temporada de acidentes
intrínseca
série ---
256 páginas | 2016
Guardem as facas, protejam as quinas dos móveis, não mexam com fogo.
A temporada de acidentes vai começar.
Acontece todo ano, na mesma época. Todo mês de outubro, inexplicavelmente, Cara e sua família se tornam vulneráveis a acidentes. Algumas vezes, são apenas cortes e arranhões. Em outras, acontecem coisas horríveis, como quando o pai e o tio dela morreram. A temporada de acidentes é um medo e uma obsessão. Faz parte da vida de Cara desde que ela se entende por gente. E esta promete ser uma das piores.
No meio de tudo, ainda há segredos de família e verdades dolorosas, que Cara está prestes a descobrir. Neste outubro, ela vai se apaixonar perdidamente e mergulhar fundo na origem sombria da temporada de acidentes. Por que, afinal, sua família foi amaldiçoada? E por que não conseguem se livrar desse mal?
Uma narrativa sombria, melancólica e intensa sobre uma família que precisa lidar com seus segredos e medos antes que eles a destruam.
Design
Esse é um dos projetos gráficos petit da Intrínseca. O tamanho do livro é daqueles menores que eu, particularmente, acho bem mais fofo. No caso de Temporada de Acidentes faz todo os sentido, já que é um livro menor, que nessas dimensões ficou “só” com 256 páginas. Provavelmente em um projeto maior, a fonte usada teria que ser também maior para ocupar mais espaço nas páginas para conseguir o mesmo volume.
Eu achei essa capa bem inusitada e com um tom que tem tudo a ver com a ambientação fantástica do livro. Primeiro a personagem está “caindo para cima”, quando o céu está embaixo e o solo no topo da imagem. É exatamente essa perda de controle, o inesperado e o assustador que a família de Cara precisam enfrentar em todos os outubros. Outra coisa que foi muito cuidadosa na criação da capa foi a escolha de fonte para o título e alguns textos específicos.
Na história existe uma caixa de segredos, e estes são datilografados em uma máquina de escrever tradicional. O detalhe de escolher uma fonte que emula o texto que é escrito com uma máquina de datilografia é muito sutil e delicado, e deixa o projeto ainda mais redondo e completo. A participação do botão vermelho, que também tem importância na história fecha com chave de ouro. A lombada e quarta capa são extensões muito bem resolvidas e executadas de toda a ideia iniciada na capa.
Indo para o miolo, para colocar você ainda mais no clima de suspense, a interna da capa é toda em uma chapada de preto fosco. O único “triste” é que o miolo é bem mais simples quando comparado com o trabalho conceitual da capa. As páginas são sim bem ocupadas com uma mancha agradável com fonte de alta legibilidade (afinal, é Garamond). Mas não existe nenhum outro trabalho nas folhas. Só as aberturas de capítulos são numeradas na mesma fonte do título, assim como o número de páginas. Mas não temos cabeçalhos, provavelmente por conta do livro ser das dimensões petit.
História
Temporada de Acidentes não é bem um livro de fantasia. Está muito mais para um livro fantástico, nos moldes do que Neil Gaiman escreve.
O ritmo, o estilo narrativo, a ambientação, tudo indica um livro que conversa com o poético e o onírico na tentativa de criar uma história misteriosa, envolvente e, de certa forma, sobrenatural.
Só que, depois de absorver o texto e tentar organizar o que eu li em Temporada de Acidentes a minha cabeça (sabem… aquele momento que você fica olhando para o horizonte com cara de paisagem?), fiquei com a sensação que não existe realmente uma história, uma progressão, um desenvolvimento real dos personagens. O que existem são mistérios cuidadosamente costurados para criar o clima de suspense, angústia e tensão dos personagens.
Existem alguns pilares e pontos focais da história: por que a família de Cara sempre sofre acidentes em outubro; onde está Elsie, uma amiga de Cara, Sam e Alice, que aparece em todas as fotos que Cara já tirou e que aparentemente ninguém sabe quem é; além dos segredos de todos os personagens da história.
Cara é a única narradora na maior parte do tempo, a não ser em capítulos específicos que parecem contar o ponto de vista de Alice, durante a infância das meninas.
Então, basicamente nós temos os seguintes personagens: Cara e Alice, que são irmãs; Sam, que é ex-irmão postiço das duas e ainda mora com elas depois de o pai o abandonar; Melanie, que é mãe de Cara e Alice e madrasta de Sam; e por último, Bea, melhor amiga de Cara e “meio bruxa”, que adora ler o tarô.
A história começa com Cara percebendo que Elsie (ou um pedaço de uma pessoa que ela reconhece como Elsie) aparece em todas as fotos que ela já tirou no celular. Só que Cara não consegue encontrar a menina em lugar nenhum da escola, muito menos na biblioteca onde ela tem certeza que Elsie fica todos os tempos livres, cuidando da caixa de segredos dos alunos.
Ao mesmo tempo é temporada de acidentes, e todos de sua família já sofreram algum tipo de tombo, corte ou hematoma, mesmo com as várias camadas de roupa; mesmo escondendo todos os objetos cortantes e afiados; mesmo protegendo todas as quinas da casa. Cara está preocupada porque segundo Bea, essa vai ser uma temporada especialmente violenta.
Como a sinopse já diz, a temporada de acidentes acontece todos os anos, durante todo o mês de outubro. Durante esse tempo, todos os membros da família sofrem acidentes um tanto quanto inexplicáveis com consequências variáveis, que podem ir de um furo no dedo em uma agulha, a uma morte horrível.
De resto, a história só mostra Cara, Sam e Bea tendo a ideia de fazer uma mega festa de halloween, que ninguém na cidade iria esquecer. Ta-daaaa.
Envolva nisso, cenas de descrição de novos machucados ao longo do caminho. Elsie aparecendo em novas fotos e deixando Cara aflita tentando entender o que está acontecendo. Os adolescentes se preparando para festa. E alguns questionamentos e sonhos sobrenaturais de Cara. Ela também descreve um capítulo gigante durante a festa em que está bêbada, e a autora consegue construir uma narrativa fragmentada do jeito que eu imagino que seja a percepção de uma pessoa que já não está no controle total de suas faculdades mentais (só posso supor, como não bebo, não faço ideia de qual é a sensação de ficar de pilequinho).
No fim, temos uma cena grandiosa e tensa de um incêndio e a participação dos personagens principais.
Assim, eu gostei do livro (mesmo sendo confuso em alguns momentos). Tem uns temas interessantes misturados no meio dessa coisa um tanto perdida e “sobrenatural”. Relacionamento abusivo, tabu familiar, homossexualidade, o quanto segredos podem ser corrosivos, amizade real entre meninas (porque chega um pouco de slut shame, né?). Mas também coisas que eu não sei se valem serem comentadas em um livro para adolescentes (mesmo sabendo que essas coisas são consumidas por eles indiscriminadamente) como abuso de álcool, maconha e cigarro. Sou velha e chata, desculpa aí. Acredito que as cenas em que os personagens aparecem fumando não perderiam em nada em sua narrativa ou cadência se eles estivessem dividindo um pedaço de maçã, por exemplo. #chatavelha
Gostei da voz de Cara, gostei do mistério, que tem solução (mesmo que eu não saiba se entendi ou não), o ritmo do livro alterna entre agradável e lento, mas não atrapalha o resultado da narrativa. Mas não é uma história que me marcou ou que mudou meu mundo. Foi divertido, li rapidinho e ok. Partiu próxima leitura.
Até a próxima! o/
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4 Comentários
Flor, me explica o que você entedeu da elsie pra ver se eu entendi igual? kkkkkk
ATENÇÃO PESSOAS, É POSSÍVEL QUE ESTE COMENTÁRIO TENHA SPOILERS, ENTÃO NÃO LEIAM SE VOCÊS AINDA NÃO TERMINARAM OS LIVROS, OK?
Oi Desirée! Vamos lá. O que eu entendi no final é que na verdade a Elsie que a Cara via nas fotos, e até encontrou pessoalmente, era a irmã que morreu de pneumonia antes de Alice e Cara nascerem. De certa forma, essa morte “amaldiçoou” a família toda. É como se Elsie tivesse virado um “anjo da guarda” de todos, mas que na época equivalente à sua morte não conseguia proteger as pessoas. Só não entendi porque ela parou de aparecer nas fotos no final e porque ela ficou presa por aqui. Talvez tivesse alguma tarefa pendente… vai saber.
E você? O que entendeu da Elsie? ^.^
Eu gostei da premissa do livro, eu tenho a sensação de que as ideias estão acabando e os livros estão ficando com as histórias tão parecidas que a vontade de ler tudo que é publicado está acabando (pelo menos na minha opinião), acho que vou ler esse livro sim, gosto desse tipo de história e de mistérios que te fazem querer devorar o livro…
Oi Rodrigo, você achou que a premissa foi diferente do que você anda vendo por aí? Que todos os livros que estão sendo publicados são “farinha do mesmo saco”, e por isso não existem mais ideias novas? Não sei se concordo que as ideias estejam acabando, mas acredito que o mercado brasileiro costuma investir em “ondas” de gêneros que fazem sucesso. Por isso talvez você tenha a sensação que não há novidade no mercado…