legado
intrínseca
série silo #3
368 páginas | 2016
SILO apresentou o abrigo e seus habitantes. ORDEM contou a história de sua formação. LEGADO relata sua ruína.
A batalha pelo Silo já foi vencida. A guerra pela humanidade só está começando. É um tempo em que, para sobreviver, os humanos precisam se manter em cidades subterrâneas, aprisionados, sem ligação com o mundo lá fora. Esse é o universo de Silo, a série de ficção científica e fantasia escrita por Hugh Howey.
Juliette, uma operária nascida nos subterrâneos, é a heroína da trama apocalíptica. Em Legado, ela se torna prefeita do Silo 18, que está se recuperando de uma rebelião. Seu governo encontra grande resistência por causa da controversa escavação para resgatar os supostos sobreviventes do Silo 17, uma empreitada vista com desconfiança que está espalhando o medo entre os moradores do Silo 18.
Como se isso não fosse um desafio grande o bastante, Juliette também recebe transmissões de Donald, a voz que alega ser líder do Silo 1 e está disposta a ajudar — mas também é capaz de fazer ameaças horríveis. Talvez Donald não seja o monstro que Juliette vê. Quem sabe ele não é a peça-chave para a salvação de toda a espécie humana? Mas será que ainda há tempo?
No último volume da série Silo, as escolhas de Donald e Juliette podem mudar o mundo… ou extingui-lo de vez.
Design
A nota continua a mesma do primeiro volume, Silo, assim como muitas das observações que fiz sobre o projeto gráfico por lá.
Um comentário rápido da capa, é interessante ver que se em Silo a sensação que a arte passava era de destruição e fogo, aqui fica parecendo aquelas transições entre deserto e leito de rio seco, sabe? Será que pode ser uma alusão a que as coisas podem melhorar, se você sair do meio das areias da destruição? Será, será? :D
História
Sabe, expectativa é um problema sério. (e spoilers também, então se você não leu nenhum livro da trilogia, talvez não seja saudável ler esta resenha, esteja avisado/a ^.~)
Quando li Silo em 2014 foi um dos melhores livros do ano, de explodir cabeça, na forma como o autor estruturou e ambientou seu mundinho e, principalmente, como criou e desenvolveu seus personagens. Juliette era cativante e envolvente em sua insubordinação e rebeldia. Todo o mistério de o que era o silo, porque o mundo do lado de fora estava completamente devastado, das limpezas, da loteria… tudo era um grande suspense que fazia você virar uma página depois da outra para tentar chegar em alguma resposta.
Aí, em 2015 a Intrínseca trouxe Ordem, a continuação do Silo, e ele se passa em dois momentos diferentes da história desse universo e é muito mais lento do que o primeiro livro. A sensação de WOW que eu tive em Silo não se repetiu tanto aqui, mas ainda assim foi um livro interessante para dar mais corpo para o passado dos silos.
Só que demorou mais um ano para que Legado, o desfecho da trilogia, saísse por aqui. Apesar da expectativa de finalmente terminar a história de Juliette, eu já não me lembrava direito o que tinha acontecido em Ordem para ser realmente impactada pelo desenvolvimento do último livro.
Sabe quando você começa a ler e se pega pensando: “mas quem é esse personagem?”, “quando aconteceu isso mesmo?”, “desde quando a Juliette é tão bbk?”… Pois é, meu começo de Legado tinha muito disso. Foi quase como se eu tivesse começado a ler um livro de um mundinho completamente novo. Sei lá, acho que deveria ter um “previously on Silo” para ajudar o leitor que ficou muito tempo longe da série.
A história é muito densa, com personagens muito importantes que, em cada núcleo, tem funções e ações que definem o desenvolvimento e interação de tantos outros. Se você não lembra o que estava acontecendo e é jogado no meio do “tiroteio” fica uma sensação um tanto bizarra.
De qualquer forma, seja por conta do período longo de hiato entre os livros, seja por conta da própria história, não achei Legado um ótimo fechamento para toda a construção e desenvolvimento que Hugh Howey criou. Eu já não tinha mais o envolvimento com os personagens, não consegui encontrar a Juliette que eu gostei tanto em Silo nessa que aparece em Legado, e a alternância entre o silo 18 e o silo 1 também foi um pouco confusa.
Legado tem dois núcleos principais na história, o pessoal da Juliette no silo 18, e no silo 1 Charlotte e Donald.
Juliette quer tentar salvar Solo e as crianças que ficaram no silo 17 e vai tentar cavar um túnel até lá, a partir de mapas de localização dos outros silos que viu na área de controle do silo de Solo (silo de solo… huhuhu XD). Só que isso vai gerar muita tensão entre os moradores do 18, que não entendem porque sua prefeita quer fazer algo tão arriscado. Algo que pode colocar a vida de todos em perigo, que pode permitir que o ar venenoso do lado de fora entre no silo, o único mundo que todos ali conhecem. Além disso, muitos não acreditam que Juliette realmente saiu do silo para fazer a limpeza e voltou viva, e isso faz com que comecem a duvidar das intenções da prefeita.
Howey até tenta criar uma tensão aqui entre o racionalismo de Juliette e a religião pregada dentro do silo, mas achei que ele só arranhou uma questão que seria muito interessante de ver desenvolvida. Na parte final da história o fanatismo religioso é trazido de volta, mas como uma forma de criar stress e mais uma sensação de “bem vence o mal”. Sendo que aqui o mal é a religião. Só que não tem aprofundamento e fica parecendo um plot device para construção da tensão.
Outra coisa que me incomodou um pouco é que Juliette parece muito cabeça dura aqui. Ela não acredita nas coisas que são ditas durante nos contatos telefônicos com o silo 1, porque para ela todos as pessoas de lá só querem manipular de alguma forma os outros silos. E essa decisão solitária da Juliette coloca ainda mais em risco todas as pessoas do silo 18.
Já no núcleo da Charlotte e do Donald é a jovem que toma conta da maior parte do desenvolvimento da história. Eu não me lembrava que Donald estava doente, nem que o senador sinistrão tinha sido acordado da criogenia. Eu não lembrava de várias situações que Donald teve que resolver em Ordem que impactam no desenvolvimento da história aqui. A gente até tem uma ou outra resposta para o que aconteceu com o mundo para justificar a existência dos silos, mas sei lá, achei os acontecimentos do silo 1 meio chatos.
É importante dizer que até temos algumas explicações do que aconteceu com o mundo para ele ter ficado tão devastado do lado de fora dos silos, mas confesso que talvez não tenha me convencido muito bem, ou eu não entendi direito, ou vai ver que eu já não me importava mais. Só queria saber como ia terminar. O autor até traz de volta a ideia dos nanorobôs que foram apresentados em a Ordem, mas eu não consegui entender muito bem como eles poderiam ser responsáveis por estragar/consertar o mundo.
Uma coisa é inegável: a capacidade do autor de construir tensão com seus textos. Mesmo que o desenvolvimento “normal” da história seja mais lento, quando ele começa a criar uma cena em que vai haver um crescendo de tensão/ação, ela é feita de forma primorosa, em que você realmente se preocupa com o que pode acontecer. Você tem medo de que aquelas pessoas podem morrer de verdade.
Com um final aberto, um dos estilos de epílogos que mais odeio para esse tipo de história, Legado não deixou um bom legado para o fim de uma série que começou estupidamente bem. Fecha grande parte das questões, mas não foi a conclusão que eu esperava, ou talvez gostaria, para a história de Juliette.
Outras resenhas da série
Até a próxima! o/
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