Mrs. Dalloway
Nova Fronteira
série ---
160 páginas | 2018
Mrs. Dalloway conta a história de um dia na vida de uma dama de nobre linhagem — Clarissa Dalloway — casada com um deputado conservador e mãe de uma adolescente. Através de um retrato perspicaz de paisagens e sentimentos, Virginia Woolf observa a alta sociedade londrina do início da década de 1920 e conduz sua personagem a uma pungente viagem interior.
História
2020 foi o ano de me colocar de novo em desafios de leitura. Organizei o “tradicional” #12em2020, onde escolho 12 livros da minha estante infinita para ler ao longo do ano, um por mês.
Outro projeto que me “impus” foi o de #AutorasClássicas. Sempre achei que estava em falta com minha experiência de leitora por não ter lido alguns clássicos famosos. Daí surgiu o desafio. É a mesma proposta; 12 livros para ler, um por mês.
Achei que ia ser espertona começando com um livro mais contemporâneo, então escolhi Virginia Woolf para o pontapé inicial.
E não consegui terminar. 🙃
O problema aqui é totalmente a minha incapacidade de conseguir me manter focada na leitura, enquanto os parágrafos vão passando ao longo das páginas.
Woolf faz parte de um movimento de ruptura e experimentalismo da literatura que surgiu junto com o Modernismo do início do século XX. O estilo narrativo de Woolf (e de outros autores contemporâneos dela) aqui em Mrs. Dalloway era voltado para uma questão mais contemplativa e subjetiva da percepção da passagem de tempo.
Com isso surgiu a técnica de “fluxo de consciência” (stream of consciouness). Tentando explicar o que foi, pra mim, a experiência de ler uma história com esse técnica, e usando metáforas de cinema, é como se você estivesse dentro de uma cena de plano-sequência, em que você caminha “infinitamente” dentro de um contexto, sem pausas, e sem muito aviso de pra onde você está indo.
No caso de Mrs. Dalloway, a gente acompanha Clarissa (a Dalloway do título). Até onde eu fui na leitura, ela tinha saído de casa para comprar/encomendar flores pra recepção que ela vai dar no final do dia. E depois, um curto momento quando ela já voltou para casa.
Só que, mesmo sendo em terceira pessoa, o narrador vai contando o que realmente está se passando na mente de Clarissa ao longo do caminho. De sua casa até a floricultura e depois a volta.
É uma parada meio massiva! Se você já parou pra se “ouvir pensando” em algum momento da vida, você sabe o quão caótico é o fluxo de pensamentos que a gente tem em poucos segundos. Qualquer coisa é motivo para disparar e ativar memórias ou lembretes do que precisa ser feito/dito/lembrado. Então você fica saltando de um assunto para outro, sem controle e sem muito sentido.
Para piorar, a autora não foca somente no fluxo de consciência de Clarissa Dalloway. Pessoas com quem ela cruza ao longo do caminho “roubam” a narrativa, e é como se o foco tivesse saltado da protagonista pra uma pessoa genérica que está na rua. E pra mim ficam parecendo realmente pessoas quaisquer que não tem nenhuma influência no resto da história.
O que Virginia Woolf conseguia fazer comigo utilizando essa técnica era ativar o meu próprio fluxo de consciência, me fazendo entrar em um looping infinito interno de “listas de tarefas”. Isso significava prestar atenção aos meus pensamentos, quando deveria estar focando no parágrafo que estava lendo.
Eu me via DIVERSAS VEZES tendo que reler dois ou três parágrafos porque eu passei os olhos por eles mas simplesmente não conseguia lembrar o que tinha lido. Minha mente tinha ido passear enquanto eu via as palavras das páginas.
Cheguei até a página 50 mais ou menos e não consigo me lembrar de quase nada que Clarissa fez no seu trajeto até a floricultura.
Eu acho que pra efetivamente conseguir ler Mrs. Dalloway eu provavelmente teria que usar uma técnica de leitura em voz alta. Porque, dessa forma, eu estaria com total atenção à leitura e ao mesmo tempo me ouvindo falar as palavras.
Eu só não estou disposta de investir mais tempo numa leitura e num estilo que exige mais de mim do que o que estou disposta a me envolver no momento.
“Mas Samara, se você abandonou a leitura, por que dar 3⭐️?” Porque o problema aqui é a minha incapacidade de focar na leitura. Até onde eu entendo, Mrs. Dalloway representa um novo estilo e técnica de escrita que foi importante para marcar e representar o Modernismo na literatura. E por isso eu estou reconhecendo o seu valor.
Agora em fevereiro o livro é Orgulho e Preconceito e estou torcendo pra que ele seja tão divertido e envolvente quanto o filme de Kiera Knightly. 😋
Referência sobre o Modernismo na literatura: https://en.wikipedia.org/wiki/Literary_modernism
Até a próxima! o/
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2 Comentários
Fazer o que essa mulé fez deve ser um desafio enorme, mas não adianta forçar uma leitura que não ta fluindo..
Achei que ia ser espertona começando com um livro mais contemporâneo, então escolhi Virginia Woolf para o pontapé inicial.
E não consegui terminar. ”
Hahahahaha
Olha, não querendo ser pessimista, mas… Por favor, ao final do ano, faça um apanhado geral desse desafio, ok? Quantos dos 12 livros clássicos você realmente gostou. Tô achando que não serão muitos… Falo por mim, mas em todos q me forcei a ler ao longo dos anos, não consegui gostar de fato. Admirar o papel daquela literatura em seu tempo? Sim, definitivamente. Mas gostar no momento atual, e ficar “pagando-pau” como pseudo-cult? Err, não, obrigada rs