a filha do sangue
saída de emergência
série trilogia das jóias negras #1
432 páginas | 2014
O Reino Distorcido se prepara para o cumprimento de uma antiga profecia: a chegada de uma nova Rainha, a Feiticeira que tem mais poder que o próprio Senhor do Inferno. Mas ela ainda é jovem, e por isso pode ser influencidade e corrompida. Quem a controlar terá domínio sobre o mundo. Três homens poderosos, inimigos viscerais – sabem disso. Saetan, Lucivar e Daemon logo percebem o poder que se esconde por trás dos olhos azuis daquela menina inocente. Assim começa um jogo cruel, de política e intriga, magia e traição, no qual as armas são o ódio e o amor. E cujo preço pode ser terrível e inimaginável.
Design
A Filha do Sangue é mais um dos livros da Saída de Emergência que tem uma capa tão impressionante que consegue manter a nota alta mesmo com um miolo relativamente simples.
O mais impressionante da capa é, com certeza, a faca especial que cria o efeito de ser o paspatur (ui, falei difícil XD) de uma fotografia. Toda a construção do projeto da capa foi feito de forma a dar ao leitor a sensação de um livro antigo, daqueles de capa de couro e bordas trabalhadas a ouro. Achei bonito, mas ao mesmo tempo, é um pouco exagerado, com uma leve tendência kitch.
O que eu não entendi direito na capa foram as letras do título e do nome da autora levemente desalinhadas e com uma ilustração para parecer que foram costuradas na capa de couro. Não consegui perceber o sentido disso nem encontrei uma justificativa na história, por isso acho que o trabalho visual aqui poderia ter sido diferente. Um hot stamping de tinta dourada iria caber melhor, dando o efeito metálico de ouro e integrando melhor com a capa.
As orelhas são “gigantes” para criar a ilustração interna da capa e elas são totalmente trabalhadas, inclusive com aplicação de verniz localizado. Na lombada temos a marcação de volume, minha estante agradece. :)
Interessante como às vezes nos apegamos a alguns detalhes e deixamos passar outros. Na quarta-capa, perto do código de barras, tem uma sugestão de gênero do livro. No caso de A Filha do Sangue está escrito “Fantasia Negra”, claramente uma tradução de Dark Fantasy. Não sei se o termo deveria ter passado por uma adaptação para o pt-br, mas acredito que ficaria mais “brasileiro” se fosse algo como Fantasia Sombria, ou até mesmo, deixar o termo em inglês.
O miolo segue toda a linha gráfica dos outros livros da editora que já resenhei no blog. Simples e funcional, com as páginas iniciais com um trabalho mais visual, sumário e glossário. Enquanto que as páginas de texto continuam com uma fonte grande, com boa legibilidade e ocupação na mancha gráfica, mas sem muitas interferências visuais ou cabeçalho.
Não sei se o livro original possui um mapa, mas eu ficaria mais “localizada” se houvesse uma ilustração da posição dos reinos e/ou dimensões.
Percebi alguns erros de revisão, passáveis, mas que merecem correção para uma próxima edição do livro.
História
Uma das primeiras coisas que me chamou a atenção em A Filha do Sangue era a possibilidade de ter encontrado uma autora para, não substituir, mas talvez ocupar um lugar deixado vago por Marion Zimmer Bradley. Sou fã da autora, que faleceu em 1999, e há muito tempo sentia falta da fantasia escrita por uma mulher, que é diferente da criada por homens.
Anne Bishop criou um fascinante universo em que a magia é baseada em um sistema basicamente matriarcal, onde os homens são companheiros e “servos” das mulheres, e que a hierarquia é regida pela cor das jóias que as pessoas do Sangue recebem ao nascerem e ao passarem por uma provação na adolescência.
Acontece que o sistema se corrompeu. Mulheres feiticeiras que deveriam ser às líderes e responsáveis por suas comunidades passaram a pensar somente em seu bem estar, prazer e poder. Uma delas se sobressaiu, tornando-se rainha e sacerdotisa suprema de Hayll, capital de Terreille.
Porém existe um profecia de que uma Rainha Feiticeira, o sonho de liberdade de vários Sangue tornado realidade, irá surgir. Três homens estão destinados a se envolverem com a Feiticeira e eles aguardam “pacientemente” por sua chegada. Pacientemente = vários séculos… alguém errou, e muito, no tempo dessa profecia aí. :)
Achei interessante que a autora escolheu nomes bastante específicos (“cheios dos trocadilhos”) para seus machos principais: Saetan (Satã), Daemon (Demônio) e Lucivar (Lúcifer). Faz sentido, uma vez que um dos locais aonde se passa a história é o Inferno e Saetan é o Senhor Supremo do lugar.
A história começa apresentando os personagens masculinos e seus primeiros encontros com Jaenelle, a criança-feiticeira que tem o potencial para ser a Feiticeira da profecia. Lucivar e Daemon são irmãos por parte de pai, mas de raças diferentes. Ambos são escravos nas cortes de rainhas de Terreille e tem uma grande longevidade. Saetan vive recluso em seu escritório no Inferno como um Guardião, arrastando seus dias lendo e esperando.
Pausa aqui: não consigo fazer ideia de onde ficam Terreille, Kaeleer e o Inferno. Não entendi se são na mesma dimensão, no mesmo território, ou cidades num mesmo lugar. Essa confusão me acompanhou durante toda a leitura.
Os três tem encontros diferentes com Jaenelle, e eles se comprometem a servi-la quando ela se tornar a Feiticeira. Acontece que Jaenelle ainda é uma criança, tem apenas 12 anos, mas já carrega mais poder do que qualquer outra feiticeira já conseguiu.
Existe um conceito de Joias de Direito por Progenitura, que são entregues quando a criança nasce (pelo que eu entendi), e a joia que se recebe após fazer a Oferenda das Trevas, que é um teste de maioridade. No caso de Jaenelle, ela possuiu uma joia de cada cor e mais 13 negras. É um poder absurdo que, se não for bem direcionado, pode trazer destruição para todos os reinos.
Até aí tudo bem, certo? Temos os heróis, temos uma heroína em desenvolvimento, um background de magia muito interessante baseado nas joias. A questão aqui é que a história possui um viés adulto e relativamente profundo/pesado. E exatamente por isso que a idade do livro foi lá para cima.
Daemon e Lucivar são escravos de sexo, possuem um anel de disciplina em torno de seus “orgãos” para, como o nome diz, discipliná-los e controlá-los. Daemon passa boa parte do livro sabendo que será o amante da Feiticeira, e quando ele descobre que ela ainda é uma criança, sua frustração e excitação são quase na mesma medida. E isso é um pouco pesado, essa insinuação de pedofilia, por mais que ele sempre diga que vai esperar Jaenelle crescer.
Fora isso existem personagens relativamente sádicos na história (além do próprio Daemon), insinuação de tortura, notas homossexuais, ódio contra mulheres. Depois a questão da pedofilia é abordada ainda mais profundamente com consequências revoltantes, exatamente com jovens meninas. É violento, sanguinário e feio. Como o sistema matriarcal está em colapso, a autora mostra que alguns homens passam a querer adquirir o controle, e “quebrar” as meninas ainda novinhas é uma forma de impedi-las de se tornarem as feiticeiras e rainhas corruptas e cruéis.
Entendam que não existem cenas descritivas, de “mão naquilo ou aquilo na mão” no caso dos momentos sensuais por exemplo, mas a sutileza da autora ao tratar do assunto já deixa espaço suficiente para a imaginação. E não é uma cena muito bonita.
Acompanhar a evolução de Jaenelle é ótimo, sua força, determinação e doçura. Ver Daemon (por mais louco que seja) encontrando o seu lugar junto com a criança-feiticeira e finalmente percebendo que sua liberdade pode estar se aproximando, também é legal. Assim como ver Saetan descobrindo como ser o tutor da Feiticeira e recuperando seus poderes e lugar no mundo. O único porém é não ter quase nenhum espaço para Lucivar, que ficou completamente em terceiro plano, e foi o personagem por quem eu mais me interessei. =/
O livro tem bastante contextualização do sistema de magia, principalmente com um glossário no início explicando a ordem das joias, mas é um pouco confuso geograficamente. Tem um bom ritmo em todo o seu desenvolvimento mas dá uma acelerada agressiva no final que, se o leitor não for cuidadoso, pode acabar perdendo alguma explicação. O final é muito jogado na sua cara e você fica com aquela sensação de “como assim que acabou?! não pode!”. >.<
Então a dica aqui é: se você quer conhecer um livro de Dark Fantasy, com bons personagens, um interessante sistema de magia e bastante sensual (não hot) e violento, e está preparado para enfrentar as situações que descrevi, A Filha do Sangue é um bom experimento inicial.
O triste é ficar imaginando a menina da capa (ou qualquer menina) passando por todas situações que Anne Bishop cria para a criança-feiticeira. u.u
Até a próxima! o/
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2 Comentários
Cara, fiquei confusa só com sua resenha xD
Tipo, o livro parece confuso. Acho que todo livro que começa em um novo mundo já é confuso por natureza, e a autora (ou autor) precisa trabalhar bem em situar o leitor. A impressão que tenho, tanto pela sua resenha como por outras que li, é que o leitor meio que fica boiando durante o livro, pois muita coisa não é contextualizada.
Fico até com medo de ler, especialmente porque ando com raiva de séries que só tiveram um volume publicado no Brasil… E mais ainda de séries cujo autor ainda está escrevendo (vou ter que reler uns 8 livros do Rick Riordan para o lançamento dele em outubro T__T).
Ao menos, quando tem em inglês, eu leio (apesar de bater uma preguiça rsrs). Mas livros de fantasia, cujos termos costumam ser traduzidos para beeeem longe dos originais, são bem chatos de pular do pt-br para o inglês, porque fica mais confuso ainda -.-‘
Pois é Ize. Acho que para mim o mais confuso foram os saltos de localidades. Fica difícil de entender em que “espaço-físico-temporal” os personagens estão e aí eu meio que abstraí de ler o nome das cidades que aparecem no começo dos capítulos e ia direto para a história. Se você se apegar só aos personagens e ao sistema de magia, o livro é bem legal, acredite. XD
E falar no tio Rick, estou querendo muito reler a primeira série também! Estou devendo as resenhas deles aqui no blog, né? ^.~