o poder da espada
arqueiro
série a primeira lei #1
480 páginas | 2013
Sand dan Glokta é um carrasco implacável a serviço da Inquisição de Sua Majestade. Nas mãos dele, os supostos traidores da Coroa admitem crimes, apontam comparsas e assinam confissões – sejam eles culpados ou não. Por ironia, Glokta é um ex-prisioneiro de guerra que passou dois anos sob tortura.
Mas isso nunca teria acontecido se dependesse de Logen Nove Dedos. Ele jamais deixaria um inimigo viver tanto tempo. Só que isso foi antes. Agora ele está decidido a mudar. Não quer ser lembrado apenas por seus feitos cruéis e pelos muitos inimigos que se alegrarão com sua morte.
Já a felicidade do jovem e mulherengo Jezal dan Luthar seria alcançar fama e glória vencendo o Campeonato de esgrima, para depois ser recompensado com um alto cargo no governo que lhe permitisse jamais ter um dia de trabalho pesado na vida. Mas há uma guerra iminente e ele pode ser convocado a qualquer momento. Luthar sabe que, nos campos do Norte gelado, o embate segue regras muito menos civilizadas que as do esporte.
Enquanto a União mobiliza seus exércitos para combater os inimigos externos, internamente se formam conspirações sanguinárias e um homem se apresenta como o lendário Bayaz, o Primeiro dos Magos, retornando do exílio depois de séculos. Quem quer que ele seja, sua presença tornará as vidas de Glokta, Jezal e Logen muito mais difíceis. Agora a linha que separa o herói do vilão pode ficar tênue demais.
Design
Mapas! Daria tudo por um mapa em O Poder da Espada. Sabem, eu vou ser repetitiva, mas em um livro de fantasia não existir um mapa é perder pelo menos 1/3 do entendimento de toda a história (ok, posso ter exagerado, mas é como se fosse!). Afinal, você sabe onde fica Adua? E Gurkhul? O norte gelado deve ficar no norte… Eu sempre acho que fica mais fácil de acompanhar uma história dessas seguindo os passos dos personagens em suas andanças pelo mundo. Então, menos pontinhos para o design.
Falando da capa… Talvez eu seja tendenciosa, mas capa de livro de fantasia sem ilustrações não me ganha muito. Esse estilo é quando os ilustradores mais sinistros da galáxia podem mostrar o quanto são bons e viajantes. Então, fazer uma montagem de uma espada em um céu nublado (??) e um papiro com manchas de sangue (ok, são as confissões dos presos pela Inquisição) foi um pouco fraco. Outra coisa, letras góticas são tudo de bom para representar um período medieval. Mas é preciso ter muito cuidado quando se escolhe uma família específica. Como elas são muito bojudas e grossas, as letras podem criar certa dúvida de leitura. Por exemplo: na capa, a leitura da letra v na palavra Livro é um pouco prejudicada e gera certo desconforto. Fiquei em dúvida se era um v, d ou b. Outra coisa que não gostei muito do resultado foi a mistura de informações em VersalVersalete (nome do autor e da série) e forma de frase para a escrita do título.
Quanto ao miolo, eu fiquei bem satisfeita. Fora a falta de um cabeçalho com o nome do autor e do livro, a mancha gráfica é muito agradável, ocupando bem o centro da página. O tamanho de fonte e da entrelinha ficou muito bom para a leitura e a família escolhida criou uma certa modernidade no texto. A fonte não tem uma serifa muito marcada, flertando um pouco com a sans-serif nos itálicos, mas o encadeamento do texto não criou nenhum tipo de incômodo visual.
Dentro dos capítulos quando havia divisão de assunto, foi utilizada uma filigrana que não achei muito adequada, foge um pouco do clima medieval. Acho que poderia ter sido uma espada ou adaga para ser bem literal com o nome do livro.
Não guardei nenhum erro de revisão, então provavelmente o trabalho foi muito bem feito.
História
Não tenho muito como negar, sou uma apaixonada por histórias de fantasia. De todos os estilos literários que leio é um dos que me deixa mais satisfeita durante todo o tempo. O lance do medieval, luta de espadas, armaduras, magia… me atraem de um jeito que livros contemporâneos não conseguem.
Por isso, O Poder da Espada foi uma deliciosa jornada para mim. Reconhecer todos os passos da formação de uma “party” de RPG durante o livro foi uma das coisas mais legais da leitura (dá para perceber que você vai ter: mago, espadachim, bárbaro, berserker, aprendiz e “pirata”). Mas mesmo seguindo as “regras” do RPG, Joe Abercombrie consegue quebrar alguns paradigmas que se espera de uma história de fantasia.
Durante a leitura seguimos três personagens principais e completamente diferentes entre si: Sand dan Glokta, um torturador da Inquisição e antigo comandante do Próprio do Rei; Logen Nove Dedos, um nórdico que fugiu de um ataque de Shankas e tem alguns segredos; e Jezal dan Luthar, um filhinho de papai, capitão do exército e que só quer alcançar a glória ao competir no Campeonato de esgrima da União.
Abercrombie mostra um reino corrupto, onde o rei é somente um fantoche e seus conselheiros que realmente governam, decidindo as questões políticas. Onde a Inquisição ganha forças para tentar maior espaço nas questões financeiras. Onde reinos próximos estão se organizando para tentar esfacelar a paz da União, vindos do sul e do norte gelado.
Os personagens começam separados, cada um conduzindo seu fio de história, mas dá para perceber que eles, em algum momento, vão ter que se encontrar e de alguma forma, ou se juntar (yey party!) ou se confrontar. Definitivamente Glokta é meu favorito, apesar de toda sua crueldade como torturador, mas me pareceu o personagem mais profundo, junto com o Primeiro Mago, Bayaz. As únicas personagens femininas, Ardee (irmã do major West e interesse romântico de Jezal) e Ferro (uma sulista guerreira e muito louca) deixaram a desejar, na minha opinião. Ok, Ferro é porradeira, e eu adoro mulheres audaciosas, mas ela aparece relativamente pouco em comparação com os outros personagens para eu conseguir criar um vínculo.
O estilo da narrativa me lembrou a maneira como Affonso Solano escreveu seu Espadachim de Carvão. As descrições das lutas são estupendas e a história segue rápida e ágil, com um enredo tranquilo de ser acompanhado e mesmo assim bastante instigante. E assim como o Solano, Abercrombie tem seu universo que se resolve em si mesmo. Apesar de você não ter nenhuma explicação de sua origem, isso não é necessário para entender tudo o que acontece durante a história.
O autor deixa muitas pontas soltas em O Poder da Espada, mas todas elas são relevantes e interessantes e obviamente me deixaram extremamente curiosa pela continuação.
Agora, apesar de ter gostado muito o livro meio que caiu em um nicho que me incomoda um pouco. A falta de personagens femininos em livros de fantasia é um pouco decepcionante. E eu não (acho que) sou feminista, não conheço o suficiente para defender ou “atacar” o “movimento”, mas não ter personagens que representam o meu sexo em uma história mexe um pouco comigo. É uma questão de identificação, sabem?
Daí fui buscar maiores informações sobre as Bechdel Rules. A primeira vez que li sobre as regras foi no site Shoujo Café, da Valéria Fernandes, professora de história apaixonada pela cultura japonesa e pelo shoujo/josei. A ideia do teste de Bechdel não é para definir se o livro/filme é bom ou feminista, mas para demonstrar a quantidade de participação ativa e relevante de mulheres na história.
Para passar no teste a história deve responder a três perguntas:
1. Existem pelo menos duas personagens com nomes próprios (okei, aqui o livro passa já que temos a Ferro e a Ardee);
2. Estas mulheres conversam entre si (aqui temos a falha, já que as personagens nem se conhecem);
3. E a conversa gira em torno de outro assunto além de homens.
Aproveitei a deixa para tentar trazer um pouco mais de informação sobre a presença feminina como personagens no campo do entretenimento, mas de forma alguma isso quer dizer que o livro deixa de ser muito bom. Uma vez, em uma palestra do Eduardo Spohr ele comentou que é mais complicado encontrar mulheres com papéis principais em aventuras, já que a jornada do herói segue a evolução e o desenvolvimento de um personagem normalmente masculino, o Herói. Não que não seja possível encaixar as métricas para personagens femininos, mas o problema é saber dosar a quantidade de “masculinidade” que ela poderia acabar desenvolvendo para seguir a jornada.
No fim de tudo isso só tenho uma dica para você que quiser conhecer este universo: leia com certa constância. Fiz a má escolha de demorar e esparsar demais a leitura, e isso prejudicou um pouco quando eu finalmente engatei até o fim. Alguns dos acontecimentos do começo do livro ficaram um pouco perdidos mais para o final.
Até a próxima! o/
Se você quiser conhecer um pouco mais sobre a “Bechdel Rule” leia o post da Valéria no Shoujo Cafe e veja os vídeos da Anita Sarkeesian, criadora do Feminist Frequency, onde ela fala sobre as regras em si e de filmes nominados ao oscar que conseguiriam (ou não) passar.
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