Mariposa Vermelha
Suma
série ---
272 páginas | 2023
Na cidade de Fragária, sob o domínio da República, a magia é proibida, e Amarílis conhece como ninguém o perigo de quebrar as regras. Para evitar o destino trágico que teve sua mãe, a jovem tecelã mantém a cabeça baixa e os fios de seus poderes bem amarrados.
Quando, por acaso, se vê diante do homem que causou a ruína de sua família, Amarílis decide convocar um demônio e fazer um pacto: ela quer a morte do general que destruiu sua mãe. Mas sua oferenda é muito simples, e Tolú, o Antigo que atende seu chamado, não pode tirar uma vida por um preço tão baixo. Ele pode, porém, ajudar Amarílis a enfrentar seus medos enquanto ela faz justiça com as próprias mãos.
Com uma narrativa delicada e, ao mesmo tempo, sombria, Fernanda Castro conduz o leitor por uma história repleta de personagens fascinantes, horrores mundanos e poderes ocultos.
Um dos meus maiores defeitos como leitora é o preconceito literário. Sim, eu evito bastante conhecer e adquirir livros lançados por autores nacionais, principalmente se for de fantasia, scifi ou algum espectro de realismo fantástico.
Pode chamar de síndrome de vira-lata, mas tive experiências ruins lendo auto-publicações de livros de meus gêneros favoritos e isso deixa marcas. Então costumo fugir dessas leituras.
Mas, às vezes, quando uma pessoa ganha a “chancela” de uma editora “grande” e reconhecida, meu preconceito tende a perder um pouco de força. É bbk da minha parte, só considerar uma leitura se ela for apoiada e validada por uma editora? Com certeza. Mas é quando eu sei que aquele texto passou por pessoas que são, em tese, especializadas em avaliar e aprovar a publicação dos livros. É basicamente o capitalismo dizendo que vale investir naquela pessoa autora.
Dado esse contexto da minha falha de caráter, eu não me lembro desde quando eu sigo a Fernanda Castro no Instagram, só sei que foi antes da publicação de Mariposa Vermelha. Esse tempo acompanhando os stories que ela publicava, seus crochês, viagens, bichinhos de estimação não convencionais, me fizeram gostar e sentir uma certa proximidade da autora.
Então, quando ela começou a divulgar sua nova publicação saindo pela Suma, meio que foi o sinal para colocar o livro na minha wishlist. Mas confesso que, antes, eu ainda entrei na Biblion pra ver se existia alguma publicação dela disponível na biblioteca digital. Foi assim que eu descobri Lágrimas de Carne, um conto de dark fantasy que me mostrou a qualidade da escrita da Fernanda e me deixou relativamente ansiosa e com uma leve expectativa para Mariposa Vermelha.
E que livro bom! 😍 Sério, fui arrebatada pela história de Amarílis e Tolú de uma forma extremamente surpreendente e agradável.
Uma história de mistério, magia, vingança, romance, urdida de uma forma delicada e impactante. Fernanda não tem medo dos sentimentos ruins que os seres humanos tem dentro de si e, ainda assim, ela consegue expor o pior dos personagens tão gentilmente que você quase não se choca. Quase.
Acho que o mais me surpreendeu na leitura foi a sensação de que muitas coisas da construção do mundo ficaram em aberto mas, mesmo assim, tudo o que estava nas páginas era o suficiente para que a história andasse e funcionasse. Eu queria saber mais sobre a República, sobre a magia de Amarílis, sobre a dimensão de Tolú, sobre o submundo da cidade? Sem dúvida. Mas ao mesmo tempo, a história consegue ser tão fechadinha com o que a gente aprende que me trouxe satisfação. E olha que eu tenho a tendência a preferir um world building consistente bem mais do que a história dos personagens… tipo uns 60/40 aí.
Só que é impossível não adorar Amarílis. Que protagonista maravilhosa, com um arco de crescimento, de auto-descoberta e de empoderamento que é delicioso de acompanhar. E ela ser uma jovem adulta de 24 anos (eu acho, pelas contas que fiz por alto com a descrição na história) é tão revigorante! Já comentei minhas dificuldades em me conectar com as protagonistas de YA de uns tempos pra cá, então ter uma pessoa mais adulta, mais madura, foi um quentinho no coração.
Tolú também é aquele cafajeste boy lixo que a gente adora, mas ao mesmo tempo sabe que a fachada não vai durar muito tempo. E os dois juntos convence! Fernanda conseguiu construir um slow burn que quando pega fogo, pega com força! E o melhor de tudo é que ela construiu tudo com muito erotismo mas sem ser vulgar. (Também nada contra o vulgar, mas acredito que tudo tem seu devido lugar e função)
Fora os protagonistas, os demais personagens também são participantes importantes na construção e evolução da história e de Amarílis. Rosalinda e Antúrio são pessoas “reais”, e a amiga de Amarílis conseguiu mudar completamente a minha primeira impressão, e Fernanda fez essa perspectiva mudar com um tapa na cara maravilhoso! Detalhe pra um discurso sobre capitalismo e luta de classes que foi especial. 🖤
Sobre a trama de vingança e construção do plano para torná-la possível, achei bastante envolvente. A forma como Amarílis é afetada por suas decisões, o quanto ela precisa amadurecer e endurecer para fazer com que seus desejos se tornem reais é a cereja do bolo de uma receita que já beirava a perfeição.
Posso dizer com bastante tranquilidade que foi uma das melhores leituras de 2024. Foi um prazer imenso ler esse trabalho da Fernanda e espero poder mandar pra ela mensagens agradecendo por ter colocado Amarílis e Tolú aí no mundão pra que a gente também pudesse conhecer os dois. Leitura mais do que recomendada se você gosta de uma romantasia e, assim como eu, quer conhecer “novas” vozes nacionais.
Agora, você acha que tem aquele meu momento de redenção, dizendo que isso fez com que eu mudasse minha visão sobre os livros nacionais, não é? Bem, vou ficar devendo porque preconceito é uma coisa que precisa ser trabalhada para ser desconstruída. Se fosse fácil assim o país não seria tão preconceituoso e racista, não é mesmo?…
Até a próxima! o/
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