resenha

Meio Rei – Joe Abercrombie

3 ago 2016
Informações

meio rei

joe abercrombie

arqueiro

série mar despedaçado #1

288 páginas | 2016

4

Design 4

História 4

Ganhador do prêmio Locus, Meio rei foi considerado, em 2014, uma das 5 melhores obras de fantasia pelo The Washington Post e um dos 10 melhores livros para jovens pela Time.

Jurei vingar a morte do meu pai. Posso até ser meio homem, mas sou capaz de fazer um juramento por inteiro.

Filho caçula do rei Uthrik, Yarvi nasceu com a mão deformada e sempre foi considerado fraco pela família. Num mundo em que as leis são ditadas por pessoas de braço forte e coração frio, ser incapaz de brandir uma espada ou portar um escudo é o pior defeito de um homem.

Mas o que falta a Yarvi em força física lhe sobra em inteligência. Por isso ele estuda para ser ministro e, pelo resto da vida, curar e aconselhar. Ou pelo menos era o que ele pensava.

Certa noite, o jovem recebe a notícia de que o pai e o irmão mais velho foram assassinados e não lhe resta escolha a não ser assumir o trono. De uma hora para outra, ele precisa endurecer para vingar as duas mortes. E logo sua jornada o lança numa saga de crueldade e amargura, traição e cinismo, em que as decisões de Yarvi determinarão o destino do reino e de todo o povo.

Joe Abercrombie nos apresenta um protagonista surpreendente, numa história de percalços e amadurecimento que abre a trilogia Mar Despedaçado.

design

A nota de Meio Rei vem toda da capa maravilhosa com essa ilustração do Yarvin com cara de sofrimento, de “deu ruim”, e do mapa que aparece logo no começo do miolo. Já disse zilhões de vezes, mas sempre vale repetir. Um livro de fantasia sem um mapa para contextualizar o leitor da ambientação e localização do mundo não vai funcionar para mim.

Além da ilustração linda, a capa ainda conta com um efeito no título que parece metalizado mas confesso que não entendi muito bem o que é de verdade. De qualquer forma, dá a impressão de que é água represada dentro das letras, e isso é bem maneiro!

Estamos falando de fantasia então nada mais “correto” do que usar uma fonte romana, que lembra a Trajan no título e no nome do autor. Só não entendi muito bem porque emular o efeito metálico do título no nome do autor, usando uma combinação de degradês e sombreados. Se já tinha a chapa de aplicação do título, não fazia mal usar a mesmo efeito no autor…

Meu eterno agradecimento à Arqueiro por colocar um singelo número 1 na lombada. Minha organização na estante vai ficar muito mais coerente dessa forma. ^.~ A única coisa que destoou um pouco foi a quarta-capa que ficou bastante simples em comparação com o resto. Dá para perceber que tem algum tipo de ilustração simulando uma textura no fundo, mas está muito escuro e a impressão perdeu qualquer detalhamento que poderia existir. E eu acho que as próximas capas, que estão na orelha direita, poderiam ter vindo na quarta-capa, como a editora faz com seus livros de romance de época.

Como eu comentei, fora o mapa maneiro no início do livro, o projeto gráfico do livro segue o padrão que a Arqueiro costuma fazer para praticamente todos os seus livros. Aqui, os capítulos não são numerados, mas tem um título e foi marcado com uma fonte diferenciada do corpo do texto. Mas fora isso, não houve nenhuma inovação.


história

Vamos começar com um aviso: se você, assim como eu, gosta de fantasias cheias de pirotecnias e poderes cósmicos e fenomenais, não é isso que você vai encontrar em Meio Rei. Assim sendo, já posso pular para a parte que eu gostei bastante da nova (para nós) série do Joe Abercrombie.

Fiquei muito feliz que a Arqueiro não desistiu de publicar livros de fantasia depois do fim da parceria com a Saída de Emergência. Tudo bem que a primeira trilogia do Abercrombie já tinha saído pela Arqueiro, mas sei lá, né? Vai que eles decidiam abandonar novas publicações do gênero. ¯\_(ツ)_/¯

Estou meio em falta com livros de fantasia esse ano. Dos 50 que já li, só seis eram de fantasia… E Meio Rei já está incluído nesse número. Tudo bem que As Chamas do Paraíso está vindo aí e vão ser 900+ páginas de pura high fantasy, mas né… Ainda estava me sentindo uma farsa quando dizia que gosto de fantasia…

Meio Rei foi um pouco de surpresa para mim, principalmente pela escolha do autor de construir seu herói como uma pessoa com uma deficiência física, não é uma característica que eu me lembre de ter visto. Yarvi nasceu com a mão esquerda deformada, o que o afastou da possibilidade de se tornar um guerreiro, mas o aproximou dos ensinamentos de Mãe Gundring, a Ministra do reino onde seu pai é rei. A última intenção de Yarvi é ser um sucessor do trono, principalmente porque seu irmão mais velho está sendo preparado para isso. Por isso, ele estuda com afinco para passar no teste do ministério e poder se tornar um aprendiz.

Diferente de muitas histórias do gênero, não estamos lidando com magia aqui, mas uma coisa muito mais de conhecimentos de cura (ou morte) com ervas, de línguas e culturas diferentes, e conhecimento teológico também. Existe um mundo bem complexo no Mar Despedaçado, com um passado que remonta a uma guerra de elfos com o deus único, que resultou no surgimento dos 400 deuses pequenos e dos 6 deuses altos, e a criação de todos os reinos “atuais”.

Yarvi começa o livro querendo ser ministro; em um capítulo se torna rei de Gettland e logo em seguida tudo já muda de novo! Confesso que esse início é previsível, estava meio que na cara com a forma como Abercrombie construiu os personagens do núcleo de Yarvi para onde os acontecimentos seriam direcionados. O legal é ver como o autor conduziu o resto da história, trazendo outros plots twists ao longo do caminho (alguns forçando um pouco para a “coincidência”), e deixando o maior de todos, o que fecha toda a construção e desenvolvimento para o final. Isso é meio óbvio, né, Samara… ¬¬

O crescimento de Yarvi ao longo de Meio Rei é muito palpável e interessante de acompanhar. De um jovem príncipe com problemas de autoestima por conta de sua deficiência, ele passa por tantas provações ao longo do caminho, e toma decisões difíceis que às vezes colocam a vida de outras pessoas em risco de morte, sempre seguindo o que aprendeu com Mãe Gundring de buscar o menor mal e avaliar o maior bem.

Os personagens que participam da jornada de crescimento e vingança de Yarvi também se tornam peças tão importantes quanto ele para o desenrolar da história. Eles tem um background, mesmo que não seja muito desenvolvido individualmente, que os torna pilares para o desenvolvimento do grupo, de Yarvi e da trama. Eles se tornam importantes, tanto como companheiros quanto como ferramentas para conseguir atingir seu principal objetivo.

É como se Yarvi tivesse montado uma party em uma partida de RPG, onde cada um tem um papel importante a ser desempenhado, e que vai ajudar no resultado final. Yarvi consegue motivar os personagens à sua volta, influenciá-los e envolvê-los oferecendo às vezes aquilo que eles querem ou precisam. Afinal, seu maior “poder” não está na força bruta, mas em como usar mente e empatia.

Entretanto Yarvi pode ter sofrido na mão das pessoas que o traíram e o transformaram em escravo, mas em nenhum momento, depois que ele retoma seu título, faz parte da sua intenção libertar as pessoas que estão em uma situação parecida. Afinal, quem vai remar os barcos? Obviamente, ele só vai fazer aquilo que está dentro de suas intenções e objetivos. Mudar o status quo da sociedade, somente porque ele experimentou o pior que ela pode oferecer, não faz parte de sua motivação.

Isso é uma coisa interessante dos personagens do Abercrombie. Eles são falhos. Eles tomam decisões ruins e sofrem as consequências delas. Tudo bem que Yarvi é um rapaz muito mais de raciocínio do que de atitudes físicas; então, principalmente por isso, todas as decisões que toma tem que ser bem pensadas e pesadas para ter os resultado mais próximos daquilo que é o menor mal. Nem que para isso pessoas inocentes tenham que morrer.

Outra coisa muito boa de Meio Rei são as mulheres que aparecem ao longo da história. Laithlin, a mãe de Yarvi (que tem um nome super maneiro para personagem no WoW) é chamada de Rainha Dourada. Apesar de ser uma mulher fria e distante, foi responsável pelo enriquecimento do reino de Gettland. Mãe Gundring é a ministra do rei e professora de Yarvi. Na verdade, todas as ministras que apareceram ao longo da história são mulheres, e elas são consideradas melhores para o papel.

Shadikshirram (que nome difícil! eu tinha que parar e ler sílaba a sílaba quando aparecia) é a capitã do navio onde Yarvi é escravizado e é extremamente cruel e vingativa. E Sumael é a navegadora do navio, também escrava, que depois se torna um dos companheiros de Yarvi em sua busca por vingança. O relacionamento dela com Yarvi é bonitinho de ver, mas o foco aqui não tem nada a ver com romance ou desenvolvimento dos sentimentos dos personagens.

Acho que como experiência com a escrita de Abercrombie, eu gostei muito mais da forma como a história de Meio Rei foi conduzida do que O Poder da Espada. Talvez pela quantidade menor de personagens, ou de focos da história. Aqui só temos o núcleo de Yarvi acontecendo e evoluindo, e você não precisa saber do resto dos personagens. Se você quer conhecer o autor, ou se aproximar do gênero de fantasia com uma pegada mais medieval e menos mágica, Meio Rei é uma boa para começar.


Até a próxima! o/

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