caçadores de trolls
intrínseca
série ---
340 páginas | 2015
Uma história de terror criada por um dos artistas mais visionários da atualidade
O estilo inconfundível e marcante de Guillermo del Toro, sempre envolvendo universos mágicos, criaturas fantásticas e histórias espantosas, está presente em toda a sua obra como cineasta, roteirista, produtor e autor. Em Caçadores de trolls, ele presenteia os leitores com uma história sombria e de dar arrepios, com ilustrações capazes de nos transportar para um mundo paralelo apavorante.
Jim Sturges é o típico adolescente na cidade de San Bernardino: tem um pai superprotetor, um melhor amigo meio desajeitado e uma paixão platônica por uma menina que nem sabe que ele existe. Mas isso tudo muda quando um mistério de décadas ressurge, ameaçando a vida de todos os moradores da entediante cidadezinha. Junto com um grupo de heróis improváveis, Jim terá que enfrentar monstros com um gosto especial por carne humana.
Um livro sobre os medos e criaturas que se ocultam onde menos se espera.
Design
Gostei muito do projeto de Caçadores de Trolls, principalmente porque ele é tão visualmente bonito que nem precisa de sinopse na quarta-capa. Você simplesmente olha, se impressiona, pega e leva para casa. O livro é todo ilustrado pelas artes de Sean Murray, não só a capa, então você pode ser impactado pelos desenhos do cara ao longo da leitura, complementando e ajudando o leitor a contextualizar o mundo dos trolls.
Mas estou me adiantando. Uma outra coisa que eu achei legal na capa foi a fonte usada no título. Ela me lembrou muito os posteres de filmes de terror B/C dos anos 50/60, mas posso ter viajado muito nessa analogia. :P Como eu disse, não tem sinopse na quarta-capa, a única dica que você tem sobre o que é a história e o que te espera está na orelha do livro, uma citação de um dos trolls.
De acabamentos na capa temos o verniz soft touch (mais conhecido com chupa-gordura XD), relevo seco no título e nos nomes dos autores, e verniz localizado no mesmo lugar. A capa invade inclusive a parte interna com mais uma aparição do astrolábio retratado na ilustração principal do livro, só que agora não mais colorida, mas em tons de cinza.
O projeto do miolo é muito bonito! Além de completinho, como eu costumo gostar e elogiar, ele ainda foi pensado para ajudar na imersão da história. Uma das coisas que mais me ajudou foi a escolha da fonte do texto. Não sei bem como explicar, mas ela tem um quê nervoso e ansioso na forma como se espalha pelas páginas. Não sei direito o que dá essa sensação, se é a serifa reta, se é o espaçamento entre as letras, ou se é a sutil variação de espessura do desenho da fonte. Estou sendo muito específica, talvez, mas acreditem em mim quando digo que fiquei “incomodada” (de uma forma positiva) com a fonte durante toda a leitura.
De detalhes do projeto temos as páginas de aberturas de partes com uma ilustração que me lembrou uma aldrava de porta (coloquei um exemplo para vocês entenderem o que é uma aldrava ^.~ #velha #toctoc). Acredito que a fonte do número da parte é a mesma do nome dos autores da capa, e a que dá o título da parte parece a fonte nervosa do miolo com alguma alteração na espessura e uma abertura maior no espaçamento entre letras.
Depois temos as aberturas de capítulo com a mesma ilustração, mas com o número do capítulo atual. A única fonte que destoou de todo o resto foi a usada no cabeçalho, que tem o nome do livro, o nome do capítulo e o número das páginas. Não entendi porque usar uma fonte diferente, apesar de manter o mesmo sentimento do resto do projeto. O miolo em si é muito bonito, com uma ótima entrelinha e ocupação da página, com margens bastante equilibradas.
Por último temos a ilustrações muito nojentas detalhistas ao longo de toda a história. O mais legal é que elas foram impressas em papel diferenciado, aparentemente um couchê brilho, o que ajuda a valorizar as cores dos desenhos. A única coisa que me incomodou é que contextualmente as ilustrações apareciam muito depois do assunto/capítulo que elas estavam retratando. Meio que dava uma quebrada no ritmo da história porque a imagem que me ajudaria a entender a cena estava aparecendo no meio de uma outra situação… =/
História
Em tempos de representatividade, de pessoas brigando pela ausência de bonecas da Rey do Star Wars, de Mad Max feminista, me senti bastante excluída de Caçadores de Trolls. Assim, sempre me disseram que eu gostava de coisas de meninos: videogame, mangas, animes, filmes de aventura, livros de fantasia e sci-fi… Acho que continuo gostando de coisas de meninos. “Ai, Samara, você tá lendo X-men?! Mas isso é coisa de menino! Urgh!”
Só que agora, às portas dos 35, não sei se tenho paciência ou se quero perder meu tempo com uma história onde, em nenhum momento, uma menina é parte ativa e atuante do desenvolvimento e da conclusão da trama. Em Harry Potter, Hermione era esse personagem. Em Percy Jackson, Annabeth. Mesmo que o time principal seja basicamente de garotos, eu gosto de contar com uma personagem para me sentir integrante, para fazer com que a experiência de leitura seja mais envolvente e imersiva.
Nas duas séries que citei os livros que eu menos gosto são A Câmara Secreta e A Maldição do Titã, exatamente porque Hermione e Annabeth não estão presentes em boa parte das narrativas…
Posso estar sendo extremamente preconceituosa, mas Caçadores de Trolls me lembrou muito a sensação que eu tinha ao ver Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. Uma boa história escrita para meninos. Eu sempre gostei muito de CDZ mas hoje em dia não consigo lidar com o ritmo e com a falta de meninas cavaleiras. O fato de que a única menina atuante estava ali para ser protegida pelos personagens principais.
Outras coisas que me incomodaram ao longo da leitura. Jim me lembra Chris da série Everybody Hates Chris. O menino nerd e deslocado que sempre se dá mal e é o foco dos bullies da escola. Seu único amigo é outro nerd, só que o gordinho desengonçado. Nenhum dos dois tem futuro na competição popular dos corredores da escola, mas ao se tornarem caçadores de trolls escondidos na noite eles passam a ser especiais, sem que ninguém possa saber.
A história é recheada de descrições nojentas sobre os trolls, desde suas aparências até como uma raça regurgita os próprios órgãos internos para ficar mais ágil. Sabem, às vezes era too much information! Blergh! Principalmente quando essa cena é uma das escolhidas pelo ilustrador para ser colocada na história. >O<
Achei que Jim demorou muito para ser inserido no universo “mágico” dos trolls. O início do livro é recheado de cenas tensas, com ótimas descrições que me deixaram arrepiada, fazendo jus à sinopse e sua “história de terror”. Mas mais do que o primeiro terço se passa até o menino ser levado pela primeira vez para o lar dos trolls.
Chegando lá ele tranquilamente consegue se esquivar e fugir de uma “feira” de monstros e, mesmo sem nunca terem dito a ele sobre a possibilidade de existência de trolls, ele já está citando raças e nomenclaturas. Eu não saberia diferenciar um troll de um orc de um ciclope se eu não tivesse um estudo ou aprendizado prévio sobre isso.
Mais para frente, quando finalmente entendemos sobre o real plot da história, que envolvia o desaparecimento de várias crianças em 1969, um dos trolls comenta que um dos caçadores é o principal responsável pelo fim da guerra. Que ao longo das batalhas ele matou vários trolls dissidentes, mas que simplesmente se cansou de ser uma máquina assassina e exilou o chefão de tudo. Sério?! Você deixa um rastro de carnificina atrás de você mas não mata o cabeça de toda uma guerra?! Ah, por favor. Achei muito fraca essa “desculpinha” para a volta dos trolls nos dias atuais.
Eu queria tanto que o desenvolvimento da história seguisse por uma outra linha, onde a mentora de Jim tivesse sido a menina do colégio por quem ele era apaixonadinho. Uma coisa meio Eragon e Arya. Fiquei bem decepcionada quando o caçador de troll que insere o garoto no universo mágico foi apresentado, mesmo tendo envolvido uma tentativa de plot twist…
Assim, eu gosto do estilo narrativo do Del Toro. Noturno foi uma das leituras mais tensas e assustadoras que já tive até hoje! Apesar de achar que a história foi muito lenta e muito descritiva, ele consegue criar uma ambientação que te deixa apreensivo enquanto acompanha. Mas eu passei boa parte da leitura me perguntando se eu abandonava ou não o livro. Acabava que lia mais um capítulo e ficava envolvida por mais algumas páginas, mas a dúvida sempre voltava quando nada mudava em termos de ritmo, personagens, da própria história.
Agora, me diz… um menino de 15 anos sedentário, que não consegue subir naquelas cordas que existem para fazer exercícios nas escolas americanas, em menos de uma semana se tornar extremamente habilidoso em brandir duas espadas relativamente pesadas, e correr atrás de trolls, foi uma coisa meio difícil de engolir. =/
O autor deixa uma ponta solta no final, dando a entender uma possibilidade de continuação. Particularmente, preferia que não houvesse novos livros porque, provavelmente, eu não me interessaria em uma série.
Até a próxima! o/
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