Como parar o tempo
HarperCollins Brasil
série ---
320 páginas | 2017
A PRIMEIRA REGRA É NÃO SE APAIXONAR.
Tom Hazard esconde um segredo perigoso. Ele pode aparentar ser um quarentão normal, mas por causa de uma estranha condição está vivo há séculos. Da Inglaterra elisabetana à era do jazz parisiense, e de Nova York aos mares do sul, Tom já testemunhou tanto que agora precisa apenas de uma vida normal.
Sempre trocando a identidade para se manter a salvo, ele encontra o disfarce perfeito trabalhando como professor de História em Londres. Assim, pode trazer suas experiências do passado como fatos vivos. Pode manipular as histórias para seus alunos. Pode levar uma vida normal. Tom só não pode se esquecer da primeira regra. Aquela sobre paixão…
Como parar o tempo é um romance doce e envolvente sobre como se perder e se encontrar na própria história. É sobre as certezas da mudança dos tempos e o tempo que a vida leva para nos ensinar como vivê-la.
História
“Essa era a conhecida lição do tempo. Tudo muda e nada muda.” p.106
Quando li a sinopse de Como parar o tempo lembro de ter ficado com a impressão de que seria um livro interessante, sobre conspirações de sociedades secretas, romances proibidos, e pessoas “imortais”. Mas não foi bem isso que eu encontrei no fim das contas .
Não sei dizer se a sensação foi de frustração ou decepção porque minhas expectativas não estavam tão altas com a história. Mas ver uma ideia e proposta se arrastar ao longo de 320 páginas, e ver como foi uma oportunidade perdida para escrever algo tão mais empolgante e envolvente me deixou com esse sentimento de “méh”.
“Às vezes, quero parar o tempo. (…) Mas estamos todos à mercê do tempo.” p.138
Mas não me entendam mal. Eu gostei da forma como Matt Haig escreve. Gostei das frases de “auto-ajuda” espalhadas ao longo do livro, e aproveitei minha “técnica secreta” recentemente descoberta de colar post-its para marcar várias passagens que me chamaram a atenção.
O “pior” é que o livro começa muito bem. O autor coloca contextualizações pseudocientíficas para explicar a existência de pessoas que poderiam viver mais do que humanos comuns, e isso é bastante interessante e envolvente. Mas aí vem o resto do livro e vem o personagem principal… e a coisa não se sustentou pra mim.
Como parar o tempo conta a história de Tom, que já está por aqui há muito tempo. Tipo, muito tempo! Tom tem uma peculiaridade genética que permite que suas células envelheçam e degradem muuuuuuuuito mais devagar do que um humano comum. Ele até explica a proporção de anos que se passam pra gente para que se passe um ano pra ele; é tipo de 1:15. É praticamente a nossa relação com as idades de cachorros, só que no caso do Tom, os cachorros somos nós. :P
“Eu sou velho. Isso é o mais importante que tenho a contar. (…) Nasci há bem mais de quatrocentos anos, no terceiro dia de março de 1581 (…).” p.1
“(…) Não me imagine como um vampiro sexy, permanentemente no auge da virilidade.” p.2
De qualquer forma, ele tá por aí há muito tempo e está começando a se cansar de tudo. Tom já sofreu e viu os piores lados que os seres humanos podem mostrar, e perceber que nada muda provavelmente está cobrando dele o pouco de esperança de continuar que ele poderia ter.
Tom faz parte de uma sociedade chamada Albatroz, de pessoas que são como ele, os “albas”. Para fazer parte existe uma regra básica: fique 8 anos em um local, mas depois faça um trabalho para a sociedade e ganhe uma nova identidade em um novo lugar.
Tom acabou de realizar seu trabalho da vez e meio que é convencido pelo “ancião” alba, Heinrich, a se mudar. Já dá para perceber no começo que Tom é uma pessoa muito deprimida e lamurienta. Depois de 400 anos, nas condições que Tom precisou enfrentar, talvez seja compreensível. Mas isso acaba tornando a história contemplativa e entristecida, além de arrastar o leitor a acompanhar Tom em sua tristeza e luto pela perda do seu primeiro amor.
Do.Primeiro.Amor. De 400 anos atrás… Sério.
“Pleiteei com Deus, pedi e implorei e barganhei, mas Deus não barganha. Deus é teimoso e surdo e indiferente. E ela morreu e eu vivi e um buraco se abriu, escuro e profundo, e eu caí e continuei caindo por séculos.” p. 34
Essa também é uma lei da sociedade Albatroz: você não deve se apaixonar por um efeméride. É, esse é o nome bonito que os albas dão aos humanos comuns. Não se apaixonar foi um dos motivos que conquistou Tom a entrar na sociedade, porque assim ele poderia continuar curtindo a fossa por ter perdido Rose. Outro motivo foi a promessa de Heinrich de usar as ferramentas e recursos da sociedade para ajudar a encontrar Marion, a filha perdida de Tom.
Esse é exatamente um outro pilar que movimenta a história de nosso protagonista: o fato de não saber se sua filha está viva. Tom já sabia que sua filha poderia ser como ele quando ele abandonou sua família para protegê-las da sociedade supersticiosa do século XVI. Na última vez que ele encontra sua esposa antes de ela morrer para a peste negra, a filha já havia desaparecido.
Então Tom sofre porque vive muito, porque o primeiro amor morreu, e porque não sabe se a filha está viva. É uma sofrência generalizada ao longo de todos os capítulos do livro.
Além disso, Tom conta sua história de forma que acompanhamos sua vida no presente, enquanto ele é um professor de história numa escola de Londres, e em reminiscências de seu passado que costumam ser ativadas por situações por quais passa. Então é uma gangorra de presente e passado o tempo todo. E confesso que em dado momento eu estava mais interessada no presente do que no passado de Tom. Eu queria saber como ele iria resolver o AGORA, e não que ele tinha sido músico na companhia de Shakespeare.
“Ocorreu-me que seres humanos não vivem além dos cem anos porque simplesmente não aguentavam. Psicologicamente eu quero dizer. Você se acaba. Não há você suficiente para seguir em frente. Você fica muito entediado com a própria mente. Com o modo como a vida se repete. (…) E sua tolerância pelos seres humanos, fazendo os mesmos erros de novo e de novo e de novo e de novo outra vez, começa a desaparecer.” p.39/40 (Engraçado que eu já me sinto assim, e eu nem cheguei aos 40 ainda.)
Porque em muito momentos do presente ele está fazendo críticas e avaliações bem interessantes da sociedade. Provavelmente por ter vivido tantos anos, sua bagagem de inteligência+experiência é tão enorme que o que sai de suas filosofadas é altamente interessante!
“Até onde posso ver, esse é um problema de viver no século XXI. Muitos de nós possuem todas as coisas materiais necessárias, então o trabalho do marketing é ligar a economia às nossas emoções, nos fazer sentir que precisamos de mais, nos fazendo sentir necessidade de coisas que nunca precisamos. Nos sentimos pobres com salários de trinta mil libras ao ano. Nos sentimos pouco viajados se conhecemos apenas dez países. Nos sentimos velhos se temos uma ruga. Nos sentimos feios sem Photoshop e filtros.” p.269
A minha frustração com o livro veio de ser completamente centrado na tristeza e sentimento de solidão de Tom, e não na possibilidade de vida longa e da sociedade Albatroz. Acho que eu queria alguma coisa na pegada de A Torre, de uma sociedade secreta paramilitar que resolve problemas que seres humanos não podem resolver ou saber.
Acho que foi drama demais acompanhar a história de Tom. Lá pro fim o autor ainda tenta vilanizar um personagem para poder criar algum tipo de tensão e dinâmica, mas pra mim o “estrago” já tinha sido feito e não me comprou.
Como parar o tempo é bonito em suas frases de efeito, na ideia de inserir um personagem num contexto histórico com personagens memoráveis, mas pra mim falha no momento de extremo drama e prolongamento da tristeza infindável do personagem principal.
“O para sempre, disse Emily Dickinson, é composto de agoras. Mas como habitar o agora em que se está? Como impedir os fantasmas de outros agoras de entrar? Como, em resumo, se vive?” p.25
Até a próxima! o/
Recebi Como parar o tempo da HarperCollins Brasil.
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