resenha

Mago Mestre – Raymond E. Feist

1 abr 2014
Informações

mago mestre

raymond e. feist

saída de emergência

série a saga do mago #2

432 páginas | 2014

4.25

Design 4

História 4.5

A saga épica de Midkemia continua… Passaram-se três anos desde o terrível cerco a Crydee. Os três rapazes que eram os melhores amigos do mundo encontram-se agora a quilômetros de distância. Pug, um escravo dos Tsurani, está prestes a se tornar um dos maiores magos que já existiram. Tomas, um grande guerreiro entre os elfos, arrisca-se a perder sua humanidade para a armadura encantada que veste. Arutha, príncipe de Crydee, luta desesperadamente contra invasores e traidores para salvar seu reino. Mago Mestre é recheado de aventura, emoção e ameaças tão antigas quanto o próprio tempo. Com o segundo volume de A Saga do Mago, Raymond E. Feist volta a provar que é um dos maiores nomes da literatura fantástica na atualidade.

design

Mantenho a mesma nota e opinião que já comentei no primeiro volume (você pode ler aqui), mas vale comentar que me surpreendi com a lombada. Em Aprendiz existia um M; em Mago, um A. Isso cria a expectativa de que serão quatro livros na série, para formar a palavra MAGO quando estiverem todos juntos, e lindos, na estante.

Eu comentei que o primeiro não tinha o mapa de Midkemia impresso no livro, só na forma de um poster, lembram? Mago: Mestre continua sem o mapa da terra natal de Pug e Cia, mas vem com o de Kelewan, para situar o leitor no mundo que Pug é escravizado. Foi bom e ruim, uma vez que poderia vir o de Midkemia também…


história

Sabem as questões que podem ter ficado sem resposta no final de Mago: Aprendiz? Então, Raymond E. Feist consegue responder a todas elas de forma totalmente satisfatória ao longo de Mago: Mestre.

Talvez possam existir leves spoilers durante a resenha, então leia por sua conta e risco, ok? ^.~

No final de Mago: Aprendiz, nossos personagens estão dispersos por Midkemia. Arutha voltou para Crydee e enfrentou um cerco feito pelos Tsuranis. Tomas foi salvo pelo anão Dolgan e recebeu de presente de um dragão moribundo uma armadura e armas mágicas que o estão afetando mais do que se imagina. Pug agora é um escravo dos Tsuranis, levado para Kelewan, planeta natal dos invasores.

Pug, o escravo em Kelewan
Quatro anos de guerra já se passaram desde que Pug foi levado para o mundo dos invasores. Em uma das florestas em que ajuda a cortar as árvores que os tsuranis usam para fabricar armas, ele conhece Laurie, um cantor também capturado em Midkemia. Pug agora tenta se manter vivo em um mundo completamente diferente e ao mesmo tempo parecido com Midkemia. Suas sortes mudam quando o filho mais novo da família Shinzawai, e dono do pântano onde “trabalham”, os salva do capataz e os leva para a casa da família. Lá eles começam a ensinar o filho mais velho do Lorde do clã, Kasumi, sem entender seu interesse pela cultura de Midkemia, mas fazendo de tudo para manter a pseudo-liberdade que conseguiram.

Aqui vem uma das coisas que mais me fascinou na história de Raymond E. Feist. Ele se preocupa não só com a jornada de amadurecimento e conquista de seus heróis, mas também com o lado humano e romântico da narrativa. Se em Mago: Aprendiz já existia uma insinuação de romance, com direito a beijocas, em Mago: Aprendiz todos os personagens chave da história vão ter o seu momento romântico ao lado das mulheres por quem se apaixonam. Pug é o primeiro, que descobre em Katala, outra escrava na casa dos Shinzawai, seu verdadeiro amor. E sim, dá a entender que eles tem relações sexuais, apesar de o autor apenas insinuar os fatos.

Tudo está bem, até que a família recebe a visita de um Grande, que são os magos de Kelewan. Se em Midkemia os magos não são realmente respeitados e a magia possui pouca informação ou estudo formal, em Kelewan os magos vivem à margem da sociedade, e não se dobram a nenhuma força ou vontade, nem mesmo a do imperador. Pug era um aprendiz de mago em Midkemia e isso faz com que tenha uma “assinatura” especial. Quando o Grande entra na casa dos Shinzawai percebe o poder no rapaz e o reclama como estudante da Assembleia, teleportando Pug para longe dali.

O mago retirou um dispositivo do manto. Pug se lembrava de ter visto um objeto daqueles, durante o ataque ao acampamento tsurani, e sentiu ainda mais medo. O mago ativou-o e o aparelho zumbiu como o outro. Colocou a mão no ombro de Pug e a sala sumiu em uma névoa cinzenta.

A transformação de Tomas
galadriel
Ao mesmo tempo Tomas está cada vez mais perdido para a magia da armadura de Ashen-Shugar, um dos Antigos e senhor dos elfos. Morando em Elvandar, elfos e anões estão preocupados com a mudança, não só física, que acontece com o rapaz. Apesar de máquina de guerra perfeita, Tomas está perdendo sua humanidade para o poder que recebeu e para as lembranças que passa a dividir com o valheru. Aglaranna, a rainha dos elfos, vê em Tomas cada vez mais um homem que pode ser o dono de seu coração, ao mesmo tempo que teme que ele se torne aquilo que todos os elfos mais temem. Comentário meu aqui é que diferente de Eragon, que Arya evitava o cavaleiro de dragão pela nítida diferença de experiência de vida dos dois, Aglaranna é fascinada por Tomas, por sua coragem, dedicação e valentia, principalmente pelas mudanças que acontecem com o rapaz. Só que confesso que achei um pouco estranho esse amor, uma vez que a rainha dos elfos já viveu muito mais tempo do que Tomas. Então para mim faria mais sentido que ela ao menos tivesse uma reação inicial de indiferença, como Arya teve.

Você tem medo. Todas as criaturas temem a mudança, até os deuses.

– Quem é você? – perguntou o valheru em silêncio.

Eu sou você. Sou aquilo em que você irá se tornar. Sou o que você foi. Sou Tomas.

O príncipe solitário de Crydee
Por fim Arutha precisa de apoio do Reino para proteger Crydee. Seus batedores descobriram que novos estandartes Tsuranis apareceram nos acampamentos dos invasores e isso pode significar uma grande mobilização para um ataque massivo. Por isso Arutha decide ir até a cidade de Krondor solicitar apoio do Príncipe Erland com o envio de tropas para o Oeste. Depois de uma viagem de barco de extremos riscos e perigos, ele chega em uma cidade dominada pelo maior inimigo de seu pai, o Lorde Guy du Bas-Tyra, e percebe que pode ter dificuldades para conseguir o apoio que precisa e voltar para Crydee.

Arutha cerrou o punho e deu um murro no catre onde estava sentado.

– Maldito Bas-Tyra. Eu teria gosto em matá-lo neste exato momento. Além de pôr o Oeste em perigo, ele arrisca uma divisão ainda maior entre os dois reinos ao colocar a sua bandeira no principado. Se acontecer alguma desgraça a Erland e à sua família, é quase certo que acontecerá uma guerra civil.

A história segue alternando entre Pug, Arutha e Tomas até o clímax, quando finalmente todos se reúnem na investida final contra os invasores.

rohirrim-charge

Eu adorei Mago: Mestre! Os dois livros juntos conseguiram entrar para o meu top 5 (até a próxima semana XD) de melhores fantasias que já li NA VIDA! A história é ágil, fácil de seguir e extremamente envolvente. Os personagens são ótimos, inclusive os coadjuvantes que ajudam a dinamizar a narrativa. Em Mestre somos apresentados à toda política e sociedade dos Tsuranis, inclusive à criação de seu mundo, e mais do que nunca eu consegui identificar várias semelhanças com a cultura oriental (China, Japão e Coreia). Também existe um jogo de política entre os clãs que não deixa nada a dever às intrigas de George R.R. Martin. Mas apesar de todo esse amor <3, eu ainda tenho algumas leves ressalvas.

Mesmo o autor volta e meia mencionar a passagem do tempo, eu não consegui absorver a mudança total dos anos para os personagens. Fiquei com a sensação que Pug passou muito mais tempo vivendo em Kelewan do que os anos de guerra em Midkemia. E como acontecem alguns saltos temporais durante a história, ficou difícil contextualizar Pug, Tomas e Arutha fisicamente na minha cabeça, e fazer a ligação dos adolescentes de Aprendiz com os adultos de Mestre.

Milamber

Em dado momento da história Pug passa por uma evolução e muda de nome, passando a se chamar Milamber. Pessoas, se Pug já era um nome ruim, Milamber conseguiu superar de longe em má escolha. Da forma como a língua portuguesa utiliza paroxítonas, então a leitura seria mi-LAM-ber, que é praticamente um “me lamber”… não dá. u.u Provavelmente muitos vão me crucificar, mas aqui eu sou totalmente a favor da adaptação. Tipo quando fizeram Doku virar Dokan, em Star Wars; ou Kagome virar Agome em Inu Yasha. Eu não me importaria de que o nome dele fosse adaptado para um Milander, por exemplo. Manteria a estrutura sonora sem correr o risco de má interpretação.

briennePor mais que eu tenha gostado dos personagens, e de termos uma presença feminina como elementos de apoio, isso é basicamente o que elas fazem. Dão apoio. Então de certa forma eu não me senti representada na história, como mulher. Aglaranna, que tinha tudo para ser a personagem feminina forte e ativa, acaba ficando em segundo plano para ser apenas o foco de interesse romântico de Tomas. Carline, a princesa de Crydee, praticamente não aparece nesse volume sendo deixada completamente de lado no desenvolvimento da história. Eu queria sim uma elfa lutadora, uma maga que ajudasse ou atrapalhasse Pug, uma guerreira nas frentes de batalha de Crydee. A história não deixou de funcionar para mim, mas eu terminaria com muito mais satisfação se uma mulher tivesse um espaço mais ativo e participativo na narrativa.

Por último, que essa resenha já está quilométrica, o final teve um cheirinho de forçação de barra. Não vou comentar para não estragar a diversão de vocês, mas achei que as soluções foram dadas de uma forma um tanto quanto apressadas e “aceita aí”. Atrapalhou só um tiquinho o resultado final mas conseguiu fechar a história.

No mais dá para entender porque a série é uma das mais importantes e representativas do estilo de fantasia do mundo. E eu recomendo que todos vocês, amantes da fantasia como eu, se permitam conhecê-la e se apaixonar pelas histórias de Midkemia. Eu já quero voltar para lá! ^.^


Até a próxima! o/

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