Teto para Dois
Intrínseca
série ---
400 páginas | 2019
Três meses após o término do seu relacionamento, Tiffy finalmente sai do apartamento do ex-namorado. Agora ela precisa para ontem de um lugar barato para morar. Contrariando os amigos, ela topa um acordo bastante inusitado.
Leon está enrolado com questões financeiras e tem uma ideia pouco convencional para arranjar dinheiro rápido: sublocar seu apartamento, onde fica apenas no período da manhã e da tarde nos dias úteis, já que passa os finais de semana com a namorada e trabalha como enfermeiro no turno da noite. Só que tem um detalhe importante: o lugar tem apenas uma cama.
Sem nunca terem se encontrado pessoalmente, Leon e Tiffy fecham um contrato de seis meses e passam a resolver as trivialidades do dia a dia por Post-its espalhados pela casa. Mas será que essa solução aparentemente perfeita resiste a um ex-namorado obsessivo, uma namorada ciumenta, um irmão encrencado, dois empregos exigentes e alguns amigos superprotetores?
Design
Esse é um daqueles projetos gráficos que eu sempre costumo associar a livros de “literatura feminina”. Não sei explicar muito bem porque, mas uma grande parte dos chicklits ou romances contemporâneos são capas com ilustrações vetoriais.
E ainda tem uma fonte caligráfica com cara de “letra de menina”, toda fofa e redondinha para escrever o título.
Estou sendo preconceituosa e acusando certos esteriótipos? Muito provavelmente. Mas esse é o problema de se criar uma “identidade” para um gênero específico. Você pode acabar gerando expectativas negativas para as capas dos livros…
Mas em momento nenhum eu estou dizendo que a capa é ruim ou feia ou qualquer coisa negativa. Só que ela é tendenciosa. Se você pegar qualquer livro de chicklit/romance que a Record lança, vai ver exatamente padrões como os de Teto para Dois.
Tou toda cheia de dedos aqui, mas a capa é fofa, e literalmente expõe uma questão da história: o fato dos protagonistas dividirem a mesma cama sem nunca terem se encontrado.
Outra coisa legal ainda na parte externa é a quarta-capa. Em dado momento do livro, os personagens passam a se comunicar deixando post-its pelo apartamento que dividem. E aqui na quarta-capa os bilhetinhos estão representados com citações de avaliações do livro.
Agora o miolo é relativamente simples, mas ainda assim, ele é bem elegante, mantendo uma certa identidade com a suavidade que se tem na capa.
O livro é dividido em partes, que tem como “nome” o mês em que ocorrem os capítulos. A fonte usada parece manuscrita, como se fosse a letra de um dos personagens, escrita nos post its que usavam pra se comunicar. Além disso, têm também ilustrações de diferentes objetos de casa (abajur, telefone fixo, conjunto de chá…) em cada uma. Os capítulos são numerados e com o nome do personagem que é o responsável pelo PoV que vamos acompanhar.
Uma coisa que é interessante no projeto do miolo, e que ajuda a marcar a alternância dos PoVs, é a forma de como os diálogos são apresentados. Quando é Tiffy que está à frente do capítulo, os diálogos são iniciados com travessões; nos de Leon, a marcação é sempre com o nome de quem está falando antes da fala em si.
História
– Esse relacionamento te fez mal, Tiffy – diz Mo, com cuidado. – Ele deixava você muito triste.
Balanço a cabeça. Tipo, sei que eu e Justin brigávamos, mas sempre fazíamos as pazes e as coisas ficavam mais românticas depois da briga, então eu não me importava de verdade. Não eram como as brigas de outros casais – simplesmente faziam parte da montanha-russa linda e louca que era nosso relacionamento.
– Um dia você vai entender, Tiff – afirma Mo. p. 79
Teto para Dois é a história de Tiffy e Leon e como eles passaram a morar juntos sem nunca se encontrarem. Alternando os pontos de vistas de cada um, a gente vai conhecendo um pouco mais da vida e dos problemas dos dois, enquanto se acostumam com a presença/ausência de cada um no mesmo apartamento.
Só que o livro vai mais além do que simplesmente o que pode parecer uma história de encontro/desencontro. Porque Tiffy e Leon tem suas vidas bastante confusas e separadas em boa parte do livro. E ambos tem problemas bastante complicados para resolver.
E já vale fazer uma ressalva aqui: por mais “leve” que o livro possa parecer na forma gostosinha que Beth O’Leary escreveu, ele pode ter gatilhos em algumas situações para algumas pessoas.
Bem, eu peguei dois livros seguidos com assuntos bem sensíveis em suas histórias. Diferente de Contato de Emergência, acho que Teto para Dois soube lidar melhor e desenvolver os “traumas” dos personagens de uma forma muito mais estruturada e envolvente.
E o livro traz resoluções.
Não consigo considerar que o livro é um chicklit, porque Tiffy não me pareceu em nada com as personagens que costumam ser protagonistas do gênero. Mas eu fiquei muito feliz de conseguir gostar de verdade de uma personagem que está muito mais próxima da minha realidade como mulher do que da Penny de Contato de Emergência.
Tiffy está tentando se livrar de um ex-namorado, tem dívidas, precisa encontrar um apartamento o mais rápido e o mais barato possível, trabalha com o que gosta, mas ganha uma mixaria, e não consegue perceber o quanto seu relacionamento anterior fez e faz muito mal pra ela.
Ainda bem que Tiffy tem dois amigos maravilhosos para dar suporte em grande parte dos problemas e das “trapalhadas” que ela faz ao longo da história.
Leon também tem seus problemas. Ele precisa dividir seu apartamento com alguém para conseguir um dinheiro a mais. Está num relacionamento não muito bom, com uma namorada que é controladora e abusiva. Tem um emprego que gosta mas que pode ser desgastante. E é fruto de um lar onde viu sua mãe ser abusada emocionalmente inúmeras vezes ao longo de sua vida.
Acho que o mais apaixonante do livro é que Beth O’Leary não foge dos temas complexos como gaslighting, mansplanning, relacionamento tóxico e abusivo, sexo como ferramenta de controle emocional… Ela usa tudo aqui, mas de uma forma direta e suave ao mesmo tempo, sabe?
Você é envolvido pelo drama de Tiffy. Sofre junto com ela enquanto descobre toda a confusão mental que o ex causou ao longo do tempo que ficaram juntos. E ainda tem os momentos que o estrupício aparece e você só quer dar umas voadoras no peito do personagem e ajudar a Tiffy.
Tudo é bastante crível e verdadeiro. E é bem possível que você possa identificar situações de relacionamentos que já teve/tem ou que amigas/os tiveram/têm. E dá nervoso. E dá tristeza. E dá vontade de tentar ajudar todo mundo e xingar a porcaria toda.
– (…) Eu me lembro de cada minuto. Ele era horrível com você. Dizia onde você tinha que estar e como chegar lá e depois levava você porque você não ia conseguir achar o caminho sozinha. Ele fazia com que toda briga fosse culpa sua e não desistia até você pedir desculpa. Largava você e voltava do nada. Ele disse que você era gorda e estranha e que ninguém mais ia querer ficar com você, apesar de você claramente ser uma deusa e ele ter sorte de ser seu namorado. Era horrível. A gente odiava o cara. E, se você não tivesse me proibido de falar sobre ele, eu teria dito isso todos os dias. p.190
Teto para Dois é um livro sobre auto-conhecimento, libertação e renovação. Ao mesmo tempo que mostra pra gente que é possível recomeçar de uma forma melhor e mais saudável.
Eu não quero entrar em muitos pormenores da história, porque é muito gostoso acompanhar as descobertas que Tiffy e Leon vão fazendo, sozinhos e juntos, a partir do momento que dividem o apartamento.
Sofrer com eles e por eles é mais gostoso se você não souber direito o que vai acontecer. Mas em muitos momentos eu me via tensa de expectativa ou de nervoso com como as coisas foram se desenrolando.
Acho que Teto para Dois foi meio que a prova que meu problema não são livros contemporâneos. Definitivamente, eu estou velha demais para conseguir aproveitar e gostar de YAs como eu “deveria”.
O que eu tenho que fazer é encontrar mais livros com personagens que estejam com uma idade mais próxima da minha, ou que tenham algum tipo de reflexo com a minha realidade atual.
Fez toda a diferença. E me fez dar 5 estrelas por toda a jornada, toda a ansiedade, angústia e felicidade de acompanhar os personagens.
Ize. Como (quase) sempre, você tinha razão. <3
Até a próxima! o/
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1 comentário
Tive aquela vontade estúpida de dizer “mas, claro, advogados sempre tem razão”, até eu imaginar você me dando uma voadora na cara; então, melhor não entrar nesse mérito xD
Hahahaha
Piadas a parte: fico feliz que tenha conseguido curtir um romance simples e gostado, para variar da sua lista de decepções sem fins com YAs e NAs.
O problema dos YAs não são eles, mas nós. O público a qual um livro se destina faz toda diferença, e até mesmo nossa maturidade de reconhecer isso também faz. Por exemplo, é muito fácil você só dizer que um dos YAs que você leu é ruim, e influenciar outros futuros e possíveis leitores com sua opinião. Mas no momento que você reconhece que não é o público para o qual aquele livro se destina – é que isso é boa parte do motivo de não ter gostado -, você tem chance de deixar uma resenha realmente útil a outros possíveis leitores daquele mesmo livro.
Fiquei curiosa com este NA que leu, porque a premissa é bem diferente. E como você, também me reconheço mais com histórias de “adultos” (contas a pagar, baby) do que com o drama juvenil de colégio (“aí, tenho aula agora do sr. Barnes” ou seja lá quem).
Provavelmente vou procurar para o meu kindle (e possivelmente em inglês considerando que é Record), e te falo minha opinião depois ;)