Boy Erased
Intrínseca
série ---
320 páginas | 2019
Livro que deu origem a filme estrelado por Nicole Kidman, Russel Crowe e Lucas Hedges.
Em seu elogiado livro de estreia, Garrard Conley revisita as memórias do doloroso período em que participou de um programa de conversão que prometia “curá-lo” da sua homossexualidade. Garrard — filho de um pastor da igreja Batista, criado em uma cidadezinha conservadora no sul dos Estados Unidos — foi convencido pelos próprios pais a apagar uma parte de si. Em uma tentativa desesperada de agradá-los e de não ser expulso do convívio da família, ele quase se destruiu por completo, mas encontrou forças para buscar sua identidade e hoje é ativista contra as terapias de conversão.
Tocante e inspiradora, a história de Garrard é um acerto de contas com o passado, um panorama complexo das relações do autor com a família, com a fé e com a comunidade. O livro é o testemunho dos traumas e das consequências de se tentar aniquilar parte essencial de um ser humano.
Design
Eu fiquei com um pouquinho de pena da Intrínseca nesse projeto gráfico. Porque a editora “apostou” no lançamento do filme baseado no livro do Garrard Conley e fez uma jaqueta com o poster do filme.
Só que o filme não foi lançado por aqui. E talvez o livro não tenha conseguido alcançar suas “reais possibilidades” porque ficou faltando esse marketing que provavelmente o cinema traria.
De qualquer forma, eu não sei de verdade qual foi o motivo do filme não ter sido lançado por aqui. Li sobre censura; li sobre não gerar retorno financeiro para a distribuidora… Provavelmente nunca saberei qual foi o real motivo (e não me esforçando muito para procurar u.u).
De qualquer forma, a capa real do livro é um tanto quanto enigmática e talvez tenha algumas camadas de análise para ser feita. Mas assim, pelo menos ele segue corretamente a cartela de que “meninas vestem rosa, meninos vestem azul”, não é mesmo?
A ilustração parece ser de uma criança ajoelhada em um genuflexório. Tudo o que o define como um menino, ou até mesmo com um ser humano, foi apagado da imagem, restando somente a posição de oração e devoção que se espera em um ambiente religioso.
Engraçado como a memória da gente é, porque me lembrou das lembrancinhas de primeira eucaristia, que as crianças ficavam trocando como “cards”, e faziam questão de não aceitar os que já tinham “conquistado”. Pensar nisso me faz crer que eu devo ter sido uma criança horrível na coleção dos santinhos da minha primeira eucaristia…
Queria entender qual é a da folha logo em primeiro plano… o que ela representa? É uma metáfora à folha que cobre “as vergonhas” de Adão, quando ele se descobre nu no paraíso? Ela está cobrindo a vergonha de Garrard ao se descobrir homossexual?
Em termos de lettering na capa, é interessante que o título está em uma fonte sans serif, mas todos os outros elementos são escritos com fontes que emulam uma caligrafia. É interessante que aqui, os elementos caligráficos meio que sugerem uma individualidade, no subtítulo e no nome do autor. Mas o título, por ser em uma família “tradicional” de fonte, é como se ela estivesse enquadrando e uniformizando o sentido do texto.
De resto, é um dos projeto de dimensões menores que a Intrínseca costuma fazer. Tem soft touch na capa, pra captar todas as minhas gorduras enquanto seguro o livro. E é uma contradição você segurar algo tão macio e aveludado, e o conteúdo da história ser tão espinhento e sofrido.
O miolo é relativamente simples mas extremamente correto, daqueles padrões de qualidade que a Intrínseca costuma produzir quando o livro é menos rebuscado. Tem divisão de partes com o número que marca em numeral romano completamente solitário na página.
Os capítulos alternam entre “presente”, enquanto Garrard está na AEA (Amor em Ação), e passado, contando coisas que normalmente tem a ver com o que o autor está narrando no presente. Pra gente entender essa diferença, os capítulos do “presente” dizem qual é a data dos acontecimentos. Os do “passado”, vem com um título que define sobre o que Garrard vai contar naquele trecho.
História
(…) Todos havíamos recebido ultimatos que não existiam para outras pessoas, tinham nos imposto condições quase sempre distantes do amor entre pai e filhos. Em algum momento, todos nós tínhamos ouvido um “mude isso ou então…”. Ou então ficaríamos sem casa, sem dinheiro, seríamos excomungados, exilados. p.30
Bem, já se passou algum tempo desde que li Boy Erased. Além do timing ter passado desde a publicação, desde que cancelaram o lançamento do filme por aqui, eu achei que todo o fluxo de emoções que o livro gerou dentro de mim também já deveria ter dado uma baixada de bola.
Mas, meses depois, eu ainda me incomodo quando penso na história.
Boy Erased foi um livro muito difícil porque ele girava em torno de três pilares principais para Garrard: seu relacionamento com a família; seu relacionamento com a religião; e seu desejo de não ser quem ele realmente era.
De certa forma, todos esses pilares de Garrard são um tipo de “gatilho” pra mim. E falar sobre eles no livro, invariavelmente é falar um pouco de mim e, sei lá. Por mais que eu escreva sobre algumas coisas pessoais por aqui, esses são assuntos bem mais pesados no quesito “estou disponível para falar sobre isso”.
Mas vamos tentar, né. Eu não costumo “fugir” de escrever uma resenha só porque eu achei que tava difícil.
Então, é bem provável que essa seja uma resenha “blog diarinho”. E é bem provável que talvez você não me veja falando sobre o livro em si. Talvez essa seja uma resenha sobre mim.
Vamos conceituar algumas coisas.
Desde que me entendo por gente, eu cresci até os meus 6-7 anos em um lar “sem religião”. Meus pais nunca me “doutrinaram” em nenhuma religião que eu consiga me lembrar. Fui batizada na igreja católica (tem foto, eu não me lembro :P), mas só fui entender de verdade o que isso significava quando entrei no ensino fundamental e fui para um colégio católico tradicional aqui no Rio de Janeiro.
Eu lembro de uma das primeiras aulas de religião. A irmã responsável por dar a aula perguntava a cada uma das 30 crianças na sala se ela conhecia as orações principais. E eu me lembro da sensação de terror por não fazer ideia do que ela estava falando. Nunca tinha ouvido falar sobre avesmarias ou painossos.
E na frente de todas as outras crianças, eu e alguns outros gatos pingandos, tive que repetir as frases das orações e me comprometer em decorar para as aulas seguintes.
Talvez esse fosse o custo do ingresso no reino dos céus: remova de si todas as idiossincrasias, as opiniões fortes, os credos – não ponha nenhum deus falso à frente Dele -, torne-se uma concha facilmente moldável, um receptáculo para Deus. p.87
Olhando em retrospectiva hoje, foram anos terríveis para o meu crescimento e desenvolvimento, mas ao mesmo tempo, foram importantes para formar meu carácter, personalidade e crenças.
Eu lembro de que tinha uma capela dentro do prédio da escola. Ela tinha uns vitrais bonitos, que quando abertos dava pra ver a floresta do lado de fora. E lá no final da capela, tinha uma imagem enorme de Jesus sofrendo, ensanguentado, e preso na cruz.
Apesar de ser um lugar tranquilo, eu lembro que eu tinha medo de entrar lá. Teve uma época que eu tentei ser uma boa menina, e ia frequentemente na capela para colocar em prática as orações que tive que decorar. Mas o terror daquela imagem sofrida no funda da capela, e o fato de que, quando eu tentava conversar com quem quer que as irmãs diziam que estava ouvindo, nunca ser realmente uma conversa, porque não havia resposta, me fez ver que eu realmente estava perdendo meu tempo.
Mas onde estava Jesus durante todo o tempo que passei na AEA (Amor em Ação)? Onde estava a mão firme e ferida Dele? As orações que eu continuava recitando todas as noites se tornavam cada vez mais desesperadas e sem sentido. Por favor, me ajude a ser puro. Porfavor, meajudeaserpuro. Porfavormeajudeaserpuro.
Em lugar nenhum. A resposta não estava em lugar nenhum. p.138/139
Que eu não sou feita da mesma matéria que as pessoas que acreditam.
Estudar num colégio católico me afastou COMPLETAMENTE de qualquer prática religiosa. Eu tenho extrema dificuldade de entender porque as religiões ainda existem. Porque as pessoas ainda seguem, às vezes sem nenhum tipo de questionamento, o que está escrito em livros de milênios atrás.
Eu lembro o quanto paradoxal era ter aulas de religião e de história na minha adolescência. Enquanto uma me doutrinava em uma fé cega e sem questionamentos, a outra me mostrava todo o terror que já foi espalhado (e ainda é) por essa mesma fé.
(…) Se não dissesse muita coisa, se as pessoas não me notassem, então talvez escapasse do olho onisciente de Deus. p.115
Com isso já dá para perceber que acompanhar toda a trajetória de Garrard, um jovem batista, e ainda por cima fundamentalista, em seu esforço de se anular para poder continuar sendo aceito por sua religião, foi uma jornada sofrida pra mim.
Eu não consigo me lembrar em que momento a religião deixou de ser um modelo de vida, uma “graça” a ser alcançada, e simplesmente virou um peso. Mas eu lembro que os últimos anos na escola foram difíceis porque eu já não conseguia acreditar em nada do que era praticado pela religião.
Garrard passa a querer anular tudo o que ele é para poder continuar dentro do seu seio familiar e da igreja. Como se todas as coisas que ele sente pudessem ser colocadas dentro de uma caixinha e esquecidas. Como se ele pudesse deixar de ser quem é para seguir aquilo que é esperado dele.
Seja um homem, seja heterossexual, seja um exemplo de evangelizador da igreja, seja um futuro pastor. Não seja um escritor, não seja “maricas”, não seja você.
– Você nunca mais vai pisar nesta casa se agir de acordo com o que sente. Nunca vai terminar a faculdade. (…) pensei: Qualquer coisa. Vou fazer qualquer coisa para apagar essa parte de mim. p.133
Eu lembro de que eu sempre precisei me esforçar pra interagir com outras pessoas. Era um sofrimento, era desgastante, era quase “sobre-humano”. Competir por atenção, por fazer parte de um grupo, por ser reconhecido era parte da construção da sua persona na adolescência.
Se você fizesse parte do grupo errado, ou se estivesse fora de todos os grupos, você naturalmente era um pária e alvo. Eu lembro de tentar muito. Mas de sempre ser diferente demais de todas as outras meninas. Eu era “errada”.
E eu não podia ser “errada”. Eu não podia ler quadrinhos da Marvel. Eu não podia jogar ping-pong com os meninos. Eu não podia gostar de cavaleiros do zodíaco. Eu não devia querer jogar video-game. Eu não devia me esconder na biblioteca. Eu não tinha amigas/os. Eu não era desejada por ninguém.
Eu havia passado a vida toda me perguntando como era ter uma cabeça heterossexual – ou pelo menos desde que havia descoberto que era gay (…). Como seria não ter que pensar em cada movimento, não ser analisado em tudo que fazia, não ter que mentir todos os dias? p.144
Estar fora do padrão e tentar se encaixar nele, como Garrard tenta fazer a todo custo em sua história, é um dos movimentos mais dilacerantes que existem. Você tem que criar uma casca de si mesmo pra mostrar pros outros, quando internamente você só quer fugir e encontrar um lugar para realmente ser aceito.
Você só quer ter a oportunidade de ser você mesmo. Você só quer ter a oportunidade de ser respeitado e amado por ser quem intrinsecamente é.
E quando nem mesmo no seu seio familiar você encontra esse lugar… como você vai confiar em qualquer outra pessoa? Como você vai continuar, sabendo que nem as pessoas que deveriam ser seu apoio e suporte, te apoiam e te dão suporte?
Você chega em um momento que precisa decidir o que realmente é importante. Se encaixar em um molde que não foi feito para você, que vai te destruir ao longo da vida, mas vai agradar a todos em volta?
Ou respeitar sua natureza, entender quem você é, e aceitar que certas escolhas tem consequências. Que encontrar seu lugar, encontrar pessoas que te respeitam, respeitar o que é inerente a você é muito mais importante e traz muito mais felicidade e completude a longo prazo.
Vida é sofrimento. Vida é tomar decisões, o tempo todo, e que não são fáceis. Vida é questionar tudo o que é dito como dogma ou inquestionável. Vida é evolução e quebra de paradigmas. Vida é desconstrução e renascimento.
E Boy Erased mexeu tanto comigo que me fez escrever esse monte de bobagem sem sentido e ainda me deixa num misto de raiva, revolta, tristeza e incapacidade, tanto tempo depois.
Porque os outros sempre vão preferir nos moldar e nos colocar nas caixinhas que fazem sentido para ELES, do que tentar nos entender e respeitar e querer ficar conosco pelo que somos.
Fica meus dez centavos meio doidos para dizer que Boy Erased é um livro que precisa ser lido. É preciso que as pessoas saibam o que suas mentes pequenas fazem com outras pessoas. É preciso que as pessoas entendam que todos deveriam ser respeitados por suas escolhas e por suas naturezas.
Acho que é isso que eu quero dizer. Só precisa ter respeito.
Até a próxima! o/
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4 Comentários
Olá.
Primeiro queria dizer que eu gostei muito, muito mesmo da maneira como você escreve. Me lembrou um pouco de como eu mesma escrevia antes de ter meu cérebro reescrito pelas pesquisas científicas da faculdade, e é algo que eu gostaria de recuperar. E segundo queria dizer que me identifiquei um pouco com a “resenha de você” rs.
Este livro parece bem interessante. A história é contada em primeira pessoa estilo autobiografia ou é algo mais com trama, como que transformando as experiências pessoais do autor em ficção?
Religião é uma coisa muito complexa de se entender… eu também tenho muita dificuldade, mas confesso que às vezes penso que preferia ser uma ovelha; ter todas as respostas para minhas dúvidas em um livro de milênios atrás. Deve ser muito mais fácil e menos doloroso do que viver no abismo de dúvidas e medo em que eu vivo, mas pelo menos meu abismo me permite ter respeito aos outros e ser livre de preconceitos.
Gostei muito da sua análise da capa. Eu pessoalmente achei ela muito bonita, e bem sacada a questão de tudo que define o “menino” estar apagado e só restar a questão da devoção. Querendo ou não, capas são importantes pois são o nosso primeiro contato com o livro, atraem a nossa atenção. Infelizmente essa jaqueta com imagem do filme, na minha opinião, já não é atrativa.
Parabéns pelo seu blog, um beijo.
Oi Gabi! Obrigada pela visita e por seu comentário! <3
Respondendo sua pergunta: o livro tem uma pegada de biografia, mas o autor conta de uma forma quase ficcional, como se ele tivesse "preparando" o texto pra ser transposto para outra mídia, tipo o filme que foi feito e não saiu por aqui.
E eu te entendo sobre a questão de querer ser uma "ovelha". Realmente parece ser mais "fácil" e menos "sofrido" não ter que pensar e simplesmente seguir o que outras pessoas "comandam". Mas assim como você, prefiro não ser controlada e ter a oportunidade de tomar minhas próprias decisões e aprender com minhas dúvidas e questionamentos. Ter a oportunidade de crescer e me desconstruir continuamente é o que me faz me sentir humana.
Eu sempre tenho muita dificuldade com capas de poster de filmes. Normalmente eu entendo que isso é uma forma de atrair o público "não-leitor" que gostou de um filme e que pode se interessar pelo livro, uma vez que ele remete imediatamente à obra cinematográfica. Entretanto, o livro perde um pouco de sua identidade própria, né?
Mais uma vez, obrigada pela visita! E se me permite perguntar, como você encontrou o blog?
Hum… Eu tento sempre ao máximo exercer minha empatia, me colocando no lugar “do outro” para procurar entender o que ele sentiu, porque fez algo de uma forma.
De muitas maneiras, quando se trata de determinados assuntos, é extremamente difícil. Da sua resenha (na verdade, relato pessoal), o mais difícil para mim é entender o conceito do “agradar os outros”; de querer fazer “de tudo” para ser aceito, sabe?
Acho que porque eu sou uma pessoa com personalidade/pensamento muito combativo; sempre fui contra o rótulo “normal”, me recusando a ser “tarjada” (ou buscar isso), para agradar uma sociedade hipócrita.
Nunca gostei de ser “igual” ao outros, e tenho até mesmo orgulho de ser diferente.
Claro, isso não quer dizer que a vida é mais fácil assim. Na adolescência, ser esquisita, usar roupas pretas, fazer piadas idiotas… Não quer dizer que era cheia de amigas/os nem nada; mas eu era “eu”, sem ficar tentando me encaixar no que os outros queriam que eu fosse.
E sempre segui assim. Teve momentos da vida que cheguei, sim, a me perguntar se isso era o certo; se eu não deveria me dedicar ao menos um pouco a ser o que os outros esperam.
Mas sempre aprendi a ligar o botão de “foda-se”. Porque os “esquisitos” não estão sozinhos no mundo; tem vários deles também, e são eles que vão te aceitar como você é.
Então, sempre fui esquisita, e sempre encontrei outros esquisitos. Gostava de jogar video game com meu irmão, cresci nos eventos de animes do Rio de Janeiro, andar com punks e emos na adolescência, passei por mais colégios e faculdades do que qualquer outra pessoa que já conheci (18 colégios e 5 faculdades), devoro livros, não consigo ficar parada…
E me aceitei assim; não procuro uma “cura”, uma forma de me encaixar. Dane-se aqueles que não gostam de mim, porque vivem para agradar os outros. Cheguei ao ponto da vida em que olho pra esse tipo de pessoa e tenho pena dela; pena dela ficar tentando seguir uma vida vazia, só para agradar quem não se importa com ela.
E voltando ao assunto principal… Mesmo com todo o exercício de empatia, é difícil para mim entender a parte da sua vida em que você tentou “se corrigir” para agradar outros. Eu tive uma mãe conservadora, mas ao mesmo tempo, ela não me controlava a ser um “molde”. Deixava eu pintar meu cabelo com papel crepom e álcool, a andar com spikes e correntes… Tudo como fazendo parte de uma “fase”. E por isso eu agradeço a ela, pelo menos.
Mas, enfim… Ver uma história como desse livro, “Boy erased”, é difícil para mim porque não consigo entender a motivação de quem quer fazer parte do “normal”; não quando hoje em dia é tão fácil encontrar outros “diferentes”. Talvez, numa época sem internet, sem tecnologia, fosse pior. Mas acho já não tem mais desculpa para quem passou ao menos dos 20 anos continuar fingindo para ser quem não é, sabe?
Anyway, até meu comentário foi menos do livro e mais sobre a vida xD
E que comentário maravilhoso! <3
Eu sei que escrever coisas nunca passa de verdade nossos sentimentos, porque quem lê pode (e vai) interpretar do jeito que quiser. MAS! Eu fico MUITO FELIZ E ORGULHOSA de você ter sido uma pessoa autêntica desde sempre. Ter tido a liberdade de se assumir "diferente" deve ter sido uma das coisas mais libertadoras que você teve na sua adolescência/jovem adultice.
De certa forma eu até te invejo um pouco, sabe? <3 Inveja boa, se é que isso realmente existe.
Eu fui criada para agradar os outros. Eu fui moldada assim pela parte feminina da minha família, ou pelo menos é assim que eu enxergo boa parte da minha infância/pré-adolescência. Eu fui colocada em um colégio que definia como as meninas deviam se portar, se comportar, ser.
Então, de certa forma, eu fui "obrigada" pela "sociedade machista, patriarcal, opressora" a querer ser aquilo que os outros esperavam. Até que não deu mais.
Quebrar o ciclo, sair desse "espaço físico" de cobrança social foi um dos momentos mais libertadores (e até difíceis) pra mim. E ainda hoje eu sinto certa cobrança familiar de que "eles" não tem mais controle sobre mim, sabe? Que eu falhei em ser aquilo que "eles" queriam.
Mas hoje eu tenho convicção de que sou feliz assim; longe das amarras, longe de expectativas dos outros; longe de ter que agradar quem quer que seja.
Não acho que Boy Erased seja um livro pra você (provavelmente você ia querer dar na cara do personagem página sim, outra também), cai um pouco naquele outro papo que tivemos no Você nasceu para isso, lembra? De ser um exemplo que pode ajudar pessoas passando pela mesma situação a enxergar que existe saída? Ou que a parada tá ruim pra cacete "vam rever isso aí, talkei", sabe? E que pode ser também uma forma de confirmar crenças de quem acha que é isso mesmo que tem que ser feito com pessoas diferentes...
Mas obrigada! Por deixar um pouquinho da sua vida aqui comigo no blog! <3 Eu sempre me sinto honrada quando você separa um tempinho pra isso. :3