resenha

A última contadora de histórias – Donna Barba Higuera

19 jun 2024
Informações

A última contadora de histórias

Donna Barba Higuera

Darkside

série ---

288 páginas | 2023

3.5

Design 5

História 2

10

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Conheça Petra Peña, uma jovem que sonha em ser uma contadora de histórias, assim como sua amada abuelita. Contudo, o mundo de Petra está prestes a se transformar de maneira avassaladora. A Terra foi devastada por um cometa, e algumas centenas de cientistas e seus filhos, incluindo Petra e sua família, foram escolhidos para embarcar em uma jornada rumo a um novo planeta.

Centenas de anos depois, Petra acorda em um planeta totalmente novo e descobre que é a única pessoa que se lembra da Terra. Um Coletivo sinistro dominou a nave durante a jornada e, determinado a apagar os pecados do passado da humanidade, sistematicamente eliminou as memórias de todos a bordo.

Somente Petra carrega consigo as histórias do passado terrestre e, com elas, a esperança para um novo futuro. Agora ela precisa escapar da nave e reviver essas histórias, compartilhando-as com um mundo que se esqueceu de suas raízes e reconstruindo o que foi perdido. E, talvez, fazer um trabalho melhor do que aqueles que vieram antes, trazendo não apenas culturas e histórias, mas também paz e prosperidade.

Eu não ia escrever uma resenha pra esse livro, mas eu estou aqui incomodada desde que terminei a leitura. Vai que se eu colocar pra fora de alguma forma me ajude a tirar do meu backlog mental. 🤷‍♂️

A história começa bem, explicando que o mundo vai ser destruído pelo cometa Halley e os países, de forma independente, desenvolveram naves pra retirar alguns poucos escolhidos e enviar em uma viagem de 400 anos para um planeta chamado Sagan.

Petra, a protagonista, tem uns 13 anos, e vai junto com os pais e um irmão mais novo, nessa expedição interespacial. Ela está triste porque está abandonando sua abuelita, e fonte de todos os contos e histórias fantásticas que ela adora. Para fazer a viagem de 400 anos, ela e a família vão ser colocados em estase, e terão a oportunidade de continuar aprendendo através de uma conexão muito futurista. Assim, quando chegarem podem ser ainda mais efetivos para reconstruir a humanidade no novo planeta.

Mas né, só uns pouco escolhidos vão conseguir viajar, ou seja, serem salvos da destruição do planeta. No dia da partida, somente duas naves dos Estados Unidos conseguem partir. A terceira é invadida por “revoltosos” que não querem ser deixados para trás, o que apressa a decolagem da nave de Petra, para fugir dessas pessoas.

Rola um pouco de tensão nessa parte porque o gel de estase não funciona muito bem com Petra, e ela continua acordada apesar de completamente paralisada. Mas a pessoa responsável por cuidar dos que estão dormindo acaba por colocar uns discos de histórias e ela acaba dormindo.

Pois é. A tripulação da nave vai ficar acordada e envelhecer, e provavelmente ser responsável por produzir uma nova geração para acompanhar os dorminhocos até chegarem em Sagan.

Acontece que entre as pessoas que fazem parte da tripulação estão algumas que não querem reconstruir a civilização como ela é. Elas querem uma nova história. Elas querem um novo coletivo.

E meio que é isso aqui que começa a me incomodar. Porque com o passar da história eu comecei a sentir um certo “cheiro” de anti-socialismo/comunismo. Assim, eu sou a última pessoa que você deve perguntar sobre essas coisas. Ainda estou em processo de aprendizado, o que não quer dizer que eu realmente consiga falar sobre esses assuntos. Mas, tem certos mitos que a gente ouve a vida inteira sobre essas teorias políticas que eu já entendi que são isso: mitos.

A primeira coisa que acontece é que, uns 70 anos depois de começar a viagem, a pessoa responsável por Petra tenta acordar a menina, e insere mais conteúdos de história pra ela absorver. Nisso, Petra passa a perceber seu entorno e ouve a pessoa ser “expurgada”, para não impedir a missão do Coletivo na criação de uma nova história.

Todas as pessoas que estavam em estase passam a receber um disco de “lavagem cerebral” para esquecerem seu passado e aceitarem o Coletivo e uma nova identidade. Quando elas são acordadas e demostram que não foram “uniformizadas”, elas também são expurgadas.

Nada do passado da Terra deve ser lembrado ou referido. Toda a parte científica e tecnológica continua sendo importante, mas as histórias, a “História”, os contos, os mitos, devem ser apagados para a construção de uma nova história nesse novo planeta.

Então Petra é acordada 400 anos depois, e é nosso floquinho de neve especial e lembra de tudo. Lembra seu nome, tudo o que aprendeu durante os anos em estase, todas as histórias de sua abuelita e que ganhou de seu “guardião”. E passa a ser sua missão fugir do Coletivo e “salvar” outras três crianças que estão no mesmo “esquadrão científico” que ela.

E eu não consigo explicar direito porque essa “missão” de salvamento que Petra se autoimpõem me incomodou tanto. Eu me propus a escrever minhas opiniões das leituras que faço, mas muitas vezes eu fico me sentindo mal porque sinto que não tenho a base intelectual e de informações que realmente me ajudariam a explicar meus incômodos.

Aqui algumas coisas que chamaram a atenção sobre essa questão de coletivo, de tentar construir uma sociedade que esteja desvinculada do que se sabe ser os problemas e vícios do que está se deixando pra traz. Chamar de lavagem cerebral, dizer que tudo deve ser esquecido pra um novo começo, fica parecendo que se está tentando demonizar um processo de encontrar uma forma diferente de civilização. Quando Petra acorda, as pessoas parecem viver de forma mais harmônica, mas ela comenta que palavras de ordem são apresentadas o tempo todo para reforçar o Coletivo.

Petra também não pergunta pras outras crianças se elas querem ser salvas. Ela assume que é isso que tem que fazer, que não pode deixá-las pra trás, sem histórias e contos que só ela sabe. Ela toma essa decisão sozinha porque pra ela é a única decisão certa a se tomar.

Talvez EU esteja passando por um processo de lavagem cerebral em que movimentos individualistas me incomodam. Considerar que só você, como um indivíduo, sabe o que é melhor para todas as outras pessoas, me incomoda. O capitalismo, com sua meritocracia e enaltecimento do individualismo, me incomoda.

No fim, eu não estava interessada na história de Petra. Eu queria saber porque as pessoas do coletivo tinha feito alterações genéticas em si mesmas para ficar com a pele transparente. Eu queria saber mais sobre o pensamento do Coletivo e o que movia essas pessoas. O que tinha sido o gatilho para aproveitar a oportunidade do fim do planeta e como foi feita a construção do Coletivo entre as pessoas que ficaram acordadas cuidando da nave.

Isso era interessante pra mim, não a história de Petra.

Acho que nada do que eu escrevi faz sentido, porque provavelmente eu tendo a escrever de “forma burra” quando não consigo embasar o que eu quero dizer. A autora escreve bem, mas essa não foi uma história que me interessou, que me fez bem, ou que tenha deixado aquele gostinho de satisfação.

Foi só um gosto meio amargo de que parecia uma crítica envolvida pelo valor e nobreza da “salvadora” dos oprimidos.


Até a próxima! o/

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