Matéria Escura
Intrínseca
série ---
352 páginas | 2017
“VOCÊ É FELIZ COM A VIDA QUE TEM?” Essas são as últimas palavras que Jason Dessen ouve antes de acordar num laboratório, preso a uma maca. Raptado por um homem mascarado, Jason é levado para uma usina abandonada e deixado inconsciente. Quando acorda, um estranho sorri para ele, dizendo: “Bem-vindo de volta, amigo.”
Neste novo mundo, Jason leva outra vida. Sua esposa não é sua esposa, seu filho nunca nasceu e, em vez de professor numa universidade mediana, ele é um gênio da física quântica que conseguiu um feito inimaginável. Algo impossível. Será que é este seu mundo, e o outro é apenas um sonho? E, se esta não for a vida que ele sempre levou, como voltar para sua família e tudo que ele conhece por realidade?
Com ritmo veloz e muita ação, Matéria escura nos leva a um universo muito maior do que imaginamos, ao mesmo tempo em que comove ao colocar em primeiro plano o amor pela família. Marcante e intimista, seus múltiplos cenários compõem uma história que aborda questões profundamente humanas, como identidade, o peso das escolhas e até onde vamos para recuperar a vida com que sonhamos.
design
Eu devo estar muito boazinha nesse começo de ano porque o que eu ando distribuindo de notas máximas está fora do normal. XD
Mas, óh… Matéria Escura merece. Mesmo sendo uma adaptação da capa gringa, esse laranja neon conquista qualquer um. Gente. Ele dói os olhos. É sério. DÓI.OS.OLHOS. E se você pensar que o nome do livro é “matéria escura” e você tem algo completamente contrastante que é uma cor extremamente brilhante na capa… é lindo demais.
E todo o conceito de multiverso está aplicado de uma forma sutil no “eco” dos pedaços das fontes que se repetem acima e abaixo do título. Simples, tipográfico, impactante.
O laranja continua para a lombada, afinal queremos impactar sua estante, não é mesmo?!, mas na quarta capa tem uma quebra! O laranja dá lugar ao cinza, e permite que o leitor tenha a experiência de ler a sinopse do livro sem ter que usar óculos escuros. <3
Tudo isso, toda essa beleza gráfica repousa em um livro de capa dura. Estou tão bem impressionada que a Intrínseca tem escolhido fazer alguns de seus livros com esse tipo de acabamento. Vamos falar sério: um livro de capa dura tem uma imponência e uma beleza diferente de um livro brochura. E permite algumas questões gráficas que às vezes não são feitas em outros tipos de projetos.
Tipo, as folhas de guarda aqui são usadas para uma ilustração muito linda que me remeteu ao universo e sua multiplicidade. Viagem braba?! Talvez. Mas que é bonito, é, abrir o livro e se deparar com os grafismos.
Agora, o projeto gráfico da Intrínseca é sempre uma beleza à parte, né? Mesmo simples, ele conseguiu ter uma presença nas páginas. A ocupação da mancha gráfica, a fonte usada, com um ótimo tamanho para leitura e uma entrelinha adequada. As aberturas de capítulo numeradas em dado momento passam a ter uma marcação de “contagem regressiva”. Lindo!
história
Sabe quando você termina um livro e fica tão empolgado com ele e quer que TODO MUNDO leia também?!
Então, foi assim que me senti quando terminei de ler Matéria Escura. Eu queria comentar com alguém o quanto a experiência de ler a história de Jason tinha sido interessante, empolgante e angustiante, tudo ao mesmo tempo!
De certa forma a premissa básica do livro é bastante simples: o que acontece com todas as escolhas que você deixa de fazer? Um exemplo: você pode escolher entre sorvete de creme ou de chocolate. Se você escolhe comer o de creme, o que aconteceria se você tivesse escolhido o de chocolate. Só que você pega isso e eleva a uma complexidade do tipo, o que teria acontecido se fulano continuasse solteiro. Ou feito outra faculdade. Ou não desistido de sua pesquisa. Ou não tido filhos…
O que acontece com todas as opções com que deparamos ao longo da vida que não são escolhidas? Eu não sei vocês, mas algumas coisas eu já me questionei sobre o que teria acontecido. Acho que essa é uma questão que sempre deve acompanhar qualquer ser humano.
Matéria Escura pega essa questão “primordial” e coloca conceitos científicos para tentar encontrar algum tipo de resposta. Tenho que confessar que a questão científica passou longe da minha capacidade de entendimento, porque física nunca foi meu forte. Se você misturar com o pensamento quântico então… nem tento entender.
Só que o importante aqui não é você realmente entender as questões físicas da coisa toda. Acho que o mais importante na verdade é a jornada de conhecimento e descoberta de Jason. É aquela máxima do Mágico de Oz que “não há melhor lugar do que nossa casa”. E o que você precisa fazer para conseguir esse lugar de volta.
Jason tem uma vida boa. Uma esposa que ele ama, um filho adolescente maneiro, um emprego que não é essas coisas todas, mas é o que tem pra hoje. Até o dia em que ele é sequestrado, drogado e quando acorda as coisas não parecem ser mais tão boas assim.
Ele está em uma instalação de pesquisa e todas as pessoas acreditam que ele é um Jason que obviamente ele não é. Ele não está passando por um momento de confusão, e ele não está ficando louco, então a única forma de se proteger é a mais óbvia: fugir.
Vamos fazer um parêntesis aqui porque eu já falei em algum momento que eu seria daquelas que em uma invasão zumbi ia morrer nos primeiros minutos. Preguiça de tentar sobreviver, sério… No caso aqui do Jason, eu acho que o sensação de “conspiração” dele devia estar tocando freneticamente porque se fosse eu, iria responder tudo que as pessoas quisessem saber. Mesmo tendo a certeza que eles estão atrás de uma Samara que não fosse eu.
Bem, Jason foge e tenta encontrar refúgio no lugar mais seguro que conhece: sua própria casa. Só que sua casa não é bem do jeito que ele imaginava. Sua esposa Daniela e seu filho Charlie não estão em lugar nenhum. Então Jason foge mais.
A parte inicial do livro segue o personagem contando pra gente em primeira pessoa tudo pelo que está passando, sua mente racionalizando para tentar entender o que aconteceu com o mundo que ele conhece. E quando ele finalmente descobre é que a história ganha absurdamente em velocidade, dinâmica e criatividade.
Ele entende que o que existe na verdade é um multiverso. Todas as decisões que ele tomou ao longo da vida? Elas viram ramificações em outros universos do que aconteceria com essa decisão que ele não fez. Esse novo “Jason” vai continuar daquele ponto em diante. Multiplique isso por tantas seleções que ele faz ao longo de um dia, e você vai ter uma pequena ideia do quanto isso pode se tornar infinito.
Ou seja: para voltar para seu verdadeiro universo ele tem que enfrentar infinitas possibilidades de universos até encontrar o correto. A gente acompanha a jornada de Jason contra a loucura de estar em uma situação tão complexa enquanto ele tenta aprender como voltar pra casa.
E olha, a gente sofre porque Jason sofre. Ele precisa passar por várias versões do seu mundo, das pessoas que conhece, de si mesmo, de sua esposa. A gente consegue sentir sua angústia em ser um estranho em todos os universos por onde ele passa. A gente sente todo o amor que ele sente pela esposa que o faz continuar a seguir em frente. A gente sente o medo de nunca conseguir voltar para o mundo certo. A gente sente a raiva que ele tem da pessoa que o colocou nessa situação.
Mas o melhor de tudo é o plot twist da parte final da história. Não quero comentar nada porque estragaria sua surpresa e experiência de leitura mas eu achei MUITO BOM a forma como o autor trata a situação. Confesso que eu não esperava por ela porque estava mais focada em seguir a história do Jason do que pensar nas implicações das ações que ele estava tomando.
Se houve alguma coisa “ruim” foi o final em aberto mas que, em se tratando de toda a construção que Blake Crouch fez para a história, é até compreensível.
Caso você esteja procurando por um livro sci-fi com um pouco de ciência “palpável” e um plot envolvente e interessante, muito provável que Matéria Escura seja o livro certo para você. ^.~
Até a próxima! o/
Onde comprar: Amazon (compras feitas através do link geram uma pequena comissão ao blog ^.~)
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4 Comentários
Poxa… apesar da sua recomendação (e de outros tantos que adoraram o livro) pra mim não funcionou… achei a história previsivel.
Mas apesar de não ter gostado do livro (principalmente do desenvolvimento dos personagens secundários), achei interessante sua resenha. E concordo com tudo que você descreveu sobre o design do livro. É lindo!!
Oi Camila! Que pena que o livro não funcionou pra você. :( Talvez sua experiência de leitura com narrativas parecidas com a do Blake Crouch possam ter te preparado melhor para encontrar problemas/previsibilidade no livro, né? Você tem sugestões pra eu procurar que sejam legais?
E obrigada por ter gostado da resenha! <3
Nesse mesmo estilo recomendo muito a Hq Segundos do Bryan Lee O’malley.
Eu li antes do Materia Escura e gostei bastante.
Obrigada, Camila. Vou procurar sua sugestão e colocar na minha fila de compra/leitura! :D