resenha

Os prós e os contras de nunca esquecer – Val Emmich

23 abr 2019
Informações

Os prós e os contras de nunca esquecer

Val Emmich

intrínseca

série ---

320 páginas | 2018

3.5

Design 2.5

História 4.5

10

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Joan Lennon é uma menina de 10 anos com um dom surpreendente: ela é capaz de lembrar, com exatidão de detalhes, tudo que aconteceu com ela. Sabe quantas vezes a mãe disse “sempre dá certo” nos últimos seis meses, lembra dos dias e dos motivos para ter chorado, mas compreende também que nem todos têm essa capacidade. A maioria das pessoas, ela sabe, esquece as coisas, mas Joan não quer ser esquecida pelos outros. Então quando depara no jornal com um concurso cultural intitulado “Próximo Grande Compositor”, ela encontra a resposta: uma boa música é impossível de ser esquecida. Ela só precisa achar o colaborador perfeito. E é aí que entra Gavin Winters.

Amigo de faculdade dos pais de Joan, Gavin é um ator famoso de Los Angeles que no momento enfrenta a dor terrível de ter perdido subitamente o namorado, Sydney. Depois de ter um vídeo seu em surto vazado na internet, Gavin decide dar um tempo na casa dos velhos amigos.

Logo que se conhecem, Gavin e Joan fazem um acordo peculiar: ele vai ajudar Joan com a música e em troca a menina vai contar tudo que se lembra de Sydney. Mas o que no início era reconfortante acaba se tornando uma tortura no momento em que Gavin é obrigado a encarar o fato de que o namorado talvez estivesse escondendo alguma coisa.

Emocionante e divertido, Os prós e os contras de nunca esquecer é um livro de estreia surpreendentemente encantador, para ser lido com Beatles tocando ao fundo.

Design

Então. Finalmente vou ter a oportunidade de falar sobre um exemplares do clube de livros da Intrínseca: o Intrínsecos.

Antes de tudo, falando da coisa boa primeiro, eu acho a proposta de uma caixa de livro “surpresa” bem legal (ao mesmo tempo que pode ser terrível, porque você pode não ter nenhum interesse de ler o livro que recebeu… mas eu tou tentando ser positiva).

E seguindo o que outras caixinhas fazem, o Intrínsecos vem alguns mimos temáticos junto com o livro do mês. Então, marcador, cartão postal, chaveiro, bottoms, ecobags… Já teve de tudo nas que eu acompanhei.

Mas pra ser bem sincera, eu não queria fazer essa avaliação. Simplesmente porque eu gosto muito da editora para ficar fazendo críticas negativas sobre decisões que ela fez sobre produtos que desenvolveu.

Não estou dizendo que fico passando pano pros livros que a Intrínseca lança. Só estou me questionando o que eu vou agregar falando que eu realmente não gosto dos livros do Intrínsecos.

Porque o motivo de venda deles é toda uma questão de projeto gráfico exclusivo e diferenciado. E pra mim, um livro de capa dura lisa e sem nenhuma arte além de uma cor diferente em cada lançamento, não é lá uma exclusividade. Ter fitilho também não é um diferencial, porque todos os livros da Darkside costumam ter fitilho. E capa dura.

Eu me sentiria comprando coleções de livros lançadas em banca na década de 80 pela editora Abril. Talvez muitos leitores não saibam o que era a coleção de Pensadores, mas é exatamente o feeling que eu tenho com os livros da Intrínsecos.

Tem pra vender no Mercado Livre

Sabe o que seria um projeto gráfico diferenciado de verdade pra mim? Se o livro do Intrínsecos viesse como brochura mesmo, mas com a arte que é desenvolvida para os livretos que acompanham todas as caixinhas.

Livreto Intrínsecos Os Prós e os contras de nunca esquecer

Sério! Olha a arte que foi desenvolvida para a o livreto de Os prós e contras de nunca esquecer! Eu ia ficar TÃO MAIS FELIZ e satisfeita com uma obra exclusiva que tivesse essa arte. <3

Além disso, os materiais promocionais que vem junto, marcador e cartão postal, mostram como vai ser a arte “oficial” do livro quando ele sair nas livrarias. E muitas vezes elas também são mais interessantes do que a capa simples e colorida.

Eu, de verdade, acho que seria interessante a editora fazer uma análise de satisfação de seus assinantes e provavelmente ajustar algumas decisões de negócio do Intrínsecos.

Correndo o risco aqui de perder qualquer tipo de parceria com a editora, se eu tivesse assinado a caixinha para receber um “livro exclusivo” e viesse o projeto atual, eu provavelmente cancelaria a assinatura e esperaria os livros saírem nas livrarias. T^T

Não queria entrar no mérito de comparar o Intrínsecos com a Tag, mas uma amiga me mostrou o kit que recebeu e, bem, eu gostaria muito que o clube da Intrínseca fosse mais parecido com o da Tag. Porque o catálogo da primeira costuma me agradar enormemente, tanto até que tem diversos livros dela aqui no blog.

E eu queria MUITO que o Intrínsecos fosse realmente um sucesso e se estabilizasse no mercado como a Tag parece ter conseguindo fazer.


Agora falando um pouco do miolo… Eu achei legal que as aberturas das partes dos livros são com títulos de músicas dos Beatles. :) Na verdade, eu fui atrás de playlist dos Beatles depois que terminei de ler… :P

E uma outra coisa que é legal ao longo da história é que Joan costuma desenhar coisas em seu diário e muitos de seus desenhos ilustram as páginas para ajudar o leitor a entender o que ela está vendo ou explicar o que ela quer dizer.

Projeto correto e elegante, padrão de alta qualidade da Intrínseca.


História

Vou guardar todos na minha caixa. Vou manter todos seguros para sempre. É o que eu faço. Eu me lembro. p.315

Sabe quando você descobre um livro fofinho e você quer defendê-lo? Então, isso foi o que aconteceu com Os prós e os contras de nunca esquecer.

Esse é um livro com algumas primeiras vezes pra mim. É a primeira vez que leio algo de Val Emmich (mas já estou com vontade de ler a novelização do musical Querido Evan Hansen que ele escreveu). E é o primeiro livro do clube Intrínsecos dos que recebi que eu peguei.

Confesso que escolhi começar por esse por conta da sinopse e pela quantidade de páginas. Fiquei na dúvida entre ele e O Caso da Mansão DeBoën, mas a história de Joan/Gavin me chamou mais a atenção.

Também foi um livro que me aproximou um pouco do mundo musical dos The Beatles que eu não conhecia tanto.

Assim, meu pai era um fã da “maior banda inglesa de todos os tempos” e eu conheço praticamente todas as músicas que chegaram a #1 lugar das “paradas de sucesso”. Mas confesso que nunca me interessei tanto pelo John Lennon ou pelo Paul McCartney.

Então muitas informações que Joan e Gavin trocam ao longo da história eram novas e interessantes pra mim também.

Mas né, eu sempre sendo a louca sem coerência nas minhas resenhas…

Os prós e os contras de nunca esquecer é uma história contada em duas vozes.

Joan é uma criança de 10 anos com uma condição extremamente rara. Ela tem memória autobiográfica altamente superior. Isso significa que ela não esquece nada que acontece com ela. NADA. Ela lembra os dias da semana de anos atrás. Ela guarda situações completas e é capaz de descrevê-las com uma riqueza de detalhes impressionante.

(…) as lembranças vêm de maneiras diferentes para cada um. Algumas fazem a gente se sentir bem quentinho e outras cutucam a gente com uma vara. p.265

Só que Joan também sofre por ter essa memória tão prodigiosa. Porque ninguém a sua volta consegue se lembrar das coisas como ela. As pessoas simplesmente esquecem das coisas. Uma capacidade que Joan nunca vai ter.

E ao mesmo tempo, uma angústia e sofrimento pra menina. Porque ela não tem facilidade de aceitar que outras pessoas não consigam/possam valorizar as memórias dos momentos que já passaram.

Gavin é um jovem ator com certa fama que perdeu o namorado em um ataque cardíaco fulminante. Gavin não está sabendo lidar com a dor do luto e está em um processo autodestrutivo perigoso. O que ele mais quer é esquecer Sidney para que a dor de ele não estar mais ali finalmente pare de incomodar.

Sei que há centenas de lembranças melhores que estou esquecendo. Eu não estava prestando atenção suficiente quando elas aconteceram. Estava ocupado demais vivendo, aproveitando nosso tempo juntos, completamente alheio ao fato de que tudo podia acabar de forma repentina. Agora parece um sonho distante. p.124

Preocupada com a “sanidade” de Gavin, a mãe de Joan, que era uma amiga de Sidney e ajudou a juntar o casal, o convida para passar uma temporada em sua casa.

Nesse momento a menina que não consegue esquecer se encontra com o homem que não quer se lembrar, e a magia e a doçura dos dois juntos é de querer apertar.

_ Por que você quis queimar as coisas do Sidney?
_ Porque dói demais lembrar. p.114

Eu fiquei bastante impressionada como Val Emmich conseguiu me convencer da voz de Joan. Apesar de madura, por toda a questão da memória, ela ainda é uma criança. E faz coisas que se espera de uma criança.

Joan tem um relacionamento muito mais próximo do pai, que tem gostos muito parecidos. A pequena é um certo prodígio musical, e seu pai desenvolve trilhas para comerciais e peças publicitárias. Mas ao longo da história, eu percebi que o pai de Joan acaba ficando muito ausente, e a gente só tem a descrição e expectativas que a menina cria do pai.

Uma pessoa presente e que eu tive reais dificuldades de sentir empatia foi a mãe de Joan. Em muitos momentos eu só conseguia enxergar uma mulher um tanto quanto egoísta e controladora, e confesso que, mesmo quando ela começava a mostrar outras facetas, a personagem acabava voltando para esse papel um tanto quanto de “vilã” na história de Joan.

Acho que minha mãe é igual ao Sidney, que era fã do futuro. Ela também gosta do futuro porque adora planejar as coisas antes que elas aconteçam. p.132

Isso faz com que a dinâmica dos três, Joan, mãe e pai, seja bastante complicada em muitos momentos. Principalmente quando seus pais não se abrem com ela ou não explicam porque estão tomando certas decisões que afetam, e muito, a vida de Joan. Apesar de ser uma criança, ela não deveria ser excluída das decisões que seus pais tomam, e eu sofri um pouco junto com ela.

Estou percebendo que é um erro confiar em qualquer um, porque as pessoas dizem coisas para deixar você animado e depois esquecem o que disseram e fazem outra coisa. p.306

E sofri quando Joan tomava decisões meio burras por conta do pouco que seus pais informavam pra ela.

Agora, a história de Gavin, e todo seu sofrimento do luto, também é bastante envolvente. Fiquei um pouco receosa quando o autor colocou um certo mistério sobre falsas verdades que Sidney contou a Gavin poucos meses antes de falecer. Achei que ele poderia tentar “demonizar” o relacionamento dos dois, mas acabou que transformou a história de Gavin em um momento de autoconhecimento e de descobertas.

E a troca de Gavin e Joan, de juntos desenvolverem uma música que fizesse que ninguém esquecesse da menina, e ao mesmo tempo, ajudasse Gavin a reencontrar Sidney pelas memórias de Joan são momentos muito sensíveis.

“Eu queria manter meu sobrenome vivo”. Quando ouvi isso, fiquei muito interessada, poque gosto quando as coisas continuam vivas e nunca morrem. p.142

Os dois alternam os pontos de vista e é muito bonito e “gostoso” ver a alternância entre as expectativas do adulto e da criança em relação à vida, à memória, ao legado que se deixa por aqui.

Tudo isso regado a muita referências de Beatles. Eu confesso que assim que terminei a leitura fui atrás de alguma playlist para relembrar das músicas.

Se você quer um romance leve mas sensível, envolvente e instigante, com um ritmo agradável e personagens fofinhos, Os prós e os contras de nunca esquecer é uma ótima opção.


Até a próxima! o/

banner parceria editora Intrínseca 2019

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