resenha

Divinos Rivais – Rebecca Ross

21 jan 2025
Informações

Divinos Rivais

Rebecca Ross

Alt

série Divinos Rivais #2

464 páginas | 2023

4.5

Design 4

História 5

16

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Opinião

Às vezes eu me pergunto porque gosto tanto de ler. O que me faz voltar vezes sem fim para um novo livro, um novo universo, uma nova história.

Divinos Rivais me fez perceber que uma das principais razões são palavras. O encadeamento das palavras. A música de sereia que cada uma delas gera em nossas mentes, transportando de uma forma quase onírica nossas consciências para outra realidade.

Uma história boa faz muito por um leitor. Uma história boa com uma prosa cuidadosa parece que transforma totalmente a experiência. Acho que agora, depois de ter terminado de ler Divinos Rivais, eu consegui entender o hype.

Eu não acompanhei somente a história de Iris Winnow ou Roman Kitt. Eu tive uma experiência quase sinestésica construída por Rebecca Ross com a forma como escolheu descrever suas cenas. O toque de descrição atmosférica que acrescentava camadas sutis de compreensão do sofrimento, da luta, do esforço, da busca.

Tendo a ter uma certa dificuldade com livros de ficção literária por conta da forma rebuscada que costumam ser escritos. Mas aqui, Rebecca Ross conseguiu fazer uma prosa quase poética e que em nenhum momento soou piegas ou pedante. Era lírica o suficiente para me envolver no cheiro da cidade, na cor do por do sol, no dulçor do chá, na dor da perda.

A névoa fria cobrira a estação como uma mortalha, e Iris Winnow pensou que não havia clima mais adequado. Ela mal enxergava o trem no crepúsculo, mas sentia seu gosto no ar do anoitecer: metal, fumaça e carvão queimado, tudo entrelaçado por um por um vestígio de petricor. A plataforma de maderia sob seus pés era escorregaria, coberta de poças reluzentes de chuva e pilhas de folhas em decomposição. (p.9)

Não sei se considero Divino Rivais um livro de fantasia. Eu tive muito mais a sensação de ser um romance “histórico-mitológico”. Os elementos fantásticos estão presentes mas de uma forma muito “mundana”, no mito da guerra entre os deuses e os mortais, na presença de Enva e de Dacre como os pivôs “celestiais” que movimentam a trama. Em residências mágicas que respondem às suas necessidades. Em máquinas de escrever com conexões entre si.

Mas o desenvolvimento tanto da mitologia e dessas características mais fantásticas é muito menos importante do que o sentimento e evolução dos personagens. Seus objetivos, sofrimentos, desejos e movimentos são o que fazem a história seguir em frente. Existe sim um momento da história em que a autora começa a dar pinceladas na mitologia de forma que é perceptível uma certa proximidade com a trama de Hades e Perséfone. Mas ainda assim, a presença dos deuses é muito mais relegada a como as pessoas acreditam ou não nas suas influências, e se vão ou não atacar/defender durante a guerra.

Eu gostei MUITO dos dois protagonistas. Fazia algum tempo que eu não me envolvia tanto e ficava apreensiva sobre as decisões e desenvolvimento dos personagens.

Iris vem de um lar fraturado. O irmão foi convocado pela canção da deusa Enva para proteger o povo que está sendo massacrado na guerra contra Dacre. Ela vive na cidade de Oath com a mãe, que acaba se entregado à bebida depois que o filho mais velho partiu pra guerra, e Iris passa a ter a responsabilidade de manter a casa funcionando.

Ela consegue um emprego em um dos jornais mais prestigiados da cidade, e está concorrendo à vaga de colunista com Roman Kitt, um jovem de família rica e privilegiado, com quem ela adora trocar farpas e comentários ácidos e sarcásticos. Eles são os rivais disputando pelo espaço das melhores pautas no jornal.

Só que a cidade de Oath, por estar afastada das principais frentes de guerra, praticamente acha que não vai ser afetada pelas batalhas. As notícias não chegam corretamente para as pessoas. Somente um outro jornal está tentando enviar correspondentes de guerra, para tentar trazer as verdadeiras informações do fronte, sobre os soldados, sobre o avanço de Dacre. Sobre as criaturas que ele comanda do seu reino inferior. Sobre os ataques sofridos, perdas dos civis, a falta de informação sobre familiares.

Como se não bastasse, Iris não tem notícias de seu irmão desde que ele partiu há mais de cinco meses. E é aqui que outro elemento fantástico da história aparece, porque Iris decide escrever cartas para ele. E, quando as coloca embaixo da porta de seu armário, elas desaparecem. Depois de uma carta particularmente emotiva, ela finalmente recebe uma resposta. E a pessoa que responde não é seu irmão.

Roman também tem seus problemas. Apesar de ser de uma família rica, seus pais não fazem parte da aristocracia, e o maior objetivo é fazer essa escalada social a qualquer custo. Seu pai meio que usa Roman como sua muleta, e a última coisa que o rapaz quer é ser uma marionete. Mas ele tem muita culpa em suas costas para conseguir realmente se opor ao que sua família quer. Ele achava que seria “fácil” conseguir seu espaço no jornal, até se deparar com a energia e as palavras de Iris. E a jovem é um problema muito maior do que ele imaginava.

Mergulhei nessa leitura de um jeito que fazia tempo eu não mergulhava. Li em três dias. Passei um domingo nas páginas com Iris e Roman. Enfreitei uma batalha de trincheiras. Me emocionei, sofri, me angustiei, dei pequenos sorrisos de canto de boca, sofri de novo, entrei em desespero em alguns momentos. Mas também tive pausas de enorme felicidade e satisfação. Não me interesso muito por nada com tema de guerra, ainda mais quando tem “inspiração” na primeira guerra mundial. Mas eu estava ali, página atrás de página, junto com os correspondentes de guerra, sentindo o medo dos soldados, a falta de esperança e ao mesmo tempo o fio que costuma restar dela, além da angústia de não saber sobre o amanhã.

Quando terminei, quando fechei a última página, eu finalmente senti que estava voltando pro meu corpo. A sensação de ter nadado em águas profundas por muito tempo e, de repente, ter finalmente furado a superfície do mundo real novamente. Foi estranho. Porque é como se eu tivesse passado pelas situações com os personagens. Eu não fui somente uma expectadora. Eu estive ali com eles, e essa passagem de volta foi arrastada, lenta e difícil de fazer. Aquele despertar de um sonho lúcido, que você não entende qual parte foi sonho e qual parte era realidade.

Podem existir problemas na história? Podem. Pouca evolução da mitologia, uma construção de mundo relativamente rasa. Se você é uma pessoa que PRECISA de um world building robusto para gostar de uma história, talvez Divinos Rivais não funcione para você. Talvez o “rivals to lovers” possa ser resolvido rápido “demais” para algumas pessoas que prefiram um slow burn muito mais lento. Mas sei lá… funcionou MUITO pra mim! Talvez era o que eu estava precisando ler e tenha se conectado com o que o “universo” considerou que seria bom.

Recomendo DEMAIS a leitura. Foi a melhor de 2025 até agora, e olha que meu janeiro tem sido bastante frutífero nas escolhas. Eu só estou muito indecisa se já continuo imediatamente com Promessas Cruéis, ou se leio outra coisa para deixar a história acentar…


Até a próxima! o/

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