sangue quente
leya
série ---
256 páginas | 2011
R é um jovem vivendo uma crise existencial – ele é um zumbi. Perambula por uma América destruída pela guerra, colapso social e a fome voraz de seus companheiros mortos-vivos, mas ele busca mais do que sangue e cérebros. Ele consegue pronunciar apenas algumas sílabas, mas ele é profundo, cheio de pensamentos e saudade. Não tem recordações, nem identidade, nem pulso, mas ele tem sonhos. Após vivenciar as memórias de um adolescente enquanto devorava seu cérebro, R faz uma escolha inesperada, que começa com uma relação tensa, desajeitada e estranhamente doce com a namorada de sua vítima. Julie é uma explosão de cores na paisagem triste e cinzenta que envolve a “vida” de R e sua decisão de protegê-la irá transformar não só ele, mas também seus companheiros mortos-vivos, e talvez o mundo inteiro. Assustador, engraçado e surpreendentemente comovente, Sangue Quente fala sobre estar vivo, estando morto, e a tênue linha que os separa.
Design
Uma coisa que ainda não tinha comentado sobre os livros da Leya/Lua de Papel é que o miolo tem um cheiro muito específico. Meio que dá para reconhecer que um livro é dá Leya só sentindo o cheiro, que é um dos melhores do mercado. XD
A capa de Sangue Quente é uma das que eu mais gosto do catálogo da Leya, acredito que só fica atrás das ilustrações do Marc Simonetti para as capas de George R.R. Martin. Toda em tons de cinza, a cor vermelha do grafismo, do título e até do logo da Leya chamam muito atenção. A única coisa que me incomoda na capa é a declaração de Stephenie Meyer. Como eu já falei, gosto bastante da série Crepúsculo, mas ter um “quote” da criadora dos vampiros “brilhantes” não pesa muito a favor do livro para todos os haters de Bella e Edward.
O miolo segue a qualidade da Leya, com páginas amarelas e um livro surpreendentemente leve. Para variar as letras grande continuam me incomodando, mas a ocupação da mancha gráfica é bonita. O mais legal do projeto gráfico fica a cargo das ilustrações anatômicas das aberturas de capítulos. Quando estava lendo fiquei pensando em tentar encontrar uma ligação da ilustração com o tema do capítulo, mas confesso que a história estava tão envolvente que acabei esquecendo. :P
Vale comentar que vi alguns probleminhas de revisão, com diálogos sem marcação de travessão, e pensamentos, que costumam ser em itálico, invadindo conteúdo que já era descritivo.
História
Sabem aqueles zumbis de histórias e filmes de terror, eternizados por George Romero, Zack Snyder e mais recentemente, pelo seriado/graphic novel Walking Dead de Robert Kirkman? Não é bem isso que você vai encontrar em Sangue Quente.
Zumbi famosa no seriado The Walking Dead. Não é assim em Sangue Quente.
Mais do que um thriller de terror, o livro é praticamente um drama psicológico do zumbi R.
A necessidade de comer cérebros (“braaaains”) ainda está lá, mas com um motivo. A diferença é que Isaac Marion tem uma visão muito particular do que seria nossa sociedade atingida por um apocalipse zumbi.
R vive em um ninho no aeroporto de sua cidade. Ele não lembra de nada que aconteceu antes de acordar como um zumbi. Inclusive é um dos mais conservados e que poderia passar por um Vivo “precisando de férias”. Não lembra seu nome, mas provavelmente começava com R.
O começo da história é R contando para o leitor como funciona a sociedade zumbi. Eles não são uma massa acéfala movida somente por seus instintos primários de sobrevivência e fome. Existe uma necessidade de conexão entre os Mortos, que simulam atitudes e ações de quando eram vivos. Eles se juntam e se comunicam para organizar grupos de caças, se reúnem para frequentar o culto religioso liderado pelos Ossudos, que são considerados os anciões. A diferença é que R se questiona o tempo todo se o que fazem, se matar outros seres humanos é a atitude correta. Só que R não consegue vencer seus instintos de zumbi.
Desde o começo é possível perceber que R é diferente de seus pares Mortos. Ele se sobressai ainda mais quando começa a mudar depois de salvar Julie, e comer o cérebro de seu namorado. A partir desse momento, R passa a ter a necessidade primária de proteger a garota, enquanto divide as memórias de Perry, se alimentando do cérebro que guardou do ataque.
Aliás, é por isso que os zumbis comem os cérebros, para ter aquela fagulha de lembrança dos Vivos. Como eles não conseguem lembrar de nada dos seus passados, nem guardar muita informação recente, se alimentar dos cérebros dos Vivos é como uma droga que permite você ver e reviver as memórias dos outros.
Depois do encontro com Julie a história vai deixar um pouco a sociedade zumbi e passa a mostrar o que aconteceu com os humanos que sobreviveram ao apocalipse. O leitor tem a visão de Julie do que aconteceu antes de os Mortos passarem a ser um dos piores problemas dos Vivos.
A história é muito mais do que um simples romance entre um zumbi e uma menina Viva, e muito mais do que tentar encontrar uma cura ou acabar com o confronto. Percebi muitos questionamentos interessantes de nossa própria sociedade e cultura. A questão de como amar uma pessoa é abrir mão de si e da pessoa amada. De como nossa individualidade e egoísmo nos transforma de certa forma em zumbis dos nosso prazeres e necessidades. De como quando estamos cercados de coisas chocantes, isso passa ser o nosso normal, e revelações assustadoras não nos atingem como deveriam.
Uma questão que fica é que Sangue Quente só funciona porque, logo no começo, Isaac Marion diz que R ainda tem uma aparência próxima de uma pessoa normal. Se ele fosse parecido com a zumbi da imagem que abre a resenha, não ia ter muito jeito de fazer o drama acontecer. E de qualquer forma, vale muito a pena ler o livro. Não deixe o seu (provável) preconceito com Stephenie Meyer impeça que você descubra uma história muito divertida e envolvente.
Vale dizer também que saiu a versão cinematográfica agora em 2013 e deve ser legal comparar o filme com o livro. Olha o trailer:
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Até a próxima! o/
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2 Comentários
Eu li esse livro e adorei! No geral, detesto histórias de zumbis, mas a visão do Marion me fez gostar demais do R!
Tive a oportunidade de ver o filme no cinema para comparar, mas, sinceramente, é só mais um blockbuster. Eles dão muito mais atenção ao romance “R/Julie”, e não a todas as indagações que o livro traz em relação à nossa sociedade.
Uma pena! Quem vê apenas o filme, não percebe o quão profundo o livro pode ser!
Quero ler o livro urgentemente para poder ver o filme!
Beijos,
Vinícius – Livros & Rabiscos