enquanto eu te esquecia
única
série ---
384 páginas | 2014
Lucie Walker não se lembra de quem é ou como foi parar nas águas geladas da Baía de São Francisco. Encaminhada para uma clínica psiquiátrica, ela aguarda até que um homem chega afirmando ser seu noivo. Entretanto, com seu retorno para casa, essa mulher sem memória vai tomando conhecimento de sua personalidade antes do acidente, da pessoa controladora, fria e sem vida que era, e dos segredos da infância e da família, assim como da situação do noivado e dos mistérios que podem ter provocado o acidente.
Será que ela quer isso de volta? Será que essa nova Lucie conseguirá manter o amor por Grady, ou a oportunidade de recomeçar será sua salvação?
Intenso, franco e incrivelmente emocionante, Enquanto eu te esquecia é um livro delicado, que nos questiona sobre a maneira que vivemos e nos lembra que sempre temos uma nova chance de ser feliz.
Design
Apesar de eu ter gostado da brincadeira tipográfica feita no título do livro, e de achar que a simbologia da capa é interessante, o resultado visual da imagem não me agradou muito. A foto tem pouca nitidez e na capa fica parecendo que foi impressa em uma impressora jato de tinta caseira. Depois das capas da série Encantadas, acho que eu esperava um resultado mais refinado. Principalmente com uma quarta-capa tão simples, com uma chapada de “bege” e a sinopse.
O miolo segue o mesmo padrão dos livros da série das irmãs Fallon. Uma boa ocupação de página, boas margens, uma fonte com ótima legibilidade que encadeia bem as palavras. O cabeçalho é todo ocupado com números de páginas, nome da autora e título do livro, e as aberturas de capítulo são numeradas e intituladas pelo PoV da vez.
Gostei da opção de utilizar o padrão “americano” para marcação de fala, usando as ” ” ao invés de travessão. No começo pode ser um pouco estranho, uma vez que não é o “normal” na maioria dos livros por aqui mas, pelo menos, ajuda a não ter confusão mental entre o início de fala e aqueles travessões no meio de um diálogo. Tiveram alguns fechamentos estranhos de aspas em conversas, mas nada que tenha prejudicado o entendimento.
O livro é grosso mas não se assustem, pois não é pesado. O papel que é utilizado, apesar de ter uma textura aparentemente mais grossa, chega a ser na realidade mais fino do que aquele que usamos para imprimir documentos em casa, sem prejudicar a leitura e sem pesar nos braços.
História
Uma mulher é encontrada por um grupo de nadadores em uma praia de São Francisco, com água gelada chegando a altura de seus joelhos. Ela sente frio e também uma noção de propósito apesar de não saber bem qual. Além disso, não faz ideia de qual é seu nome, nem nada de sua vida pessoal, apesar de se lembrar que Obama é o presidente dos Estados Unidos.
Em documentos encontrados com ela, médicos descobrem que seu nome é Lucie Walker e, como ela não tem recordação de nada, só pode acreditar. A mulher, agora Lucie, encontra-se em uma ala psiquiátrica de um hospital, com diagnóstico de amnésia dissociativa. Alguma coisa em um passado recente aconteceu em sua vida que ativou algum mecanismo de defesa em seu cérebro que simplesmente apagou tudo.
A médica que cuida do caso de Lucie comunica à moça que ela tem um noivo e que ele está vindo de Seattle para buscá-la. A única coisa que ela pode fazer é esperar pelo homem, de quem ela não se lembra, e torcer para que o hospital tenha certeza que ele é quem diz que é.
Grady, o noivo de Lucie, tem o peso do mundo em suas costas. Se ele não tivesse entrado em pânico com o casamento iminente, se tivesse sabido como conversar com Lucie, talvez ela não tivesse fugido. Talvez ela não tivesse perdido a memória. Como ela foi de Seattle até São Francisco se não se lembrava de nada? E como vai ser a vida dos dois agora que ele é a única ponte entre o presente vazio de Lucie e seu passado nebuloso.
Enquanto eu te esquecia é um drama triste, sobre reencontro, reconstrução e superação. Lucie e Grady eram um casal feliz mas muitas coisas ainda não estavam encaixadas, apesar dos cinco anos que já estavam juntos. Afinal, será que realmente sabemos tudo sobre a pessoa que escolhemos para ser nosso(a) companheiro(a). Será que os segredos familiares podem ser tão tristes ou medonhos que podem machucar profundamente uma relação?
Os personagens dividem a narrativa da história, cada um se alternado em capítulos com seu ponto de vista, mostrando as dificuldades de reconstruir um relacionamento baseado em expectativas e inseguranças. Duranta a história Grady mostra que era a ponta insegura da relação, não entendendo como a antiga Lucie tinha se apaixonado por ele. Enquanto isso, Lucie tenta recompor uma vida inteira de memórias perdidas, tendo que confiar no que os outros contam, ou não. Os dois juntos se re-conhecendo e re-apaixonando (no caso de Lucie) é muito fofo e triste, e mesmo tendo uma segunda chance, quase fazem tudo errado de novo. A vida pregressa de Lucie é um quebra-cabeça muito mais complicado do que Grady poderia imaginar, e ela vai acabar descobrindo cicatrizes muito mais profundas em seu passado.
Confesso que não gostei muito da velha Lucie; na verdade, eu e a “torcida do Flamengo”. A nova Lucie começa a descobrir que quase ninguém se relacionava com ela enquanto vasculha suas próprias coisas e conversa com as pessoas da vizinhança. Ainda bem que a nova personalidade é bem mais agradável, não sei se eu aguentaria um livro inteiro com a antiga. XD
Durante a leitura, “vendo” o sofrimento do casal, fiquei me perguntando qual a dificuldade que as pessoas tem de expor seus pensamentos para seus companheiros. Somos seres humanos, no fim das contas, ainda não lemos pensamentos, então é difícil de entender o que o outro precisa se ele/ela não verbalizar. Apesar disso, eu gostei do conceito de que se você não lembra, o seu corpo guarda a “memória muscular” de como encaixar um abraço, um beijo, um cheiro. A memória pode ter se perdido, mas a sensação de “certo” sempre vai ajudar a lembrar.
Gostei do estilo narrativo da autora, é direto, emotivo e sensível. O final é levemente em aberto, e levemente corrido, mas deixa aquela sensação que muitos romances tem de que “tudo vai dar certo”. Recomendo para os fãs de Nicholas Sparks, do super pouco que eu li do autor (tipo, um livro XD), acho que deve agradar.
Até a próxima! o/
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1 comentário
Opa, se lembra Nicholas Sparks, muito provavelmente eu vou ler rsrs
E concordo contigo sobre o diálogo no relacionamento. Se for reparar, boa parte dos livros de romance são construídos em cima da falta de diálogo; da mulher que não diz para o parceiro o quanto gosta dele, do homem que não assume seus sentimentos, e uma série de momentos “não teria acontecido se tivéssemos conversado antes”. É, infelizmente, as coisas são assim para dar emoção literária, mas o chato é quando uma leitora acha isso normal na vida real =/