Aceitação
Intrínseca
série Trilogia Comando Sul #3
368 páginas | 2016
É inverno na Área X, a misteriosa região selvagem que há trinta anos desafia explicações e repele pesquisadores de expedição após expedição, recusando-se a revelar seus segredos.
Enquanto sua geografia impenetrável se expande, a agência responsável por investigar e supervisionar a região o Comando Sul entra em colapso. Uma última e desesperada equipe atravessa a fronteira, determinada a alcançar uma remota ilha que pode conter as respostas que eles tanto procuram. Se falharem, o mundo do lado de fora estará correndo perigo.
Aceitação, o último livro da trilogia, conecta os dois livros anteriores, Aniquilação e Autoridade, em capítulos breves e acelerados, narrados da perspectiva de personagens cruciais. Página após página, os mistérios são aos poucos solucionados, mas as consequências e as implicações dos acontecimentos passados jamais serão menos profundas ou aterrorizantes.
Design
Essa é uma trilogia que ficou BEM BONITA toda junta, não é mesmo? As capas de cores relativamente pastéis, mas com as ilustrações em um contraste forte e chamativo são a melhor coisa. E essa com a coruja pra fechar tudo foi magnífico. O que eu mais gostei mesmo nos três livros foram as internas das capas, com as ilustrações inquietantes que dão uma continuidade para o projeto da capa. <3
Eu falei do projeto gráfico que é bastante consistente ao longo dos livros lá em Aniquilação. Se você quiser saber é só dar um pulinho lá.
História
Primeiro de tudo. Esse foi o melhor livro da trilogia. Ele trouxe de volta toda a sensação de esquisito que a gente tem ao longo de Aniquilação, com a vantagem de múltiplos pontos de vistas, além de múltiplos momentos de tempo.
Agora, se você está aqui comigo, acompanhando desde o primeiro livro, OU você já leu a série e quer ouvir outras opiniões, OU você tem interesse na história e não se importa com spoilers, OU você só quer saber como toda essa loucura termina… OU ainda: você viu o filme da Netflix, não quer ler a série e quer ver as diferenças entre os dois… Tamo junto e tamo contando as parada tudo!
Muito bem. Já vou furando logo a sua bola de pessoa que quer respostas. O livro não se chama Aceitação à toa. Acho que é um título totalmente voltado para o leitor. “Aceite”, Jeff Vandermeer está dizendo pra gente, “que você não vai ter respostas”.
Aceite que a gente vai só continuar gerando perguntas e especulações sobre tudo o que a trilogia construiu de mitologia sobre a Área X.
De onde surgiu a Ave Fantasma, o que aconteceu com a diretora que antecedeu Controle, o que são os seres alterados dentro da Área X, o que aconteceu com as expedições anteriores, qual é a do Lowry, o que aconteceu depois da expansão da Área X, como a família de Controle está envolvida com o Comando Sul, e o principal de tudo, o que REALMENTE É a Área X? Fora outras perguntas que você também pode ter…
É. Não achei respostas, ou então elas estavam lá e eu simplesmente não vi. Mas, sabe, eu meio que fiz o que o título do livro sugere. Eu aceitei.
Aceitei que o importante foi a jornada ao esquisito, ao estranho, ao bizarro de uma anomalia geográfica que ninguém conseguia entender ou explicar. Aceitei que o importante era a angústia e a ansiedade que a leitura e as descrições das mutações que aconteceram com alguns personagens me faziam sentir.
Aceitei que o terror do desconhecido e a falta de respostas é o que tira o controle e o sossego da gente aqui fora, e dos personagens lá no livro.
Eu já sabia de antemão, por alguma experiência prévia (provavelmente com o Josh Malerman), que o importante não era o fim, mas a jornada. Que, sim!, eu ia sentir frustração, mas que ao mesmo tempo, toda a bizarrice e estranheza das coisas que acontecem na história são assuntos interessantes o suficiente para gerar conversas e teorias sobre o que pode (ou não) ter acontecido.
Acho que gostei mais de Aceitação porque ele perdeu o ar conspiratório de Autoridade, trouxe de volta a tensão e angústia de Aniquilação, mas envolveu tudo isso de forma a dar a intenção de respostas, mesmo sem realmente dar quase nenhuma.
A história traz múltiplos pontos de vista, o que ajuda a criar uma linha do tempo da Área X e até mesmo das expedições.
O Faroleiro conta a história de Saul Evans, um pastor que se afastou de sua congregação para encontrar solitude e paz de espírito trabalhando em um farol no litoral esquecido. Ele é o catalisador do surgimento da Área X. E muito provavelmente ele é um amálgama com o que quer que tenha entrado em seu corpo para gerar/criar o Rastejador.
A Diretora fala de Glória/Cynthia, uma ex-moradora da cidade destruída pela Área X. Ela conheceu Saul e depois de alguns anos foi trabalhar no Comando Sul, e ficou lá até atingir o cargo de diretora. Ela foi responsável pela expedição que enviou o marido da Bióloga à Área X, e depois também entrou novamente no lugar junto com ela, como a Psicóloga. Glória também foi em uma expedição praticamente solitária até o local, meio que de forma a ter um fechamento de sua infância, que teve que abandonar a cidade e a mãe na época do surgimento da Área X. Todo o envolvimento da diretora com o lugar tem muito a ver com uma despedida de sua infância, e o cumprimento de uma promessa de não esquecer Saul. Mas não fica claro porque ela sentiu a necessidade de esconder tantas informações das outras mulheres que a acompanharam na décima segunda expedição.
O Controle passa alguns momentos descontrolado dentro da Área X. Acho que de todos os personagens ele é o que mais tem necessidade de tentar dar alguma resposta para o que é esse lugar bizarro. Ele que costuma fazer as perguntas e que tenta encontrar algum sentido a partir das teorias que os cientistas do Comando Sul tinham desenvolvido. Mas no fim das contas, Controle não está preparado para realmente enfrentar o “horror” da Área X, e acaba sendo transformado pelo “brilho” ao finalmente se confrontar com o Rastejador. Fiquei com pena de Controle, porque meu lado romântico estava torcendo por algum tipo de relacionamento doentio entre ele e a Ave Fantasma. Mas de certa forma, ainda bem que não teve nada do gênero.
A Ave Fantasma é um “clone” da Bióloga que provavelmente foi criado a partir de seu encontro com o Rastejador. Ela conseguiu voltar à Área X e sua participação tem mais a ver com o deslumbramento e reencontro com esse ambiente, e com um questionamento sobre o seu lugar no mundo. O encontro com a Bióloga é um dos momentos mais aterradores, estranhos e difíceis de absorver de quase toda a trilogia. Ave Fantasma acaba com um final em aberto, mas como estamos trabalhando com a aceitação, a gente segue em frente.
A Bióloga está de volta em formato de diário, recontando suas memórias. Desde que entrou na Área X, a Bióloga passou 30 anos controlando o “poder mutacional” do brilho, estudando o ambiente, sobrevivendo do que podia colher/caçar, curtindo a solidão que ela nunca pode ter na sua vida anterior. O ser que ela se torna e o encontro com a Ave Fantasma me fez ler em voz alta para o meu marido, só para ver a reação dele à bizarrice de Jeff Vandermeer. Valeu a pena ver a sensação de WUT em outra pessoa, e não só em mim.
A Área X não tem um ponto de vista no livro mas ela não deixa de ser o personagem mais enigmático e assustador da história. Sem dar respostas para nenhuma das perguntas criadas pelo autor, sua esquisitice, a possibilidade de ser um portal para outro tempo-espaço, e inclusive para outro lugar no universo que não a terra, é muita forçação e difícil de engolir ou aceitar. Mas tamo junto no processo da Aceitação, minha gente. Tamo junto.
A Trilogia Comando Sul foi uma viagem. Ter a oportunidade de conhecer o gênero weird, sair da minha zona de conforto de fantasia e romance, ter que imaginar seres e situações bizarras… Essas são coisas que me trazem pequenos momentos de felicidade e que normalmente só livros conseguem me dar.
Minha recomendação: leia Aniquilação para experimentar o estilo de Vandermeer. Se você “sobreviver” à Área X, compre logo os dois livros seguintes, porque você vai precisar saber as respostas. Ou não saber as respostas.
Um pouco sobre o filme
Agora, algumas comparações com o filme. Certas coisas tiveram que obviamente ser mudadas para funcionar melhor em tela. As dinâmicas entre as personagens, que mantiveram seus nomes; a forma como cada um das participantes da expedição vão sendo retiradas da história; a motivação da Bióloga (que no livro é basicamente uma curiosidade sobre a Área X e no filme é a possibilidade de entender como curar o marido); a representação do Rastejador; e o final propriamente dito.
Pra mim, que sou naturalmente assustada e medrosa, o filme passou bem. Não tem muitos jump scares, e os que tem você meio que já consegue antecipar pela construção da cena. Fica o aviso para quem tem estômago mais sensível porque tem algumas cenas bem gráficas de mutilação. E a música e efeitos sonoros ajudam muito a criar todo o ambiente e clima de ansiedade e suspense do filme.
Outras resenhas da série
Até a próxima! o/
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