O Martelo de Thor
intrínseca
série Magnus Chase e os Deuses de Asgard #2
400 páginas | 2016
Em A Espada do Verão, primeiro livro da série, os leitores são apresentados a Magnus Chase, um herói boa-pinta que é a cara do astro de rock Kurt Cobain. Morador de rua, sua vida muda completamente quando ele é morto por um gigante do fogo. Por sorte, na mitologia nórdica os heróis mortos vão parar em Valhala, o paraíso pós-vida dos guerreiros vikings. Lá, Magnus descobre que é filho de Frey, o deus do verão, da fertilidade e da medicina.
Desde então, seis semanas se passaram, e nesse meio-tempo o garoto começou a se acostumar ao dia a dia no Hotel Valhala. Quer dizer, pelo menos o máximo que um ex-morador de rua e ex-mortal poderia se acostumar. Magnus não é tão popular quanto os filhos dos deuses da guerra, como Thor e Tyr, mas fez bons amigos e está treinando para o dia do Juízo Final com os soldados de Odin — tudo segue na mais completa paz sanguinolenta do mundo viking.
Mas Magnus deveria imaginar que não seria assim por muito tempo. O martelo de Thor ainda está desaparecido. E os inimigos do deus do trovão farão de tudo para aproveitar esse momento de fraqueza e invadir o mundo humano.
Design
Eu já fiz uma avaliação bem extensa sobre o projeto gráfico da série do Magnus no primeiro livro, então você pode dar um pulinho lá para ver. Obviamente que a arte da capa agora reflete a aventura atual do Magnus, mas os elementos estruturantes estão todos lá e aqui. ^.~
História
Sabe… eu quero fazer uma resenha falando de toda a experiência de continuar acompanhando as aventuras de Magnus Chase para resolver os problemas que os deuses criam e não sabem como resolver. Mas também quero fazer uma resenha para conversar sobre Alex Fierro. Porque preciso falar da evolução de Rick Riordan e a inclusão de Alex neste livro.
No primeiro livro, uma das minha “implicâncias” com Magnus era minha “incapacidade” de separar o personagem da voz de Percy Jackson. Mas, sabe, não sei se porque faz um tempinho que eu não leio nada com o Percy (O Oráculo Oculto foi em julho), lendo O Martelo de Thor eu acredito que consegui dar individualidade para Magnus.
Não sei bem explicar o porquê, mas ao longo do livro ele pareceu mais autêntico e mais como um personagem à parte de Percy, e foi muito mais fácil de me envolver e gostar dele. Talvez porque o seu núcleo de personagens coadjuvantes seja completamente diferente e possibilite outras interações que não aconteceram no universo do Percy… sei lá. Não vou me alongar nisso. :P
Rick Riordan meio que estragou Thor pra mim, com seus peidos de trovão e sua incapacidade de demonstrar empatia e o mínimo de interesse pelos semideuses que se arriscam para encontrar o martelo que ele perdeu. De novo. Nem uma foto do Hemsworth ajuda a salvar. :P
De qualquer forma, o grupo de Magnus (Samirah, Hearthstone e Blitzen) precisa encontrar o martelo em um tempo ridiculamente impossível para impedir um casamento arranjado e o início do Ragnarok. Porque tudo sempre se resume ao fim do mundo na mitologia nórdica. :P Riordan segue o seu padrão de dar uma tarefa para seus personagens que tem um prazo para ser cumprida e várias subtarefas agregadas no percurso.
Se em A Espada do Verão a gente conhece um pouco da história de Blitzen, aqui é o passado/presente de Hearthstone que é mostrado. E olha… essa é uma das partes mais tristes e sofridas da aventura do grupo. u.u Ver o quanto o elfo sofreu na mão da própria família é completamente… depressivo. E de certa forma, como a história é construída, as dificuldades de Hearth ainda não acabaram.
Obviamente temos um pouco de Loki tramando altas confusões aqui, porque né, tudo que tem a ver com problemas na mitologia nórdica invariavelmente está relacionado com o deus da trapaça.
É Loki também o responsável pelo novo personagem mais interessante e envolvente do livro. Então vamos finalmente falar de Alex Fierro.
Particularmente eu acho que Alex é o ápice da evolução do Rick Riordan como autor. Se você acompanha os livros desde a primeira série que foi lançada, é notável o quanto o autor começou a ser muito mais sensível e perceptível à questão da inclusão e representatividade em suas histórias.
Se não me engano, em Percy Jackson e os Olimpianos não existia nenhum personagem fora dos “padrões” branco ocidental entre o elenco da história. Confesso que não lembro bem para afirmar. u.u’
Aí em As Crônicas dos Kane, Carter é descrito de uma forma que eu achei que ele tinha ascendência egípcia.
Em Os Heróis do Olimpo é quando começamos a ver personagens realmente representando a inclusão de diferentes culturas: Leo é latino, Piper tem ascendência indígena, Hazel é negra (se lembrei direito) e Frank é chino-canadense. Além disso, ao longo da história você descobre que um personagem bastante importante é homossexual e apaixonado pelo Percy (mas né… todos amam Percy <3).
E agora em Magnus Chase e os Deuses de Asgard, Samirah é uma Valquíria muçulmana, e inclusive o autor fala sobre como ela faz para realizar seus ritos e preces enquanto está realizando suas missões. Em um momento histórico tão delicado de guerras e problemas sérios de extremismo religioso, Riordan vai e coloca uma de suas principais protagonistas como uma representante de um grupo de pessoas que é visto com muita desconfiança e preconceito.
Na história o autor tenta mostrar que ela é uma pessoa como qualquer outra, mas que tem regras de conduta e de relacionamento diferentes simplesmente porque tem direções religiosas e uma fé diferente dos outros personagens. E que ainda assim merece ser respeitada e é muito importante durante a aventura.
Blitzen é um anão e Hearthstone é surdo e se comunica por linguagem de sinais. O próprio Magnus teve seu momento de “cota” quando foi um mendigo sem teto por dois anos.
Por último chegamos a Alex Fierro. Riordan traz para a história um/a personagem que é transgênero e de gênero fluido. Não é “normal” você encontrar em uma série de grande alcance como as que Riordan escreve essa preocupação em fazer com que todas as diferentes pessoas que existem no mundo se sintam de alguma forma representadas dentro da história.
Assim, eu sou de uma geração que nasceu num mundo binário, um lugar feito de 1s e 0s, preto e branco, em que era aceitável homem/mulher brancos héteros. E ao longo dos anos, várias pessoas começaram a “sair do armário”, se mostrar e ajudar a criar uma nova visão sobre a diversidade humana. Eu confesso que ainda acho algumas coisas confusas na sopa de letrinhas que representam gêneros e opções sexuais, mas hoje eu tenho (e cada vez mais quero ter) uma mente mais aberta e estou tentando aprender, apreender e respeitar as pessoas pelo que elas são: pessoas.
Bem, Alex é um/a personagem maravilhoso/a e traz um questionamento e um dinamismo muito interessante para o desenvolvimento da história. Ele/a é irmã/o de Samirah e por ser transgênero sempre teve dificuldade de relacionamento com outras pessoas que não entendiam e respeitavam quem ele/a é. Inclusive, quando ele/a conta sobre seu nascimento é muito interessante como ele/a relaciona com suas características e personalidade.
O que é interessante na apresentação da/o personagem é que ele/a é totalmente reativa quando precisa dizer quem ele/a é, ao mesmo tempo que não tem papas na língua para se afirmar. O autor fez uma escolha em não se pegar em explicações sobre o que é ser transgênero ou de gênero fluido. Afinal estamos em 2016 e meio que é nossa responsabilidade entender o que está acontecendo, mas não sei se concordo muito com essa opção.
Se ele quer trazer um novo conceito e ajudar que seus leitores aceitem outras possibilidades de visão de vida e de pessoas, ele não deveria ser tão seco quanto a explicações. Riordan poderia ter abraçado a responsabilidade de “evangelizar” quem não conhece os termos e o que eles implicam sobre quem são essas pessoas. Tudo bem que um pouco depois, em um momento menos explosivo de Alex, ele/a explica que às vezes se sente menino, às vezes menina, mas que não tem controle ou escolhe quando vai ser um deles.
Assim, se você ficar com alguma dúvida é só dar um google se você quer realmente entender quem Alex é.
Pra mim o mais bonito foi ver como ele/a é naturalmente incluído e aceito no grupo, principalmente por Magnus. Não que eu achasse que ele seria preconceituoso, mas ele demonstra certa curiosidade sobre a fluidez de Alex, e os dois começam a criar um ligação muito bonita.
Acredito que não era interesse de Riordan criar nenhum tipo de relacionamento romântico para Alex ao longo da história, mas eu confesso que no terço final da história eu já estava torcendo para que ele juntasse Magnus e Alex no último livro. Eu acho que Magnus seria a pessoa/personagem certo para aceitar Alex incondicionalmente por toda sua trajetória, e porque eu achei muito fofo o envolvimento dos dois e o interesse que Magnus mostra ao longo da aventura.
Peço desculpas pela resenha GIGANTE. Eu não sou especialista em inclusão e representatividade, confesso que eu ainda tenho MUITO a aprender sobre o assunto, mas achei importante ressaltar o quanto as histórias do Riordan cada vez mais vão além de aventuras com deuses mitológicos.
Acho que mais do que nunca, eu quero saber como ele vai desenvolver a história de Alex. Mesmo amando demais os livros em que Percy Jackson aparece, O Navio dos Mortos com certeza vai ser um dos livros mais esperado de 2017. ^.~
Outras resenhas da série
Essa resenha também faz parte da #SemanaEspecialRickRiordan e fecha os posts que eu tinha programado para participar.
Você pode ver todos os que fiz ao longo da semana aqui embaixo:
Até a próxima! o/
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