Inspeção
Intrínseca
série ---
416 páginas | 2019
Rapazes e garotas estão sendo criados em escolas especiais. Um grupo não sabe da existência do outro — até agora. No alto de uma torre embrenhada em uma floresta e isolada do restante do mundo, temos J. Ele é um dos vinte e seis rapazes de um internato que tem como objetivo formar prodígios em artes, ciências e atletismo.
Até hoje J só teve contato com as outras pessoas que vivem ali: os colegas são sua única família e todos acreditam ser filhos do fundador da escola. A vida acadêmica é tudo o que conhecem — e tudo o que lhes é permitido conhecer. Mas J suspeita da existência de algo mais fora dali, para além da Torre em que vive, algo que não querem que ele veja. É então que começa a questionar. Qual o verdadeiro propósito daquele lugar? Por que os alunos não podem sair? E que segredos o pai está escondendo deles? Enquanto isso, do outro lado da floresta, em um internato muito parecido com o de J, uma jovem chamada K vem se fazendo as mesmas perguntas.
Ao investigar os mistérios por trás de suas estranhas escolas, talvez os dois acabem descobrindo algo… que não deveriam.
Design
Preciso dizer que tem uma coisa que me incomoda MUITO nessa capa e só faz sentido depois que você lê Inspeção. Sim, tem uma torre na história. Ela tem uns oito andares de altura, e é cercada por uma floresta de pinheiros (eu acho que são pinheiros; eu guardei como pinheiros, então vem comigo) muito altos.
Eles tem que ser muito altos porque quem fica no oitavo andar não consegue ver que a uns cinco quilômetros de distância existe uma outra torre. OU SEJE! A ilustração da capa está incoerente com o que é contado na história.
Tá bem, tá bem, que não dá pra fazer uma floresta que cobre o prédio inteiro na capa. Você perderia todo impacto que ter uma torre no meio de um monte de árvores poderia causar. Mas ao mesmo tempo, eu me senti meio enganada enquanto lia a história.
Muito bem, depois desse mimimi, vamos dizer que eu curto essa desolação e certo sentimento deprimente que essas árvores raquíticas e o padrão cromático causam na gente. Ainda mais com essa luz solitária no topo da torre, no meio do nada.
Só é uma pena que esse novo livro fuja um pouco da identidade que tinha sido feita entre Caixa de Pássaros e Piano Vermelho… Os dois livros com fontes sans-serif, fundo preto, textos em caixa alta, uma cor como foco de atenção…
Eu sei que a capa é uma adaptação da original lá de fora, mas eu fiquei levemente triste com essa alteração no “padrão”. Eu preferia manter as fontes sans-serif pros textos da capa do que a que foi usada, que tem bem cara de jornal antigo. :P
Agora, o miolo tá beeeeem bonito, com algum trabalho diferenciado de editoração. Na folha de rosto, todo o clima meio deprimente das árvores secas/mortas aparece de novo, com um fundo acinzentado para dar um contraste muito mais sutil e soturno para a silhueta das árvores.
Esse contraste é invertido nas partes do livro, onde o fundo fica preto e as árvores, cinza. Todas as aberturas de capítulo são nomeadas e também tem a silhueta de uma árvore sinistra na margem externa da folha, o que dá uma certa dinamicidade, dependendo se o capítulo começa em uma página par ou ímpar.
Eu gostei do miolo, a fonte é uma que costuma aparecer nos projetos da Intrínseca, e é bem agradável de ler (apesar de não agregar “sentimento” pra a leitura). As margens e a entrelinha são bem elegantes e ajudam a estruturar bem o texto nas páginas. Meu único porém aqui é a não existência do cabeçalho com nome do autor/título. Como as pessoas vão stalkear minha leitura sem essas informações na página? Só se contorcendo pra ver a capa. XD
História
Aeeee, Josh Malerman!! \o/
Finalmente fiz as pazes com o autor de Caixa de Pássaros e Piano Vermelho! Nem tou acreditando, juro. Eu tive tantos “problemas” com o autor nas duas outras obras que li que já estava praticamente desesperançada.
Só que aí veio Inspeção e nosso relacionamento melhorou! Melhorou 100%? Não, mas foi uma melhoria satisfatória a ponto de eu continuar interessada em ler futuros livros.
Acho que o que mais me ajudou a conseguir me relacionar melhor com esse livro foi a escolha de cenário, os personagens, e uma certa lembrança que eu tive de Silo enquanto lia.
Se você não leu Silo, o que você precisa saber para entender o que eu quero dizer é uma certa sensação de claustrofobia e ansiedade controlada que o autor criava para os personagens e para o leitor.
A partir do momento que toda a informação é selecionada e somente aquilo que “realmente é importante” é comunicado para as pessoas, você tem controle da realidade e de tudo o que os personagens entendem como “mundo”.
Na Torre da Parentalidade, os Meninos do Alfabeto são criados isolados do resto do mundo há 12 anos, e todos acreditam que são irmãos, filhos do P.A.I., e que nasceram de árvores escondidas no bosque que envolve a construção. As únicas informações que têm são as que o P.A.I. e sua equipe passam nas aulas e nas inspeções.
O nome de cada menino é uma das letras do alfabeto, e cada quatro dividem um andar da Torre. Todos os dias de manhã os meninos passam pela Inspeção, quando são analisados pelo P.A.I. a procura de Vês, Podridões (e outras paradas com nomes inventados que eu não guardei) que podem estragar um garoto. Em 12 anos, nenhum dos meninos foi reprovado na Inspeção, e por conta disso todos eles temem que isso possa significar ir para o Canto.
O protagonista principal aqui é J, um dos meninos. A gente acompanha algumas de suas atividades na Torre, seu relacionamento com os colegas de andar, sua devoção ao Lawrence Luxley, suas Inspeções. Só que J tem alguns receios quanto a Parentalidade desde que A e Z foram para o Canto e nunca mais foram vistos pelos outros Meninos do Alfabeto.
Além de J, a gente também acompanha capítulos do Lawrence Luxley que contam a visão de um dos adultos que fazem parte da Parentalidade, e o quanto ele está tendo que lidar com o “bichinho da culpa”. E essa culpa vai colocar em movimento diversas ações que podem destruir o castelo de cartas que é a Parentalidade.
O P.A.I também tem direito a seu ponto de vista ao longo das páginas da primeira parte da história, e a gente pode entender o porquê de ele ter criado essa comunidade de crianças separadas de todo o mundo “aqui fora”.
O que eu acho uma pena é que a sinopse do livro meio que já estraga um baita plot twist que não deveria ter sido nem comentado. De certa forma eu dou graças porque eu esqueci da sinopse quando peguei o livro pra ler, então pra mim foi muito impactante descobrir que existe uma outra torre com garotas.
Mas eu vou ser uma pessoa maravilhosa e não vou falar mais nada sobre essa parte do livro pra que a experiência da descoberta seja realmente só sua. <3
Eu adorei J e seus amigos D, F e L. A dinâmica dos quatro é bem divertida e cada um meio que tem um papel interessante na jornada de descoberta de J. Você consegue identificar um certo radicalismo na “verdade” da Parentalidade em um ou outro, e a sementinha dos questionamentos sobre se essa é a verdadeira verdade em outros.
Ao mesmo tempo, os meninos são brilhantes e dedicados porque não possuem nenhum tipo de “distração”. Só que eles vivem cerceados por todos os lados para impedir que tenham certos pensamentos. Até mesmo fisicamente eles são tolhidos, para que não se aventurem muito longe da área da Torre da Parentalidade.
Toda essa sensação de confinamento, de divergência e negligência de informação, de uma adoração quase irracional ao P.A.I., são muito interessantes de acompanhar. Ainda mais acompanhando as análises psicológicas que são feitas sobre os meninos e sobre o P.A.I., e que aparecem de vez em quando ao longo dos capítulos.
Eu achei interessante toda essa questão de você tentar construir um “mundo” controlado a partir das informações que você dá às crianças que estão crescendo nele. O quanto a curiosidade humana vai ser controlada a ponto de você ter pequenos autômatos sendo criados para a genialidade? O quanto a explosão hormonal da adolescência “estraga” um plano perfeito de uma sociedade mais “evoluída” por ter sido criada sem todas as informações que podem atrapalhar o futuro.
O quanto isso tudo não é de alguma forma parecido com o controle da verdade e da pós-verdade que vivemos hoje em dia? Coisas a se pensar que Inspeção deixa ao longo das páginas.
Agora, estamos falando de Josh Malerman não é mesmo? Se não tiver gore e final em aberto não é o mesmo autor!
Sim, em certo momento da história a parada toda descamba pra cenas descritivas de violência e agressão que talvez não sejam agradáveis para todos os leitores. De certa forma é um momento catártico que toda a construção dos personagens acaba levando, mas ao mesmo tempo, um tanto assustador quanto as possibilidades de que pudesse realmente acontecer.
E tá, eu posso ter dado um spoiler não intencional, dizendo que o final é em aberto, MAS, se tratando do Josh Malerman, você já poderia esperar algo do gênero. Não, eu continuo não gostando de livros com finais abertos, mas acompanhar toda a jornada de J ao longo da história foi divertido o suficiente para eu conseguir relevar qualquer insatisfação que eu costumo ter. Aqui a jornada foi mais importante do que o fim.
Se você gosta do Malerman, dizer que vale a pena a leitura vai ser chover no molhado, mas se você nunca leu nada do autor, talvez seja uma boa começar por Inspeção e depois procurar os outros livros. De qualquer forma, o autor ganhou pontinhos comigo. ;)
Outros livros do autor
Até a próxima! o/
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