resenha

Frantumaglia – Elena Ferrante

5 fev 2018
Informações

Frantumaglia

Elena Ferrante

Intrínseca

série ---

416 páginas | 2017

4.25

Design 4

História 4.5

16

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Cartas, entrevistas e trechos inéditos oferecem visão única de uma das maiores escritoras da atualidade.

Elena Ferrante, voz extraordinária que provocou grande comoção na literatura contemporânea, tornou-se um fenômeno mundial. O sucesso de crítica e de público se reflete em artigos publicados em importantes jornais e revistas, como The New York Times, The New Yorker e The Paris Review. Ao longo das últimas duas décadas, o “mistério Ferrante” habita a imprensa e a mente dos leitores, mas, afinal, quem é essa escritora?

Nas páginas de Frantumaglia, a própria Elena Ferrante explica sua escolha de permanecer afastada da mídia, permitindo que seus livros tenham vidas autônomas. Defende que é preciso se proteger não só da lógica do mercado, mas também da espetacularização do autor em prol da literatura, e assim partilha pensamentos e preocupações à medida que suas obras são adaptadas para o cinema e para a TV.

Diante das alegrias e dificuldades da escrita, conta a origem e a importância da frantumaglia para seu processo criativo, termo do dialeto napolitano que sempre ouvira da mãe e, dentre os muitos sentidos, seria uma instável paisagem mental, destroços infinitos que se revelam como a verdadeira e única interioridade do eu; partilha ainda a angústia de criar uma história e descobrir que não é boa o suficiente, e destaca a importância do universo pessoal para o processo criativo. Nas trocas de correspondência, nos bilhetes e nas entrevistas, a autora contempla a relação com a psicanálise, as cidades onde morou, a maternidade, o feminismo e a infância, aspectos fundamentais à produção de suas obras.

Frantumaglia é um autorretrato vibrante e íntimo de uma escritora que incorpora a paixão pela literatura. Em páginas reveladoras, traça, de maneira inédita, os vívidos caminhos percorridos por Elena Ferrante na construção de sua força narrativa.

Design

Eu adoro sistemas. Mais especificamente, eu adoro quando é possível criar todo um sistema visual que vira a “marca” de uma série ou de um autor.

A LeYa fez isso com o George R.R. Martin, por exemplo. Você vai saber que qualquer livro é dele só pela organização visual do nome dele na capa. Meio que vira uma marca, você não precisa efetivamente “ler” o texto para identificar o que ele significa.

Pra mim a Intrínseca fez a mesma coisa com três dos livros da Elena Ferrante que tem em seu catálogo. Um Amor Incômodo, A Filha Perdida, e agora Frantumaglia tem toda uma identidade em comum, e isso é TÃO BONITO! <3

Eu fiz uma análise sobre o estilo da arte na capa e do miolo em A Filha Perdida, e para saber especificamente sobre isso você pode dar uma passada lá para ver,

Entretanto, tenho uma consideração sobre o miolo aqui de Frantumaglia que particularmente me atrapalhou e me incomodou um pouco ao longo da leitura.

A maior parte dos capítulos apresentados no livro (até onde eu li) eram acompanhados de uma nota ao final do texto explicando o contexto do que se acabou de ler. Quando você chegava ao final de tudo vinha explicando que Ferrante estava respondendo perguntas feitas por algum jornalista, e olha!, essas são as perguntas. =/

Pra mim isso foi muito ruim como forma de leitura. Eu queria ter sabido quais eram as perguntas que a Ferrante estava respondendo antes de começar a ler o texto que era apresentado no capítulo. Quando chegava no final e eu finalmente via as perguntas eu tinha que fazer o retrabalho de tentar encaixar tudo o que li dentro de cada uma delas.

Provavelmente o livro original foi montado dessa forma, mas para mim fez com que o consumo da leitura e o real entendimento do texto e aproveitamento do que estava sendo escrito pela autora fosse diminuído consideravelmente. Tanto até que passei a ir ao final dos capítulos para ler as notas primeiro, para ver se o problema era realmente na minha cabeça. Assim que tomei essa atitude, tive a impressão de aproveitar melhor o que eu estava lendo.

Mas vai ver que eu só sou meio lerda e burrinha mesmo. :P


História

É… estou deixando Frantumaglia no meu criado mudo. Veja bem, não estou abandonando o livro, de forma alguma. Estou dando apenas um tempo para meu cérebro absorver e descansar de tudo o que li nas 186 páginas da primeira parte do livro (são três partes).

A questão é: não quero ficar com a resenha desse livro pendente porque não estou mentalmente preparada para ler, absorver e aproveitar 416 páginas de um texto crítico, denso e pesado, que é a forma como a Ferrante se mostra aqui.

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Ler Frantumaglia foi uma experiência impressionante e ao mesmo tempo um tapa de realidade na cara. Sempre achei que fazia uma avaliação interessante e até “madura” de muitos dos livros que leio (óbvio, quando é possível retirar qualquer pensamento mais aprofundado da história). Mas Frantumaglia me mostrou que é muita arrogância da minha parte achar que eu sei qualquer coisa sobre “crítica literária” ou uma mera avaliação de história.

Na verdade, o livro meio que comprovou um sentimento que já vem crescendo aqui dentro do meu coraçãozinho. Tem muito a ver com a presunção que eu tenho ao cuspir palavras em resenhas, sem realmente ter qualquer profundidade ou bagagem literária real além da comparação com todo o histórico de livros que já li até hoje.

“Os livros são organismos complexos, as linhas que nos perturbam profundamente são o momento mais intenso de um terremoto interno que o texto provocou em nós, como leitores, desde as primeiras páginas: assim, ou localizamos a falha geológica e nos transformamos nessa falha, ou as palavras que pareceram escritas para nós somem e, caso sejam encontradas, parecem banais, ou até mesmo lugares-comuns.” p.15

Muitas vezes eu penso como seria interessante entrevistar um dos autores que eu gosto de ler, mas me pego gaguejando mentalmente em que tipos de perguntas eu faria. Acabo sempre indo para os lugares-comum, que provavelmente os autores até já devem ter respostas prontas e só usam crtl+c/ctrl+v.

Aí você pega as perguntas que os jornalistas fazem ao longo das páginas do livro. Elas são de uma profundidade que eu não faria ideia de como chegar numa análise. E as respostas da autora também são tão complexas que às vezes eu me perdia um pouco no que ela estava querendo dizer.

Provavelmente não conhecer a literatura italiana, ou seus autores mais famosos, assim como a história recente da Itália, também deve atrapalhar. Ferrante cita muito seus ídolos e referências, cita filósofos e pensadores. Faz análises profundas sobre as personagens dos seus dois primeiros livros, que tiveram um intervalo de quase 10 anos entre seus lançamentos.

Compara o quanto sua experiência pessoal de vida, seu relacionamento com a mãe, influenciou seus próprios personagens. Analisa o quanto as cidades italianas presentes em suas obras também são personagens vivos e que convivem e guiam a vida dos protagonistas.

“Quero ser capaz de pensar que, se meu livro entra no circuito de mercadorias, nada é capaz de me obrigar a fazer esse mesmo percurso. (…) Eu o escrevi para me libertar dele, não para permanecer prisioneira.” p.58/59

Eu me senti pequena e desajustada lendo as perguntas e as respostas de Ferrante. Me senti imatura e com pouca bagagem cultural e literária para realmente aproveitar. Percebi que, na maioria das vezes, eu me pego fazendo uma leitura superficial da história, seguindo o percurso dos personagens, mas não realmente enxergando possíveis camadas “escondidas” ao longo das páginas.

Aos 36 anos descobri que eu não sei ler.

Ou pelo menos não sei ler de uma forma analítica e avaliadora como talvez eu gostaria ou deveria ler? E isso pode ser um fator crucial para eu não conseguir escrever…

“Minha mãe me deixou um vocábulo do seu dialeto que ela usava para dizer como se sentia quando era puxada para um lado e para o outro por impressões contraditórias que a dilaceravam. Dizia que tinha dentro de si uma frantumaglia. A frantumaglia a deprimia.” p.105

Bem, de qualquer forma, quando escolhi Frantumaglia para ler eu estava esperando quase um “guia” sobre escrita. Estou numa vibe de procurar referências de autores para criar uma biblioteca particular sobre “como escrever”. Elena Ferrante não dá o caminho das pedras em Frantumaglia; não é bem o guia que eu esperava. Mas, ainda assim, suas reflexões sobre o produto livro e o “produto” autora são muito interessantes de acompanhar.

Ela fala muito mais de como é o processo de “parir” um livro/uma história, sobre como é colocar no mundo algo que está ali dentro de você, gerando até mesmo algum tipo de incômodo, querendo sair. Mas não fala sobre estrutura, atos, personagens (pelo menos até a parte que eu fui).

Ao mesmo tempo Ferrante acredita que uma história só deve ser lançada quando não há mais nada de “errado” com ela, e às vezes isso é onde muitos escritores falham miseravelmente.

“A esta altura, penso no ato de escrever como uma longa, extenuante e prazerosa sedução.(…) A pergunta de cada história sempre é: essa é a história certa para agarrar aquilo que jaz em silêncio no fundo de mim, aquela coisa viva que, se capturada, se expande por todas as páginas e lhes dá alma?” p.73

E mais do que tudo, Ferrante acredita que o livro é um “ser” que se sustenta e valida por si próprio. A partir do momento que uma história está no mundo, ela não precisa que o autor a acompanhe para fazer com que ela tenha sucesso. Se for um bom livro, ele vai encontrar o seu lugar e atingir as pessoas que precisa atingir.

“A fama do autor, ou melhor dizendo, da persona do autor que entra em cena graças à mídia, é um suporte fundamental para o livro? (…) Acho que a boa notícia sempre é: saiu um livro que vale a pena ler. Acho também que os verdadeiros leitores e leitoras não se importam nem um pouco com que o escreveu. Acho que os leitores de um bom livro esperam no máximo que o autor de um bom livro continue a trabalhar com consciência e produza outros bons livros.” p.44

“Não acredito que o autor deva acrescentar nada de decisivo à própria obra: considero o texto um organismo autossuficiente, que tem em si, na sua elaboração, todas as perguntas e todas as respostas. E os livros de verdade são escritos apenas para serem lidos.” p.89

E é por isso que ela presa tanto por seu quase anonimato. Porque ela acredita que o autor não precisa ser transformado em produto para que o livro alcance o leitor. É um pensamento interessante em tempos em que tudo precisa estar nas redes sociais e ter um marketing agressivo para conseguir alguns segundos de atenção.

“(…)Sou alguém que escreve apenas quanto tem vontade e publica quando não se envergonha demais do resultado.” p.93

Não terminei Frantumaglia ainda. Ainda tenho um pouco mais da metade do caminho para trilhar ao longo das palavras profundas e, muitas vezes, poéticas de Ferrante. Mas eu sinto que, até onde eu consegui chegar, me ajudou a ver o quanto eu poderia ser melhor, e o quanto eu ainda tenho a aprender para chegar lá.

“(…) Escrever também é a história do que já lemos e do que estamos lendo, da qualidade de nossas leituras, e, no fim das contas, uma boa história é aquela escrita do fundo de nossa vida, do cerne de nossas relações com os outros, do topo dos livros de que gostamos.” p.149


Outros livros da autora

  • um amor incômodo - elena ferrante
  • a filha perdida - elena ferrante

Até a próxima! o/

Onde comprar: Amazon (compras feitas através do link geram uma pequena comissão ao blog ^.~)

banner parceria editora Intrínseca 2018

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