Antropoceno: notas sobre a vida na terra
Intrínseca
série ---
384 páginas | 2021
Que John Green é um dos autores contemporâneos mais queridos não é novidade. Sua sensibilidade e seu talento para traçar histórias inesquecíveis tornaram seus romances sucessos mundiais, e agora o celebrado escritor nos oferece uma necessária dose de esperança em sua estreia na não ficção. Refletindo sobre temas que vão de Super Mario Kart e o pôr do sol a pinturas rupestres e o hábito de procurar estranhos no Google, os ensaios perspicazes e bem-humorados reunidos nesta coletânea são uma celebração genuína da capacidade humana de se apaixonar pelo mundo.
O termo “Antropoceno” foi proposto para designar a era geológica atual, em que os seres humanos remodelaram o planeta e sua biodiversidade de maneira profunda, para o bem e para o mal. A humanidade é cheia de facetas contraditórias e invenções intrigantes, e John Green se propõe a avaliá-las de forma nada imparcial. Afinal, no Antropoceno, não há observadores desinteressados, apenas participantes. Como o próprio autor reconhece, esses ensaios também são, de certa forma, uma autobiografia.
Escrito em parte durante o turbulento período de pandemia global e baseado em seu podcast de sucesso, Antropoceno: notas sobre a vida na Terra nos guia pelas sutilezas dessa nova realidade e nos dá a segurança de que podemos até desconhecer o caminho que estamos seguindo, mas com certeza estamos em boa companhia.
Design
Uma agradável e chamativa capa tipográfica. Gosto. Acho que gosto ainda mais depois que você entende qual é a do Antropoceno, porque a metáfora de as camadas geológicas talvez fique mais visível. Quer dizer, pra mim parecem camadas geológicas. 😅 E gostei também da fonte usada porque ela tem um quê de uma letra manuscrita. Talvez por conta de uma certa falta de uniformidade entre as letras.
Gosto que está tudo em caixa alta, dando esse peso de “gritaria” e de importância, mas juro que podia ficar sem o blurb de “autor de”. Tá, sei que é importante o marketing e tal, mas eu sempre vou dizer que a quarta-capa taí pra gente encher de penduricalhos e informações adicionais.
Ao mesmo tempo, gosto do padrão cromático crepuscular da capa. Ou de amanhecer. Acho que depende um pouco se você é mais “otimista” ou “pessimista”. Aquela parada de copo cheio/copo vazio. Independente, gosto.
E também gostei bastante do miolo. Como o livro é todo feito de pequenos textos, a identidade criada é bastante interessante e coerente. Todos os capítulos começam na página ímpar, com o título do texto em branco sobre uma curva de camadas geológicas, como as da capa.
A mancha gráfica é bem boa, centralizada e com bastante espaço de respiro. A Intrínseca usou a Bembo como fonte do miolo, e ela inclusive entra na lista de coisas que são avaliadas de 1 a 5! Eu acho que essa é uma das fontes que eu mais gosto nos projetos que a editora costuma produzir.
Todas as informações extras do miolo estão no cabeçalho: paginação, título e nome do autor. Assim o projeto abre espaço pras notas de rodapé que o John Green vai colocando em diversos momentos ao longo dos textos.
Aí, quando o conteúdo termina, sempre há uma página com uma chapada de cinza e um grafismo de mais uma curva de camada geológica, onde é colocado o texto de fechamento e explicação do que o autor escreveu. Se essa página for uma ímpar, o verso dela vai ficar vazio, mas com uma chapada completa de cinza, para que o próximo texto comece na página da direita.
Bonito, elegante e funcional. Pro projeto gráfico da Intrínseca eu dou cinco estrelas.
História
Gosto mais de John Green escrevendo não-ficção do que ficção. Tudo bem que ele até tem um saldo positivo nos livros que já li, mas ainda assim, eu não sou o público alvo e me senti muito mais confortável lendo Antropoceno do que qualquer um dos outros.
Por algum motivo, ler as opiniões do Green sobre coisas às vezes banais foi muito mais interessante e envolvente como experiência do que as histórias com personagens.
A ideia de Antropoceno foi transpor algumas das críticas, análises, resenhas, crônicas que o autor fez em seu podcast homônimo em formato de livro. Eu fiquei curiosa e já coloquei o o programa na minha lista pra ouvir depois. Inclusive já identifiquei alguns com os nomes que aparecem no livro.
O termo “Antropoceno” foi proposto para designar a era geológica atual, em que os seres humanos remodelaram o planeta e sua biodiversidade de maneira profunda. Nada é mais humano do que engrandecer seres humanos, mas somos uma força extremamente poderosa na Terra do século XXI. p.13-14
São 46 textos divididos ao longo das 384 páginas da obra e eu consegui curtir praticamente todos. Eles são relativamente curtos, e em poucos minutos dá pra ter um texto inteiro. De certa forma você nem percebe que está passando por vários de tão gostoso que é “ouvir” os pensamentos do John Green.
Em alguns momentos eu achava interessante porque a análise parecia ter surgido de uma seleção aleatória de uma palavra como em “Velociraptor”, e outros era bastante intimistas, contando um recorte da vida de John Green, como em “O Salão dos Presidentes”.
Mas o mais divertido de tudo é que, na introdução, o autor conta que durante uma boa parte da sua vida adulta ele trabalhou na Booklist Reader, uma revista especializada em fazer resenha de livros. Ele fazia a análise das obras em até 175 palavras e não usava um sistema de avaliação com estrelas. Segundo John Green, esse tipo de avaliação não era muito comum no meio literário e foi meio que culpa da Amazon que passou a ser amplamente utilizado.
E é basicamente o que ele faz em seus textos. Depois de discorrer sobre o assunto, seja de forma informacional ou emocional, ele sempre dava uma nota de 1 a 5 para a experiência.
Por mais que seja uma forma rápida de quantificar o quanto algo te agradou, é um pouco triste ver as coisas serem “reduzidas” a uma nota que não necessariamente traz a profundidade de toda a experiência em si.
Até fiquei me questionando se as pessoas que chegam até o blog simplesmente olham a nota final e se dão por satisfeitas, sem realmente mergulhar em todos os parágrafos que eu gastei para justificar uma nota específica. 😐
Confesso que me surpreendi com as análises e críticas que John Green faz ao longo dos textos. Ele fala sobre doenças mentais (a que ele tem inclusive), racismo, privilégio, colonialismo, capitalismo, escapismo, família, consumismo, e tantas outras coisas que sei lá, eu meio que não esperava. Mas que ao mesmo tempo foi importante ver que um americano também sabe e/ou se preocupa.
Do alto do meu preconceito contra os EUA, eu sempre acho que o americano médio é altamente individualista, armamentista, racista, de direita conservadora e que se sente altamente privilegiado e importante por fazer parte da “maior nação da Terra”. Saber que existem pessoas esclarecidas por lá é sempre um alívio.
Acho que o que acrescentou uma boa camada de divertimento foi que no final dos textos, sempre existia uma justificativa de porquê o autor escreveu sobre o assunto. E também vinha recheado de referências de onde ele tirou citações ou números que usou para justificar ideias e análises que faz.
De qualquer forma, Antropoceno foi uma leitura e tanto. Entupi as páginas de marcadores e são marcações que eu gostaria de revisitar em algum momento para ver se ainda têm impacto quando lidas depois.
Gostei de descobrir que eu gosto de textos informacionais curtos e bem escritos, assim como de crônicas mais introspectivas sobre a vida, o universo e tudo mais. Para John Green eu dou cinco estrelas.
Outros livros do autor
Até a próxima! o/
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