de identificar quem era quem só por seus apelidos.
O protagonista também tem uma certa aversão ao feminino, menos pela serviçal idosa que cuidava dele na infância. Ela inclusive é o exemplo de ser humano correto que ele espera encontrar em outras pessoas.
A maioria dos personagens que cruzam o caminho de Bocchan também são insuportáveis e no olhar do protagonista todos são mentirosos, interesseiros, ardilosos e imbecis. Ele odeia seus alunos e está sempre arranjando uma desculpa pra se demitir.
O embate entre o professor da cidade grande e os moradores do interior também é cansativo. Bocchan desmerece TODOS como se não fossem capazes de um pensamento além do mesquinho. E ele não tem interesse ALGUM em realmente conhecer as pessoas com quem ele cruza.
Sabe a máxima “a primeira impressão é a que fica”? Bocchan provavelmente vive através dela.
Mulheres pra eles são seres interesseiros, fúteis e fofoqueiros que se intrometem onde e quando não devem. Mais uma vez, menos Kiyo por quem Bocchan se sente responsável e que pretende voltar a morar junto. Provavelmente para torná-la sua serviçal novamente…
E o que mais me impressionou na história é que eu tive a impressão que muito tempo se passou desde que o protagonista chegou ao interior, mas, se eu entendi bem, tudo que acontece se passa em apenas um mês.
É como se fosse um breve slice of life de Bocchan. O autor pegou só um pedaço da vida do personagem e mostrou pra gente. E, de verdade, nada acontece. Eu não consigo definir esse livro como character driven ou world driven, porque realmente não existe um desenvolvimento do personagem ou uma estruturação do mundo.
Bocchan não amadurece ou melhora, ou até mesmo piora, ao longo da história. Do jeito que ele chega à cidade do interior ele vai embora. E ainda com a CERTEZA de que todos os seus preconceitos contra as pessoas da cidade estavam corretos desde o início. Ele termina a história com a firme certeza de que ele é a pessoa melhor de tudo o que aconteceu.
Assim. O livro se passa no início do século XX e o autor inclusive menciona a guerra russo-japonesa (que eu nem me lembrava que tinha acontecido… probleminhas com as aulas de história no colégio). Além disso, temos o fator que a cultura japonesa e diversos fatores sociais “do lado de lá”, até hoje, são “estranhos” pra nós ocidentais.
Provavelmente existe algum tipo de lição na história de Bocchan que eu sou incapaz de apreender além do fato que o personagem é só um babaca preconceituoso e pomposo. Talvez eu tenha que sentar com minha sensei e entender o que torna essa história tão importante “do lado de lá”. Ou talvez eu tenha que simplesmente aceitar que eu não gostei tanto assim e não me preocupar em encontrar explicações que vão além do fato de que o livro não me diz nada.
Até a próxima! o/
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