fios de prata
leya
série ---
352 páginas | 2012
Mikael Santiago realizou o sonho de milhares de garotos. Aos 22 anos era o jogador brasileiro com o passe mais caro da história do futebol. Mas à noite os sonhos o amendrontavam. Às vezes, o que está por trás de um simples sonho – ou pesadelo – é muito maior que um desejo inconsciente. Há séculos, Madelein, atual madrinha das nove filhas de Zeus, tornou-se senhora de um condado no Sonhar, responsável por estimular os sonhos despertos dos mortais. Uma jogada ambiciosa que acaba por iniciar uma guerra épica envolvendo os três deuses Morpheus, Phantasos e Phobetor, traz desordem a todo o planeta Terra e ameaça os fios de prata de mais de sete bilhões de sonhadores terrestres. Envolvido em meio a sonhos lúcidos e viagens astrais perigosas, a busca de Mikael pelo espírito da mulher amada, entretanto, torna-se peça fundamental em meio a uma guerra onírica. E coloca a prova sua promessa de ir até o inferno por sua amada.
Design
Uma das capas mais bonitas do ano que aproveita ao máximo a proximidade que a fantasia tem da ilustração. Aliás, já conhece o portfolio do Kentaro Kanamoto, o ilustrador deste livro e de Ruas Estranhas?
De verdade acredito que se fosse uma capa fotográfica perderia imensamente a força que Fios de Prata tem. Eu esperava um relevo seco no título do livro, mas o verniz localizado fez um bom trabalho de “textura”. Achei bonita a diagramação da quarta-capa que quebra o sentido de leitura que normalmente temos nesta área. Só achei que a textura de madeira da imagem de fundo ficou um pouco escura demais. O Rico Bacellar, designer responsável, disse que as cores estavam muito carregadas na capa inteira. A intenção original era que fosse tudo um pouco mais claro. Para a próxima reimpressão esperem algumas surpresas na capa.
O miolo é muito bonito! A escolha da Berkeley, que é uma fonte quase “sans serif”, mas que mantém uma serifa sutil, dá uma harmonia, agilidade e faz com que a massa de texto seja muito mais agradável de olhar. Como ela é um pouco “fina” no corpo, ela não cria uma mancha pesada e preta na página. O livro é dividido em três partes com trechos da música Imagine, do John Lennon, e em capítulos numerados que, mais para o terço final do livro, ganham subdivisões por personagens.
Uma marca forte do estilo de Draccon é o parágrafo/frase solto, com uma separação intencional, ao final do capítulo. Sempre tenho a sensação de ênfase quando leio estas frases. Fora um ou outro probleminha/errinho na revisão não percebi nada de ruim no projeto gráfico. Só tenho uma pergunta: quem edita o livro do editor? ^_^
História
Desde que terminei a trilogia Dragões de Éter (que tem resenha do primeiro livro aqui) fiquei meio orfã do estilo de fantasia criado por Raphael Draccon. Ainda não tive a oportunidade de ler Espíritos de Gelo, ainda mais por ser um livro de “terror”. Então, quando anunciaram Fios de Prata fiquei extremamente ansiosa, tanto pelo novo livro quanto pela possibilidade de conhecer uma história completamente nova do autor.
Será que Raphael Draccon conseguiria me conquistar novamente como fez com Dragões de Éter?
Misturando várias mitologias, personagens carismáticos, descrições cinematográficas e uma oração que é a mais bonita de todas, na minha opinião, o autor cria uma história de sonhos. De Sonhadores. De uma dimensão em clímax para um guerra pelos sonhos de todas as pessoas. Pelo domínio dos fios de prata de todos os humanos que existem. De traições e trapaças e de amor incondicional e verdadeiro. E de um final único e surpreendente.
Tal qual os sonhos da gente que muitas vezes são confusos e enigmáticos, a narrativa de Fios de Prata me confundiu e me ludibriou. Por vezes pareciam duas histórias que caminhavam em paralelo, e que eu não via aonde se cruzariam. Mas quando as respostas são dadas e os acontecimentos se reúnem, o queixo cai de uma forma que você fica com a grata sensação de que “ainda bem que eu não vi essa resposta chegar”!
A escrita de Draccon continua agradabilíssima de ler. É ágil, fluida, atual. Usa de muitos conteúdos da cultura pop e referências e situações cotidianas. Uma das coisas que mais gostei foi ele utilizar os acontecimentos de sua história para “justificar” ações que vimos em nossos dias, como o caso von Richthofen.
Do jeito que o autor cria a sua dimensão do Sonhar, ela passa a ser tão crível quanto a existência do céu e do inferno, que inclusive são, locais fronteiriços aos domínios de Morpheus.
A narrativa também está um pouco mais adulta, com os personagens tendo relações sexuais (mas nada descritivo aqui, seus safadinhos!), apesar de o foco principal ser a ação e o conflito. Os personagens também são mais maduros. Draccon se permite reflexões profundas sobre idolatria, desejos, sonhos, futuro, universo, deuses, anjos, …, a lista é longa. Mas em toda a narrativa ele faz você pensar e raciocinar junto com os personagens. E mesmo que sua opinião acabe sendo de alguma forma diferente, a semente da busca por respostas já foi plantada.
No fim das contas, existindo ou não esta dimensão para onde viajamos ao dormir, seguros por nossos fios de prata, o que importa é que todos nós sonhamos. Sejam sonhos despertos, desejos, ou não. E até onde nós iríamos para que nossos sonhos fossem vivos e realizados.
“Por você, eu iria até o inferno!”
Até a próxima! o/
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4 Comentários
Adorei as resenhas, muito bem elaboradas! Parabéns! Vou ler Dragões de Éter, e em seguida Fios de Prata. Obrigada pela ajuda!!!!
Oi Vanessa! Que bom que você gostou das resenhas! ^^
Se elas ajudaram você a escolher um livro fico ainda mais satisfeita, significa que consegui deixar você curiosa o suficiente para se interessar pelo livro! o/
Volte sempre, espero poder acrescentar outras sugestões de leitura para você. ^.~
Gosto de todas suas resenhas. Elas combinam com o que eu gosto e tenho certeza que temos opiniões parecidíssimas. Vou comprar o livro e com certeza vou adorar. ^^
Sam, só li um conto do autor que está presente em Geração Subzero e posso te adiantar que não curti. Achei que ele não tem muito a ver comigo e com o que eu tenho gostado de ler, portanto vou deixar o que vier dele pra depois. Quem sabe eu não entre num espírito de leitura diferente do meu normal, certo?
E outra coisa: amo a fonte Berkeley.
Beijos.