a arte do jogo
intrínseca
série ---
496 páginas | 2013
Henry Skrimshander, a grande aposta do time de beisebol da Westish College, parece destinado ao estrelato na grande liga, até que um arremesso de rotina sai desastrosamente do curso. Como consequência desse erro, o destino de cinco pessoas vira de cabeça para baixo. Guert Affenlight, reitor da faculdade há muito tempo solteiro, se vê de repente perdidamente apaixonado. Owen Dunne, o colega de quarto e de time de Henry, envolve-se em um romance arriscado. Mike Schwartz, o capitão do time, se dá conta de que sua dedicação a Henry foi à custa de sua própria carreira. E Pella Affenlight, a filha de reitor, volta para a Westish decidida a começar uma nova vida depois de fugir de um casamento destinado ao fracasso. Com o fim da temporada se aproximando, os cinco são forçados a confrontar suas mais profundas esperanças, angústias e segredos. Nesse processo, eles criam novos vínculos e ajudam uns aos outros a encontrar seus verdadeiros caminhos.
Design
Acho que vocês me viram declarando meu amor pela capa tipográfica de A Arte do Jogo. Eu sou uma apaixonada por fontes desde a época da faculdade. Nunca me dediquei à fundo ao estudo das formas, mas eu sei o que me agrada e a fonte da capa é um exemplo caligráfico adorável, que passa uma sensação de anos 1950-60 e as tipografias de display da época.
Além disso, o padrão cromático de azul com bege remete ao uniforme dos jogadores dos Harpooners, o time de beisebol do livro.
Quando falei da capa no instagram (aqui ó) eu comentei o quanto fontes bem utilizadas podem ser tão impactantes quanto uma foto bem feita. Aqui ela fica ainda mais marcante porque, indo contra todas as capas que eu já vi, ela não possui nenhum tipo de laminação. Você está colocando a mão direto na tinta, a textura que você sente é da tinta no papel, e Pessoas, acreditem em mim, é lindo!
Só que isso acabou sendo uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que a estética é maravilhosa, com o passar do tempo e com o manuseio eu terminei a leitura com um livro que tem uma aparência muito mais gasta e usada do que se esperaria, já que ele é praticamente novo. A gordura natural da minha mão deve ter “comido” a tinta e carregar o livro pelos transportes públicos e na mochila meio que acabou com a tinta dos vincos e dobras da capa.
Olhando pelo lado positivo, no fim das contas eu acabei com umA Arte do Jogo tão gasta e usada quanto a de Henry, que é sua bíblia de vida e do beisebol, o que me deixa ainda mais próxima do personagem do que a história propriamente dita.
O miolo é um show à parte de qualidade gráfica e legibilidade, como praticamente todos os que a Intrínseca desenvolve. A fonte Bembo, se não me engano, é quase institucional da editora, presente em vários projetos anteriores. Consegue ter um tamanho e equilíbrio muito bom, que preenche muito bem a página, criando uma mancha uniforme e limpa, com espaços brancos adequados para os respiros da leitura.
À primeira vista achei que não haviam colocado cabeçalho e já ia fazer #mimimi, só que as informações estão no rodapé, deixando o topo da página limpo e arejado para seus olhos baterem direto na continuação da leitura e nada mais.
História
A primeira coisa que me conquistou em A Arte do Jogo foi a forma como Chad Harbach insere seus personagens na história. Devagar, com cuidado, com diálogos bem construídos até que, de repente, eles já tomaram conta de capítulos e são tão próximos quanto amigos de faz de conta podem ser.
Fiquei com medo que, por ser um livro com elementos de beisebol, eu fosse ficar perdida na história, uma vez que o que eu entendo do jogo é que você tem uma bola e um taco, e você bate em um com o outro. Só que o livro é muito mais do que uma narrativa sobre jogo. Ok que temos uma partida ou outra de vez em quando mas é a construção de cinco personagens, seus medos, dramas, felicidades, que giram em torno do campo de beisebol, na faculdade Westish, que realmente importa.
Henry Skrimshander é o primeiro personagem a aparecer na história. Terminando o colégio e sem perspectivas para seu futuro, ele faz o que mais gosta, jogar como interbases do time de beisebol. Em um jogo amistoso, Mike Schwartz, aluno do segundo ano da Westish College, percebe no rapaz a mudança que o time da faculdade precisa para sair do regime de anos sem ganhar nenhuma temporada.
É dessa forma que Henry vai para a Westish, como a promessa do time. Na faculdade ele conhece seu colega de quarto, Owen Dunne, gay assumido, totalmente a favor de sustentabilidade, e consumidor contumaz de maconha.
Com a ajuda de Schwartz, Henry começa um treinamento intensivo para ser um jogador ainda melhor. Isso significa acordar muito cedo, correr com pesos, levantar pesos, correr mais um pouco e se entupir de suplementos alimentares. Owen também acaba entrando para o time, apesar de fazer completamente o papel do intelectual sentado no banco lendo um livro.
Entram os dois últimos personagens de nosso drama: Guert Affenlight, o reitor sessentão da Westish, e sua filha Pella Affenlight. Ela fugindo de um casamento com um homem mais velho que era sua forma de “chocar a sociedade” e de estar à frente de suas amigas, mas que acabou se tornando o maior motivo para uma depressão profunda. O reitor com uma paixão inesperada por um aluno de sua faculdade, um homem que nunca imaginou que encontraria em um rapaz tão mais novo e ainda por cima estudante da Westish, o foco de um interesse tão profundo.
O livro gira pelos dramas dos cinco personagens, que se alternam como POV em cada capítulo e tentam enfrentar seus problemas, contando uns com os outros, descobrindo apoio onde não imaginavam que conseguiriam.
De todos o personagem que mais criei empatia foi Henry. Acompanhar seus sonhos, suas expectativas, sua dedicação, sua ascensão e queda é muito sofrido. Passar com ele pelo pior momento de sua vida, quando a depressão é tão forte e profunda… a vontade de pegar no colo e dizer que tudo vai ficar bem é muito grande.
Por outro lado não consegui gostar muito de Pella, achei a personagem um pouco perdida neste ambiente extremamente masculino. Tanto até que o relacionamento homossexual entre alguns personagens é mais importante e tem um foco muito maior do que a vida pessoal da moça.
Mas confesso que eu, como mulher, senti falta de uma representação feminina que eu me identificasse durante a história. Fico pensando se muitas coisas que acontecem com Henry não poderiam ter sido evitadas se ele tivesse uma companhia feminina, que conversasse de verdade com ele e que não o cobrasse ou responsabilizasse pelo sucesso do que quer que fosse.
É um livro que fala de homens e, de certa forma, voltado para homens. Se eles acham que nós mulheres fazemos drama com tudo, imagine o que não foi para mim ler alguns motivos de sofrimento para os caras. :)
Não sou muito de chorar lendo histórias dramáticas, mas em muitos capítulos que seguiam o POV de Henry fiquei com os olhos bastante mareados…
Por fim, gostei muito da narrativa de Chad Harbach, é densa e profunda, ao mesmo tempo que é engraçada e inteligente. Vale muito a pena para conhecer o universo do beisebol e o universo masculino dos jovens apaixonados por este esporte.
Até a próxima! o/
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6 Comentários
Adorei a sua resenha, Samara. Foi a melhor que li sobre o livro até agora. A-MEI este livro e vc soube como poucos descrevê-la e analisá-la tão bem.
Oi Patricia! Fico muito feliz com o elogio. ^-^ Na época que li A Arte do Jogo eu também gostei muito do livro e ter a experiência de sair um pouco da minha área de conforto de fantasia/YA/romances foi o mais importante também. Muito obrigada pelo comentário. <3
Comprei esse livro no início do ano e ainda não li.
Mas depois de ler sua resenha, vou começar amanhã!
Adorei!!!
Que bom que gostou, Jessyca! Depois, se puder, dá uma passadinha aqui e me conta o que achou? ^.^
Estou lendo a gostando ….
Achei super fez sua resenha mas não entendi o que POV ?
Oi Vanessa. PoV é a sigla para Point of View, o ponto de vista do personagem. Normalmente eu utilizo o termo em resenhas para identificar de qual personagem é a “voz” durante a narrativa do livro. ^.~