resenha

Uma Dobra no Tempo – Madeleine L’Engle

7 fev 2018
Informações

Uma Dobra no Tempo

Madeleine L'Engle

HarperCollins Brasil

série Uma Dobra no Tempo #1

240 páginas | 2017

4

Design 5

História 3

10

Compre! Amazon

Um clássico da fantasia e da ficção científica emerge!

Era uma noite escura e tempestuosa; a jovem Meg Murry e seu irmão mais novo, Charles Wallace, descem para fazer um lanche tardio quando recebem a visita de uma figura muito peculiar.

“Noites loucas são a minha glória”, diz a estranha misteriosa. “Foi só uma lufada que me pegou de jeito e me tirou da rota. Descansarei um pouco e seguirei meu rumo. Por falar em rumos, meu doce, saiba que o tesserato existe, sim.”

O que seria um tesserato? O pai de Meg bem andava experimentando com a quinta dimensão quando desapareceu misteriosamente… Agora, com a ajuda de três criaturas muito peculiares, chegou o momento de Meg, seu amigo Calvin e Charles Wallace partirem em uma jornada para resgatá-lo. Uma jornada perigosa pelo tempo e o espaço.

Uma dobra no tempo é uma aventura clássica, que serviu de inspiração para os mestres da fantasia e da ficção científica do mundo, agora adaptada para os cinemas pela Disney. Junte-se à família Murry nesta jornada, entre criaturas fantásticas e novos mundos jamais imaginados.

Design

Ah, eu adoro um livro bonito. ^.^ <3 E também sou bem fã de projetos gráficos com dimensões menores, sabe?

Uma Dobra no Tempo, apesar da capa bem modernosa e adulta, fica super fofo em capa dura e nessa dimensão menorzinha. Fui dar uma pesquisada rápida e achei bem legal que a nossa capa parece uma versão adaptada, e não exatamente igual, a nova edição que saiu lá fora. Muito provavelmente aproveitando o hype que o filme, que sai esse ano, deve ter começado a gerar.

Inclusive a proximidade da identidade visual com os pôsteres é bem visível, mas como o projeto gráfico da capa é bem único, acho que fica ainda mais legal serem parecidos.

Tem vários elementos sutis que falam visualmente sobre a história. As estrelas do universo; as dobras no que parece ser o “tecido” do espaço. Adorei que o foco é total do título, todo escrito em caixa alta centralizado na arte da capa. Ele se sobressai no fundo escuro do universo!

É praticamente uma capa tipográfica, toda trabalhada em uma só família de fonte e na hierarquia dos tamanhos do texto. Gosto muito dessa fonte meio art decô, com os elementos bastante redondos e agudos ao mesmo tempo, e com o equilíbrio das letras mais baixos no desenho de cada um. Se você reparar na barra do A e na junção do R no título dá pra ver que é mais rebaixado em comparação a outras fontes.

Outras coisas boas desse projeto de capa: tem relevo seco no título!; tem número do volume na lombada; deixaram a frase de efeito para a quarta capa; e como é uma série completa, também veio com a lista de todos os títulos que vão sair. <3

Aí você abre o livro e a folha de guarda também é toda fofa, com uma chapada de “verde universo” e vários elementos que parecem constelações e que representam os personagens da história. Uma chapada de preto com “estrelas” na falsa folha de rosto! Eu adoro quando chapadas são bem aplicadas no projeto gráfico. E na folha de rosto propriamente dita, o efeito de “dobra” no tempo é aplicado com a quebra visual entre a cor da página e mais uma chapada de preto. Você também já está amando o projeto?

Falando do miolo propriamente dito, temos até sumário. Eu particularmente não entendo muito porque colocar sumário em livro de ficção, mas tá bonito! E é na mesma sans-serif da capa, o que deixa tudo ainda mais harmônico. Eu realmente gostei dessa fonte.

Todos os capítulos são numerados e tem um título, e eles sempre começam na página ímpar. Isso faz com que as páginas anteriores sempre sejam uma chapada de “universo”, e nunca tenhamos texto do capítulo anterior terminando antes de uma nova abertura.

O miolo em si é muito bonito e equilibrado nas margens das páginas. A fonte que escolheram pro texto é muito gostosa de ler, e ao mesmo tempo é um contraponto total à modernidade que a fonte da capa cria. Dá para perceber bastante porque a sans-serif aparece no cabeçalho nome do livro/autora que tem nas páginas.

Achei bem legal a nossa edição ter dois extras ao final do livro: uma transcrição do discurso que a autora fez ao ganhar a Medalha Newberry; e um posfácio escrito pela neta de L’Engle, falando de toda a história por trás da publicação de Uma Dobra no Tempo.

Se for para ter um porém fica só pelo fato do livro não ter fitilho, como os livros que a Darkside publica. Mas como eu iria utilizar um marcador, independente de ter ou não o fitilho, isso praticamente não interfere. Foi só pra ter que reclamar de alguma coisa. :P


História

Tá, vamos começar dizendo que no momento em que escrevo esta resenha eu tenho 36 anos. E, por mais que eu tente, é extremamente difícil inibir anos de experiências e aprendizados, sejam eles relacionados com leituras ou com a vida como um todo.

Confesso que eu não tinha ideia que Uma Dobra no Tempo era um middle grade/infantojuvenil. Eu estava esperando um young adult, não um livro voltado para um público ainda mais jovem. Tudo bem que eu leio Rick Riordan, e no Goodreads ele costuma estar nas “estantes” de MG, mas ainda assim, consigo me relacionar melhor com os livros do Riordan do que com este de Madeleine L’Engle.

Vários fatores podem ter interferido na minha experiência durante a leitura, sendo o mais crucial a minha idade. Eu de verdade gostaria de saber como é para uma criança que tenha a idade próxima dos personagens do livro, acompanhar a aventura de Meg, Charles Wallace e Calvin. Eu queria saber se elas ficariam maravilhadas com as descobertas ao longo da história, ou se as crianças de hoje são “muito evoluídas” para conseguir acompanhar o livro.

Também não consigo ter ideia de como seria pra mim se eu fosse uma criança lendo. A idade, como já falei, atrapalha. Mas, ó, pra mim o livro não funcionou.

Lembro que quando comecei a leitura virei para o meu marido e perguntei o que ele acharia se uma editora pegasse um livro antigo, e tentasse modernizar o estilo do texto para se aproximar do “agora”. Na opinião dele (que eu acabei concordando), você não deveria mexer no produto de um autor só porque o estilo dele ficou datado ou “velho”. Ele foi escrito em uma época e refletia como as pessoas falavam e pensavam. Mas ó… isso faz com que o livro fiquei um pouco pegado pra ler, sabe?

A maneira como as crianças falam, tratamentos que tem com os pais, são tão formais e não refletem mais como os relacionamentos familiares são hoje em dia. Chega a ser estranho Meg falar sobre “o Pai”. Com letra maiúscula mesmo.

Mas meu problema maior com a história não foi nem o estilo, porque depois de algumas páginas deixa de ser incômodo e começa a passar batido. Pra mim, complicado foram os personagens e a quantidade absurda de perguntas que ficam sem resposta ou explicação ao longo das 240 páginas do livro. Falando “bonito”, meu problema foi que Uma Dobra no Tempo é story driven, e não character driven (aprendi no curso de storytelling :P).

Meg meio que é a personagem principal da história. Filha mais velha da família Murry e com três irmãos mais novos, Meg é uma jovem muito difícil. Tem temperamento forte, agressivo e irritadiço, nenhuma paciência e nenhum tato.

É legal ter uma menina como personagem principal e responsável pelo desenvolvimento da história? Super é. Mas não é legal quando ela beira o insuportável na hora de ser a protagonista dessa história. Tudo bem que a autora explica que os defeitos de Meg são importantes para que consigam passar por desafios ao longo da jornada, e mostra que nossos defeitos são parte intrínseca de nossa personalidade. Só que mesmo assim, não rolou empatia com a jovem.

“- Você acha que as coisas sempre têm explicação?

Sim. Acredito que sempre têm. Mas acho que, dentro das nossas limitações de ser humano, nem sempre somos capazes, de entender as explicações. Mas, veja bem, Meg: não é porque não entendemos alguma coisa que essa explicação não existe.” p.50

Acaba que os personagens coadjuvantes são mais interessantes do que ela, apesar de serem muito pouco desenvolvidos e bastante rasos.

Charles Wallace, que até o final do livro era chamado pelo nome completo, vai saber porquê, é o irmão caçula prodígio. O menino de 5 anos parece um adolescente da idade ou mais velho que Meg com a quantidade de vocabulário e conhecimento que tem. Chega a ser assustador a maturidade do garoto e a forma como consegue ser mais racional do que a irmã mais velha. Sua mãe e Meg o tratam como se ele fosse um ser especial, e fica todo mundo satisfeito com isso.

Calvin meio que cai de paraquedas na história. Ele conta uma história meio triste sobre sua família e diz que não curte muito ser o aluno popular. Em poucos minutos já esta se sentindo parte da família de Meg e pronto para partir na aventura junto com os irmãos. E eu fiquei sem entender de verdade qual a função do garoto para a história.

O Pai de Meg e Charles Wallace desapareceu há algum tempo. Ele participava de um uma pesquisa governamental secreta e do nada parou de se corresponder com a família. A aventura das três crianças começa quando aceitam a jornada que umas senhoras estranhas que moram na floresta próxima apresentam para eles. Elas querem ajudar a encontrar e salvar o Pai desaparecido

As senhoras têm os nomes mais bizarros de todos, Quequeé, Quem e Qual, e não é dada muita explicação sobre elas, a não ser que são muito, muito, mas muito velhas, e que tem o poder de tesserar entre longas distâncias.

Isso é uma coisa legal que Madeleine fez em sua história. Incluiu algumas noções de física para tirar um pouco do que poderia ser considerado “magia” e colocar o livro mais próximo do gênero sci-fi. Porém existem muitos elementos que são de pura especulação, o que acaba aproximando a história de um livro de fantasia. Só que aí tem misturado também uns elementos religiosos, de deus e Jesus aparecendo aqui e ali que só me fez lembrar de C.S. Lewis e sua Nárnia Cristã. No fim das contas, Madeleine é um pouco contemporânea com Lewis, e isso pode ter um pouco a ver em como a sua história foi contada.

Tá, então as crianças tem que ir com as senhoras de nomes bizarros salvar o Pai desaparecido. Que ninguém sabe porque sumiu, que tipo de estudo científico ele estava fazendo para o governo, aonde está, e porque ele tem capacidades parecidas com as das senhoras “mágicas”.

Nesse ponto, as crianças saltam de um planeta para outro, sem muitas explicações, com algumas sugestões sobre o que/quem são as senhoras, mas nada é evoluído. O vilão mal, muito mal, surge, mas seus motivos e objetivos não são explicados. Você não sabe porque Charles Wallace é tão importante. Você não vê o desenvolvimento do relacionamento entre Meg e Calvin. Não explicam porque as senhoras não podem ajudar as crianças além de arrastá-las pelo universo.

Você é aparentemente um dos seres mais evoluídos e poderosos do universo, mas você precisa que umas crianças insuportáveis de um planetinha qualquer sejam responsáveis por salvar tudo o que existe. Ahn… não.

“Ela queria estender a mão e segurar a de Calvin, mas sentiu que desde que eles haviam começado suas jornadas ela vinha procurando uma mão para segurar, por isso enfiou os punhos nos bolsos e saiu a caminhar com os dois garotos.

Tenho que ser corajosa – disse ela a si mesma. – E vou ser.” p. 139

Mas a cereja no bolo é a reação de Meg ao voltar a ter contato com o Pai. Meldelz, como foi difícil de passar pelas páginas de ataque de manha e pirraça da garota. De falta de respeito, de agressividade e petulância. Jura que é assim que se demonstra o quanto se sentia falta de um “ente querido”?

Sabe qual é o maior problema do livro no fim das contas? Não é a falta de respostas ou explicações. É a falta de evolução e desenvolvimento dos personagens, principalmente Meg. Ela é a mesma personagem do começo ao fim. Ela não muda, ela não melhora. Toda uma viagem universal e ela não é alterada de nenhuma forma por tudo o que passou, viu e sentiu.

É extremamente frustrante você ler uma história em que os personagens não aprendem ou crescem depois de suas jornadas, e foi exatamente isso que pareceu acontecer com os de Madeleine L’Engle. E nem o final que em tese é um cliffhanger, mas que mais pareceu uma frase cortada antes do fim, serviu muito para me deixar interessada em ler os próximos 4 (O.O!) livros.

Repito que eu não tenho como saber como seria para um leitor na idade “certa” para o livro experimentar a história de Meg. Mas pra mim definitivamente, não funcionou.


Vai ter filme agora em 2018! Vocês já viram o trailer? Eu acho que só o primeiro livro não tem material suficiente para alimentar um filme de 2h, mas né… vamos ver como vai ser a recepção nos cinemas.


Até a próxima! o/

(Este livro foi cedido pela editora HarperCollins para resenha e divulgação no blog)

Onde comprar: Amazon (compras feitas através do link geram uma pequena comissão ao blog ^.~)

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