Mitologia Nórdica
Intrínseca
série ---
288 páginas | 2017
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Neil Gaiman tem sido inspirado pela mitologia antiga na criação dos reinos fantásticos de sua ficção. Agora ele volta sua atenção para a fonte, apresentando uma versão bravura das grandes histórias do norte.
Na mitologia nórdica, Gaiman permanece fiel aos mitos ao prever o maior panteão dos deuses nórdicos: Odin, o mais alto dos altos, sábios, ousados e astutos; Thor, filho de Odin, incrivelmente forte, mas não o mais sábio dos deuses; E Loki-filho de um irmão de sangue gigante para Odin e um malandro e insuperável manipulador.
Gaiman modela essas histórias primitivas em um arco romântico que começa com a gênese dos nove mundos lendários e mergulha nas façanhas de deidades, anões e gigantes. Uma vez, quando o martelo de Thor é roubado, Thor deve disfarçar-se como uma mulher – difícil com sua barba e enorme apetite – para roubá-lo de volta. Mais pungente é o conto em que o sangue de Kvasir – o mais sagaz dos deuses – se transforma em um hidromel que infunde bebedores com poesia. O trabalho culmina em Ragnarok, o crepúsculo dos deuses e o renascimento de um novo tempo e de pessoas.
Através da prosa hábil e espirituosa de Gaiman surgem esses deuses com suas naturezas ferozmente competitivas, sua susceptibilidade a ser enganados e enganar os outros e sua tendência a deixar a paixão inflamar suas ações, fazendo com que esses mitos há muito tempo respirem uma vida pungente novamente.
Design
A gente sabe quando tem um livro de nota máxima só de bater o olho. Mitologia Nórdica é um desses.
Pra começo de conversa, ele é em capa dura. Pessoa, você sabe, você sente, você vibra. Capa dura é muito amor. <3 É uma forma de ter na estante um livro diferenciado e que exala “elegância”. Outra coisa legal nesse livro são as dimensões. Mitologia Nórdica é daquela linha da Intrínseca que é um pouco menor (aproximadamente 14x21cm) então ele é mais fofucho do que um livro normal.
Depois temos o soft touch (o terror para meus dedos gordurosos). Em uma capa toda em fundo preto, ele ainda dá um ar fosco para a cor, e ao mesmo tempo faz com que todas as outras cores se sobressaiam sem necessariamente ter que colocar um verniz brilhante na arte.
O martelo (que a gente já associa a Thor) é basicamente tudo que você precisa para saber que se trata de um livro sobre mitologia nórdica. Some-se a isso os nós celtas e os arabescos e você já tem toda a linha estética que conhecemos dos países nórdicos.
Para o título e o nome do autor foi colocada uma hierarquia quase de igualdade de tamanho, mas como Neil Gaiman vem primeiro, ele ainda tem um pouco mais de importância visual no projeto. Ainda assim os dois elementos estão na mesma fonte, que tem um estilo parecido com a Trajan, em caixa alta. E eles seguem o padrão cromático de ouro velho que tem na ilustração do martelo, aplicando o que parece ser uma cor especial de dourado e por cima uma camada de verniz.
Achei interessante que o logo da Intrínseca só aparece na lombada do livro, dando toda a capa para a ilustração e para a divulgação de que Mitologia Nórdica é um livro do Neil Gaiman.
No fundo da ilustração tem representações de estrelas que se estendem para a lombada e quarta-capa. Nela o dourado aparece novamente, mas não como cor especial, para marcar citações importantes na sinopse, que está em branco.
Aí você vai para o miolo do livro. <3
Sabe a cor especial do título/autor? Ela aparece no padrão nas guardas do livro, sobre um papel preto. É a arte da capa invadindo o miolo do livro! PESSOAS! <o> E o preto também aparece nas falsas folhas de rosto e na folha de rosto, replicando a arte da capa sem o martelo.
Todos os capítulos são abertos em uma página especial com uma chapada de cinza, o título do capítulo e uma ilustração que parece ser do cavalo Sleipnir. Os capítulos são às vezes divididos por partes numeradas em romanos.
Por fim, a parte textual propriamente dita. :D
Meu único porém com esse projeto gráfico, mas que não me fez tirar décimos nenhum (me deixa), é que a mancha gráfica poderia ter uma linha a menos para ficar mais arejada e balanceada verticalmente, com o cabeçalho e rodapé. Do jeito que foi feito, os dois elementos ficam “esmagando” visualmente o bloco de texto, além de tirar o respiro visual que poderia existir entre eles.
Fora isso eu acho engraçado, no sentido de interessante, em como a escolha de uma fonte serifada específica pode dar um peso completamente diferente ao projeto gráfico. A que foi utilizada em Mitologia Nórdica chama-se Cochin, e as serifas dela “envelhecem” o texto. É como se ela desse a impressão que os textos são realmente antigos, muito provavelmente pela diferença de espessura do traço em cada letra, e também por um certo desalinhamento horizontal que acaba formando nas palavras. Assim, é muito sutil, mas acaba dando um movimento e ritmo nas letras, como se elas não ficassem completamente alinhadas, o que podia ser um problema de impressão nos primórdios, sei lá.
Estou provavelmente viajando grandão mas é uma sensação que eu também tive no projeto gráfico de Em Nossa Próxima Vida, dá uma olhada lá para ver o que falei sobre a questão de como as fontes passam a impressão de período de tempo.
Chega! Vamos para a história! :D
História
(Esta é uma resenha com a maravilhosa desculpa para encher o post de gifs de Loki/Tom Hiddleston sem nenhum motivo aparente. Porque né, eu posso. XD)
Já disse umas trocentas vezes o quanto gosto e o quanto a mitologia grega é importante pra mim. Mas sempre achei interessante os outros grandes panteões que existem por aí. Egípcio, indiano, e nórdico foram o que mais me chamaram a atenção ao longo da vida. Mas nunca soube o suficiente sobre eles, não como eu sei sobre o panteão grego/romano.
Tudo o que eu sabia sobre mitologia nórdica estava reduzido à reproduções e apropriações que a cultura pop fez ao longo dos anos. Muito do que eu conhecia de Thor/Loki/Odin estava diretamente relacionado com suas representações nos quadrinhos da Marvel.
E assim, tem muitos personagens que aparecem nas histórias do Thor dos quadrinhos que estão aqui no livro de Neil Gaiman.
Acho que o contato mais recente que tive com a mitologia nórdica foram os livros do Magnus Chase (tem resenha no blog! A Espada do Verão e O Martelo de Thor), que tem representações mais próximas do que Neil Gaiman descreve como sendo os deuses de Asgard.
Em World of Warcraft, na última atualização (Legion) também apareceram alguns personagens adaptados da mitologia nórdica. Odin, Hymdall, Hellya, até o navio dos mortos Naglfar, com nomes levemente modificados, mas ainda assim, dá para reconhecer de onde eles foram inspirados.
Então, acompanhar as histórias dos deuses contadas por Neil Gaiman, desde o início do mundo até o fim dos tempos, foi como um fim de semana sentada em volta da fogueira, enquanto eu ouvia todas as aventuras que eles viveram.
O mais legal de tudo é a forma como Gaiman escolhe narrar as histórias. É como se ele realmente estivesse sentado do meu lado, contando uma história que ele ouviu alguém contar. Você sente a força da narração que tem um quê de tradição oral, daquelas que é passada adiante, e que depois de terminar o livro você sabe que vai poder passar adiante também.
Que agora é sua responsabilidade contar essas histórias também.
A história de como surgiu o mundo, da vaca que jorrava hidromel, da guerra dos Aesires e Vanires, dos nove mundos (que eu só consigo guardar Midgard e Asgard), e de Odin, pai de todos, seu irmão ardiloso Loki, e seu filho belicoso, Thor, detentor do martelo Mjölnir.
Ao mesmo tempo, essa leveza e informalidade torna as histórias um pouco superficiais. Só não sei se o original aonde Gaiman foi buscar suas referências existem poucas informações substanciais para aprofundar as aventuras dos deuses.
Achei interessante que todos os deuses são sempre “os mais” alguma coisa, mesmo que outro deus também o seja. Odin é o mais sábio, assim como Loki, e Vantir. Sempre aparece alguém para ser “o mais”, o “melhor melhor” como outro deus já é.
Uma coisa que diferencia bastante as histórias entre os deuses Asgardianos e os do Olimpo é que a maioria delas se passam nos mundos fora dos humanos, longe de Midgard. Existem muitas aventuras onde somente os deuses atuam, e ele praticamente não se misturam com os mortais. Somente uma das histórias aparece um jovem que vai em uma aventura com Thor e Loki, mas mesmo assim, praticamente todas as histórias do Olimpo os deuses estão fazendo algo no mundo dos humanos. Eles se misturam com os humanos, se metem na vida deles, tem filhos com eles!
É como se os deuses se contentassem em viver suas vidas imortais em Asgard, se preparando para o Ragnarok, tentando descobrir qual foi a última brincadeira de mau-gosto que Loki aprontou. E tá tudo bem pra eles assim. Então não tem muito a necessidade de serem adorados.
É uma pena, como o próprio Gaiman comenta, que não exista uma documentação extensa sobre a mitologia nórdica, de forma que se valorize mais a aparição das deusas que também compõem o panteão Asgardiano. Eu até gostaria que Gaiman se permitisse um pouco de liberdade para criar as histórias em que as deusas pudessem ser protagonistas.
Foi uma forma maravilhosa e leve de conhecer os deuses nórdicos e todo o reflexo que são de nossas próprias virtudes e defeitos. Que conseguem ser cruéis, violentos e vingativos, inclusive com os seus. De certa forma, é um pouco frustrante perceber que Thor não é aquele herói bonito e “heróico” que os quadrinhos e os filmes criaram pra gente. Ver que ele podia ser simplesmente um alcoólatra, agressivo e com dificuldade de controle da raiva é quase triste.
E sim. Tudo é sempre culpa do Loki. E ele sofre horrivelmente por conta disso. :(
Com histórias relativamente curtas, você consegue aprender e terminar uma história relativamente rápido. Se você sempre teve curiosidade para saber mais sobre os deuses Asgardianos, Mitologia Nórdica é uma ótima forma para descobrir esse mundo.
Até a próxima! o/
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