Nimona
Intrínseca
série ---
272 páginas | 2016
Nimona é uma metamorfa sem limites nem papas na língua, cujo maior sonho é ser comparsa de Lorde Ballister Coração-Negro, o maior vilão que já existiu. Mas ela não sabia que seu herói possuía escrúpulos. Menos ainda uma deliberada missão.
Até conhecer Nimona, Ballister fazia planos que jamais davam certo. Felizmente, a garota tem muitas sugestões para reverter esse quadro. Infelizmente, a maioria envolve explosões, sangue e mortes. Agora, Coração-Negro não só tem que enfrentar seu arqui-inimigo e ex-amigo, o célebre e heroico Sir Ambrosius Ouropelvis, mas também impedir que a fiel comparsa destrua todo o reino ao tentar ajudá-lo.
Uma história subversiva e irreverente que mistura magia, ciência, ação e muito humor sobre camadas e mais camadas de reflexão – entre uma batalha e outra, é claro.
Design
É um quadrinho. E é um livro! XD
Nada melhor que trazer os três personagens principais na capa, mesmo que o traço um tanto estilizado e levemente infantil de Noelle Stevenson possa te fazer pensar que é uma história para o pessoalzinho mais jovem. Não é bem assim, hein!
A capa inclusive é uma adaptação da capa original desenvolvida pela Stevenson e a letrista do quadrinhos, Erin Fitzsimmons. O mais legal é que o título fica com uma pegada de fonte manuscrita e eu consigo imaginar que essa é a letra da própria Nimona. ^.^
Ilustrando o fundo dos personagens, existem vários animais que Nimona se transforma ao longo da história. O que eu mais curti aqui foi o logo da Intrínseca que foi colocado como traços vazados que poderiam ter sido desenhados pela autora. :D E né, pena que o quote de Rainbow Rowell ficou mega apertadinho lá no topo da capa, entre a arte e o título… Acho que ele poderia ter ido pra quarta-capa acima de toda a sinopse.
Na quarta-capa o melhor de tudo é o uso de cores específicas que você consegue associar aos personagens da história! Os texto em coral e laranja falam de Nimona, os em vermelho a Coração-Negro, e os em amarelo/verde a Ouropelvis e a Instituição! <3
O miolo não tem um projeto gráfico como o de um livro, afinal estamos falando de quadrinhos. Mas eu posso dizer que gostei de terem usado papel couchê fosco para “imitar” a sensação de ler um quadrinho Marvel/DC. Normalmente você não usa papel amarelo ou off-set quando publica quadrinhos, a não ser que você esteja falando de mangas, que normalmente não são coloridos.
Além disso, eu adorei o lettering das falas nos balões. Como eu disse sobre o título, fica parecendo que foi a Nimona que preencheu cada um deles com a conversa.
E por último, no fim do livro tem umas tirinhas extras e sketchs mostrando a evolução dos personagens até chegarem a sua forma final que aparece na história.
História
Ah, histórias em quadrinhos… Isso é tão nostálgico. <3
X-Men de Chris Claremont e Jim Lee, uma das fases mais legais que acompanhei
Fui uma colecionadora de quadrinhos. Antes dos mangas aportarem por aqui, dediquei muitos anos a comprar a revistas da Marvel, e depois da DC. Descobri heróis e vilões, personagens favoritos (Noturno, Lince Negra, Gambit, Vampira e Gata Negra), estúdio favorito (marvete pra sempre) e hoje consigo ver também como as páginas eram recheadas de certa objetificação feminina.
Eu queria ser desenhista de quadrinhos. Escolhi uma faculdade achando que poderia de alguma forma aperfeiçoar meu traço, e acabei descobrindo que Desenho Industrial nunca faria isso por mim. No fim das contas, abandonei o desenho e “virei” designer mesmo.
Mas antes dos livros virarem minha “obsessão” saudável, meu dinheiro era todo investido em quadrinhos. Eu não lanchava na escola para economizar; caminhava pra casa pra guardar o dinheiro de uma das conduções de volta. Eu tinha, e ainda tenho, muitos quadrinhos. E não costumava ter muito parâmetro do que ler. Se saísse algum especial com algum personagem que eu gostava, eu comprava.
Frequentei a GibiMania aqui no Rio de Janeiro, e fui num dos primeiros eventos de quadrinhos que teve no Sesc, com a presença ilustre de Jim Lee! E isso tudo antes dos anos 2000, total entregando a idade.
Depois que os mangas chegaram por aqui eu até tentei manter as duas linhas de compras ativas, selecionando o que compraria de quadrinhos, no caso só revistas do universo X-Men. Só que era um investimento que não ia dar pra manter, a quantidade de gastos juntando mangas e quadrinhos era insustentável, e acabei abrindo mão dos super heróis.
Um dos principais motivos era que (em tese) os mangas tem um fim. X-Men estão por aí desde 1960+, sendo reformulados, recriados, revistos, mas não existe um fim para a história dos mutantes. Normalmente você consegue chegar ao fim de uma história em manga. Pode levar alguns meses ou anos (ou décadas se você pensar em Naruto ou One Piece, por exemplo), mas você tem a sensação de “fechamento”.
“Tá Samara, porque toda essa introdução?” Era meio pra dizer que eu era/sou uma leitora voraz de quadrinhos, mas escolhi não investir mais meu tempo e dinheiro na indústria. Eu sinto muita falta de vez em quando, e a internet meio que é um caminho interessante pra isso.
Uma das coisas mais importantes da grande web é a democratização do acesso à informação. Não estou falando de pirataria, mas hoje em dia um artista, de qualquer mídia, consegue se expor na internet e consegue fãs e seguidores sem precisar necessariamente de uma editora por trás.
Por exemplo, descobri Vitor e Lu Caffagi, criadores da tirinha do Valente, e a Sarah Andersen, que faz umas tirinhas “biográficas” maravilhosas (eu acho que ela se baseia na “minha vida” também :P), e já teve livro lançado pela Seguinte (e que eu não fiz resenha porque eu não presto).
Isso não era muito fácil na época que eu acompanhava os quadrinhos comprados na banca. Existiam fanzines, às vezes vendidos em eventos, mas não costumavam ser muito valorizados (ou até mesmo de boa qualidade).
De qualquer forma, Noelle Stevenson é uma dessas crias da internet. Como a Sarah, ela começou publicando suas histórias e tirinhas online, e agora temos Nimona pra nos alegrar e fazer pensar. Isso é uma coisa que normalmente os quadrinhos “massificados” dos grandes estúdios não se preocupavam muito na época que eu acompanhava. Você sempre tinha o “monstro da semana”, o arco de um personagem, mas não tinha uma preocupação de gerar algum questionamento no leitor. Era só enfrentar o vilão e voltar para casa no fim do dia.
E até pode parecer que é isso que vamos ter no início de Nimona. Acho que isso foi uma das coisas mais interessantes na forma de Stevenson contar sua história. Ela começa com capítulos curtinhos, que duram uma folha, e conforme vai desenvolvendo Nimona, Coração-Negro e os demais personagens, os capítulos começam a ficar mais longos.
Nimona é uma personagem engraçada, mas ao mesmo tempo bastante violenta. É interessante que Coração-Negro, que é o vilão da história e o chefe de Nimona, tem sempre que tentar refrear a sede de sangue da jovem metamorfa. Os poderes de Nimona também são um grande mistério, desde como ela os conseguiu a como eles funcionam.
O mais bonito de Nimona na verdade é sua personalidade e o fato de não ser um daqueles modelos de beleza que a gente sempre vê nas heroínas de quadrinhos por aí. Nimona é cheiinha, usa piercing e cabelos coloridos com um corte super diferente. E ela ainda faz outros cortes ao longo da história. Acho até que reflete um pouco da personalidade da personagem durante momentos específicos de sua evolução.
No início, acompanhamos a formação do relacionamento entre os Nimona e Coração-Negro e o desenvolvimento de uma certa afetividade e confiança entre os dois. Ele tem um passado sofrido e que o tornou o vilão que combate a Instituição.
No início Nimona e Coração-Negro tem uma relação engraçada, com a jovem testando os limites do vilão e ao mesmo tempo mostrando sua força, seus poderes e provando que pode ajudar na luta contra a Instituição. Mas conforme a história evolui, começamos a ver que o relacionamento entre os dois vai mudando, e que Coração-Negro passa a mostrar um senso de responsabilidade pelas atitudes de Nimona e até mesmo de afeto pela metamorfa.
Os dois lutam contra o arquiinimigo de Coração-Negro, Ouropelvis (que é um nome mega sugestivo) e ele é o culpado pelo vilão ter perdido um dos braços quando era mais jovem. Ao longo da história Stevenson vai contando um pouco mais sobre a dinâmica entre os dois e é interessante perceber que a tristeza de Coração-Negro por tudo o que aconteceu no seu passado é bastante profunda, muito também pelo que perdeu além do seu braço.
Particularmente, eu gostei da forma como a autora representou Ouropelvis.Eu confesso que quando vi o desenho do personagem achei que era uma mulher de armadura. Em alguns momentos ele parece bastante feminino, o que lhe dá uma certa faceta andrógina. Óbvio que isso abre margem para você imaginar qual o real relacionamento entre Coração-Negro e Ouropelvis. Em tempos de representatividades, achei bastante digno.
Outra coisa interessante é o universo onde todos os personagens aparecem. É uma mistura de fantasia com ciência, em que você tem a magia que talvez alimente o poder de Nimona, e ao mesmo tempo, umas armas potentes que lançam raios mortais. Os personagens coadjuvantes também vivem nessa mistura de medieval e modernidade, onde uma âncora de TV usa um terninho social enquanto que as pessoas usam vestidos e vestes mais provincianas.
O que mais me deixou feliz ao longo da leitura foi que, apesar do traço simples e anguloso de Stevenson, que pode até te iludir que você vai ler algo meio infantil, a história vai muito além da superficialidade do bem contra o mal. Existem camadas na trama que envolve muito mais do que saber quem é o mocinho ou o bandido.
Quem realmente é Nimona? Qual a verdadeira intenção da Instituição? Qual a verdadeira intenção de Coração-Negro? Em quem realmente você pode depositar sua confiança sem medo de ser traído?
Será que teremos uma continuação? Eu acho que gostaria de ler mais histórias desses personagens. <3
Tive uma experiência geral tão gostosa com Nimona. >u< Voltar a ler quadrinhos, mesmo nesse formato livro/graphic novel, é muito bom! Ainda mais quando a história te estimula, te desafia de certa forma, e traz um resultado final de gratificação por você ter conhecido personagens tão interessantes.
No fim, Nimona não é uma história infantil. Ela vai te fazer pensar, vai te fazer gostar de acompanhar os personagens, e vai te deixar aquele gostinho doce-amargo que só boas histórias deixam quando chegam ao fim.
Até a próxima! o/
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