resenha

Caixa de Pássaros – Josh Malerman

20 fev 2015
Informações

Caixa de Pássaros

Josh Malerman

intrínseca

série ---

272 páginas | 2015

3.25

Design 4

História 2.5

16

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Romance de estreia de Josh Malerman, Caixa de pássaros é um thriller psicológico tenso e aterrorizante, que explora a essência do medo. Uma história que vai deixar o leitor completamente sem fôlego mesmo depois de terminar de ler.

Basta uma olhadela para desencadear um impulso violento e incontrolável que acabará em suicídio. Ninguém é imune e ninguém sabe o que provoca essa reação nas pessoas. Cinco anos depois do surto ter começado, restaram poucos sobreviventes, entre eles Malorie e dois filhos pequenos. Ela sonha em fugir para um local onde a família possa ficar em segurança, mas a viagem que tem pela frente é assustadora: uma decisão errada e eles morrerão.

Design

A capa de A Caixa de Pássaros não é original mas sim uma arte adaptada da lançada lá fora. Mas não deixa nada a desejar. O mesmo foco na letra “O” com o detalhe dos pássaros, o mesmo subtítulo em azul, a mesma textura de concreto “sujo”. Acho que o que eu mais gostei foi que o verniz fosco usado na capa te dá a ilusão que a sensação de tocar na imagem é áspera. Como se você tivesse agora dependendo do sentido do tato para te guiar ao longo da leitura.

Quarta-capa, lombada e orelhas são extensões muito bem trabalhadas de todo o clima tenso e aterrorizante criado com os tons de ciza e azul da capa. Esse “azul cueca”/”azul cupcake” que escolheram acaba ganhando um “brilho” quando é utilizado sobre tantos tons escuros. A capa só perde uns décimos comigo porque poderia ter abraçado inclusive a parte interna, colocando uma chapada ou de azul ou de preto, para fechar com chave de ouro.

O miolo é “miolo padrão intrínseca”. A escolha de uma imagem emblemática, de uma árvore desfolhada por conta do inverno, para ilustrar tanto as folhas de rosto quanto as aberturas de capítulo preenche todas as páginas do livro com o clima de angústia da personagem.  A questão da tensão da história também se reflete na escolha da família tipográfica do miolo. Levemente condensada, parece que o texto está todo comprimido, tenso, nervoso de estar ali na mancha, contando a história de Josh Malerman, montando as letras da vida de Malorie. A ocupação da mancha é bem balanceada, com margens levemente justas, mas que combinam com a proposta do livro.

O projeto gráfico só ficou me devendo com a área do cabeçalho nas páginas. Foi a falta dele e de não usar a parte interna da capa que tiraram os 0.5 pontos que podiam ter garantido nota máxima para Caixa de Pássaros.


História

Durante toda a leitura de Caixa de Pássaros, eu me lembrei de uma frase em inglês que diz “nothing to fear but fear itself” (nada a temer além do medo em si, em minha tradução porca). Fui procurar de quem era a quote (porque sou dessas que guarda a frase mas não guarda o dono) e é do presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, que ficou à frente dos EUA de 1933 a 1945, enfrentando o caos econômico e depois a Segunda Guerra Mundial.

O que a frase tem a ver? Bem, basicamente tudo. O livro gira em torno do que o medo pode fazer com as pessoas. O que uma criatura/monstro/selvagem que surgiu na Rússia e se alastrou por vários lugares do planeta causa com a mente dos seres humanos que faz com que eles simplesmente se matem.

A história alterna presente e passado, de uma forma meio fragmentada, contando como Malorie chegou na casa em que mora há quatro anos, e o que ela pretende fazer “hoje”, com seus dois filhos, o Garoto e a Menina.

É fragmentada quando no meio de um momento de tensão, seja no passado ou no presente, o autor joga o leitor no capítulo seguinte para o outro tempo. E o livro é tenso. Talvez não tão tenso quanto fiquei com Silo ou Os Três, mas a maneira como Josh Malerman constrói a narrativa em algumas situações vai te deixando apreensivo, imaginando o que pode acontecer, como é o desenrolar da cena. Invariavelmente meu olho escapava para os próximos parágrafos, ou para a página do lado, em busca de que “tudo acabaria bem”. Ele é bem descritivo, e ajuda ao leitor a vivenciar a situação, principalmente porque seus personagens costumam estar vendados ou de olhos fechados.

A questão toda aqui é que alguma criatura/monstro/selvagem passa a dividir as ruas do mundo com os seres humanos, e todos os que veem esse ser perdem o controle. Ao redor do planeta, pessoas estão morrendo sem controle, serviços deixam de ser oferecidos, a internet acaba, telefone, TV, rádio deixam de funcionar. As pessoas estão fechadas em suas próprias casas, com as janelas e portas bloqueadas, tentando sobreviver a um “apocalipse” que ninguém entende nem sabe como começou.

Nós leitores, acompanhamos o sofrimento de Malorie, que no passado acaba de descobrir que está grávida quando todo esse descontrole apocalíptico chega aos EUA. Ela perde sua família e decide ir para uma casa que havia visto em um anúncio de jornal, que oferecia refúgio a quem quisesse se proteger. É nessa casa que Malorie vai conhecer sete pessoas ao longo de sua gravidez. Uma delas é Olympia, outra jovem que também está grávida. A convivência dos personagens é cheia de angústia, medo, tensão e uma certa desesperança. Com todos presos dentro da casa, não há como saber o que acontece realmente do lado de fora. Não há como saber se haverá ajuda ou salvação.

Supernatural

No futuro, Malorie já com as duas crianças, é a única moradora da casa há quatro anos, e durante esse tempo, treinou incansavelmente Garoto e Menina para terem ouvidos extremamente sensíveis e dependerem muito pouco de suas visões para perceber seu entorno. As crianças serão seus “sonares” na difícil viagem que pretende fazer rio abaixo, 32km em um barco, só os três, de olhos vendados. A tentativa é para sair da casa, abandonar o lar de angústia, sofrimento e medo e tentar encontrar refúgio em um outro lugar, que prometeram a Malorie que existe.

Ao longo da leitura, você começa a entender o que aconteceu durante os mais ou menos seis ou sete meses que se passaram enquanto Malorie não dava à luz. Todas as brigas, intrigas, medos e esperanças dos moradores. Toda a loucura que o confinamento de sete pessoa pode trazer para sua convivência. O que a falta de informação pode causar às expectativas e esperanças do ser humano.

E, sério, como essa parte é tensa e complicada. As decisões que os moradores tomam e as situações por que passam são angustiantes. Acho que se acontecesse algum desses apocalipses que nego adora inventar nos livros, eu estava ferrada e provavelmente ia ser uma das primeiras a morrer. ¯\_(ツ)_/¯ Nâo tenho estômago para tanta tensão e medo. Acredito que o pior de tudo é não saber o que está causando todo o fim do mundo e porquê.

E aqui eu preciso colocar um spoiler, eu acho. Leia por sua conta e risco daqui em diante, ok?

Uma das coisas mais interessantes e importantes para a história não é nem sequer cogitado em ser contado para o leitor. COMO Malorie sobreviveu quatro anos sozinha com dois bebês depois de todo o acontecimento do clímax grotesco da história?! Não se arranha nem um tico dessa informação. Não se trata da forma bizarra de relacionamento de Malorie com Garoto e Menina. Eles são crianças de 4 anos extremamente sinistras e sem nenhum tipo de personalidade.

Tabém achei Josh Malerman muito covarde em sua decisão de não explicar nada de seu apocalipse. Não explicar o que são as criaturas/monstros/selvagens, de onde vem, porquê afetam os seres humanos do jeito que afetam. Sei lá, se você se propõem a escrever um suspense/thriller/horror e não justifica alguma dessas questões, para mim é como se você na verdade não teve um embasamento ou um motivo bem fundamentado para escrever uma história. Você só quer causar desconforto ao leitor. Tanto durante a leitura, quanto quando ao terminar e descobrir que nada tem explicação, e não existe esperança. TOMA UM FINAL ABERTO NA SUA CARA!

Não é como o filme do M. Night Shyamalan, Fim dos Tempos, que pode ter uma resposta ruim para os acontecimento, mas tem uma resposta. O filme segue uma premissa parecida com o de Caixa de Pássaros, em que pessoas começam a se suicidar sem um motivo aparente, mas lá pelas tantas, alguém descobre o porquê.

Fim do spoiler.

Apesar do incômodo e insatisfação que o livro possa ter me causado o autor tem um ótimo estilo de escrita. É descritivo sem ser cansativo ou chato, é ágil e dinâmico nos momentos tensos, e é gutural e grotesco nas cenas que precisam. As mortes são bizarras, você precisa ter um pouco de estômago forte ou distanciamento para não se incomodar… muito.

No fim, Caixa de Pássaros é um livro como Os Três, que só serviu para me deixar tensa e incomodada mas não acrescentou nenhum tipo de satisfação ou redenção no final. Esse estilo de livro definitivamente não serve para mim.


Até a próxima! o/

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