resenha

Dragões de Éter – Caçadores de Bruxas – Raphael Draccon

8 abr 2012
Informações

caçadores de bruxas

raphael draccon

leya

série dragões de éter #1

440 páginas | 2010

4.75

Design 4.5

História 5

“Se os sonhos são forjados no éter hoje… nós iremos tocar na quinta-essência.”

Nova Ether é um mundo protegido por poderosos avatares em forma de fadas-amazonas. Um dia, porém, cansadas das falhas dos seres racionais, algumas delas se voltam contra as antigas raças. E assim nasce a Era Antiga.

Essa influência e esse temor sobre a humanidade só têm fim quando Primo Branford, o filho de um moleiro, reúne o que são hoje os heróis mais conhecidos do mundo e lidera a histórica e violenta caçada de bruxas.

Primo Branford é hoje o rei de Arzallum, e por 20 anos saboreia, satisfeito, a Paz. Nos últimos anos, entretanto, coisas estranhas começam a acontecer…

Uma menina vê a própria avó ser devorada por um lobo marcado com magia negra. Dois irmãos comem estilhaços de vidro como se fossem passas silvestres e bebem água barrenta como se fosse suco, envolvidos pela magia escura de uma antiga bruxa canibal. O navio do mercenário mais sanguinário do mundo, o mesmo que acreditavam já estar morto e esquecido, retorna dos mares com um obscuro e ainda pior sucessor. E duas sociedades criminosas entram em guerra, dando início a uma intriga que irá mexer em profundos e tristes mistérios da família real.

E mudará o mundo.

design

A editora Leya é uma nova conhecida para mim. Esta série de Raphael Draccon é a segunda que pego para ler (já li os três primeiros livros de As Crônicas de Gelo e Fogo, da mesma editora) e estou agradavelmente surpresa com a qualidade do projeto gráfico.

Achei a capa linda com sua ilustração abstrata, o miolo é bem estruturado com uma mancha agradável, mas o tamanho de fonte é ligeiramente grande para o meu gosto pessoal. O livro é dividido em três atos, com capítulos numerados, que se encaixam em sequência não abrindo em uma nova página (convenhamos que isso aumentaria consideravelmente um livro que já é grande).

Só tiveram duas coisas que me incomodaram e fizeram com que tirasse pontos na avaliação. A primeira é essa forma de hierarquizar áreas “fora do padrão” na capa do livro. No livro do Raphael, o que tem mais peso na capa é o nome da série (Dragões de Éter) e não o título do livro (Caçadores de Bruxas). Nos livros de George R.R. Martin, o que “grita” é o nome do autor.

A segunda, e a que mais me incomodou, foi o mapa no início do livro. Mapas em livros de fantasia, que criam novos “universo”, são sempre essenciais (vide Senhor dos Anéis, Guerra dos Tronos, Eragon, etc.) e isso não é diferente para Dragões de Éter, que faz necessário o seu próprio. A ideia de ilustrá-lo em “3D” foi muito boa (me lembrou inclusive a arte do manga Bastard!!, do  Kazushi Hagiwara), mas ao torná-lo “preto e branco” para impressão fez com que ele perdesse definição, ficasse extremamente escuro, e a única coisa que se consegue perceber com clareza são os nomes da cidade.


história

Dando espaço para mais um autor brasileiro aqui no blog, mais um representante da literatura fantástica. Eu particularmente adoro este estilo e fui completamente fisgada pela história que Raphael Draccon conta, mas confesso que no começo estranhei a forma como ele escreve. Inclusive é intrigante o estilo que ele dá para a “voz” do narrador.

Draccon escreve como se fosse um bardo. Então, a impressão que você tem durante toda a leitura é que vocês estão sentados em uma taverna (taberna), Draccon é seu melhor amigo e ele está contando uma história para você, ali do seu ladinho. O que também ajuda muito na imersão é a linguagem ser totalmente coloquial, ao menos quando um personagem específico fala de maneira mais pomposa. Vamos combinar que não existe jeito melhor para se recontar os grandes contos de fadas que eu e você crescemos ouvindo e desejando poder viver.

Você já se perguntou como era o nome de Chapeuzinho Vermelho? Ou por que realmente João e Maria comeriam uma casa de doces? Raphael se perguntou. E decidiu que eram histórias que mereciam ser contadas (ainda bem!). Por isso, criou toda uma mitologia, com semideuses, fadas-avatares-guerreiras, príncipes encantados, bruxas brancas e negras, mas nesse primeiro livro ainda nenhum dragão.

Em Caçadores de Bruxa acompanhamos a apresentação dos personagens principais e a contextualização de toda a mitologia de Nova Éter. Seguimos a história de Ariane Narin, que foi salva por um Caçador de um lobo que matou sua avó; de João e Maria, irmãos que conseguiram fugir da bruxa da casa de doces, que os fez prisioneiros para poder comê-los; Axel e Anísio Branford, príncipes (encantados) herdeiros do grande rei Primo Branford, que trouxe paz para Nova Éter depois da Caçada às Bruxas; descobrimos o que foi a caçada e porque ela aconteceu; conhecemos Coração-de-Crocodilo, o pirata mais sanguinário que já existiu e filho do Capitão James Gancho… E de como o que pode parecer uma terra em Paz, pode não ser assim tão tranquila quando situações nefastas voltam a acontecer. Tanta coisa nova e interessante que cria finalmente um mundo onde todos os contos de fada estão juntos, e falam e vivem como eu e você.

Depois que me acostumei com a linguagem da narrativa (porque eu ficava imaginando um pequeno fantasminha de Draccon no meu ombro contando a história para mim), eu me apaixonei pela livro. Reconhecer os personagens dos contos infantis era tão divertido e gratificante que as páginas passavam sem eu nem perceber. Mas ao mesmo tempo existe um outro desafio na narrativa do autor: acompanhar a história de vários pontos de vistas diferentes ao mesmo tempo, principalmente quando todos os personagens são o foco de algum capítulo.

Então a história é toda “picotada” até nos momentos de clímax final, quando todos os eles se reúnem. É um pouco diferente da maneira como o George R.R. Martin divide seus livros, que também são focados em personagens. Martin normalmente termina os capítulos como se estivesse fechando um ciclo de informação, já Draccon às vezes termina um capítulo no meio da ação! o.O No início é meio doido ficar saltando de um para outro já que são poucos os capítulos seguidos do mesmo personagem. Em alguns momentos eu tinha que parar e pensar “o que estava acontecendo com ele/ela mesmo?”. Isso faz com que, na sua maioria, eles acabem em clímax e estimulam você a continuar lendo sempre. Mas isso também é só uma questão de se acostumar com a estrutura da história.

Com um ótimo e empolgante final, romance, ganchos incríveis e personagens maravilhosos, Dragões de Éter me conquistou de uma forma avassaladora, e me fez acreditar que fantasia não é privilégio dos autores estrangeiros.

Até a próxima! o/


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4 Comentários

  • Responder Ize Chi 4 set 2013 at 10:41

    “Isso faz com que, na sua maioria, eles acabem em clímax e estimulam você a continuar lendo sempre”

    Eu meio que tive esse mesmo problema rsrs
    Cheguei a ler o 1º livro faz um bom tempo (mais de um ano), mas acho que sou do grupo de leitores que não se acostumou com a narrativa de Draccon, pois não tive vontade de ler o 2º livro em seguida. O que é estranho, pois uma saga bem feita DÁ vontade de ler a continuação.

    E os personagens são carismáticos; nos apaixonamos pelo Axel e pela Maria, além dos outros. Mas não deu aquela “plim” dentro da gente que faz querer continuar lendo…

    Uma vez me disseram que o estilo que o Draccon escreve é o “ame ou odeie”: ou você se apaixona, e fica com vontade de só ler livros assim, ou detesta. Mas eu acho que existe meio-termo, ao menos, para aqueles que sabem navegar por literaturas distintas e reconhecer os méritos delas. Logo, diria que eu sou uma leitora que não curte muito o estilo de escrita do autor, mas sei reconhecer que a história é interessante, e a forma como ele escreveu, mais ainda =)

    • Responder Samara Maima 4 set 2013 at 12:42

      Oi Ize!
      Eu entendo o que você quer dizer, concordo que existem histórias muito boas mas às vezes são “mal contadas” pelo estilo do autor.
      Mas eu acho que quando você não tiver nada para ler, podia dar uma chance para o segundo livro. Por incrível que pareça, o estilo do Draccon “amadurece” e dá uma “melhorada”. Ele muda um pouco o jeito de contar a narrativa e eu achei que ficou mais fácil de seguir com os livros seguintes.
      Eu tenho que tomar vergonha na cara e colocar as resenhas dos próximos volumes no blog. XD

  • Responder resenha: Fios de Prata – Raphael Draccon | Parafraseando Livros 1 out 2012 at 14:20

    […] que terminei a trilogia Dragões de Éter (que tem resenha do primeiro livro aqui) fiquei meio orfã do estilo de fantasia criado por Raphael Draccon. Ainda não tive a oportunidade […]

  • Responder evento: meu primeiro clube do livro | Parafraseando Livros 1 maio 2012 at 19:57

    […] O Raphael Draccon aparentemente era o autor mais conhecido do evento, grande parte das pessoas, inclusive eu, foram lá para vê-lo. Ele é o showman da literatura! Quando ele pegou o microfone automaticamente conquistou todo mundo, com seu humor sarcástico, suas frases edificantes. Eu já tinha visto uma palestra do Draccon quando fiz o curso de estrutura literária do Eduardo Spohr, e já conhecia sua capacidade de prender totalmente a atenção das pessoas. Ele inclusive consegue criar as brechas certas para os outros participantes se sentirem incluídos. Eu já comecei a resenhar os livros de sua série Dragões de Éter, você pode encontrar a primeira aqui. […]

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